Capítulo Dezesseis – O Casamento

Lily Evans

Meus lábios já estavam vermelhos e doloridos de tanto que eu os mordiscava. Era o dia do casamento e eu não conseguia esquecer aquela cena que aconteceu no cinema.

Foquei meus olhos no espelho e respirei fundo. Minha irmã estava traindo seu noivo com o nosso vizinho, no caso Josh Potter. Consegui ver meus olhos verdes refletidos no espelho e suspirei, estava escrito neles o quão angustiada estava por causa do ocorrido.

Precisava me acalmar e pensar que não iria acontecer mais aquilo, mas minha mente martelava insistindo em me perguntar há quanto tempo eles mantinham um relacionamento às escondidas, e se aquilo iria continuar durante todo o casamento de Petúnia e Valter.

— Lily? - Dorcas apareceu atrás de mim, refletida no espelho, com os cabelos perfeitamente enrolados em um penteado moderno. Me virei para encara-la e sorri amarelo.

— Está na hora de irmos para a igreja? - perguntei deixando minha voz levemente esganiçada. Aquela agonia de pensar em minha irmã sendo tão traíra com quem amava ela me deixava com náuseas.

— Seu pai pediu para começarmos a ir para lá, ele tem que esperar Petúnia e sua mãe vai com os pais de Valter - Dorcas afirmou alisando o tubinho preto que usava — Seus pais ainda não sabem sobre James.

Aquilo não foi uma pergunta e ela me fez ficar ainda mais angustiada. Suspirei e alisei o rosto, ignorando a maquiagem que desenhava-o.

Meu cabelo estava preso em um penteado da moda da década de 60; meus olhos estavam contornados por uma maquiagem levemente escura e meus lábios avermelhados, por causa das mordidas que eu dava. Meu vestido era particularmente simples, ele possuía uma pequena meia manga que cobria meu ombro por inteiro, descia reto até a cintura e nela fazia um risco, moldando meu corpo. Ele era verde musgo e possuía detalhes amarelados.

— Mesmo meus pais contrariando, Petúnia convidou os Potter para o casamento. Não será tão estranho ter James lá, e quando formos para a festa irei abrir o jogo para os dois... - afirmei tentando convencer a mim mesma de que faria aquilo ainda no dia.

Dorcas apenas assentiu e saiu do meu quarto fazendo barulho com seu salto alto. Ainda fiquei alguns segundos no meu quarto, pensando sobre tudo que havia acontecido desde quando fui para a faculdade.

Me olhei mais uma vez no espelho e passei um batom alaranjado, para disfarçar os vermelhões em meu lábio. Desci as escadas de minha casa e vi meus pais conversando em pé na sala de estar.

Disse que iríamos na frente e prepararíamos a igreja para a chegada de Valter e Petúnia.

— Por que precisamos pegar um táxi se podemos ir com os rapazes? - disse Marlene. A morena estava com os cabelos escuros lisos em cascata sobre as costas nua. Seu vestido era dourado, de alças finas e que tinha um grande decote nas costas.

— Para não nos dar problemas - disse suspirando e guardando o celular na carteira de mão de couro preta.

Vi o carro dos rapazes sair da garagem e passar por nós em uma lentidão extrema e desnecessária, que me fez ter vontade de correr e entrar naquele carro, deixando minhas amigas para trás.

Finquei meus pés no chão e esperei o táxi chegar para irmos para a igreja. Quando chegamos lá, já havia uma quantidade razoável de convidados esperando. Pedi para todos já se acomodarem no interior do local sagrado e aguardarem pacientemente.

Valter chegou na igreja minutos depois de mim, e assim que ele pisou o pé no altar, acompanhado se sua mãe, começou a soar feito um porco, o que me deixou irritada.

— Se acalme meu lírio - ouvi a voz de James ao pé de meu ouvido. Seu hálito quente fez minha nuca se arrepiar e meus olhos se fecharem involuntariamente.

Olhei para trás e vi James, Remus e Dorcas sentados um banco atrás de mim. Uma amiga de Petúnia e Marlene estavam no mesmo banco que eu estava.

— Onde está S... - comecei a falar, mas James me interrompeu.

— Lá fora, diz que só gosta de entrar em igrejas na hora exata - meu namorado disse dando de ombros.

Assenti e olhei ao redor. Rostos tão familiares e que não via a tantos anos estavam ali presente. Tios, primos, filhos bastardos de algum parente distante, todos juntos ali naquele ambiente.

Olhei para a porta de entrada e a vi sendo fechada. Sabia que Petúnia havia chegado; e então a musica nupcial se iniciou e vi de soslaio que Valter soava ainda mais agora.

Os padrinhos e madrinhas entraram primeiramente, foram dez ao total. Segundos depois entrou minha mãe acompanhada com o pai de Valter, que convenhamos era a cópia do mais novo, e finalmente Petúnia entrou com toda sua beleza, graça e estranheza junto ao meu pai.

Petúnia possuía um sorriso simpático nos lábios, ela realmente estava bonita. Seus cabelos estavam presos em uma trança lateral, sobre sua cabeça havia uma trança de flores rosas e amarelas que seguravam o véu, o vestido que no dia que havia experimentado, agora estava muito belo em seu corpo magro. Seu lábio estava em um vermelho vivo e seus olhos contornados por uma sombra branca suave.

Um sorriso involuntário se abriu em meus lábios. Estava feliz por Petúnia, mesmo sabendo o que ela estava fazendo com Valter. Vi a mão de James sobre o encosto do banco onde eu estava e coloquei propositalmente a minha em cima.

O padre pediu para nós nos sentarmos e ele começou a cerimônia falando algumas citações da Bíblia.

Valter já havia parado de soar, agora ele tremia como uma vara verde e gorda. Petúnia não olhava para o noivo em nenhum momento, sempre balançando a cabeça concordando com o que o padre falava.

— Há alguém que seja contra a união desses dois jovens na flor da idade? - disse o padre olhando para as pessoas da igreja. Ninguém se manifestou, o que fez Valter abrir um enorme sorriso.

— Valter, você... - o padre começou a falar, mas foi interrompido por um grito. Todos que estavam na igreja olharam para trás, a busca de quem havia gritado.

Um rapaz de terno e gravata estava em pé, na fileira onde a noiva passou para ir ao altar. Franzi o cenho e forcei minha visão a enxergar de quem se tratava.

Engoli em seco e senti minhas mãos tremerem. Josh estava parado no meio da igreja, com uma das mãos acima da cabeça.

— Eu tenho algo a dizer! Petúnia, eu te amo, foi difícil entender o que eu sentia por você, mas agora eu sei! - Josh gritava para quem quisesse ouvir. Olhei para o meu pai e ele estava tão vermelho quanto meus cabelos. Os olhos de minha mãe estavam arregalados e ela se apoiava nos ombros de meu pai para ficar em pé - Por favor, Petúnia, desista dessa loucura e fique comigo!

Petúnia estava estática no altar, olhando para Josh, boquiaberta. E então vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto e um sorriso se abrir. Um sorriso ainda maior e mais sincero do que aquele primeiro, quando ela entrou na igreja.

Largou o buquê de flores amarelas e rosas e correu até Josh, que começou a chorar instantaneamente.

— Eu também tenho algo a dizer! - James gritou e chamou a atenção de todos. Até mesmo Petúnia parou de correr, ficando alguns metros de distancia de Josh.

Senti meu sangue congelar e engoli em seco.

— Senhor e senhora Evans, vocês possuem a filha mais bela e maravilhosa que existe - ele disse abrindo o sorriso que eu tanto amava.

— Você também ama Petúnia? - meu pai disse e meus ombros caíram. Respirei fundo para não gritar que se tratava de mim.

— O que? Claro que não! Eu amo a Lily, sempre fui apaixonado por ela, desde que éramos pequenos - ele disse segurando minha mão e me olhando nos olhos. Senti vontade de chorar, mas estremeci quando ouvi o grito de meu pai.

— Você pode soltar a mão de minha filha - apontou para James - e você - gritou raivoso para Josh - Saia daqui!

— Sairei - disse o irmão de James abrindo um lindo sorriso - apenas se Petúnia sair comigo.

Petúnia olhou para Valter, que chorava como um bebê e depois para meus pais. Parecia que ela estava dividida entre o que parecia ser certo e o que ela realmente queria fazer.

— Vai ser feliz Petúnia! - gritei e senti os olhos de meu pai me fuzilarem. Minha irmã me encarou pasma, mas abriu um sorriso sincero nos lábios, voltando a correr para perto de Josh.

Os dois saíram da igreja de mãos dadas. Só então notei que todos já estavam de pé e falando ao mesmo tempo. Ainda segurava a mão de James e que precisava encarar a fúria de meu pai por ter visto uma das filhas fugir do próprio casamento.