Depois de muito penar para limpar (mais ou menos) as manchas de esmalte do quarto, Johanna finalmente me mostrou o seu plano:

– “Wish list”? – perguntei

– Sim. Consiste em uma lista dos seus desejos mais loucos, ou simplesmente coisas que você deveria fazer, mas nunca teve coragem o suficiente. E sim, estou me referindo ao fato de você ser BV. – Johanna explicou e eu revirei os olhos.

– Me desculpa se eu não acho que sair beijando qualquer um deva se tornar um propósito para uma vida.

– Okay, nem vou comentar nada a respeito, porque você sabe que estou certa, e... Pare de revirar esses olhos! Vamos ao plano.

– Tudo bem, só vou concordar com este plano porque meus desejos não são tão loucos assim.

Depois de uma pequena discussão a respeito do número de desejos da lista, escolhemos o quatorze porque ela gostava do número quinze e eu do treze, então chegamos a este meio termo. Johanna pegou uma folha bonita colocou 14 asteriscos e bem em cima escreveu “WISH LIST” com sua linda caligrafia (e não, isto não foi ironia). Fiquei um tempo meio incrédula, pois eu ainda fico surpresa com o fato de uma pessoa tão irresponsável como a Johanna conseguir ser tão organizada ao mesmo tempo.

– Okay, primeiro desejo?

– Eu não sei... O que eu deveria colocar aí?

– Bem, eu vou começar por você, com coisas que você JÁ deveria ter feito.

Dei uma espiada no que Johanna havia escrito. Primeiro item: Ir numa festa (grande!). Até que não era tão mau, então não falei nada e deixei que ela continuasse. Segundo item: Ficar bêbada. Ei, isso não!

– Epa, espera aí! Eu não quero ficar bêbada! – protestei.

– Ai, Olivia, não começa.

– Mas eu não quero!

– Claro que quer, você só não sabe que quer. – ela piscava demoradamente – Você deveria ficar bêbada.

Resolvi não falar nada e deixar ela se explicar.

– Olha, você nunca ficou bêbada, então deveria experimentar. Fora que é só por uma noite, você não vai ter que continuar bebendo sempre. É só uma tentativa. Tente dar uma chance.

Okay. Fiz uma careta e concordei. Às vezes sinto raiva deste forte poder de persuasão que Johanna tem. Olhei o terceiro item: Brigar com alguém.

– O quê? – perguntei indignada.

– De novo? Mas já? – ela fez uma cara decepcionada.

– Claro! Eu não vou brigar com ninguém!

– Mas é legal!

– Não é não!

– Você está brigando comigo agora.

– Hein? Não, isto não é uma briga de verdade.

– Aff, você está muito chata, você não dá chance para as coisas. E além disso, você nunca brigou com ninguém, então não sabe o quanto isso é legal. Só um tapa na cara de algum garoto idiota já basta. – eu continuava olhando com raiva para ela. – Tudo bem, vamos fazer assim: eu deixo este desejo aqui na lista e se por acaso depois você tiver uma ideia melhor, nós trocamos. Dá pra ser assim?

– Ta. – respondi irritada. Já comentei como eu sinto raiva da persuasão dela?

– E você não vai dar nenhuma ideia, não? E por favor, que envolva beijos.

Johanna meio que estava me irritando com aquele negócio de ficar me incomodando por eu nunca ter beijado ninguém. Tipo, eu quero beijar alguém, mas parece que eu nunca encontro ninguém. Johanna diz que eu deveria ficar esperando o príncipe encantado, porque ele não vem. Mas não é isso que eu quero. Não estou interessada em nenhum príncipe. Eu só quero alguém que e faça eu me sentir segura o suficiente para dar meu primeiro beijo. Quer dizer, eu sei que isso tudo é meio gay, e que eu já tenho quase dezesseis anos, mas é isso que eu penso. Mas tudo bem, eu também já estou cansada deste negócio de não beijar ninguém nunca.

Sempre que me imagino fazendo alguma coisa, eu me imagino como a “heroína” da história. Por exemplo, se eu vou jogar futebol, já me imagino fazendo gols e jogadas bonitas, sendo a campeã. Se vou cantar no karaokê, me vejo fazendo uma linda performance e todos me elogiando. O que são coisas que provavelmente não vão acontecer. Quer dizer, eu não jogo futebol muito bem, e quando eu canto, eu pareço uma foca tendo um ataque cardíaco. Mas tudo bem, são apenas desejos. Então se o desejo vai ter que envolver beijo...

– Já sei. – eu disse.

– O quê?

– Eu quero dar o melhor beijo da vida de alguém. – falei simplesmente e Johanna riu.

– Só isso? Não vai querer mais nada não? – ela disse sorrindo e eu mostrei a língua. – Tudo bem, vou anotar isso e mais uma coisa.

– O quê?

– Beijar alguém, dã-ã. Você não acha realmente que você vai sair beijando suuuuuuuper bem de primeira, né?! Tem que treinar primeiro.

Tudo bem, fazia sentido.

– Próxima coisa? – ela perguntou.

– Hummm... Ser uma super-heroína? – rimos, mas ela anotou a ideia do mesmo jeito.

Depois disso, fomos anotando idéias malucas até fechar quatorze desejos, e Johanna ainda conseguiu até me convencer a fazer uma tatuagem. Foi ficando tarde e eu resolvi dormir na casa da Johanna mesmo. Comemos pizza e ficamos planejando como realizar aqueles desejos loucos, começando no dia seguinte mesmo. A lista ficou assim:

WISH LIST:

Ir numa festa (grande!)

Ficar bêbada

Brigar com alguém

Dar o melhor beijo da vida de alguém (e receber o melhor beijo da minha vida)

Beijar alguém

Ser uma super-heroína

Ter um animal de estimação selvagem

Fazer cócegas numa tartaruga

Aprender a dar mortal

Escrever uma história

Ficar famosa

Fazer uma tatuagem

Mudar algo na aparência

Ir num show de rock