Wish List escrita por Zoe


Capítulo 24
Aniversário


Notas iniciais do capítulo

Gente, este é o penúltimo capítulo. Sinto que tenho que dar adeus a vocês... :'s



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Johanna teve que dormir lá em casa naquela noite, porque tínhamos muito o que conversar. Eu contei tudo sobre como foi ficar com o Tyler A e fiz ela contar tudo sobre sua tarde com o Caleb. Quer dizer, tudo tudo, não. Mas a maior parte.

A grande coisa sobre a Johanna é que, apesar de ela ser do jeito que é, com uma política de “pegar todo mundo”, ela é virgem. Bem, era. Acho que tinha esse negócio de que isso “é importante” e tem que ser com alguém que se gosta. Então Johanna estava se sentindo meio esquisita. Não por ter feito o que ela fez (que, segundo ela, já deveria ter feito há muito tempo), mas por admitir que gostava de Caleb.

— E ele me pediu em namoro! – ela contou.

— Que legal! – eu disse.

— Que nada! Eu disse não! – ela falou indignada com a minha reação.

— Por quê? – agora eu estava indignada.

— Porque não.

— Isso não é resposta.

— É a minha resposta.

— Mas isso não tem sentido! Você gosta do Caleb, ele gosta de você, vocês já estão meio juntos... O que custa namorar?

— É que... colocar este rótulo, torna as coisas muito sérias, muito... verdadeiras. E eu sei que nós dois não daríamos certo.

— Mas já está dando certo. Vocês estão já há algum tempo meio juntos e...

— Mas é diferente, Liv. A gente já não deu certo uma vez, e eu posso não ter demonstrado muito, mas aquilo me deixou bem mal. Por que você acha que eu não queria nem voltar a ficar com o Caleb? Eu fiquei mal. Mas eu fingi que estava bem. Porque a gente só ficava, nem tinha nada sério, entende? E se a gente namorar sério, e ele fizer alguma coisa para me machucar de novo, eu não vou poder só fingir que está tudo bem. Você consegue entender isso? Ou sou eu que estou ficando muito paranóica? – ela riu no final, mas eu sabia que ela estava genuinamente preocupada com aquilo.

— Você não está ficando paranóica. – eu disse.

Eu a entendia perfeitamente. Às vezes, quando a gente não admite as coisas para os outros, ou mesmo para nós mesmos, parece que não nos machucamos tanto. Acho que esse era outro grande motivo (além da timidez) de eu nunca ter me declarado ou algo do tipo para nenhum dos garotos de quem eu já tinha gostado antes do Tyler. E se eles não gostassem de mim também? Como eu iria ficar? Mas se eu nem admitisse nada disso... não tinha importância se eles não fossem apaixonados por mim. Afinal, eu nem gostava deles, não é mesmo? É claro que no fundo tinha aquele sentimento. Mas eu fingia que ele não existia, e com o tempo ele deixava de existir mesmo. Se todo mundo estava convencido que eu não sentia nada por eles, eu podia me convencer também. Então eu entendia completamente o que Johanna estava passando. Porque ela já havia se entregado àquele sentimento outra vez e teve o coração quebrado. Levou tempo e ela teve que ser muito forte (e uma ótima atriz) para convencer todo mundo de que ela estava bem, aquilo não havia sido nada. Agora fico me perguntando... Se talvez eu tivesse ignorado o que sentia por Tyler... será que eu ainda estaria tão machucada quanto estava agora?

Fiquei pensando muito nessas coisas antes de adormecer.

 

—---------

 

Na terça-feira era feriado, portanto, sem escola! Esse era o ponto positivo. O ponto negativo era que eu conhecia aquele feriado. Porque ele caía bem no dia do aniversário da minha mãe. O outro ponto negativo era que eu tinha esquecido completamente disso. E, por ser feriado, não tinha nenhum lugar para eu comprar um presente de última hora.

— Calma. – Johanna tentou me tranquilizar. – Você não tem nada com aparência de “novo” para dar para sua mãe?

— Não... – respondi enquanto ainda pensava. – Ah! Lembrei! Eu tenho um pano de prato novo!

— O quê? Não! Ninguém quer um pano de prato de presente de aniversário! E por que diabos você tem um pano de prato??

— Ahn... estavam baratos e...

— Ta, não interessa. Vamos focar no presente.

Tentamos pensar em algo que eu tinha, mas minha mãe com certeza não ia curtir os meus CDs da Shakira ou minha sapatilha rosa com florzinhas. Nem as minhas ataduras novas para o Muay Thai – que, aliás, ela nem sabe que eu faço ainda. Então Johanna teve a brilhante ideia de fazermos um presente, mas nenhuma de nós tinha alguma habilidade em marcenaria ou artesanato.

— Vamos cozinhar! – Johanna pulou de excitação com a nova ideia. – É isso, vamos fazer algo bem gostoso para ela, talvez umas trufas, e ela vai nos adorar!

— Eu não sei cozinhar. E nem você. – a lembrei.

— Não importa, a gente aprende. Sempre tem umas receitas muito práticas e fáceis na internet. – ela disse já me puxando pelo braço na direção da cozinha.

Felizmente minha mãe ainda estava dormindo, então não tínhamos chances de ser pegas fazendo o presente dela e poderíamos fingir que tínhamos planejado tudo aquilo com muita antecedência. Pedimos ajuda para o meu pai, mas ele disse “que tinha umas coisas para fazer” e só nos desejou boa sorte. Obrigada, pai.

Johanna achou uma receita bem fácil de uns doces de café e maracujá, mas não tínhamos maracujá, então eu só peguei os outros ingredientes à toa. Achamos uma receita de bombom e que só usava ingredientes que tínhamos, mas não tínhamos as formas para os bombons. Já estava ficando tarde e logo minha mãe acordaria, então resolvemos agir rápido. Pegamos uma receita de cupcakes (tínhamos as forminhas) e eu fui fazendo um recheio com chocolate enquanto Johanna batia a massa.

Eu estava certa de que alguma coisa daria errado, mas os bolinhos ficaram perfeitos. Depois que eles já estavam assados, eu e Johanna colocamos o recheio (que também estava muito bom) e fomos decorá-lo com chantilly. Como não tínhamos corante, o chantilly ficou branco, e eu achei que precisava de mais alguma coisa para decorar, como uma cereja. Mas não tínhamos cereja também, então resolvemos só polvilhar chocolate em pó em cima. Comecei a fazer isso enquanto Johanna lavava a louça suja.

— Uau. Deu um pouco de trabalho, mas deu certo! – falei e olhei para Johanna enquanto continuava a polvilhar o chocolate.

— Pois é, mas eu sempre soube que daria certo.

— Ah, jura? Porque as coisas sempre dão certo para a gente, não é mesmo? – brinquei e ela riu.

— Ah, não enche. Vai prestar atenção aí no que você está fazendo. – ela brincou também e eu me virei de volta para os bolinhos.

Prestei bem atenção neles e então percebi que aquele chocolate que eu estava colocando em cima do chantilly estava meio escuro. Escuro demais.

— Ei, Joh, essa é a cor normal do chocolate em pó? – perguntei. Ela olhou para os cupcakes.

— Hum, normalmente não. Mas de repente é chocolate meio amargo, sei lá. – cheirei meus dedos.

— Ai, droga! – falei e Johanna pulou do meu lado.

— Ai, deus, o que você fez?

Com medo de falar, só dei meus dedos para ela cheirar também.

— Liv! – ela gritou. – Você colocou café nos bolinhos!!

— Eu percebi isso agora também.

Provei o café dos meus dedos. Era muito forte. Com certeza devia ter estragado nossos cupcakes perfeitos. Quis chorar. Principalmente porque foi bem nessa hora que minha mãe resolveu acordar e ir ver o que nós estávamos aprontando.

— Bom dia, meninas! O que é isso? – ela olhou com interesse para a mesa.

Eu e Johanna nos olhamos. Sem outra opção, abracei forte minha mãe e Johanna me acompanhou.

— Feliz aniversário! – gritamos juntas.

— Ai, meu deus, obrigada meninas. – ela disse e beijou o topo da minha cabeça. – Vocês fizeram isso sozinhas?

— Sim. – eu disse. – Na verdade, aconteceu uma coisa... – comecei a explicar, mas minha mãe não quis esperar e foi logo provar um dos bolinhos. Paralisei e esperei por sua reação.

— Ahn, isso está... – ela disse depois da primeira mordida. – ...maravilhoso!

Espera, o quê? Eu e Johanna pegamos cupcakes também e provamos. Como assim? Tinha ficado bom. Tinha ficado extraordinário, na verdade, para algo que eu e Joh fizemos. O amargo do café contrastou super bem com o doce do chocolate do recheio e o chantilly. Duvido que teria ficado tão bom se eu tivesse colocado o chocolate em pó mesmo. Olhei para Johanna e vi que ela percebera o mesmo que eu e nós começamos a rir. Tinha dado certo. Mais que certo!

— Café! Que criativo! Inovador. Gourmet, não é assim? – minha mãe falou e eu não consegui parar de rir.

— É... nós resolvemos inovar. Chamamos isso de nosso... charme a mais. – Johanna sorriu.

— Muito bom mesmo, meninas. Vai vir gente aqui mais tarde, nós poderíamos deixar uns cupcakes para eles provarem. Vocês fizeram bastante, não é mesmo? – minha mãe falou já saindo da cozinha e nós concordamos com a cabeça, felizes. – Ótimo. Johanna, você pode ficar para a confraternização, ouviu? E se você quiser chamar outros amigos seus também, pode, Olivia. Só não muitos. Afinal, a festa é minha. – ela disse bem humorada e saiu.

 

—---------

 

No final, chamei só Tyler Eckert, porque Johanna não estava muito a fim de ver o Caleb e nem eu de ver qualquer um da academia. Estávamos os três no meu quarto comendo quando minha mãe me chamou.

— Já está na hora do parabéns? – perguntei, meio decepcionada. Eu ainda queria comer mais salgadinhos!

— Não, eu quero ter uma conversinha com você. – ela disse.

Olhei para os rostos dos meus amigos alarmada. “Conversinha”? Isso só podia significar algo ruim, não? O que ela havia descoberto? Do Muay Thai? Do Tyler? Da minha tatuagem? Da briga com o Will? Das festas em que eu havia ido? Do meu cabelo azul? Ah, isso ela já havia descoberto, né. Haha.

Acompanhei minha mãe até o quarto dela meio nervosa. Melhor acabar com isso logo, pensei.

— Sobre o que você quer falar comigo, mãe?

— Bem, Liv... é uma coisa muito séria.

Ai. Meu. Coração.

— Você deve ter percebido que eu mudei um pouco, não? Ou pelo menos estou tentando mudar. Ser menos rígida com você, menos crítica... e isso tudo tem um motivo. – ela pegou na minha mão.

Ai, droga. A coisa era séria mesmo. Agora era a hora que minha mãe ia me contar que tinha um câncer terminal e que ia morrer em duas semanas, não era?

— Que motivo? – perguntei angustiada.

— Bom, eu estive pensando muito ultimamente... e você sabe como eu não estou trabalhando fora no momento e tenho muito tempo livre... – e acabei tendo um câncer no pâncreas, completei na minha cabeça, mas não foi assim que minha mãe continuou. – E eu estava pensando, que eu poderia muito bem cuidar de uma criança, ou mais até... – ela falou e deixou o final subentendido. Abri a boca chocada.

— Mãe... você quer dizer que... você vai abrir uma creche?

— O quê? Não, Olivia! Eu estava pensando em você ganhar um irmãozinho.

Meu cérebro deu tilt.

— Você está... grávida? – balbuciei.

— Não, Olivia. Eu estava pensando em adotar. Na verdade, já está quase certo.

— O quê? Mas como você não falou comigo antes? Como não perguntou minha opinião? E se eu não quiser ter irmão nenhum? – perguntei um pouquinho exaltada.

— Bom, você vai ter que se acostumar aos poucos. – minha mãe, ao contrário de mim, era o retrato da calma.

— Mas... mas... E toda essa história de ser menos rígida e etc? Era com que propósito exatamente?

— Exatamente isso, Olivia. Mostrar para você, que apesar de nossa família estar crescendo, de que agora você não será mais filha única, você não será menos amada por isso. Vai até ter algumas vantagens a mais, algumas liberdades a mais, já que eu não vou poder ficar de olho em você o tempo todo de agora em diante. E eu já havia percebido antes, você não é mais uma garotinha. Pode e deve experimentar mais coisas, tentar mais coisas. Quem sabe ir numa festa, já que nunca foi a nenhuma? – ela sugeriu. É mãe, acredite nisso.— E eu estou tentando ser mais flexível com você e percebi que isso pode dar muito certo. Você é uma garota perfeitamente capaz de cuidar de si mesma, de aprender com seus erros e enfrentar seus problemas. Não precisa mais tanto da minha atenção. Então eu achei que você entenderia se eu quisesse dar mais atenção agora para outra pessoa.

Parei e pensei um pouco naquilo. Tinha sentido, sabe? Minha mãe estava em casa fazia um bom tempo e seria bom para ela ter outro filho. Além disso, com essa nova postura dela e sem sua supervisão constante, eu havia feito coisas legais que eu nunca havia me imaginado fazendo antes. Que malefício teria se continuasse assim? Talvez trocar umas fraldas de vez em quando, mas tudo bem. Além disso, eu lembro que eu sempre quis ter um irmão quando era criança.

— Eu entendo, mãe. – falei sinceramente.

— Eu sabia que entenderia. – ela me abraçou. – Você será uma ótima irmã mais velha.

Quando voltei para meu quarto, Joh e Tyler me olharam com caras apreensivas.

— O que ela descobriu? – Johanna perguntou assim que eu fechei a porta do quarto.

— Nada. Eu que descobri que vou ganhar um irmãozinho. – falei e pude ver a boca de Johanna se abrir num perfeito “o”. A cara de Tyler estava meio para repulsa. Ele também era filho único.

— Sua mãe está grávida?? E ela pode? Tipo assim, com a idade dela e tudo?

— Não, Joh, ela quer adotar. – falei enquanto observava Tyler tentar “consertar” sua cara com uma expressão mais contente por mim. Ou mais contente que pelo menos não era ele que iria ganhar um irmão.

— Ah, isso é legal, eu acho. – ela disse.

— É, eu acho. – eu disse.

— Alguém quer um biscoito? – Tyler disse.

E isso foi tudo que conversamos sobre o assunto. Depois comemos mais e conversamos e contamos piadas e ouvimos música e rimos muito, principalmente com as danças malucas de Tyler. Em certo momento, começamos a conversar sobre nossos relacionamentos. O meu e o de Johanna, quero dizer, porque Tyler não tinha nenhum.

— Eu tenho que conversar com o Tyler, mas eu não sei se eu quero. – falei.

— É, eu também estou na mesma situação com o Caleb.

— Falem logo com eles! – Tyler ficou subitamente revoltado. – Se fosse o contrário, vocês gostariam que eles ficassem enrolando para conversar com vocês?

— É! O Tyler está certo! – falei alto. – Temos que fazer isso logo. Se der tudo certo, voltaremos a ser felizes mais rápido do que se ficarmos enrolando, e se der errado, vamos curtir a fossa logo também para que voltemos a ser felizes mais rápido! – falei e levantei meu copo de refrigerante, esperando um brinde, mas ninguém me acompanhou. Sério que aquilo no meu copo era só guaraná? – Não somos mais garotinhas! Somos perfeitamente capazes de enfrentar nossos problemas e aprender com nossos erros. – roubei o discurso da minha mãe, mas como só eu havia ouvido, eles não perceberam.

— Tem razão, Liv! – Johanna concordou e levantou o copo.

— Viva a atitude! – Tyler gritou e nós batemos nossos copos uns nos outros. Sério? Guaraná apenas?

— Mas como a gente vai fazer isso? Tipo, o que a gente vai falar? – Johanna perguntou e nós voltamos a ficar quietos.

— Você vai chegar no Caleb e dizer: “seu idiota, vou ficar com você, mas se quebrar meu coração, eu quebro sua cara” e você vai chegar no Tyler e dizer: “você tem um nome lindo, mas é um idiota. Se parar de quebrar meu coração, talvez eu pare de quebrar sua cara”. E então eles vão entender tudo e amar vocês e todo mundo vai se amar e se juntar para achar uma namorada para o Eckert aqui. – Tyler disse, muito sério. E então nós três caímos na gargalhada.

— Mas e se a Liv não quiser voltar com o Tyler depois de tudo o que ele fez com ela? – Johanna perguntou quase chorando de rir.

— Então ela vai chegar nele e dizer “seu idiota, ta vendo esse biscoito?” – Tyler pegou um biscoito da bandeja. – “é você!” – ele mordeu o biscoito com raiva e eu e Johanna explodimos em risadas. – “Agora pare de ser um idiota.” – ele completou. – Mas você vai ter que explicar para ele que é uma metáfora e não que você quer comer ele.

— Melhor, melhor, a Liv pode chegar e dizer: “seu idiota, você ta se achando, mas eu gosto mais de cogumelo que de você!” – Johanna sugeriu.

— Ou ela pode dizer: “seu idiota, naquele dia, eu vomitei em você DE PROPÓSITO.” – Tyler falou.

Em certo momento, Tyler e Johanna sentiram necessidade de interpretar aquelas cenas que eles estavam criando, sempre começando com “seu idiota”, e eu não conseguia parar de rir com suas atuações, Johanna sendo Tyler C e Tyler A sendo eu. Era simplesmente hilário. Passamos o resto da noite assim e eles dormiram lá em casa, porque estava tudo muito divertido para acabarmos com aquilo. Ah, e eu e Johanna gravamos Tyler dormindo para provar que ele roncava sim.

Eu não tinha certeza do que falaria com Tyler C na academia no dia seguinte, mas eu não estava preocupada. Eu poderia ainda gostar muito dele, e ficar mal em não tê-lo mais comigo, mas Johanna estava certa. Eu poderia ficar bem. Eu sempre teria ela e Tyler A. E isso sempre seria muito mais que o suficiente.


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Notas finais do capítulo

E aí, preparados para o capítulo final? E para se despedir (temporariamente) da Liv?



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