Começamos a jogar Sonic, mas logo depois trocamos para Mortal Kombat. Precisávamos de algo em que houvesse mais competição. Depois de apenas algumas partidas, descobri que todos ali eram muito competitivos. Não consegui ganhar uma única vez. Minha mãe chegou num ótimo humor, ela adorava ir ao mercado. Ela até se ofereceu para fazer um lanchinho para nós, mas já estávamos cheios de tudo o que comemos no cinema. Mais tarde todos foram embora, Johanna com Caleb (mas eles já estavam discutindo) e o mais estranho, os Tylers saíram juntos, já que suas casas eram na mesma direção.

    Fui dormir bem contente, acordei contente e passei os dias seguintes contente também. Praticamente tudo na minha vida estava bom, exceto minhas notas, que haviam despencado um pouco, mas eu já estava dando um jeito nisso, estudando a cada momento que eu tinha de folga entre a escola, o Muay Thai e escrever na fanfic. As outras coisas que eu tinha para me preocupar estavam se resolvendo sozinhas. A diretora chamou a mim, Johanna e Caleb para a sala dela por causa da briga, mas Johanna deu um jeito de convencê-la que não tinha por que ligar para nossos pais. Will não havia sido expulso, mas tomou a decisão de se retirar do colégio por conta própria. Johanna e Caleb estavam meio que juntos, mas não queriam rotular aquilo de namoro. Eu estava ocupadíssima tendo tantos comentários na história para responder. Um era de um tailandês! Ah, e meu namoro estava bom, tirando o fato que eu ainda não havia apresentado Tyler para os meus pais. O que estava o incomodando um pouco.

  - Não vai acontecer nada, Olivia! – Tyler dizia.

  - Vai acontecer, sim! Você não conhece meus pais!

  - De fato, não conheço. – Tyler retrucava emburrado, apesar de ele já ter visto meus pais.

   Numa sexta-feira, fomos para o shopping com a turma do Muay Thai, como de costume. Tyler quis me dar a mão no caminho, mas eu desviei dele e fiquei perto de Maya e Harper. Nem todos do Muay Thai sabiam que nós estávamos namorando, e eu não tinha certeza que queria que soubessem ainda. Eu não era muito de demonstrar afeto em público e eu também gostava que fossem poucas pessoas que soubessem sobre nós. Gostava que nós só fôssemos “nós” quando estávamos sozinhos. Era quase como se compartilhássemos um segredo. Meu celular vibrou no meu bolso.

  “Vamos para minha casa depois? Minha mãe chega mais cedo do trabalho hoje, e eu poderia apresentar você para ela. Ela já gosta de você desde o dia do parque, vai adorar saber que é você minha namorada.”

    Olhei para Tyler. Ele olhava para mim do outro lado da mesa, esperando minha resposta.

    “Você contou para ela que estamos namorando?”

   “Claro que contei. Ela é minha melhor amiga, conto tudo para ela.”

    Achei isso muito fofo. Eu adorava a relação que Tyler tinha com a mãe dele, mas eu não achava que já estivesse pronta para conhecê-la como namorada do Tyler. Mães tendem a ser super protetoras com seus filhos e não querem que eles namorem, pois é um sinal que estão “deixando o ninho”. Li isso numa revista. Ela podia gostar de mim agora, mas e depois? Além disso, se eu fosse apresentada para a mãe de Tyler, eu deveria apresentá-lo para os meus pais também, não? E eu tinha certeza que não estava pronta para isso.

     “E então?”

    Tyler olhava para mim com as sobrancelhas levantadas. Fiz uma careta.

     “Vamos ver.”

    Felizmente neste momento chegaram as batatinhas, os refrigerantes e o meu chá gelado. Estava muito divertido como sempre, e agora tínhamos ainda mais assunto, por causa das lutas no final das aulas. Harper estava incrivelmente falante, o que era meio esquisito, mas legal. Ela lutava, ao contrário de mim e Maya, e ganhava de quase todos os garotos.

    - Eu sou muito grato aos protetores bucais. – Henrie disse. – Caso contrário, a Harper já teria me arrancado uns cinco dentes.

    - Você viu o tamanho do roxo que ela deixou na minha coxa com aquele chute dela? – Logan acrescentou.

       - Uma garota tem que saber como se defender. – Harper falou dando de ombros, modesta.

    - Mas o que foi que eu fiz para você?? – Bean perguntou de brincadeira, apontado para seu olho roxo e inchado. Ele era tão pequeno, Sam nem devia ter o deixado lutar com Harper e suas pernas compridas.

      Em certo momento, ouvi uma voz conhecida atrás de mim.

     - Liv!

     Me virei e lá estava Tyler A, com o celular em mãos. Me levantei rápido e o abracei. Não deixei de notar que todos na mesa haviam parado de falar e nos observavam. Não me importei com isso.

     - O que você está fazendo aqui? – perguntei sorrindo.

   - Eu ia te perguntar a mesma coisa. Eu vim comprar um cabo para o meu notebook. E você?

    - Ah, essa é a galera da academia. Quase sempre viemos para cá nas sextas-feiras depois do treino. – me virei para eles. Eles já estavam encarando Tyler mesmo, não havia por que não apresentá-los. – Gente, este é o Tyler.

     - Tyler também? – Steve perguntou e olhou para Tyler N.

   - Não, parece que eu sou o “Tyler também” – Tyler N murmurou e quase ninguém ouviu, ou se ouviu, não entendeu. Na verdade nem eu entendi muito bem. Ele estava fazendo uma referência ao meu pai, que o chamou de “Tyler Também”? Ignorei.

   - Bom, eu já tenho que ir. Foi um prazer conhecer vocês, pessoal. Tyler. – Tyler A se despediu. – Tchau, baixinha. – me abraçou apertado e foi embora.

  Voltei para meu lugar de frente para Tyler. Ele estava subitamente calado e pensativo e encarava as batatas fritas abaixo dele.

    - Hummm. – alguém fez e todos riram. Revirei os olhos enquanto sorria também.

    - Ele é meu amigo! – expliquei.

   - Sei... É assim que estão chamando isso agora? Amigo? – Jasper sugeriu.

   - Olly, você não quer ser meu amigo? – Maya perguntou, piscando sedutoramente para ele. Acho que todo mundo da academia sabia que Maya tinha uma queda por Olly. Inclusive Olly.

  - Eu adoraria. – ele respondeu, entrando na brincadeira e nós começamos a gargalhar. Exceto Tyler, que ainda estava quieto.

   Depois mudamos de assunto, felizmente. Conversamos e rimos um tempão mesmo depois de as batatas terem acabado, até que resolvemos que estava na hora de ir para casa. Eu e Tyler sempre íamos para casa juntos, mas ninguém desconfiava de nada, porque, afinal, minha casa era no meio do caminho da dele.

    Eu não parava de falar. Resolvi contar para Tyler que estava escrevendo uma história, só que eu não disse que era totalmente inspirada na minha vida e ele era um dos personagens principais. Eu gesticulava muito quando falava, principalmente quando estava animada, então não nos demos as mãos no caminho, como normalmente fazíamos logo que saíamos do campo de visão da nossa turma. Quando eu finalmente cansei de falar, já estávamos no parque perto da minha casa. Tyler tentou segurar a minha mão e eu a puxei de volta, por costume. Quando reparei no que havia feito, segurei a mão dele.

    - Desculpa, é costume. – expliquei e segurei sua mão mais forte, mas ele não estava exatamente segurando a minha. Ele havia parado de caminhar também. – O que foi? – perguntei preocupada, parando de frente para ele.

    - Por que você não quer segurar minha mão? – ele perguntou intrigado.

   - Eu já disse, foi sem querer, por costume. – ele soltou minha mão completamente.

   - Esse é exatamente o problema. Já virou um costume, não é? Você nunca quer segurar minha mão, nunca quer me beijar, nunca quer me abraçar, nunca quer nada.

    Abri a boca chocada. Essa era a maior mentira que eu já havia ouvido em toda a minha vida. Eu estava o tempo inteiro querendo agarrá-lo!

    - O quê? Isso não é verdade!

    - Ah, não? – ele estava irritado. – Olivia, nós estamos namorando já faz quase um mês e eu acho que eu posso contar nos dedos os momentos em que eu tive a sua atenção. E ainda sobrariam dedos!

   - Tyler! Pare de ficar irritado com isso! Eu adoro ficar com você, mas eu tenho vergonha! – eu estava começando a ficar irritada com a irritação dele. Não era justo! Eu queria tanto ficar com ele, só que a gente não se via com tanta frequência quanto eu gostaria e quando se via, sempre tinha gente por perto. Era difícil conseguir ficar sozinhos!

    - Ah, certo, como eu suspeitava. Você tem vergonha de mim. Eu achava mesmo que era por isso que você não quer me apresentar para seus pais como seu namorado. Ou para qualquer pessoa, na verdade. Pode só me dizer o porquê? Por que você tem vergonha de mim? – ele falou tudo isso calmo, o que me deixou mais irritada ainda.

    - O quê? – perguntei exasperada. Eu não acreditava que estava ouvindo aquilo. Que absurdo! – Eu não tenho vergonha de você, Tyler! Eu tenho vergonha de demonstrar afeto em público! Eu sou tímida! – gritei.

   - Eu também sou tímido, Olivia, e eu não tenho problema algum em gostar de você e deixar que as pessoas saibam disso. E desde quando você tem vergonha de demonstrar afeto na frente dos outros?

   - Desde sempre! – gritei. Ele havia cruzado os braços e levantado as sobrancelhas. Eu queria bater nele.

     - Jura? – sério. Eu ia bater nele.

     - Juro!

  - Pois não parece. Nunca pareceu que você teve problemas em demonstrar seu afeto por Johanna... ou Tyler.

    Eu não acredito. Ele estava com ciúmes.

    - É diferente! Eles são meus amigos!

    - E eu não sou? Você nunca me tratou daquele jeito quando nós éramos só amigos, Olivia. – ele continuava calmo, mas agora parecia realmente magoado. Como ele não entendia que era diferente? Coloquei as mãos nas têmporas, mal acreditando que aquilo estava acontecendo. – Você sabe como eu me sinto, Olivia? Você não pode nem segurar minha mão, mas se joga nos braços do seu amiguinho quando ele chega. Acho que você está com o Tyler errado, afinal.

   - O quê?? – perguntei indignada. Minha mente já não formulava argumentos. Eu só queria sacudir Tyler bem forte até que ele visse o quanto tudo aquilo que ele pensava era absurdo.

      - Chega, Olivia. Cansei de bancar o idiota, me apaixonando por uma garota que gosta de outro cara. Não estou te culpando. Acho que você só está confusa. Quando você ficar com o Tyler certo, vai entender. Então vá lá ficar com ele.

    Eu queria discordar. Queria dizer que ele era o Tyler certo. Que não tinha nada a ver o que ele estava dizendo. Que o outro Tyler era apenas meu amigo e que sempre seria só isso. Queria mais do que tudo pegar a cabeça de Tyler Holt e bater bem forte na parede. Mas estávamos bem no meio do parque e nem havia paredes.

     - Você está terminando comigo? – foi só o que eu consegui dizer.

    Tyler me olhou nos olhos uma última vez e então olhou para o chão quando respondeu:

     - Acho que não deveríamos nem ter começado.

     E assim, com esta declaração final, Tyler – apenas “C” novamente – foi embora e me deixou sozinha no parque.

     Eu estava... bem, acho que nem sei direito como eu estava. Aquilo não tinha acontecido. Não poderia ser real, poderia? Sentei num banco. Eu me sentia entorpecida, e não conseguia pensar em nada. Não sei quanto tempo fiquei parada ali, até que ouvi o toque do meu celular e atendi, sem ver quem era.

     - Liv, você nem sabe! – a voz de Johanna soava animada. – Eu estava na rua com o Caleb e daí... Liv, você está aí? Liv... você está chorando? – agora ela estava preocupada. Só quando ela falou aquilo eu percebi que estivera mesmo chorando. Solucei. – Liv, o que aconteceu??

     - Seu namoro pode ter sido o mais curto da história... – juntei minhas forças e falei. – ...mas o meu foi o segundo.