Wish List escrita por Zoe


Capítulo 18
O show


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se com o reencontro de Liv com Tyler C depois daquele final.



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Okay. As coisas estavam muito loucas. Eu havia começado a escrever a história e resolvi postar num site de Fanfiction. Passara a noite inteira de sexta escrevendo e boa parte do final de semana. Ao final da tarde de domingo eu já tinha cerca de dez mil palavras escritas. Não me preocupei muito se estava bom, poético o suficiente ou engraçado o suficiente, eu só... escrevia. No início, enquanto olhava para aquela página em branco, não conseguia pensar em nada para preenchê-la, mas depois que comecei, parecia mágica. As palavras iam surgindo automaticamente e eu não conseguia parar. A história era totalmente inspirada na minha vida – com alguns detalhes a mais e outros a menos, situações novas e nomes trocados – mas, ironicamente, me fez esquecer a minha vida real. Não pensei em nada, nem mesmo em Tyler e sua boca, e como as coisas estariam na segunda. Quase não me lembrei de dar comida para meus cogumelos e passar a pomada na minha tatuagem. Praticamente esqueci que eu tinha uma tatuagem! Ainda não estava bem certa de que deveria compartilhar a minha história – ou melhor, a história da Ana, minha personagem principal – mas Johanna havia insistido bastante, então depois de escrever o primeiro capítulo no caderno, passei-o para o computador e postei na internet rapidamente, para não dar tempo de me arrepender. E continuei.

 Enfim. Agora era segunda-feira e eu tinha que voltar para o mundo real. Fui na aula e conversei com Johanna normalmente no intervalo, mas minha mente meio que não se desligava daquele mundo alternativo. Até que chegou a tarde e minha cabeça começou a apitar. Tyler. Tyler. Tyler. Como seria hoje? Resolvi não pensar a respeito, porque quando eu começo a pensar, fico louca e, além disso, não pensar havia me ajudado muito recentemente.

 Cheguei à academia antes que ele. Cumprimentei todos que estavam ali como de costume e fui para o vestiário, onde estavam Maya e Harper felizes e animadas como sempre. Ou melhor, Maya estava feliz e animada como sempre. Harper... bem, era a Harper de sempre. Quando já tinha terminado de me arrumar e ajeitado as ataduras – fiquei tão feliz a primeira vez que consegui fazer sozinha – fomos para o tatame usual e lá estava ele. Me olhando bem nos olhos e sorrindo. O sorriso mais cativante do mundo. Não pude deixar de sorrir também.

— Oi, Olivia. – ele disse quando cheguei mais perto.

— Oi, Tyler. – eu disse.

O treino aconteceu como quase todos os outros dias. O aquecimento foi terrível, o alongamento suportável e na parte das duplas... perfeito! Eu e Tyler fizemos duplas como de costume, voltamos a conversar e brincar e rir nos treinos, mas... tinha algo mais. Éramos todos sorrisos e volta e meia um ou outro soltava uma indiretinha. Eu estava explodindo de felicidade. Então Sam gritou uma sequência. Eu estava segurando o saco para Tyler socar e chutar e eu vi que no intervalo entre um jab e um direto ele me olhava mais que o normal. Fiquei me perguntando o que aquilo poderia significar e minhas dúvidas foram respondidas quando invertemos o lugar e Tyler segurava o saco para eu socar e chutar.

 - Olivia... eu estive pensando... vai ter um show aqui daqui a alguns dias, perto da praça, dos Beatles e...

 - Ai, meu deus! – parei de chutar. – Os Beatles??

 - Bem, não os Beatles de verdade, né. É uma banda cover. Mas eles são muito bons. – então Tyler parou e perguntou um pouco confuso. – Olivia, você sabe que não tem mais Beatles, não sabe?

 - Claro, claro. – respondi distraída. – Mas Beatles é rock, não é? – minha mente estava a mil.

 - Sim. – Tyler respondeu ainda confuso.

 - É perfeito! – eu disse e os olhos de Tyler brilharam e ele abriu um sorriso assim que viu o meu. – A gente pode ir, e eu posso chamar a Johanna e o Tyler e quem sabe até o Caleb! – falei animada e o sorriso de Tyler C murchou.

 - Claro. – ele disse e sinalizou para que eu voltasse a chutar.

 Quando saí do treino fui direto para a casa de Johanna, eu estava toda empolgada por causa do show de rock.

  - A gente vai poder realizar mais um desejo da lista! – falei dando pulinhos.

  - A gente? Você está louca, Olivia Tanner Hawkins? – ela perguntou descrente e eu me preocupei. O que eu havia feito de errado? Ninguém nunca me chama pelo nome completo, exceto se eu fiz algo de muito errado. Ai, deus, o que eu fiz?

  - O que eu fiz? – perguntei receosa.

  - Como o que você fez? Você acabou de arruinar seu segundo encontro! O cara ia te chamar para sair e você chama os amigos?

  - Mas... É que todos os outros desejos nós realizamos juntas!

  - Sim, Liv, mas foi, sei lá, por acaso. – não sei com que cara eu olhei para ela, mas ela tratou logo de se corrigir e segurou minha mão.  – Quer dizer, não é como se eu não quisesse te ajudar ou participar, mas é a sua lista! São os seus desejos! Entende o que eu quero dizer? Essa lista tinha o intuito de fazer você se libertar dessas suas neurinhas, de ter medo de tudo. E acho que você também tem que se libertar de mim. De um modo metafórico, está bem?! Não vá acabar a amizade comigo! – eu ri um pouquinho. – Mas você tem que fazer algumas coisas sozinhas. No próximo show que tiver aqui, pode ser Beatles de novo ou mesmo One Direction, a gente vai juntas, está bem?

  - Tudo bem. – concordei com a cabeça e apertei a mão dela.

 - Mas que história é essa que eu realizei todos os seus desejos com você? Eu não te beijei nem te deixei bêbada! – ela disse e nós rimos.

  - É, mas parece que de uma forma ou outra, você sempre esteve envolvida...

  - E eu posso estar novamente. Eu posso te ajudar a escolher uma roupa bem Rock ‘n Roll... ou nem tanto, já que é Beatles né, não Avenged Sevenfold. E você pode me mandar mensagens e fotos e eu vou saber de tudo que está acontecendo.

  Sorri. Essa era a graça de se ter amigos: não se sentir sozinha, não importasse onde ou com quem.

 

—------

 

 No treino de quarta eu sugeri casualmente para o Tyler que fôssemos só nós dois no show da banda cover dos Beatles e ele aceitou prontamente. Outra parte boa é que minha mãe estava de bom humor (e com dinheiro) e me deixou ir ao show e eu nem tive que mentir nem nada (exceto que eu não disse que estávamos indo só eu e Tyler). Além disso, o treino de quarta foi ótimo e ainda melhor na sexta. E havia muitas indiretinhas. Muitas. Se eu achei que havia tido um progresso no Muay Thai, regredi totalmente. Não conseguia mais colocar força nos braços ou coordenar as pernas. Simplesmente porque eu não conseguia me concentrar! Eu soltava algumas indiretinhas engraçadinhas de vez em quando, mas Tyler era o tempo todo! E isso me deixava totalmente confusa! Ele estava gostando de mim? Era isso? Ou, sei lá, ele quer ser só um daqueles amigos com quem a gente fica de vez em quando. Não que eu já tivesse tido esse tipo de amigo, mas pra tudo tem uma primeira vez. Fiquei contente com essas possibilidades. Tudo bem, se a gente não fosse ficar juntos e felizes com dois filhos, três cachorros e uma tartaruga, pelo menos a gente podia dar uns beijos de vez em quando.

  Só que essa ideia só me deixava animada na minha imaginação. Porque eu sou romântica, eu acho. E acho que estou realmente gostando do Tyler. E se ele não quiser nada além de uns beijos... eu não sei se ficaria totalmente feliz. Enfim, tentei não ficar pensando muito nessas coisas durante os treinos, o colégio e os estudos em casa (o que totalmente não funcionou) e fui feliz sábado para a casa de Johanna me arrumar para o show. Apesar de ser show de rock, minha roupa não estava das mais punks. Escolhi uma bata branca com detalhes de arabescos em azul, uma saia preta curta, simples, e uma rasteirinha bege. O cabelo deixei solto mesmo e maquiagem foi quase zero: só um delineador e um batom cor de boca. Pronto. Abracei Johanna que me desejou “bom show e dá uns pegas no Tyler” e fui de ônibus até a praça, onde Tyler estaria me esperando e nós iríamos juntos ao show.

  Quando cheguei, Tyler estava lá, lindo, mas isso já não era novidade. Mas meu coração deu um pulinho igual. Nos cumprimentamos e fomos caminhando e conversando até chegar ao local do show. Tinha muita gente. Muita. Tipo a quantidade de gente que se esperaria se fossem os Beatles de verdade tocando. O show era a céu aberto e não tinha nenhum lugar para sentar, mas tudo bem. Ficamos de pé curtindo o show no meio da multidão com o vento levando meus fios azuis para todo lugar. A banda era realmente muito boa e tinha algumas músicas que eles fizeram a sua própria versão e acabaram ficando muito boas também.

  E o show tinha uma energia muito boa. Eu não me sentia sozinha ou triste de qualquer jeito (até porque Tyler estava bem do meu lado). Só me sentia... em paz, feliz. Quando a banda começou a tocar “Hey Jude”, eu fechei os olhos. Ainda estava de olhos fechados quando senti Tyler segurar minha mão. Abri os olhos lentamente, como se aquilo tudo fosse um sonho e se eu abrisse os olhos, acabaria. Mas não acabou. Quando olhei nos olhos de Tyler, ele sorriu. Um sorriso tímido e lindo que só ele tinha. Eu não tinha forças para sorrir de volta. Eu estava me desmontando por dentro. Meu coração estava fazendo uma ginástica rítmica digna de ganhar medalha de ouro nas olimpíadas e meu estômago parecia que tinha trocado de lugar com o fígado, ou algo assim. Felizmente não vomitei nem nada do tipo, obrigada, Deus. Reuni as forças e apertei a mão dele.

 Parecia mágica. O momento era mágico. Tão suave e tão bonito. E então... bum! Tudo explodiu de uma hora para outra. É claro que as coisas não poderiam simplesmente dar certo para mim.

  A música nem havia acabado e do nada – do nada mesmo – surgiu uma garota loira muito bonita de top e shorts muito curtos. E o pior é que ela conseguia ser extremamente estilosa só de top e shorts. Mas eu só fiquei pensando “caramba, ela não está com frio?”. Tudo bem que nós estamos no outono e ainda não é tão frio, mas era de noite e tinha um bom ventinho. Eu estava tremendo com aquela saia. E então ela gritou:

 - Tyleeeeer! – sim, com todos esses “es”. Quando Tyler se virou, ela caiu nos braços dele.

  E o beijou. Na boca.

  Acho que o pior de tudo é que Tyler ainda estava segurando minha mão, então eu me senti MUITO ridícula. Tratei logo de soltar a mão e comecei a andar. Para mais perto do palco. Para mais longe deles. Nossa, e eu pensando que eu era especial. Que todos aqueles sorrisinhos de canto de boca tinham um outro significado. Mas é claro que ele devia sorrir assim para todas as garotas. De repente ele sorri assim para todo mundo e eu não havia percebido, achei que era só para mim. Me senti tão ridícula que me deu vontade de chorar. No lugar eu ri. Ri porque foi nesse exato momento que a banda resolveu tocar “All you need is love”. Que droga.

 - Olivia! – ouvi Tyler gritar já perto de mim e eu voltei a caminhar para longe.

 Mas ele deu um jeito de ser mais rápido que eu e segurou meu braço, me fazendo parar. Juntei todo aquele sentimento bobo que eu tinha por ele e transformei em raiva. Isso não era saudável, eu sabia, mas era uma forma de me proteger. Eu já estava me sentindo vulnerável o suficiente, obrigada. Me virei e lancei o olhar mais mortal que consegui para ele.

 - O que foi? – gritei, por causa da raiva e porque não dava para escutar nada no meio daquela multidão que cantava em coro alegremente que tudo o que eu precisava era amor. Sabichões.

 - Olivia, me desculpe pela Sasha. – Sasha. Até o nome era nojento.

 - Não se preocupe, Tyler, você não precisa se desculpar por nada. – retruquei.

 - Claro que preciso! Não era para a Sasha chegar do nada e me beijar!

 - Olha, Tyler, não precisa ficar se escondendo, tudo bem? Você pode beijar a Sasha e quem mais você quiser na hora e no lugar que você quiser! Só não segura a minha mão e me faz me sentir mais ridícula do que eu já sou! – gritei e senti meus olhos marejarem. Não, não, não. Eu não podia chorar naquele momento.

 Tyler levou as mãos na cabeça, exasperado.

 - Olivia, você está entendendo tudo errado!

 - Não, Tyler! Agora eu estou entendendo tudo certo! Errado eu estava entendendo antes, quando eu pensei... pensei que poderíamos ser mais que amigos! Pensei que tínhamos algo especial! Pensei que você gostava de mim.

  - E eu gosto! – Tyler gritou e segurou minhas mãos. Por um momento fiquei tão chocada que não consegui reagir. – Olivia, a Sasha e eu, nós tivemos um... lance. – legal, agora eu já conseguia puxar minhas mãos da dele. Mas quando tentei, ele segurou as minhas mais forte ainda. – Mas foi há muito tempo atrás! A gente não tinha nem se visto desde que terminamos e hoje... ela estava muito bêbada. – ele explicou e agora que ele disse, acho que ela estava mesmo segurando um copo grande de plástico de cerveja. – E eu não sei por que ela fez aquilo! Na verdade, nem ela sabe direito, ela me pediu desculpas também.

 - Hum. – foi tudo o que eu disse.

 - Eu preciso que você acredite em mim, Olivia, porque eu também acho que a gente tem algo especial. – ele ainda estava segurando minhas mãos e me puxou para mais perto dele. Nossas barrigas estavam quase se tocando e ele precisava olhar para baixo para falar comigo. Ele não era muito mais alto do que eu. Parecia que ele tinha a altura certa. Eu podia sentir o coração dele contra o meu, os dois batendo forte e rápido. – E eu gosto muito de você. De verdade. – prendi a respiração. – E eu acho, na verdade eu gostaria, que nós fôssemos mais do que amigos.

  Não sei se eu o beijei, ou ele me beijou, só sei que num momento estávamos nos olhando parados no meio de uma multidão, e no outro nossas bocas estavam seladas num beijo apaixonado. Pela primeira vez na vida minha mente foi legal comigo e eu não fiquei pensando em como ele tinha acabado de beijar outra garota. O beijo estava muito bom para eu pensar em qualquer coisa. Só o que eu percebi foi que a música havia mudado e agora tocava “Let it be”, minha música favorita dos Beatles.

   Quando nós finalmente paramos de nos beijar para recuperar o ar, continuamos abraçados. Eu não queria correr o risco de estragar o momento, mas eu tinha que perguntar:

   - E então? Nós estamos namorando agora?

   Tyler pegou uma mecha do meu cabelo (que meio que tava voando na cara dele) e delicadamente colocou atrás de uma de minhas orelhas.

  - Isso depende.

  Como assim “depende”? Do quê??? Aff, é claro que tinha que ter alguma coisa!

  - Você quer namorar comigo? – ele completou.

 Soltei uma gargalhada sem querer. Que pergunta idiota!, pensei e quase falei. Tyler só ficou me olhando esperando por minha resposta.

 - É claro que eu quero!

 Voltamos a nos beijar e ficamos meio que só fazendo isso o resto do show. Numa parte eu me lembrei de uma coisa, no entanto, e me desvencilhei dele. Vasculhei minha pequena bolsa até encontrar meu celular.

 - Foto! – anunciei.

 Nos viramos de forma que a foto pegasse muita gente e um pedaço do palco. Tyler fez careta e eu sorri, porque era só o que eu conseguia fazer. E então eu mandei a foto para Johanna com uma legenda bem espalhafatosa:

“Primeira foto do CASAL”.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente! Desculpem se este capítulo ficou meio dramático e não tão engraçado quanto os outros, mas, por favor, né! A Liv também merece um pouco de romance nessa vida. Beijos. Deixem comentários.



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