Wish List escrita por Zoe


Capítulo 11
Cogumelos e chocolate


Notas iniciais do capítulo

Aí ta mais um capítulo, pessoas queridas que não me deixam reviews. Eu amo vocês mesmo assim.



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Ai, caramba. O Tyler está me ligando! Como ele conseguiu meu número? O que será que ele quer falar comigo? Não importa, é o Tyler! Atende, logo, mulher, falei comigo mesma.

Ajeitei minhas costas e limpei a garganta, tentando fazer uma voz sexy quando finalmente atendi ao telefone.

– Alô? – falei com uma voz que, acredito, estava num misto de casualidade com sensualidade.

– Que voz é essa, Liv? – murchei por dentro.

– Ã? Tyler? – a voz do meu melhor amigo soava do outro lado da linha.

– Sim, quem mais seria? Seu celular não tem identificador de chamada?

– Tem, é que, ah, esquece. O que você queria falar comigo? – perguntei, mas ainda estava indignada. Como eu havia esquecido que havia outro Tyler na minha vida? Como eu tinha me esquecido do meu melhor amigo, que eu conheço há longos sete anos? E o que o outro Tyler, esse novo Tyler, estaria fazendo me ligando? Ele nem tem meu número! Meu deus, às vezes eu me supero na minha idiotice.

– É que eu consegui uma festa.

– Ah, que ótimo! Quando?

– Dia vinte e dois, daqui a duas semanas, num sábado. É uma festa de faculdade, então vai ter bebida.

– Perfeito. Obrigada, Tyler.

– Às ordens. Mas agora, Liv, você vai ter que me dizer: que raios de voz era aquela?

– Ah, era uma voz sedutora, você não achou?

– Ahn, Liv, se aquilo era para ser uma voz sedutora, tenho uma notícia para você: você está fazendo isso ERRADO.

– Oh, desculpe, Senhor Mestre da Sedução. Você poderia, então, me mostrar como seria uma voz sexy?

– Claro, meu amor. – ele disse com uma voz rouca que não parecia nada com a dele e eu tive que rir, muito.

– Acho que me apaixonei. – brinquei. – É assim que você ganha suas garotas?

– Claro, ninguém resiste ao Tyler. – ele disse, o que me fez lembrar do outro Tyler.

– Uau, elas estão ferradas então. – falei rindo.

– Ah, vai dormir, Olivia. – ele riu também.

– Vou mesmo, boa noite.

Porém, depois de desligar não fui dormir; antes fiz uma coisa muito importante: fui nos meus contatos e mudei o nome de Tyler para Tyler “A”, de amigo. Porque se um dia eu viesse a ter o número do outro Tyler, eu poderia colocar como Tyler “C”, de colega de academia. Ou N, de namorado, vai saber.

–-----

Se tem uma coisa que eu amo são cogumelos. Tudo com cogumelo fica ótimo. Sopa, salada, molho, macarrão, enfim. Cogumelo é algo MARAVILHOSO. Por isso que quando eu ganhei dois Golden Retrievers, há três anos, tive certeza dos nomes deles: Shitake e Shimeji, dois dos meus tipos de cogumelos preferidos. Como hoje era sábado e eu não tinha nada para fazer, resolvi passear com eles num parque perto da minha casa, já que eu não fazia isso há tempos.

Estava fazendo um lindo dia, e eu decidi estrear uma saia fofa que eu havia ganhado de aniversário: preta, rodada e com pequenas florezinhas azuis. Pus uma regata branca lisa e rasteirinhas azuis-escuras e fui com meus dois cachorros aproveitar aquele lindo dia de sol. O caminho até o parque foi tranquilo, escolhi estrategicamente um caminho por onde eu sabia que havia poucos animais nas ruas e casas e o máximo de “problema” foi quando Shitake resolveu fazer suas necessidades num gramado bem cuidado de um senhor mal-humorado. Mas tudo bem, pedi desculpas, recolhi o cocô e continuei a caminhada.

Chegamos ao parque e eu parei. Tinha uns dez cachorros lá, pelo menos. Alguns com seus donos, outros de rua, mas eu me preocupei. Shimeji e Shitake não eram acostumados com outros animais e eu não sabia como eles reagiriam. E se eles arranjassem briga? Como é que eu ia separar doze cachorros? E se eles se machucassem? E se eu me machucasse?

Respira. Vamos lá.

– Vocês viram todos aqueles cães? – comecei a conversar com os meus enquanto andava calmamente até o parque. – Eles são todos bonzinhos, exatamente como vocês. Não precisam ficar desconfiados. Quem sabe vocês até possam brincar juntos. – falei mais para convencer a mim mesma.

Minha intenção inicial era soltá-los no parque e jogar gravetos para eles buscarem, um truque que eu já havia treinado antes, mas com todos aqueles animais, segurei as coleiras com mais força ainda. Fui me aproximando devagar de um banco, onde estava sentada uma mulher de uns trinta e poucos anos.

– Olá. – cumprimentei e ela retribuiu, sorrindo.

Tentei pensar no que fazer, mas Shimeji e Shitake já estavam impacientes e não queriam ficar parados.

– Calma, meninos. – tentei acalmá-los e fazer com que parassem de puxar as correntes, mas não funcionou.

– Por que você não os solta? – a mulher do meu lado sugeriu.

– Ah, é que eu não sei como eles vão reagir aos outros cachorros, eles não são acostumados com outros animais.

– Você não quer que eu chame meu cão para perto e ver como eles reagem?

– Oh, seria ótimo! Obrigada...

– Sonia. Sonia Holt. – ela estendeu a mão e eu apertei.

– Olivia Hawkins.

Logo após as apresentações, Sonia assoviou e gritou “Wolverine” e um Yorkshire veio até o banco em poucos segundos. Ela deu um sorriso torto e explicou:

– Meu filho que escolheu o nome.

Ela colocou o Wolverine perto dos meus cães, que levantaram-se imediatamente, interessados.

– Wolverine, conheça...

– Shimeji e Shitake. – completei apontando para cada um deles e Sonia deu uma risadinha.

Fiquei apreensiva observando os cachorros. Eles se revezaram cheirando uns aos outros e por fim latiram, como se entrassem em um consenso: “está tudo bem, ele é amigo”. Finalmente tive coragem de soltar as correntes das coleiras, e Shimeji prontamente correu, fazendo um tour pelo parque, enquanto Shitake dava voltas pulando alegremente ao redor do novo amigo, querendo brincar. Fiquei ali observando os cachorros durante um tempo e conversando sobre banalidades com a mulher ao meu lado. Ela era muito simpática.

– Acho que o Wolverine está com fome. Vou pedir para o meu filho comprar um pouco de ração para ele. – ela disse e gritou para um garoto parado do outro lado do parque com alguns amigos.

Olhei para o garoto que vinha na nossa direção e ri. Ele se parecia muito com Tyler. O da academia, não o meu melhor amigo. Ele foi chegando mais perto e eu pensei “Nossa, é muita semelhança”. E então tive que corrigir a frase: não era muita semelhança, era muita coincidência. O garoto era realmente Tyler! Quer dizer que todo este tempo eu estive conversando com a mãe do Tyler? Não soube como reagir a isto.

– Oi, mãe. - quando Tyler finalmente me notou ele abriu um lindo sorriso. – Hey! Olivia!

– Oi! – respondi sorrindo também, um pouco surpresa.

– Vocês se conhecem? – a mãe do Tyler perguntou.

– Olivia é minha nova colega de academia.

Colega de academia. Estas palavras reverberaram na minha cabeça. Nem um “amiga”? Tudo bem, nós nos conhecíamos há apenas uma semana. Calma.

– Oh, que coincidência. Bem, Tyler, preciso que você vá ao mercado comprar um pouco de ração para o Wolverine e...

Um barulho repentino de uma dúzia de cães latindo tirou minha atenção da conversa. Procurei por Shimeji e Shitake com o olhar e encontrei-os com o pelo eriçado rosnando para algo acima deles. Em cima de uma árvore, um gato preto caminhava despretensiosamente por um galho, alheio aos cães furiosos que o observavam.

– Ai, droga. – falei e Sonia e Tyler olharam para mim e então para os animais.

Fui a largas passadas até a árvore e tentei me aproximar dos meus cachorros, que me ignoraram. Com cuidado, conectei as correntes às coleiras novamente, sem que eles percebessem, tamanha a concentração no gato. Expirei pela boca e pensei: tudo bem, agora é só distraí-los e levá-los embora. No entanto, eu me esqueci do gato, que sem noção nenhuma, desceu da árvore num pulo e correu na direção de um pátio do lado do parque. E é óbvio que todos os cachorros correram atrás dele. E eu fui junto.

Soltei um grito assustada enquanto me esforçava para não ficar para trás e acabar sendo arrastada por meus cães, que corriam loucamente atrás do gato. Eu tinha que fazer alguma coisa e eu apostava dez fichas de que eu não teria força o suficiente para parar os dois. Então puxei forte apenas o braço direito, onde estava Shitake, que voltou para trás com o puxão. No entanto, Shimeji ainda estava correndo, e assim que se recuperou, Shitake também voltou a correr, passando debaixo das minhas pernas.

– Shitake, nãããão!!! – foi tudo que eu consegui dizer antes de ter uma perna arremessada para cima e de alguma maneira cair com os joelhos e o rosto no chão.

O gato entrou no pátio e os cachorros desistiram da caçada, me olhando alegremente, como se nada tivesse acontecido. Ouvi passos vindo à minha direção e logo Tyler e sua mãe estavam na minha frente perguntando se eu estava bem e tentando me ajudar a levantar e segurar os cachorros. Era impressão minha ou Tyler parecia um pouco corado?

Fui dizer que estava bem, e então senti. Um vento. E foi aí que eu percebi que a minha saia tinha subido até a cintura.

AI MEU DEUS. EU ESTOU COM A BUNDA DE FORA. VIRADA PARA CIMA. AI MEU DEUS, O TYLER VIU A MINHA CALCINHA! A MÃE DO TYLER VIU A MINHA CALCINHA! O PARQUE INTEIRO VIU A MINHA CALCINHA!

Hoje teríamos ensopado de cogumelos.

Levantei rapidamente enquanto puxava minha saia, olhando para baixo com o rosto fervendo. Sonia, com Wolverine nos braços, não parava de perguntar se eu estava bem.

– Ah, olhe os seus joelhos! Estão todos ralados. Vamos até a farmácia fazer um curativo.

– Ah, não precisa, obrigada, acho que já vou para casa. – ela continuava a me olhar preocupada, então acrescentei: - Não estão doendo nem nada, e eu moro aqui pertinho.

– Você não quer ajuda com os cachorros? – Tyler se pronunciou.

– Ah, não preci... – e neste instante o gato voltou ao parque e Shimeji deu uma guinada na direção dele, quase me derrubando novamente. – Seria ótimo.

Tyler me acompanhou até minha casa, conduzindo Shimeji. O caminho inteiro foi acompanhado de um silêncio constrangedor. Quando chegamos, ele me ajudou a colocar os cachorros na parte do pátio destinada a eles e servi-los de água. Quando já estava agradecendo a Tyler pela ajuda, minha mãe apareceu.

– Ah, olá. – ela olhou surpresa para Tyler. Apresentei os dois brevemente e estava praticamente empurrando Tyler até o portão, quando minha mãe sugeriu algo. – Liv, porque você não convida seu amigo para ficar mais um pouco? Está passando Transformers na TV.

– Ahn... – comecei incerta. – Você quer...

– Eu adoro este filme. – Tyler sorriu.

–-----

Ok. Tyler Holt está sentado na minha sala de estar. Eu estou pirando.

– Ahn, eu vou pegar algo para nós comermos.

– Tudo bem. – Tyler parecia bem à vontade sentado relaxado no sofá, enquanto observava Shia LaBeouf conversar com carros.

– Ahn, eu já volto então. – sua idiota, pare de iniciar as frases com “ahn”!

O quê que eu sirvo para ele? Um salgadinho? Algo mais sofisticado? Leite com achocolatado? Já sei: chocolate! Todo mundo gosta de chocolate, certo? Mas não seria muito pretensioso? Você está demorando, ele vai achar que está preparando um banquete. Ah, vai chocolate mesmo.

– Gosta de chocolate? – perguntei assim que sentei ao seu lado no sofá, mantendo uma considerável distância.

– É claro. Quem não gosta de chocolate? – respirei aliviada e alcancei a barra do doce a ele. – Mas devo avisar que eu gosto de chocolate mais do que as outras pessoas.

Ele pegou um pedaço e colocou em sua boca, fechando os olhos e saboreando o doce com prazer. Ops, deixa eu limpar a baba que escorreu aqui um pouquinho. Fiquei observando o movimento de seus lábios e imaginei o que aconteceria se eu o beijasse agora. Humm, com certeza teria gosto de chocolate. Estava tão concentrada nestes pensamentos que até levei um susto quando ele de repente abriu os olhos e perguntou:

– Você não vai comer?

– Ã, é claro. Assim que você me alcançar a barra.

– O quê? Você não trouxe para você?

– Eu pensei que dividiríamos.

– Sem chance. É tudo meu. – ele riu.

– Cinquenta por cento. – falei enquanto me inclinava para tomar o chocolate de suas mãos. Peguei um pedaço do doce e ele pegou de volta.

– Noventa por cento. – e enfiou o chocolate na boca.

– Trinta! – roubei a barra e comi um bom pedaço rapidamente, e escondi a embalagem atrás de mim.

Tyler então fez cócegas em mim até eu me movimentar no sofá o bastante para que ele conseguisse pegar a barra de volta. Sem alternativas, desisti. Fiz uma cara triste e Tyler apertou os olhos. Então ele quebrou um pedaço da barra e me alcançou.

– Sessenta e cinco. E isso é o máximo que você vai conseguir de mim.

–-----

No final, Tyler não havia me ligado, mas havia ido à minha casa, cuidado dos meus cachorros, comido chocolate e assistido filme comigo, e conversado até que sua mãe finalmente ligou dizendo que estava ficando tarde.

E isso foi muito bom, principalmente porque nos deu assunto para a semana inteira, quando ele fez dupla comigo nas aulas de Muay Thai. E entre um chute e outro, nós rimos tanto que chegamos a ser advertidos por Sam. E quando chegou a sexta-feira e todos fomos para o shopping perto da academia, no lugar do refrigerante, eu recebi um chá gelado e uma piscadela.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acham dessa interação com o Tyler?



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