Nossa Culpa escrita por otomriddle


Capítulo 1
Capítulo 1




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Tom observava a lápide em sua frente em silêncio. Era elegante, as palavras ainda legíveis devido ao pouco tempo que se encontrava ali. O corpo fora enterrado não fazia mais do que duas horas. O cemitério estava vazio agora. Todos que compareceram para a cerimônia já haviam há muito ido para casa, espantados pela chuva fina que caia sem trégua desde a noite passada. Fazia frio e com cada respiração de Tom fumaça aparecia na frente de seu rosto, dando a impressão que ele fumava algum cigarro invisível. Mas é claro que ele não fazia isso. Parara de fumar fazia três anos.

Aqui jaz Thomas Riddle Sr., filho amado e amigo querido. Do pó viemos e ao pó voltaremos.” Tom murmurou as palavras em sua frente, franzindo o cenho. Nunca entendera aquela frase. Humanos não vinham do pó. Podiam se tornar pó, tudo bem, mas não iniciavam a vida assim. Alguém precisava de aulas de biologia. Suspirou, enfiando as mãos nos bolsos dos casacos profundamente. Ele sabia o que estava fazendo, mas não podia se impedir. Tom simplesmente não conseguia se fazer encarar o fato que seu pai morrera. Era algo que seu cérebro não aceitava, então concentrava sua atenção em coisas sem importância. A chuva continuava a cair, mais forte agora, obscurecendo sua visão. Podia sentir os pingos frios descerem por seu rosto e se infiltrarem em suas roupas, mas não se moveu.

Aquilo tudo era muito irreal. Se lembrou de quando era jovem, não devia ter mais de dezesseis anos. Ele fora até a mansão dos Riddle com um pensamento em mente: matar todos os habitantes do lugar, matar todos que o fizeram sofrer. Tom se sentira mais abandonado e perdido do que nunca naquela noite. Mas algo o fizera pensar; o fizera parar; o fizera voltar. Se passaram dez anos desde então, e o jovem jamais voltara até aquela casa novamente. Não conhecera seu pai; ou avós. Mary e Thomas Riddle, eram seus nomes. Ambos compareceram ao enterro do filho, obviamente. A senhora chorava sem parar, e o homem tinha uma expressão séria no rosto enquanto tentava consolar sua esposa, sem sucesso. Tom ficara escondido nas sombras das árvores durante todo o processo. Sabia o quão parecido ele e seu falecido pai eram, e não queria causar nenhum choque. Não queria que descobrissem seu parentesco e fizessem expressões de horror vazias, enquanto murmuravam sobre que infortúnio era que ele nunca mais pudesse falar com o outro.

De repente, foi como se uma pedra se instalasse em seu coração. Tom Riddle Sr. estava morto. Seu pai estava morto. Tom sentiu um nó na garganta se formar enquanto engolia em seco. A chuva continuava a cair, mas não eram apenas pingos de chuva que escorriam pelo seu rosto agora. Ele nunca conhecera seu pai realmente. Nunca tivera a oportunidade de perguntar porquê lhe abandonara. Porquê nunca fora procurá-lo.

Eu não era bom o bastante?” Se encontrou perguntando em voz alta para a pedra fria. Considerado o melhor aluno de Hogwarts desde Dumbledore. O Ministro da Magia mais jovem que já existira. Um dos aurores mais temidos no Mundo das Trevas. Mas parecia que tudo aquilo não fora o bastante para que seu pai fosse lhe procurar. Não fora o bastante para fazer aquele homem que agora jazia sob seus pés se orgulhar. “Você não sabia de minha existência?” Sua voz saiu meio estrangulada. Mas Tom sabia que aquilo era mentira. Seu próprio tio admitira que todos na cidade, incluindo seu pai, sabiam sobre a gravidez de Merope. A chuva diminuíra, mas as lágrimas continuavam a escorrer por seu rosto. “Você não podia ficar comigo por alguma razão?” Sussurrou finalmente. A pedra fria lhe encarava de volta, as palavras imutáveis não importando quantas respostas fossem exigidas. Quantos pedidos fossem feitos. Seu pai jamais poderia lhe explicar suas razões agora, fossem elas boas ou ruins. Tom jamais entenderia.

Ele finalmente levantou o olhar. Uma estátua antiga de anjo, já quebrada em diversas partes, estava há alguns passos de distância. A chuva fazia parecer que a estátua também chorava, compartilhando da dor de Tom. O jovem balançou a cabeça, rindo sem humor.

A culpa foi sua.” Ele começou a dizer, erguendo o rosto para o céu cinzento, fechando os olhos. “Porquê não podia simplesmente aceitar isso? Pedir perdão? Reconhecer que errou? Mas você preferiu ignorar. Preferiu colocar a culpa em outra pessoa. Em mim, talvez.” A chuva parara finalmente. As lágrimas dele secaram e já não mais caiam. Olhou outra vez para a lápide. Nada mudara ali. Apenas Tom. Apenas seu pai. Apenas tudo. “Eu aceito sua culpa, pai. Sinto muito nunca ter lhe procurado. Sinto muito nunca ter lhe orgulhado. Sinto muito ter nascido. Sinto muito...” O jovem se inclinou e tocou na pedra úmida por um breve momento. E então deu as costas para seu pai pela segunda e última vez em sua vida.


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