BELLA POV

Festas surpresa nunca haviam sido o meu forte. Celebrações em geral não me agradavam, mas ser pega de surpresa tornava tudo ainda pior, ainda mais se considerando que eu planejava contar toda a verdade para Edward alguns minutos atrás. Felizmente, ou não, eu havia desmaiado e meu charmoso vizinho ainda não sabia de nada. A surpresa me impedira de fazer uma grande tolice, talvez um erro desastroso. E pela primeira vez eu fiquei feliz por causa de uma festa surpresa.

Enquanto observava Edward caminhar por entre os familiares, percebi que talvez, deixá-lo no escuro quanto à paternidade de meu filho fosse o melhor a ser feito. Assim, ele teria a oportunidade de crescer profissionalmente como sempre quisera. Eu sempre continuaria amando-o em segredo, mas pelo menos ele seria feliz e o meu filho sempre teria o tio Edward por perto...

Minha teoria de mais cedo, de que Edward havia mudado, havia se mostrado verdadeira. O antigo Edward jamais perderia tempo me organizando um chá de bebê surpresa. De relance, ouvi Edward conversando com o irmão, Emmett, sobre a conversa que teria com o promotor. O encontro finalmente havia sido marcado, e seria dentro de dez dias.

— Isso mesmo. Se tudo der certo, vou passar a ficar responsável pelos processos de Port Angeles também. Não é muito, mas com certeza é melhor do que levar vândalos a julgamento por pixar muros.

Ao meu lado, Esme, mãe de Edward, ainda acariciava meus cabelos, enquanto Alice, filha da mesma e irmã de meu vizinho, segurava um copo de água para mim.

— Ainda parece um pouco pálida, querida. Talvez seja melhor você se deitar... — Esme dissera.

— Não precisa, já estou me sentindo melhor — disse. A amorosa mãe de Edward lembrava-me um pouco de minha própria mãe, sempre presente e protetora.

— Talvez não devêssemos ter feito a festa surpresa... Esse monte de gente reunida não agrada a algumas pessoas... — Alice dissera

— Edward disse que você jamais concordaria com um chá de bebê, por isso fizemos a surpresa. Ele sempre diz que você é muito teimosa — Esme explicara.

Fiz uma careta e em seguida dei risada. Ele me conhecia tão bem...

— Como se ele mesmo não fosse teimoso... Não sei por que todo esse trabalho para conseguir assumir os processos de Port Angeles também. Quer dizer, ele vai ter que trabalhar em dobro e para que? Até o salário será o mesmo — Alice comentara.

— É o sonho dele — o defendi.

— Mas a vida não é feita de sonhos, querida. Precisamos ser realistas às vezes, por mais que o mundo da fantasia seja mais atraente — Esme dissera.

— Não consigo entender porquê ele não arranja uma boa garota, sossega e enche a casa de filhos como eu ou Emmett — Alice falava, enquanto limpava a boca da pequena Claire, sua filha caçula, de pouco mais de um ano.

— Como podem pedir que ele desista? Após todas as horas de trabalho árduo e...

— Por isso mesmo. Isso deveria provar que talvez ele não tenha capacidade de ser tão grande assim. Torço muito por ele, mas ter vindo para essa cidadezinha foi o melhor que nos aconteceu. Ele deveria parar de trabalhar feito um louco e aproveitar a vida. Ter filhos e casar-se enquanto é jovem e não arrepender-se quando for tarde demais.

Não me admirava que Edward trabalhasse com tanto afinco, tinha de provar a todos os familiares que era capaz de mais do que fazia.

— Como pode dizer uma coisa dessas? Nenhuma de vocês tem sonhos? — pedi, um tanto indignada.

— Ei, fale baixo. Ele vai acabar ouvindo — murmurara Alice.

— Pois, talvez devesse. Ele é brilhante e dedicado, sonha em poder fazer mais, não só para si mesmo, como para os outros. Quer transformar Forks e as redondezas em um lugar melhor. Se tem que trabalhar dia e noite para conseguir dividir isso com o mundo, então, acho que ele deve fazê-lo — disse com a voz ainda mais alta.

Foi então que percebi que a sala havia ficado completamente em silêncio. Droga. Vi a cabeça de Edward virando-se em minha direção e fiquei preocupada. Teria ele ouvido tudo o que acabara de dizer?

— Que barulheira toda é essa? — perguntou se aproximando.

— Viu o que você fez? Agora ele vai ficar bravo comigo — resmungou Alice, baixinho. A essas alturas, Esme já dava gargalhadas da filha mais nova, pois a mesma detestava levar sermões do irmão.

Sorri para Edward, enquanto o mesmo se postava atrás de mim, com as mãos sobre meus ombros.

— Nós estávamos apenas disputando o último pedaço de bolo — Alice inventou, enquanto mostrava a última fatia restante do doce.

Felizmente, ele pareceu acreditar e em seguida, as mulheres da família Cullen, junto com a recém chegada Rosalie, passaram a discutir outro assunto.

— E então, mamãe, o que acha de abrirmos os presentes? Seth, me ajude a buscá-los — ele perguntou

Observei-os, enquanto via-os voltar com diversos embrulhos coloridos nos braços.

— Edward não deixou nem ao menos que colocássemos os presentes em caixas. Disse que ele mesmo os embrulharia — Rosalie comentou e eu podia jurar que havia visto Edward ficar com a face rubra de vergonha.

— Jasper também ficou meio louco pouco antes de Claire nascer — Alice dissera. Ela e a cunhada riram ao mesmo tempo.

— Ele é tão protetor com você e o bebê, que quem o visse acharia que ele é o pai — Esme disse, olhando para mim. Engoli em seco, pouco antes de dar uma gargalhada, tentando disfarçar.

— Por falar em pai, por que não nos conta sobre o seu namorado? — dissera Rosalie, batendo de leve em meu joelho.

— Meu namorado?

— É. Conte-nos. Adoraríamos ouvir a sua história de amor — sugeriu Esme.

— Jacob, não é mesmo? Conte-nos tudo sobre ele — disse Rosalie, sorrindo.

Sorri, sem graça, e me preparei para repetir aquela história mais uma vez.

EDWARD POV

Ao ouvir Rosalie mencionar o nome de Jacob, dei as costas e marchei em direção à cozinha. Eu precisava ficar sozinho, nem que fossem por míseros cinco minutos, em um lugar onde não ficassem me lembrando constantemente do facínora que abandonara Bella grávida.

Infelizmente, o cômodo não estava vazio e quando eu me sentei em uma das cadeiras, desabando sobre a mesma, pude sentir que Angela Webber me encarava com o olhar.

— Eu não agüento mais isso. É Jacob isso, Jacob aquilo... Será que ninguém percebe que ela não quer mais saber dele? — desabafei.

— E pretende fazer o que a respeito? — perguntou, enquanto largava sobre a bancada da pia o copo com água que a pouco estava bebendo.

— O que eu vou fazer?

— É. O Edward Cullen que eu conheço não ficaria de braços cruzados, enquanto outro cara rouba a sua garota — ela argumentara.

Olhei-a, sério. Estava tão na cara assim que eu estava me remoendo de ciúmes a simples menção do nome de Jacob?

— Sim, meu caro, está óbvio. Qualquer um que preste um pouco de atenção ao seu comportamento com Bella consegue perceber que você está apaixonado por ela — ela respondera, como se conseguisse ler os meus pensamentos.

Afundei meu rosto em meus braços, sobre o tampo da mesa. Fiquei em silêncio por alguns instantes, mas percebendo que já não era mais segredo para Angela o que eu sentia por Isabella, dei continuidade a conversa.

— Como?

Pensei na conversa que Bella estaria tendo com as mulheres da minha família neste instante, contando-lhe sobre o seu misterioso e romântico Jacob. Eu não tinha o direito de destruir as chances de ela ter uma vida feliz, mesmo que o bastardo ainda não tivesse dado o menor sinal de vida. Por algum motivo inexplicável, Isabella ainda o amava.

— Se você visse os olhos dela enquanto falava daquele marinheiro... É como se ela... — resmunguei

— O amasse loucamente?! — Angela completara.

— Isso mesmo. E o mais estranho de tudo é que eu tenho a impressão... — Parei no meio da frase, por um instante.

— Continue — ela insistira.

— Às vezes, lembro-me de algumas coisas... coisas... Ah, droga! Não pode ser verdade, Angela, senão... — passei a mão pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais.

— Senão?

— Senão, Isabella não teria...

Um movimento brusco na porta da cozinha fez-me para de falar. Observei por cima do ombro enquanto Isabella caminhava, aproximando-se de mim.

— Eu não teria o quê? — perguntara ela. O olhar indagador passava de mim a Angela. -Além de ter ficado surpresa e feliz com essa maravilhosa surpresa e por estar sendo tratada como rainha? — sorrindo, dirigiu-se a adega e voltou de lá trazendo consigo uma garrafa de Cointreau e outra de tequila. — Muito obrigada pela festa, Edward. Foi muito gentil de sua parte.

Considere isso como meu presente de despedida, pensei, quando estiver nos braços de Jacob. — Por nada. Fico feliz que esteja gostando — eu disse.

— Pelo jeito, vai nos presentear com as suas Margaritas — Angela dissera, começando a participar da conversa.

— Alice e Rosalie pediram-me para fazer a bebida — ela respondeu sorrindo, enquanto começara a preparar os drinks em pequenas taças. — Como álcool está fora de cogitação para mim, sua mãe disse que tomaria uma dose por mim.

— Essa é a minha mãe! - exclamei.

— Ei, vou preparar uma dose para vocês dois também, se quiserem — ela oferecera.

Ah, Edward, o que você acha de eu fazer umas Margaritas para que nós dois tomássemos? Você sabe que não há nada melhor do que as minhas Margaritas e o meu ombro amigo numa hora dessas. Aquele pensamento surgiu de repente em meu cérebro. Observei-a com a garrafa de tequila na mão, esperando pela minha resposta. De súbito, as respostas para todas as perguntas que eu vinha me fazendo há meses tornaram-se claras. Brigadeiro, Margaritas e um ombro amigo. Aquele era o remédio infalível de Bella para todas as situações desastrosas que ocorriam na vida dele.

Desde o desfecho mal sucedido de um processo até o rompimento com uma de minhas inúmeras namoradas e meses atrás na noite em que terminara com uma garota...

Em um átimo, a noite que havíamos passado junto cristalizou-se em minha mente. A imagem de Bella deitada na cama... e acordando na manhã seguinte... o sutiã branco com purpurina... aquele sinal sexy que ela tinha na... o modo como ela havia me chamado de querido e sorriu para mim por baixo das cobertas...

Eu a tive nos braços e no coração naquela noite. E acordei negando tudo! Que perfeito idiota eu era!

O que eu havia dito mesmo? Por favor, Bella, diga que isso não é o que parece. Por favor, diga que eu não me aproveitei de você ontem à noite. Que completo imbecil! E após a minha reação, ela não tivera outra opção a não ser negar tudo.

Então respondera: Não aconteceu absolutamente nada entre nós dois ontem à noite, senhor gênio. Apenas bebemos muitas doses de Margaritas, depois de termos com o brigadeiro de panela que eu fiz, e, logo após isso, ofereci-lhe o meu ombro amigo para você desabafar. Nada mais que isso. Maldição! Mil vezes maldição! Ela mentira. Tudo acontecera naquela noite entre nós dois, inclusive amor. Inclusive um bebê!

Como pude ter sido tão cego? A verdade sempre estivera debaixo do meu nariz e eu não havia enxergado. Como eu podia ter me desligado tanto da realidade? A resposta era simples. Eu havia me desligado daqui da mesma forma que eu havia me esquecido da festa de aniversário de Seth, o jantar de Ação de Graças da família, o churrasco anual em que a família se reunia

Da mesma forma em que eu havia me transformado em um viciado em trabalho e que não vira o tempo passar a verdade me atingira como um raio. O bebê de Isabella era meu também e eu seria pai dentro de poucos dias. Senti meus joelhos fraquejarem diante do peso daquela revelação. Tentando me segurar, acabei batendo com a palma da mão na mesa.

— O que foi? — Angela perguntara, espantada.

Eu iria ter um filho.

— Você quer a dose de Margarita ou não? Vai dar para fazer o suficiente para todos —Bella perguntava.

Edward Júnior, pensei.

— Edward! — Bella e Angela gritaram, tirando do transe.

Eu iria ser pai.

— Vai me contar toda a verdade junto com a Margarita? Pois é isso que realmente quero — indaguei, irritado.

A face de Isabella embranquecera da mesma maneira como ela havia ficado na hora do desmaio e vi seus dedos apertarem com força o gargalo da garrafa. Caminhei até ela e arranquei-lhe a garrafa das mãos.

— Pode começar a falar sobre o dia em que conheceu Jacob — disse.

— J-Jacob? O que você quer saber? — ela ficou aflita, mordendo o lábio inferior

— Quero saber por que não confiou em mim o suficiente para contar-me a verdade? — o tom de minha voz aumentava a cada palavra que eu pronunciava. — Quero saber por que você não me disse que eu sou Jacob? — senti a raiva, a frustração e a indignação aumentarem a cada palavra que eu pronunciava. — Quero saber por que escondeu de mim que vou ser pai e...

— Você é Jacob? — Angela perguntara, com a voz esganiçada, o olhar passando de mim para Isabella. Enquanto isso, eu seguia olhando Bella com o olhar fixo.

— E quero saber também por que não me pediu para ajudá-la desde o início?

— Talvez porque desconfiasse que você reagiria da forma como está fazendo agora — ela retrucara, aos gritos. — Como... como... um homem!

Coloquei as mãos sobre o balcão, mantendo Bella presa entre meus braços, nossos rostos separados por centímetros.

— Eu sou um homem e estou prestes a me tornar pai — disse, proferindo as palavras vagarosamente, mas com a irritação visívelmente presente em minha voz.

— Você é Jacob? — Angela perguntara outra vez, balançando a cabeça de um lado para o outro, em sinal de descrença. — Meu Deus!

— Eu tinha o direito de saber — exclamei.

— Para quê? Para que abandonasse seus sonhos? Para que fizesse a coisa certa? Para que assumisse o controle e...

— É claro, droga! Nós já podíamos estar casados há esta hora. Tudo já estaria acertado à uma hora dessas, para a chegada do meu filho e...

— Você não tem obrigação nenhuma comigo, Edward.

— Como pode dizer uma coisa dessas, faltando uma semana para ter o bebê?

— Quatro dias — Angela intrometera-se, fazendo com que eu me lembrasse de sua presença no cômodo.

— Será que você pode ir falar em outro lugar? — gritei.

— Desculpe-me. É que eu costumo agir assim sob pressão — ela desculpara-se.

— Deixe-me sair daqui, tenho de levar a bebida para as pessoas que estão na sala — Bella tentara se desvencilhar de meus braços.

Será que ela estava ficando maluca ou aquela era a sua maneira de fugir da realidade? Como ousava continuar deixando-me de fora?

— Você quer voltar para a festa no meio desta discussão? — perguntei, incrédulo.

— Tio Edward! Mamãe quer saber se você vai lá para casa no Natal — Seth chamara, adentrando na cozinha. Naquele momento, Rosalie também apareceu na porta.

— Não se preocupe, parece que a festa veio até nós — Angela dissera.

— Você tem que levar palitos. Centenas de palitos para os enfeites que vou fazer. Serão porta-retratos de palitos! — Seth continuou a dizer.

Quanto tempo eu havia perdido enquanto meu sobrinho começava a aflorar o seu lado criativo? Quantas chances eu havia perdido de sentir meu filho crescer dentro do ventre daquela mulher que se recusara a me contar a verdade?

— Querido, é melhor deixarmos para falar com o tio Edward mais tarde. Não vê que ele está muito ocupado agora? — Rosalie falara com o filho.

— Você quer dizer ocupado brigando com a Isabella? Por que vocês estão brigando? Ela é sua melhor amiga e melhores amigos não brigam – Seth perguntou

— Não aposte nisso — resmunguei, encarando a mulher à minha frente.

— Eu tentei lhe contar tudo agora pouco antes de entrarmos, mas você não quis ouvir — ela dissera, finalmente livrando-se de meus braços, indo em direção a porta, tentando aumentar cada vez mais a distância entre nós.

— Eu estava tentando fazê-la participar do seu chá de bebê!

— Edward, querido, que barulheira é essa? — minha mãe indagara, entrando na cozinha.

— Bella, isso nunca dará certo, não dessa forma — eu disse.

Os olhos dela se encheram de lágrimas e os lábios tremeram.

— Você não percebeu, Einstein? Que foi por isso que eu lhe escondi a verdade? Porque sabia que nada daria certo entre nós.

Com um último aceno, ela dera meia volta e saíra pela porta, com ambas as mãos sobre o ventre.

No instante seguinte, logo após a porta se fechar, percebi que a casa toda havia ficado em silêncio. O único movimento que houve foi o do pequeno Seth, caminhando até o meu lado e me dando a mão.

— Pense pelo lado positivo, tio Edward. Sabe todas as coisas boas que Isabella disse sobre o Jacob? Eram sobre você! — o pequeno dissera.

— É verdade, garotão, é verdade. Isso faz todo o sentido do mundo — reconheci, apertando a mão do pequeno.

(Continua...)

____________________________________________________________________