Show Me Love escrita por noOne


Capítulo 70
Violet From Hell


Notas iniciais do capítulo

Acho que nem preciso explicar o sumiço, vocês já devem saber o motivo :P
Um milhão de beijos pra diva da SRA Weasley Eaton Malfoy, pela recomendação ♥
Cara, eu não tô acreditando que esse é o final :') Acho que vou chorei
Ps: Ficou muito extenso, então resolvi dividir em dois caps, como eu já tinha imaginado.
Beijos!



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POV Arthur

Tá certo que ultimamente minha irmã e meu pai não têm feito outra coisa que não seja brigar, mas desta vez, as coisas passaram tanto dos limites que eu quase fiquei assustado... Tudo bem, eu fiquei apavorado. Bastante.

Sejamos sinceros, eu tive medo pra caralho.

Mas quem não ficaria se não tivesse presenciado? Eu nunca meu pai tão nervoso e Violet tão alterada... A briga nem era comigo, e eu já fiquei apreensivo. Ele nunca foi de berrar daquele jeito, nem nunca encostou um dedo sequer em nenhum de nós, mas naquele momento eu podia jurar que ela iria descer a mão nela.

Não que eu seja a favor de violência, longe disso... Só acho que faltaram uns tapas na criação dessa menina. Como por exemplo no dia em que ela fugiu de casa pela madrugada... Isso não teria acontecido se ela levasse uma de vez em quando (E se Mel não tivesse encorajado, e eu não tivesse acobertado).

Eu amo minha irmã, mas ela sempre extrapola, e eu sou obrigado a ficar do lado do meu pai, na maioria das vezes. E bem, hoje não foi exceção.

Enquanto eles gritavam um com o outro (e ele insistia em colocar meu nome no meio da treta, nos comparando), eu olhava apreensivo para minha mãe, que olhava apreensiva para minha tia Marcy, que se entreolha com tia Cake, frequentemente encarando o chão. Na minha esquerda estava Mel, com os olhos arregalados e boca semicerrada, me encarando com seus grandes olhos azuis.

Nem precisávamos dizer nada, nos entendíamos por meio de olhares. E seus oceanos diziam que aquilo ia dar merda, como se eu já não soubesse.

Eu estava quase me cagando de medo, quando segurei involuntariamente a sua mão. Pelo jeito, ela também estava tão assustada quanto eu, já que apertou-as tão forte que eu mal pude sentir.

Foi quando minha irmã soltou uma coisa muito boa de se dizer no momento - “Eu não duvidaria de um cara que matou o próprio pai”.

Matou o próprio pai... Matou o próprio pai... Matou o próprio pai... Matou o próprio pai – Vish, agora fodeu de vez.

Essas palavras ecoavam na minha cabeça, enquanto eu tentava assimilar... Ela disse mesmo isso? Virei-me para Mel, que confirmou com o olhar de “É, agora ela tá realmente ferrada”.

E ela estava certa, as coisas só pioraram depois disso. Violet se arrependeu no ato, mas se manteve firme, numa situação que eu já estaria me acabando em lágrimas e pedindo desculpa. Eu não sei se admiro ou temo a coragem dessa garota. A voz de nosso pai baixou de tom, se tornou afetada, como se estivesse com vontade de chorar, mas assim como minha irmã, se manteve firme.

Duas pessoas exatamente iguais, querendo chorar, mas se mantendo fortes.

O resultado foi 4 semanas de castigo para Violet, com direito á “Se você fosse a metade do filho que Arthur é, talvez eu fosse mais grato” – Double kill, Marshall wins!

Como era de se esperar, a mesma correu para o seu quarto, batendo a porta em seguida e deixando tudo com um clima tenso lá embaixo. Eu, sendo o medroso que sempre fui, não ousei nem respirar. Meu pai ainda ofegava, com o punho cerrado, olhando pro chão e com os olhos marejados.

Eu sabia que ele não choraria na nossa frente, então subitamente, subiu as escadas quase logo após de Violet, parando no corredor. O silêncio voltou, parei de respirar de novo. Ele voltou a andar, caminhando até seu quarto e batendo a porta atrás de si. Suspirei, liberando todo o ar guardado em meus pulmões, nos quais eu automaticamente impedia de sair enquanto as coisas não estivessem mais amenas. Meu deus, como eu sou medroso! Como é que pode isso?

Nem reclamo, se eu tivesse a metade da coragem de minha irmã, já estaria no reformatório, com certeza.

– Só acho que era mais fácil ter remarcado esse casamento pra outro dia – Minha tia, Cake disse depois um tempo – Falei que ia dar merda.

– Que nada... Nós não temos que mudar as datas só porque a Violet resolveu dar uma de rebelde – Tia Marcy retrucou – Hoje também é aniversário do Arthur, e ninguém viu ele surtando! Olha, Fi... Eu sei que é sua filha, minha sobrinha... Eu amo muito essa garota, mas tá foda! Não mereço um outro Marshall na minha vida.

– Bem, se você soube lidar com o encapetado do Lee na adolescência... Prepare-se para um segundo round – Mamãe descruzou os braços – Já vi que ela não é do tipo que muda assim de uma hora pra outra.

– Seu irmão, por exemplo... Precisou que uma série de fatores o mudasse, e mesmo assim, ainda não parece ter aprendido – Disse tia Cake.

– De qualquer jeito – A vampira se levantou – É bom alguém ir lá em cima falar com ele, antes que ele acabe fazendo merda.

– Eu vou – Minha mãe suspirou, se virando pra mim e Mel, que continuávamos de mãos dadas – Meus amores, será que vocês podem ir lá em cima, conversar com a Violet? Nessas situações ela não escuta mais ninguém além de vocês dois.

– Érr... a-acho que sim – Disse apreensivo – Se ela não voar em cima da gente.

– Pode deixar, tia – Mel se levantou prontamente, me puxando pelo braço – A gente vai falar com essa doidinha e vai dar tudo certo. Não é, Arthur?

Ela arregalou os olhos, me obrigando a concordar. Cocei a nuca, levando uma cotovelada na costela.

– Não é, Arthur? – Ela repetiu.

– Ai! É. – Concordei, por fim.

Não é que eu não queria fazer isso pela Violet... De modo algum, eu realmente queria ajudar minha irmã, mas ela ás vezes me dava medo... Ainda mais quando tá nervosa desse jeito. Mesmo assim, fui arrastado pelo braço por Mel, tropeçando nos degraus, e ao chegar no piso superior, paramos em frente a porta de seu quarto. Que também era meu quarto... Mais dela do que meu, pelo que parece.

Colada havia uma placa de “Não ultrapasse” adornando-a, sobre uma tinta preta que ela fizera questão de escolher. Teimou com todo mundo que uma porta negra cheirando á enxofre com uma placa dizendo pra ninguém entrar era a sua cara. E ninguém discordou, é claro, isso significaria mais discussão.

Como minha mãe sempre diz, o hobbie dessa família é discutir. E eu concordo plenamente com ela.

Paramos na frente da porta, escutando o som de coisas sendo quebradas e gritos abafados. Respirei fundo e tomei coragem.

– Eu bato e você fala – Ela quebrou o silêncio

– Porque eu tenho que falar? – Retruquei – Nada disso. Eu bato e você fala.

– Cara, deixa de ser medroso... – Ela bufou – Anda logo.

– Você não tá escutando os berros dessa louca, não? – Indaguei, possesso – É capaz de eu morrer se tentar acalmar ela.

– Porque você acha que comigo vai ser diferente? – Ela arqueou a sobrancelha

– Se você é tão corajosa, então fale você – Teimei – Além do mais, ela está brava comigo, por causa das coisas que meu pai disse.

– Ah, eu mereço isso – Ela se deu por vencida, girando cuidadosamente a maçaneta.

Eu tentava não aparentar medo na minha feição, enquanto me escondia atrás da ruiva, que lentamente abria as portas do inferno.

POV Violet

Entrei correndo em meu quarto, fechei a porta com toda a minha força e fiquei lá, chorando rios e destruindo a metade do meu quarto. Sem dó, cada coisa que meus pais compraram pra mim iam se quebrando em mil pedaços, ao serem arremessados contra a parede. Já estava farta de tudo, principalmente meu pai, que não me deixa viver e não aceita que posso ser muito diferente de Arthur.

Meu, o moleque é um idiota, só vive nos estudos e com aqueles babacas pé no saco, nos quais são amigos dele. Livros, games, animes, viadagem, falta de vida social e muita “virjisse”. É isso o que compõe a vida daquele banana.

Enquanto eu quebrava meu quarto, olhei para o meu criado mudo e vi um porta-retratos. Me dirigi até ele rapidamente com as lágrimas escorrendo sobre meu rosto e com uma vontade de quebra-lo em mil pedaços. Quando o peguei, vi uma foto minha e de meu pai, estávamos abraçados e ele me dava um beijo na bochecha. Aquela maldita imagem me fez lembrar um bocado de minha infância dolorosa. Mais lágrimas começaram a cair, meus gemidos baixos começaram a se transformar em gritos, uma parte de meu amor se tornou em ódio me fazendo quebrar o porta-retratos com minhas próprias mãos, fazendo-me cortar com o vidro. Liberei um urro de dor na mesma hora em que Arthur e Mel entraram em meu quarto.

Olhei para seus rostos assustados, por conta da bagunça que estava aquele lugar. Desci o olhar para minhas mãos, cheias de cortes, o sangue jorrava das mesmas. Abaixei minha cabeça e chorei mais ainda, sentando-me na cama, comecei a falar comigo mesma: “Preciso do piano...Eu preciso do piano”

– Violet, o que tá acontecendo? – Meu irmão se dirigiu a mim, sentando ao meu lado, acompanhado de Mel.

– Nem eu mesma sei – Respondi soluçando – Só sei que eu odeio Marshall Lee Abadeer!

– Menina, o que aconteceu contigo e com o tio Marshall? – Perguntou Mel, apavorada.

– É o seguinte: Ele me odeia, prefere esse ser humano aqui, que é um babaca – Apontei para o queridinho do papai – Esse idiota, tonto, retardado que...

– Que você adora tanto! – Ele me interrompeu, sorrindo.

– Só em seus sonhos, queridinho... Eu não te adoro e duvido muito que um dia vou te adorar. – Disse friamente, olhando para o sangue que havia em minhas mãos.

– Violet, sempre tão sincera e delicada – O loiro revirou os olhos – Vem, vamos lavar suas mãos e... Como tu conseguiu fazer esse corte, garota?

– Arthur, dá uma olhada no quarto dela, e me diga por que você fez essa pergunta idiota – A ruiva aponta para todo meu quarto, com cara de deboche.

– Foi aquela... Foi aquela foto que eu... Que estava em um porta-retratos... – Tentava proferir as palavras em vão. Elas estavam pesadas, minha voz vacilava – Uma foto minha e do Sr. Marshall Lee – Me ajoelhei no chão a segurei, toda amassada, com as minhas mãos pingando de sangue, manchando-a.

– Me dá isso aqui – Disse Mel, pegando-a bruscamente de minha mão – Violet, o que você fez?

– Não é óbvio? Eu já disse: Quebrei o porta-retratos e amassei a foto – A encarei – Pensei que tu tinha olhos e pudesse ver...

– Cara, é uma das poucas imagens suas com o seu pai... – Ela disse num tom de reprovação.

– Ele não é a porra do meu pai! – Exclamei alto.

– Sim Violet, ele é seu pai... Querendo ou não... – A ruiva insistiu, rigidamente – Continuando, isso é uma das fontes do amor que ele tem por você, e...

– Ele nunca me amou... – Apertei meus olhos e mais lágrimas caíram.

– Será que dá pra tu parar de me interromper, cassete? – Perguntou Mel – Enfim, você não podia, nem deveria fazer isso...

– Deveria sim, pra que amar uma pessoa que sempre te troca por outra? Se você acha que isso é amor, você tem problemas mais graves que os meus... – Disse olhando para a mesma, ganhando inesperadamente um abraço dela e de minha tormenta.

– Vamos lavar sua mão – Disse meu pesadelo, me ajudando a levantar.

Fui praticamente arrastada pra fora do quarto pelos dois, caminhando até o banheiro. A água descia vermelha pelo ralo, diluída em sangue, ao observar pude sentir uma leve vertigem.

De repente ouço a porta do quarto de meus pais se abrindo, de onde saíram os dois, aparentemente bem humorados. Enquanto eu lavava minhas mãos, o sangue incessantemente escorria e eu começava a ficar tonta. Eu já sabia que não dava mais pra continuar em pé, quando minha visão embaçou. Numa fração de segundos eu estava no chão, escutando apenas a voz de Arthur, gritando meu nome e os passos de Mel, correndo em direção ao meu pai.

°°°

Acordei em uma cama médica, minhas mãos estavam enfaixadas, com uma dor latejante, porém suportável. Minha mãe, Mel, Arthur e Sr. Marshall Lee estavam ao redor da cama, me observando dormir. Me sentia meio grogue, mas ainda estava “sob controle”. Mesmo com as mãos cortadas, eu poderia fazer o que eu quiser, sem ajuda de ninguém, o que era ótimo. Olhei ao redor e me sentei na cama, observando minha mãe chorar. Ela não parecia muito feliz ao me ver acordada. Olhei para todos e me levantei da cama de hospital sem mais nem menos, mas alguém impediu o meu caminho.

– Violet, onde pensa que vai? – Pergunta ela, segurando meu braço.

– Pra algum lugar que eu seja aceita – Respondi – Agora me solta, mãe.

– Que tipo de lugar? O que você quer dizer com isso? – Indagou ela, ainda apertando-me – Responda!

– Não sei bem onde é, só sei que aonde me aceitarem, eu fico! – Exclamei – Agora que eu te respondi, tu pode me soltar?! – Perguntei, tentando me desvencilhar.

– Quem disse que você vai, garota? – Indagou Mel, se colocando em minha frente – Você vai ficar aqui com a gente! Agora aquieta esse rabo aí e fica esperando a bronca dos seus pais – Ela nem ao menos tentava conter o sorriso.

– Já não bastava o Marshall pra controlar minha vida, agora vocês também? – Indaguei – Ah, por favor né!

– Pra começar, não é Marshall, é pai – O vampiro interveio – E não é “você”, é a senhora. Pode começar tendo mais respeito, pra depois pedir aceitação.

– Tecnicamente, a Mel é mais nova, então o pronome de tratamento correto seria “você” mesmo, a não ser que... – Arthur, o nerd pé no saco, se calou assim que seu olhar se cruzou com de seu pai – Éerm... Deixa pra lá.

– Puta vida, nem aqui você deixa de corrigir a ortografia alheia – A ruiva ria descontroladamente.

– No caso, é gramática – Ele a corrigiu também

– Tá vendo? – Ela pigarreou, recuperando o fôlego – Irmão, tu só não é mais chato porque é um só.

– Tudo bem, já chega – Marshall perdeu a paciência – Eu juro que tento ser sério aqui, mas tá complicado.

– Também né, olha a família que você foi arrumar... – Minha mãe revirou os olhos.

– Ah, a família que eu fui arrumar? – Ele questionou – Quando tá tranquilo é nossa, mas quando dá problema é minha?

– Bom, a metade da família que é a minha cópia nunca deu problema – Ela cruzou os braços – Não é Arthur?

– Oi? – Ele Arregalou os olhos. Mais uma vez sendo metido em brigas paralelas.

– Ahh, agora o problema é a Violet? – Ele bateu palmas – Que lindo, muito sensato da sua parte! Eu não tenho culpa se ela virou um monstrinho incontrolável, quem mimou ela foi você!

– Aham, e eu fiz com o dedo, né Sr. Marshall? – Ela arqueou a sobrancelha.

– Eu também não fiz sozinho, metade do fardo é seu.

– Quer dizer que eu sou um fardo? – Me intrometi, com voz de choro – Tá vendo? É por isso que eu quero ir embora daquela casa, ficar longe de vocês!

– Não foi isso que eu quis dizer... – Marshall tentava argumentar

– Tarde demais, vampiro. Você já disse – Olhei para o mesmo – Se eu sou tão ruim assim, então me vende pro mercado negro e compra um baixo pra por no meu lugar.

– Não é má ideia – Ele olhou pra cima, como se estivesse pensando.

– Ei! Você tá pensando mesmo nisso? – Franzi o cenho

– Ué, quem deu a ideia foi você – Mel riu – Tio Marshall, se sobrar troco o senhor compra um disco do John Lennon pra mim?

– Deixa de ser hippie, garota! – Exclamei – Ninguém aqui vai me vender!

– Quem disse? – Arthur indagou – Acho que dá pra comprar um PS4 com você

– Não, ela não vale tudo isso... – A hippie fez sinal negativo – Tu já viu quanto tá o preço disso? Nem se eu vendesse toda a minha discografia da Janis Joplin.

– Eu não nasci pra ser humilhada pela minha própria família – Choraminguei – Mãe, vai deixar?

– Vendo a situação que nós estamos, até que te vender não seria tão ruim – A coelha deu meio riso.

– Ohhhhh – Mel pôs a mão sobre a boca

– Turn down for what – Arthur começou a chorar de rir

– Mereço isso – Revirei os olhos, enquanto observava todos rindo da minha cara.

– Tudo bem, já basta – O vampiro enxugou uma lágrima do canto do olho, recuperando o fôlego – Eu preciso conversar a sós com meu problema. Vocês me dão um minuto?

– Claro – Fionna disse prontamente... Assim que parou de rir – Vamos, gente.

A última pessoa na qual eu gostaria de estar a sós no mundo era meu pai. Cara, na boa... Será que não foram suficientes as 4 semanas de castigo, jogar na minha cara que me odeia e ama o CDF-Pau-Mandado do Arthur, me zoar junto com a família toda, ser uma dor de cabeça na minha vida, frustrar meus planos e me tratar feito uma delinquente... ele ainda quer “conversar”?

Sério, mano, me mata.

Respirei fundo e preparei minha alma para o sermão que ele ia dar (ou pelo menos tentar) em mim. Fechou a porta, me mandou sentar. Não sei por que raios obedeci. Puxando a cadeira ao lado da maca, sentou-se, ficando na minha altura. Encarou-me, com seus olhos castanho-avermelhados, que por incrível que pareça, não pareciam estar querendo me esganar. Pelo contrário, seus olhos ainda me olhavam como quando eu era uma criança pequena, continuavam me amando. Mesmo tendo dito certas coisas um tanto duras sobre o pai dele. Bateu um leve arrependimento agora.

Depois de alguns segundos de silêncio, olhando nos meus olhos, o vampiro entreabriu sua boca sutilmente para dizer algo, evidenciando seus caninos sobressalentes.

Cassete, ele era muito a minha cópia... Ou eu era a dele. Não importa, isso não o torna menos assustador.

Esperava um discurso, mas tudo o que saiu de sua boca foi:

– Violet... – Ainda olhando nos meus olhos, dentro de minha alma – Minha filha, que porra é essa?

Relaxei os ombros, aliviando a tensão. Sua incapacidade de agir feito um pai normal me tranquilizava um pouco. Mas ele ainda esperava uma resposta.

– Acho que quem tinha que fazer essa pergunta sou eu – Respondi, finalmente.

– Porque acha isso? – Ele indagou, paciente.

– Bem... por onde eu posso começar? – Suspirei – O fato de você não me aceitar do jeito que eu sou, sendo que você era igual a mim. O modo como você vive comparando o imbecil do Arthur comigo, ou quem sabe a forma como você vêm me tratando ultimamente. Não posso levar um amigo pra casa que você reclama, não posso agir do meu jeito que você implica, e muito menos fazer as coisas que eu gosto em paz. Só isso de motivo tá bom pra você? O pior de tudo é chamar isso de amor... Eu não entendo isso.

– Você está certa, eu era exatamente assim como você, quando mais novo – Ele pela primeira vez na vida me deu razão – Eu era um rebelde sem causa, adorava implicar com meu pai, contrariar, nunca escutava o que ele tentava me dizer. Eu me lembro de dormir com uma garota diferente a cada semana, roubava motos por diversão, fumava quilos de maconha, junto com alguns “amigos”, que eu achava que me faziam bem. Eu só era uns dois anos mais velho que você, quando dei as costas pra minha família e resolvi que queria viver a vida como um completo idiota.

– Me parecia divertido – Comentei

– Sim, só parecia – Ele me corrigiu – Era uma felicidade superficial, mas continuava vazio por dentro... E esse era o motivo daquela revolta toda. Você acha que eu não te entendo? Que eu não passei pelas mesmas coisas que você tá passando? Eu sei perfeitamente o que você tá pensando, Violet, e sei muito bem aonde isso vai terminar.

– Sabe, é? – Inclinei a sobrancelha – Você acha que sabe. Assim como achava que sabia o que estava fazendo, quando tinha minha idade. A verdade é que ninguém aqui sabe de coisa alguma, mas tenta controlar a vida alheia como se fosse dono da verdade.

– Meu Glob... – Ele levou a mão á testa – Eu dizia a mesma coisa pro meu pai! Você não entende, garota? Eu estou vendo meu reflexo!

– Se você está vendo seu passado em mim, eu espero não virar uma babaca hipócrita no futuro – Cruzei os braços – Porque é isso o que eu vejo em você.

– A única diferença é que meu pai tinha argumentos melhores que os meus... – Ele suspirou, olhando pra baixo – Eu devo estar muito ferrado na sua mão.

– Mais do que você pensa – Dei meio sorriso.

– Bem, eu tentei – Ele se levantou – Mas já percebi que você só vai aprender na prática, assim como eu. Você é daquele tipo cabeça dura, eu sei como é: Vai tentar fugir de casa, vai se envolver como tudo o que é porcaria, ter uma vida sexual podre, mandar todos os que se importam com você para a merda, se meter em briga... E no final, só dá valor quando perde. Você acha mesmo que eu não te entendo? Você é transparente pra mim, é um espelho. Não entende que eu só digo isso porque eu quero o seu bem?

– Se você quisesse o meu bem, me deixaria ser quem eu sou – Retruquei – Você não me ama, só quer me controlar.

– Se eu não te amasse, eu não estaria perdendo meu tempo aqui. Eu não teria atrasado meu casamento, que já era pra estar acontecendo, eu não teria, á quatorze anos atrás, dado minha vida no lugar da sua e de seu irmão. Eu não teria arriscado perder o que eu mais amava na vida, sua mãe, pra poder garantir que vocês dois viessem ao mundo. Você não faz ideia de o quando eu te amei, mesmo antes de você nascer, e como eu continuo te amando, mesmo você fazendo o que faz, porque você é minha filha, droga! Eu te amo tanto que chega a doer, mas você não reconhece isso e nunca vai reconhecer, porque a ingratidão está te cegando, assim como já me cegou também. Um dia você vai entender que tudo o que eu fiz foi por você... Só que aí eu não vou mais estar aqui.

De repente, eu me vi sem ter o que dizer. Logo eu, que sempre tive uma resposta na ponta da língua, um bom argumento, uma tirada... Naquele momento, não haviam mais palavras. Mirei diretamente em sua íris, como se sua alma transparecesse nelas... Eram como espelho d'agua, que refletiam-me. Ele sou eu.

Era como se estivéssemos ligados de alguma maneira, pude sentir que o seu amor sobre mim era real, algo intenso e verdadeiro.

Glob, eu sou uma monstrinha.

Então ele virou as costas, e colocou a mão na maçaneta.

– Pai... – O chamei, quando ele estava prestes a ir embora.

– O que foi agora? – Ele indagou, ríspido

– É que... eu queria dizer... Hmm... – As palavras se recusavam a sair de minha boca

– Eu não tenho todo tempo do mundo – Ele se virou pra mim, cruzando os braços

– Bem, é... – Disse cada vez mais baixo – Me desculpa.

– Oi? – Ele conteve o sorriso, colocando a mão na orelha – Como é? Eu não escutei direito.

– Então compre um aparelho de audição – Revirei os olhos

– Violet... – Ele chamou minha atenção

– Tudo bem... – Bufei – Me desculpa

– Repete – Ele parecia estar gostando daquilo. Eu estava morrendo por dentro, meu orgulho em consumia.

– Sério isso? – Cruzei os braços

– Seríssimo – Respondeu ele

– Desculpa, tá bom? – Elevei o tom da voz – Perdão por te dar trabalho, te fazer sofrer pra caralho, ser uma péssima filha, levar advertência pra casa, enfim... Ser como você era com seu pai. Desculpe por ser seu problema, teu castigo divino... Não que o senhor não mereça.

– What the... Senhor? Bem melhor! - Ele sorriu – É claro que eu te desculpo. Mas só se você prometer arrumar aquele quarto...

– Ok – Suspirei

– ...tocar aquele piano um pouco mais baixo – Ele continuou - ... E a guitarra também.

– É... – Olhei pra cima, pensando.

– ... e parar de maltratar seu irmão – Ele finalizou

– Ahh, aí já é demais – Protestei, perdendo a paciência

– Tudo bem, vou me contentar, antes que a senhorita bipolaridade mude de ideia – Ele abriu um sorriso, que inexplicavelmente me fez sentir leve. Contra minha vontade, sorri também.

Continuei o observando por um tempo, sem dizer nada. Era estranho como ele poderia se parecer tanto com a minha pessoa, em todos os sentidos, mas ao mesmo tempo parecer tão diferente de mim. Eu não sabia se o amava ou o odiava por isso.

Me perguntava sempre como era possível a Mel ter uma relação tão fofa com tio Finn, mesmo ele sendo um poço de ignorância e ela toda florzinha paz e amor. Como meu pai pode ser daquele jeito, enquanto o Arthur é totalmente diferente, e mesmo assim, os dois se dão tão bem! Talvez o problema seja comigo, afinal.

Relação entre pais e filhos é uma coisa complicada, disso eu sei, mas com certeza a minha com Sr. Lee é um pouco mais complicada e fora do normal.

Enquanto todas essas paranoias passeavam pela minha mente, eu tentava descobrir o que se passava por sua cabeça também. Talvez numa maneira de me vender, quem sabe na próxima bronca de acordo com minha próxima cagada, ou até numa forma criativa de me castigar por isso. Provavelmente, em muitas coisas... Mas é possível que ele estivesse pensando em absolutamente nada, como ele costuma fazer sempre.

Inclinei a cabeça pro lado, ele fez o mesmo e sorriu. Involuntariamente, meus lábios se arquearam também. Pois é, acho que eu odeio o fato de amá-lo tanto assim. Ou quem sabe ao contrário.

Desisti de tentar entender e me levantei da maca. A sala estava completamente silenciosa, eu pude escutar seu coração batendo, quase pra fora do corpo. Nossas discussões acaloradas, dignas á choro de ódio, ainda matam esse velho do coração. Absurdamente próximos, como não ficávamos á muito, muito tempo. Encarei-o, nos olhos, que estavam marejados, numa poça salgada que se recusavam a cair. Foi ali, naquele momento que eu pude perceber quão sincero e forte era o seu sentimento por mim, me fazendo refletir sobre todas as idiotices que eu disse á ele, e tudo o que eu já fiz. Me senti uma monstra, mas ao mesmo tempo, uma criança pequena, fraca, que só deseja uma coisa: Um abraço, daqueles de pai, sabe?

E sem pensar, apenas fui, de encontro ao mesmo. Abracei-o, que parecia não acreditar que eu estava fazendo isso. Nem eu mesma acreditava. E quando percebi, meus olhos também estavam marejados. Que coisa mais gay!

Mais gay que o Arthur.

Fechei os mesmos, quando ele retribuiu meu abraço, fortemente. Foi uma das melhores sensações da minha curta vida. Depois de um bom tempo, sem dizer nada, ele se ajoelhou, ficando agora um pouco mais baixo que eu. Enxugou minhas lágrimas e proferiu uma frase que eu vou guardar sempre, como lembrança daquele dia.

– Sua capetinha... Você é o resultado do meu amor e de sua mãe, é o sinônimo de tudo o que eu mais preciso no mundo. É parte de mim, e eu daria minha vida só pra te ver sorrir. Então, nunca duvide disso, ok?

Eu não conseguia caber dentro de mim, era uma mistura de sentimento que eu não podia interpretar, mas sabia que era a coisa mais verdadeira no mundo. Assenti com a cabeça, o abracei novamente, e depois de tantos anos, disse de todo o meu coração:

– Eu... também te amo, pai – Droga, engole esse choro!

– Sabia que ainda tinha um coração aí dentro – Ele me apertou mais forte, provavelmente sorrindo.

Quem diria, eu não queria mais sair dali.


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Notas finais do capítulo

Fofura extrema mode ON ♥
Estou fazendo algumas edições, então o último cap sai daqui a alguns dias, ok?
Ps: Prometo não sumir de novo!
Pss: Meus sinceros agradecimentos à DreamysFOREVER, que me ajudou mais uma vez na criação do Arthur e Mel, além de ter escrito o POV Violet pra mim, no qual eu só tive o trabalho de editar algumas coisas ♥ MINA, VOCÊ É UM AMOR!
Beijos!