Show Me Love escrita por noOne


Capítulo 67
Not So Alone


Notas iniciais do capítulo

Eeei cambada, cap 67 de 70 :'( Como o tempo passa rápido, mds... 1 ano de Show Me Love! (Ou quase)
Beijos de luz.



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POV Marshall

Aquele suspense estava me matando, e ela sabia disso... Mas ao invés de acabar logo com a minha agonia, a maldita quis me ver sofrer mais um pouco. Caminhou calmamente até mim e se sentou ao meu lado, sem dizer uma palavra durante o processo.

Colocou Arthur no colo e reclinou seu corpinho de bebê em seus braços, quase adormecendo, ele afundou sua cabeça entre seus seios e apagou, sorrindo.

– Eu posso não levar muito jeito com criança, nem saber suportar elas, mas... – Ela sorriu – Fala sério, tem coisa mais bonita do que ver uma criança dormir?

– Não... Eles são mesmo a coisa mais pura – Olhei para Violet e depois para ela – Você não tinha algo pra me contar?

– Nem sei como te dizer isso – Ela suspirou

– Não me mate de curiosidade – Implorei – Flame estava cheia de mistério hoje, riu da minha cara e disse coisas que eu não entendi.

– Flame sendo Flame – Ela riu – Ela pode ser estourada, barraqueira, brigona e facilmente irritável... mas nunca traidora de confiança ou estraga prazeres... Sabia que ela não iria contar.

– Vocês duas não tem mais o que fazer, não? – Indaguei, irritado – Já não basta tudo o que eu passei, vocês precisam mesmo me meter nesse joguinho?

– Alguém aqui está muito estressado – Ela arqueou a sobrancelhas – Relaxa, cara... Eu ainda não sei como contar.

– E eu ainda não sei como não voei em cima de você – Revirei os olhos – Desembucha de uma vez!

– Tudo bem, você venceu – Ela levantou os braços – Eu tenho duas notícias: Duas boas, uma ótima e outra melhor ainda, qual você quer saber primeiro?

– Cake! – Bati os pés de agonia – Pelo amor de Glob, garota! Pare com isso antes que eu enfarte!

– Essa tua cara é impagável – Ela gargalhou

– Calma, Marshall... Não estrangule ela... – Fechei os olhos e repeti várias vezes comigo mesmo.

– Ok, parei – Ela se recompôs – Vamos por partes: A primeira notícia boa é meio triste, mas você vai ficar tão bem quanto eu: Gumball não vai te atormentar nunca mais a partir de hoje.

– Co-como é que é? – Eu mal podia acreditar

– Foi isso o que você ouviu – Ela olhou pra baixo – Ele morreu na hora.

– Que Deus me perdoe, mas... – Comecei a abrir um sorriso – Puta que pariu, essa é a melhor coisa que poderia me acontecer hoje! – Gritei, me levantando – Aeew CA-RA-LHO! Oh my Glob!

– Xiu! Silêncio! – A enfermeira chamou minha atenção – Já é a segunda vez hoje, na próxima você será convidado a se retirar.

– Foi mal – Dei meio sorriso, ainda não conseguia conter minha alegria.

– Senta aí, imbecil – A gata me puxou – Ainda não terminei. A segunda notícia mais ou menos boa é que a Bonnie se juntou ao Gumboiola no inferno.

– Putz – Cocei a nuca – Ela era uma boa pessoa... Meio maluca, mas não fazia mal pra ninguém, só queria dar pra todo mundo. O erro dela foi ter se envolvido com aquele doente.

– Sim, eu sei – Ela concordou cabisbaixa – A maldade que havia nele acabou corrompendo ela. Sabe, dava pra ver nos olhos dela que no fundo ela não queria fazer aquilo. Ela não era má.

– Não era mas acabou virando – Respirei fundo – É uma pena, mas acho que era um caso perdido. De qualquer forma, foi melhor assim.

– A bala ficou alojada no lobo frontal do crânio dela, segundo os médicos ela não morreu na hora, mas sofreu lentamente e foi perdendo os sentidos, até chegar ao óbito e... o resto você já sabe.

– Eu preferia não saber disso – Levei as mãos á cabeça – Ela me pediu perdão antes de morrer e eu não concedi... Será que a alma dela vai poder descansar em paz depois disso?

– Você sabe que eu sou ateia – Ela se virou pra mim – Não acredito nessas coisas.

– Mas eu sim – Retruquei – O espírito dela pode estar vagueando pelos corredores agora mesmo, sem nunca conseguir ficar em paz enquanto eu não fizer nada pra mudar isso.

– Você quer parar com essas suas superstições idiotas? – Ela parecia incomodada – Essa é a coisa mais boba que eu já ouvi... Alma penada? Really?

– Sua falta de crença me comove – Levei a mão ao lado esquerdo do peito, em tom de deboche – Bem aqui. Sério mesmo.

– Ah, vai á merda – Ela me deu um murro no ombro, rindo – Por um momento você esqueceu da notícia ótima e da melhor ainda.

– Ainda estou incomodado com o fato da Bonnie – Cocei a nuca – Mas mesmo assim, conta aí.

– Essa é sobre a sua irmã – Vi seus olhos brilharem – A vampira diva da sua vida, e da minha inclusive, não corre perigo.

– Definitivamente, esse é o melhor dia do ano – Fechei os olhos – Obrigada, pai.

– Qual deles? – Ela inclinou a cabeça

– Ambos – Respondi

– Whatever – Ela deu de ombros – O importante é que ela passa bem, tá acordada e não para de perguntar sobre você.

– Sobre mim? – Indaguei – Quem diria que ela se importava...

– Ora, mas vá tomar no seu... – Ela sorriu – Ela deu sua vida por você, seu filho da Harvey.

– Eu sei, eu tenho a irmã mais foda do mundo – Me vangloriei – Agora a “notícia melhor ainda”, por favor.

– Antes disso, eu preciso que você fique calmo – Ela repousou a mão em meu ombro e olhou nos meus olhos – Talvez precise checar sua pressão, pra garantir que você não irá ter um ataque do coração.

– Anda logo com isso – Ordenei, sem paciência.

– Ok, ok – Ela respirou fundo – Lembra quando a Marcy te disse que iriam desligar as máquinas da Fi?

– Lembro... – Disse baixo, meu coração estava saindo pela boca.

– Desligaram.

Primeiro de tudo: Como essa filha de uma vaca pode chamar isso de notícia boa?

Segundo de tudo: Porque meu corpo sempre me decepciona quando eu mais preciso?

Senti minhas pernas ficarem fracas e aquela sensação horrível voltar novamente. Senti vontade de chorar, gritar, mas me contive. Eu estava desolado, sem chão, nem ar... Como eu poderia continuar a viver sem Fionna? Desde que ela chegou, não consigo imaginar minha vida sem ela, e agora Cake diz que ela se foi? O sentimento de revolta começa á crescer dentro de mim agora. Como ela pôde ter me deixado? Eu já sabia que ela não iria viver pra sempre, mas não fazia ideia de que sua vida seria tão breve. Isso não é justo!

E então, de repente, tudo acabou. Em um piscar de olhos acabou.

– Os médicos desligaram hoje de manhã porque... – Ela dizia com um sorriso nos lábios

– Eu não quero mais ouvir – Tapei sua boca, com lágrimas nos olhos – Porque você tá rindo disso?

– Não é óbvio? – Ela indagou, inquieta por ter sido interrompida.

– Não! – Me levantei, indignado – Ela era sua irmã! Você não tem motivos pra rir de uma coisa como essas! Nem você, nem a Flame... Qual é o problema de vocês?

– Marshall, escute... – Ela se levantou também

– Eu não quero escutar nada, escute você! – Franzi o cenho – Eu não entendo qual é a de vocês, sério. Segura a Violet aqui antes que eu caia morto no chão – Entreguei-a á ela.

– Você quer me deixar falar? – Ela tentava segurar os gêmeos ao mesmo tempo, um em cada braço.

– Tudo o que eu quero é ficar sozinho – Dei as costas – Quando você recuperar sua sanidade, talvez eu volte.

– Você é um tonto, sabia? – Ela dizia, enquanto eu ia me afastando.

– Eu que sou, né? – Resmunguei – Estou sabendo...

– Aonde você vai? – Ela aumentou o tom da voz.

– Não importa – Respondi á mesma altura.

Caminhava cada vez mais rápido pelos corredores silenciosos e vazios daquele hospital. Meu rosto corava de raiva, meu sangue fervia sob a minha pele, enquanto as lágrimas embaçavam minha visão. Onde você está agora, coelha, pra me salvar disso aqui? Cadê você pra me abraçar e acalmar? Só teu cheiro é capaz de por minha cabeça no lugar, somente teu beijo poderia descer esse nó na minha garganta e sua voz é a única que ecoa na minha mente e me dá a certeza que tudo tem uma solução.

Eu não posso continuar vivendo sem minha outra metade. Serei incompleto, sem tua mão pra segurar a minha, seguindo sempre em frente. Sem você, eu regresso.

Sentia minhas forças indo embora conforme meus passos rápidos viraram uma corrida sem rumo, eu só queria me afastar do mundo... de tudo. Meu corpo debilitado e mais magro que o normal pela falta de comida e noites de insônia sucumbia aos poucos, até eu exigir o máximo de mim mesmo e cair de joelhos, em um canto qualquer do hospital.

Meu rosto queimava, enquanto uma tempestade de lágrimas escorriam sobre ele, caíam no chão. Meu estômago embrulhando, minha visão turva, escurecendo aos poucos, mãos geladas e trêmulas que iam de encontro ao rosto, enxugava as lágrimas, segurava o chão, tentando fazer o mundo parar de girar.

Eu estava morrendo? Era isso mesmo? Meu sofrimento finalmente chegara ao fim, é o que parece. Finalmente poderei descansar em paz, ou não. Me arrastei com o resto de vida que ainda tinha e me encostei na parede, olhando em volta.

Ninguém no corredor, o silencio é apenas interrompido pelo barulho alto da minha respiração. Meus batimentos foram diminuindo, enquanto minha visão voltava ao normal, o sangue esfriou novamente e o ar voltou a residir em meus pulmões. Foi aí que eu percebi que nem pra morrer eu sirvo. Suspirei decepcionado.

Após alguns minutos com a cabeça vazia, girando em torno do nada, voltei á minha lucidez. Foi aí que percebi aonde é que eu tinha ido parar, no terceiro andar do hospital, ala dos internados. Olhei em volta, me encontrava bem em frente ao quarto em que a Fi estava antes de morrer.

Encarei a porta, que me remetia á péssimas lembranças. Permaneci por um bom tempo da mesma forma, até resolver entrar lá dentro. Sei que ela não estará lá, mas o que eu tenho a perder? Já tá tudo fodido mesmo.

Me levantei ainda com a respiração pesada, coloquei a mão na maçaneta. Enxuguei o rosto e entrei de vez. Seu quarto ainda estava inalterado desde a última vez em que estive aqui, exceto pela falta de duas coisas: Fionna não estava em sua cama e a carta que eu escrevi não estava mais na cômoda.

Fechei a porta e caminhei até o lugar em que a coelha costumava vegetar, sem vida alguma ou quase isso. Me sentei na beirada da cama e permaneci admirando, em silêncio, seu lugar vazio. Fechei os olhos e senti mais uma lágrima escorrer por minhas bochechas secas, e pingar. Seu cheiro ainda estava ali, o que ajudou a piorar as coisas

Me arrastei até a janela, o clima estava frio e cinza, como se refletisse minha alma lá fora. As flores vermelhas que eu deixei sobre o criado mudo ontem á noite ainda estavam lá, junto com as brancas que Marcy comprou. Fiz menção em segurá-las, mas logo desisti.

Voltei a olhar para a janela. Podia ver meu reflexo refletido no vidro... eu me via acabado, velho, sério, triste, deplorável. No fundo do poço, observava mais lágrimas caírem dos meus olhos cansados e sem brilho. Sem vida.

– Porque? – Indaguei, pra mim mesmo – Porque? Porque? - Passei a berrar, a insanidade subia á minha mente turbulenta. Aos poucos me acalmei, questionei mais baixo - Porque essas coisas só acontecem comigo?

Desta vez, nem as vozes da minha cabeça ousaram me responder, e a calmaria continuou absoluta. O silencio foi interrompido por um barulho na maçaneta, era alguém abrindo a porta.

Fiz que não ouvi, ignorando. Provavelmente seria Cake, que deve ter me seguido e procurado insistentemente, como ela sempre faz.

– Porque o universo coloca as pessoas na minha vida, me faz amá-las, pra depois tirá-las de mim? – Continuei falando comigo mesmo.

– Bem... eu acho que pra tudo há um propósito – Uma voz doce e muito familiar me respondeu – O universo sabe o que faz.

– Eu não estava falando com você – Respondi, com voz de choro – Você pode me deixar em paz por um momento?

– Você é quem sabe – Ela sorriu – Mas porque chora, garoto?

– Eu não quero falar sobre isso – Disse ríspido, ainda de costas. A garota continuava lá. Suspirei, vencido por sua irritante insistência silenciosa – Eu consegui perder minha razão de existir, foi isso... Ela se foi pra sempre.

– Quem se foi? – A curiosa indagou

– Fionna – Respondi, como se fosse da conta dela

– O que houve com ela? – Ela prendeu o riso

– Ela... morreu – Respondi de vez.

– Poxa vida... – Ela se lamentou – Eu nem sabia que estava morta.

Gelei, agora que parei pra raciocinar. Aquela não podia ser outra voz a não ser a dela... Seu tom, seu jeitinho de falar, seu sotaque nitidamente britânico que me encanta desde o primeiro dia em que a conheci, e aquela risada contida... que me desfizera desde a primeira vez que a escutei. Não poderia ser outra pessoa além dela.

Eu me perguntava como isso era possível, cogitava a hipótese de ser mais uma voz da minha cabeça... Minha mente tentando me enganar, por alguns curtos segundos de ilusão que fariam minha vida de merda um pouco mais feliz.

Mesmo assim, ainda de costas, giro a cabeça levemente, sobre os ombros só pra conferir, fitando a mulher atrás de mim. Imagine o que eu senti ao vê-la na minha frente, de pé e viva! Isso não pode ser verdade...

– Eaí, vampiro? – Ela sorriu, com seus olhos azuis cheios de água – Eu voltei.

– Ai-meu-Deus – Balbuciei, dando um passo para trás.

– Com medo de fantasma, vampiro? – Ela riu – Qual é, vai ficar aí me encarando ou vai vir aqui me dar um abraço?

– I-isso não é real – Disse comigo mesmo, levando as mãos á cabeça – Eu devo estar enlouquecendo.

– Por favor né amor, louco você sempre foi – Ela sorriu, se aproximando – Mas não importa, eu estou aqui agora.

– Não é real, não é real... – Eu repetia comigo mesmo, sem conseguir controlar o choro.

– Te mostrarei que sim – Ela me abraçou, fechando os olhos – É real. Eu estou aqui, com você... e não pretendo te deixar de novo. Nunca mais.

Eu podia sentir seu corpo contra o meu, conseguia sentir seu cheiro, escutar sua voz... Mas não podia acreditar que aquilo estava acontecendo de verdade. Fechei os olhos e deixei as lágrimas correrem pelo meu rosto.

Tive medo de ser mais uma alucinação, temi que quando eu abrisse os olhos, ela não estaria mais ali... e então eu perceberia que tudo aquilo não passou de mais uma loucura da minha cabeça, e eu estaria abraçando o vazio. Isso já aconteceu antes e não quero que ocorra de novo.

Pensei que poderia ser efeito do éter que eu injetei nas veias do braço, no qual eu já estou começando a sentir vontade de injetar de novo, mas isso foi ontem de manhã. Já fez todo o efeito que tinha que fazer. Então, o que era aquilo, se não mais uma viagem?

– Eu te amo – Ela me apertou, com voz de choro, sentindo meu cheiro – Senti sua falta.

– Eu também te amo – Levei a mão ao rosto – Sempre vou amar... Queria que você estivesse viva de verdade... e que não fosse mais uma loucura minha.

Ela suspirou. Continuei imóvel, tentando prolongar ao máximo aquele momento criado pela minha imaginação, queria continuar sentindo seu cheiro, escutando sua voz e aquecendo meu coração com seu calor, imaginário. Não disse mais nada, não me movi, nem retribuí seu abraço, por mais que eu quisesse, pois sabia que, se eu o fizesse, abraçaria o vazio e sairia daquele estado de viagem alucinógena.

E quando abrisse os olhos, seria apenas eu. Eu e minha insanidade, naquele quarto vazio de hospital.


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Notas finais do capítulo

Sobre essas viagens do Marshall, só tenho uma coisa á declarar: http://minilua.com/wp-content/plugins/wp-nohotlink/cache/663394.jpg
Aquele momento em que o cara é tão dorgas, mas tão dorgas que nem sabe mais diferenciar o que é real do que é briza.
Bjs amores, até semana que vem o/ (se meu pc não der pau... e se a vida não inventar de foder) ^^