POV Finn

Cara, esse é um dos melhores dias da minha vida!

Tá certo que minha vida nunca foi um compilado de dias bons, mas essa notícia pela manhã certamente compensou parte da minha falta de sorte nela. Agora sim, o Mertens vai ver como é estar em uma cadeia, vai passar por tudo o que eu passei. É certo desejar que seu pai se exploda? Hunf, não importa... ele é um cretino, quero que ele vá pro inferno.

Além do mais, o dia estava perfeito: céu parcialmente nublado com uma brisa morna, que soprava em meus cabelos do alto da varanda, como se me dissesse “bom dia”. Flame vai vir aqui e eu estou sozinho em casa. Tem como o dia melhorar?

– Finn! – Ela bateu na porta – Cheguei amor, abre aqui!

– Rapidíssima você – Eu ironizei – Demorou só 2 horas?

– Tive umas coisas pra resolver – Ela disse enquanto entrava – Encontrei com sua amiga, a Bonnie.

– Ahn, que ótimo – Não dei muita importância, apenas tranquei a porta – O que você queria com ela?

– Nada não – Ela sorriu – Encontrei por acaso... – E soltou um risinho – Por acaso...

– Você é confusa – Me joguei no sofá

– Você não faz ideia – Ela jogou sua bolsa em mim – Nem tente entender

– Aham, sei - Concordei – Ei, vamos dar umazinha, né?

– Pervertido – Ela riu, prendendo os cabelos – O que tem pra comer aqui?

Nada. Nunca tinha nada naquela geladeira, o armário parecia um deserto e a dispensa nem se fala. Não importa quanta comida a Cake compre, nunca vai sobrar nada depois do 3° dia. É a lei da selva, coma miojo ou pizza de ontem se não quiser morrer de fome.

Não sei como ela fez a proeza de achar um pacote de doritos e uma lata de coca esquecida no canto do freezer, mas tudo bem. Devorou tudo como uma leoa faminta e virou-se pra mim com cara de cachorro pidão:

– Ainda tô com fome.

Eu tenho uma proposição chamada “teoria do buraco negro no estômago da minha namorada”, é tipo isso: Tem um buraco negro que desintegra tudo o que ela devora, por isso ela come sem parar e sempre tá com fome. Ou é lombriga.

– Alguém escondeu uma Askov na gaveta do Freezer – Eu disse como quem não quer nada

– Aquela cachaça de macumba é ruim feito um capiroto – Ela fez uma cara de nojenta – Se você quer me deixar bêbada de novo, pode tirando seu cavalinho da chuva.

– Você fica bem menos pé-no-saco quando não está sóbria – Eu revirei os olhos – E bem mais “soltinha”

– Soltinha, sei... – Ela arqueou a sobrancelha e sorriu – O que você quer dizer com isso? – Seu rosto estava bem perto agora

– Você sabe muito bem o que eu quero dizer com isso – Entrei no clima também, repousando as mãos em sua cintura e a puxando pra mim – Veio aqui pra isso.

Ela sorriu, agora eu estava sentado no sofá e ela roçando em cima de mim, beijava sua nuca enquanto ela segurava meus cabelos. Suspendi minha blusa enquanto ela me arrastava para o quarto, fechando a porta atrás de si.

POV Marshall

Sério isso? Sério mesmo? Além de ter que dividir oxigênio com essa criatura chamada Chris, eu ainda sou obrigado a fazer um trabalho em dupla com ele? Porra, valeu Sr. Petricov!

– Qual é, Sr. Simon! – Christian exclamou – Eu posso fazer dupla com qualquer um, menos o Lee! Tinha que ser ele?

– Não vejo problema algum – O professor respondeu – O que tem de tão terrível com seu parceiro de trabalho?

– O senhor ainda pergunta? – Ele deu um riso sarcástico – Ele é desinteressado, preguiçoso, acomodado, folgado e irritante! Eu vou acabar fazendo tudo sozinho!

– Talvez eu seja – Me levantei – Mas pelo menos eu não sou um fura olho infeliz que corre atrás da namorada dos outros!

– Não fala merda cara, quem tá errado nessa história é voc...

– Chega! – Petricov exclamou – Se comportem, meninos! Sentem-se! Não vou mudar as duplas!

Depois de um tempo nos entreolhando, demo-nos por vencidos. Christian pegou sua mochila e se sentou ao meu lado. Sr. Simon continuou a formar as duplas:

– Ok, Marshall e Christian, Stifler e Chloe, Fionna e Lorraine, Caroço e Beck...

Continuei com a mochila fechada, enquanto aquele despacho de encruzilhada fazia o trabalho sozinho.

– Não vai me ajudar? – Ele questionou

– Se vira – Respondi

– Somos uma dupla – Ele falou

– Jura? – Ironizei – Tu não é o espertão? Então faça sozinho.

– Não é questão de esperteza, somos um equi... – Ele parou de tagarelar quando notou que eu estava o imitando – E a maturidade? Tá tendo?

Não respondi, ele continuou me fitando.

– Não vai mesmo me ajudar? – Ele indagou de novo

– Já disse que não – Respondi novamente

– Ótimo – Deu pra sentir o tom de irritação em sua voz. Aí o assunto morreu.

A classe estava silenciosa, o tédio era mortal. Peguei um caderno qualquer e comecei a rabiscar o que viesse á mente. E adivinha a primeira coisa que vinha á minha cabeça? Exatamente, Fionna. Ela era dona do meu raciocínio, tudo o que eu fazia ou imaginava fazer era pensando nela.

“Ela é a dona do meu coração,

Da minha mente, minha razão,

Do meu físico, minha paixão,

De tudo, minha prece e oração.

Eu olho pro céu e peço á Deus

Que ela me perdoe pelo erro meu

Que não me odeie por minha aura ser um breu

Que ela não me troque por um certo amigo seu

Sei que errei, mas atire a primeira pedra

Quem nunca agiu sem pensar

Quem nunca errou por amar

Quem nunca sofreu ao lembrar daquela que um dia foi seu par, seu lar.

Que me condene á morte

Quem nunca foi traído pela própria sorte

Por isso peço que reconsidere

Porque a dor que me fere, já não posso suportar.

Confesso que amo

Aquela que fez meu coração disparar

Que me fez em seus braços sonhar

A pequena chama que em meu coração centelha

Minha adorável coelha”

Palmas, eu sou um poeta. Lá no fundo, entre tanta rebeldia, indisciplina e desordem, sou um romântico. Mentira. Isso foi tão gay que me recuso a acreditar que tenha saído de mim. Só a Fionna mesmo pra me fazer escrever isso...

It's a quarter after one (São 1:15 da manhã)

I'm a little drunk (Estou um pouco bêbado)

And I need you now (E eu preciso de você agora)

Said I wouldn't call (Disse que não ia ligar)

But I lost all control and I need you now (Mas perdi todo o controle e preciso de você agora)

And I don't know how I can do without (E eu não sei como sobreviver)

I just need you now (Eu só preciso de você)

– Lady Antebellum – Need You Now.

Eu juro que se não fosse pelo sermão do Jake ontem, depois da aula eu iria encher a cara pra tentar esquecer os problemas. Parece que seu discurso chato sobre responsabilidade surtiu algum efeito. Álcool e cigarro não vão resolver nada mesmo.

O sinal da última aula tocou, me levantei rapidamente e fui em direção á lixeira, joguei o maço fora. Me virei pra Fionna, mas ela nem se quer olhou na minha cara, foi em direção ao Chris. Rosnei, mas contive minha raiva primitiva. Ao invés de fazer qualquer besteira que eu me arrependa depois, apenas deixei a sala sem olhar pra trás.

POV Flame

Eu estava exausta e minha fome persistia. Uma lata de refrigerante e um saco de salgadinhos não matam minha fome. Me deitei ao lado de Finn, que estava semi-morto, estirado na cama, com cara de bobo. Dei-lhe um selinho.

– É melhor você vestir alguma coisa – Disse pegando sua roupa do chão – Cake já vai chegar e Fionna provavelmente vai passar aqui.

Foi quando ouvi batidas persistentes na porta. Fui atender, enquanto Finn se vestia rapidamente. Cake deve ter esquecido as chaves de novo, ou Fionna saiu mais cedo da escola.

– Flame? – Bonnie indagou nervosa assim que eu abri a porta – Cadê seu namorado?

– O que você quer com ele? – Respondi prendendo a risada. Ela estava ridícula.

– Argh, deixa que eu mesma procuro – Ela me empurrou pro lado e entrou furiosa no apartamento – Finn!

– Ele está no quarto – Encostei na porta e cruzei os braços.

Ela foi que nem uma locomotiva desgovernada em direção ao quarto, Finn virou pra ela surpreso e não aguentou, caiu na gargalhada que nem um tonto.

– Você tá rindo do que? – Ela exclamou irritada – Olha só que você me fez fazer!

– Eu? – Ele enxugou uma lágrima no canto do olho – O que eu tenho a ver com... isso?

– Não se finja de besta! Foi você que me indicou aquela clínica de bronzeamento fajuta por mensagem de texto! Eu te odeio! – Ela grunhiu

– Tá ficando maluca, garota? – Ele riu – Eu nunca troquei mensagens com você

– Se não foi você, então quem foi? – Ela pôs a mão na cintura, exigindo explicações.

Finn olhou pra mim, eu olhei pra ele, Bonnie me encarou confusa. Não aguentei, tive que rir. Ela estava hilária daquele jeito.

– Flame... – Ele levou a mão á testa – Me diz que tu não fez isso...

– Fiz o que? – Me fingi de sonsa, mas a culpa estava estampada na minha cara, eu não conseguia parar de rir.

– Eu quero explicações agora! – Bonnie exigiu

– Ah, cala essa boca – Me virei pra ela – Você quer é vazar daqui, xô! – Apontei pra saída.

– Foi você, não foi? – Ela se virou pra mim – Porque? Você é maluca?

– Maluca tá a minha mão pra voar na sua cara, piranha – Fui curta e grossa – Isso foi só uma lição, pra você deixar de dar em cima do namorado dos outros. Agora vaza.

– Vai ter troco, sua pirada! – Ela dizia enquanto era empurrada por mim até a saída – Não vai ficar assim!

Empurrei-a pro corredor, bati a porta e tranquei. Finn me encarava com aqueles olhos azuis arregalados, como se pedisse uma explicação.

– Que foi? – Indaguei como se nada tivesse acontecido.

Ok, vou explicar: Tenho um primo que é dono de uma clínica de bronzeamento de quinta na zona norte chamada “Sunshine”. Bonnie queria pegar uma corzinha, eu só ajudei.

Aquela maluca agendou uma visita ás 8:30 da manhã, na sala IV. Cheguei meia hora antes e troquei “sem querer” os tubos de tinta de “bronzeado leve” para “laranja vibrante”. Bem feito, agora ela parece uma cenoura.

– Por isso você demorou 2 horas pra chegar? – Finn questionou depois da minha explicação.

– Isso – Confirmei – Não tá bravo?

– Não, foi cômico – Ele riu – Mas como você descobriu que ela estava dando em cima de mim?

– Escutei a conversa de vocês – Respondi

– Que? Como? – Ele disse confuso

– Sou uma ninja – Me gabei – Sou uma gênia, não sou?

– Você é má, isso sim – Ele franziu o cenho – Santa criatividade...

POV Christian

Definitivamente, o Sr. Petricov não sabe formar duplas decentes. Como ele pode colocar o Marshall pra fazer dupla comigo? Como ele pode colocar a Lorraine pra fazer dupla com a Fionna? Não sei se ele tá ciente, mas todo mundo sabe que a vaquinha morre de ódio da Fi, só porque a coelha pegou o Marshall e ela não.

Pelo visto, entre todos os alunos na sala, somente a Caroço ficou feliz com seu parceiro de trabalho: Beck, o tatuado-sonho-de-consumo. Ele deve estar em quinto nesse ranking inútil de “gatos da sala” que a Caroço inventou. Essa menina é meio doida, dá em cima de mim mesmo sabendo que eu tenho namorada. Sim, eu tenho namorada, mas é claro que o Marshall não precisa saber disso. Quero que ele se exploda de ciúmes pra aprender a valorizar a Fionna melhor. Ainda acho que ela merece alguém melhor que ele, mas tudo bem.

– Vamos? – Fionna se encostou do meu lado – O sinal já tocou, vem logo!

– Deixa eu terminar essa equação... – Respondi – Marshall saiu todo enfezado pela porta, você viu?

– Vi – Ela respondeu – Não me importo.

– Não, é? – Ri sarcástico – Não mesmo?

– Talvez eu me importe só um pouquinho – Ela fez um gesto de diminutivo com os dedos.

– Pronto, finalmente acabei – Suspirei aliviado guardando meu material – Fiz praticamente tudo sozinho.

– Típico dele – Ela revirou os olhos – Nunca faz nada.

Guardei minhas coisas e fechei a mochila, quando notei um bloco de notas embaixo da carteira, não era meu. Marshall saiu tão apressado pela porta que esqueceu seu caderno.

Esse garoto só não perde a cabeça porque tá grudada no pescoço. Amanhã eu devolvo pra ele, isso é, se ele vir e não deixar o trabalho todo pra mim. Irresponsável...