Show Me Love escrita por noOne


Capítulo 27
Marshall's Dad, Marshall's Hero.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, bom dia.
Decidi postar este capítulo ás 7 da manhã porque sei o quanto vocês estão ansiosos para finalmente descobrirem o mistério sobre o passado do Marshall. Então chega de enrolação.



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POV Marceline

Sentei-me no sofá e comecei a contar a trágica história de nossas vidas, de como fomos parar na Inglaterra, do porque estarmos assim agora.

– Nós morávamos consideravelmente bem em nossa casa nos Estados Unidos, na Carolina do Sul: ela tinha 3 andares, piscina, sótão, porão e tudo o que se tinha direito para uma casa grande, nada nos faltava. E tudo isso graças ao nosso pai. Ele era um homem bom e honesto, trabalhava em uma grande agência do governo americano, como astrônomo (isso explica o fato de Marshall gostar tanto de estrelas).

Morávamos em frente a uma praia, e meu pai nos levava todos os dias para olhar as estrelas junto á ele, em frente ao mar, Marshall adorava. Ele ensinou tudo que o Marshall sabe sobre o universo: de planetas á multiversos, ele dizia “Você pode buscar o passado nas estrelas, somos feitos da poeira delas” e Marshall ficava encantado com suas explicações e toda sua doideira de cientista de meia idade, ele amava o pai mais do que qualquer constelação ou grupo estelar no mundo.

Então, quando Marshall completou 17 anos as coisas começaram a mudar. Era verão, setembro quando ele trocou de escola: de Princeton para Stanford, onde ele começou a se envolver com um pessoal errado e desenvolveu gosto pelo cigarro. Ele me dizia que só fumava quando estava estressado e eu o respondia que se ele estava estressado a culpa era do próprio cigarro. Quando meu pai descobriu que ele estava fumando, os dois brigaram feio e então Marshall parou de falar com aquele que um dia costumava ser seu herói, sua inspiração.

Depois disso seu comportamento só piorou, ele era praticamente o bad boy da escola, comia todas as menininhas, não estava mais nem aí pra nada e ficava cada vez mais agressivo e rebelde, adorava uma briga. Então chegou um dia em que ele brigou com um tal de “Bulldog”, um cara que era líder de uma gangue pesada, Marshall estourou a cara do sujeito! Aquilo foi a pior coisa que ele podia ter feito.

Naquela noite, nós saímos para jantar fora com a família, fomos Eu, Marshall, minha mãe e meu pai. Fomos em um daqueles restaurantes do tipo parisiense e sentamos em uma mesa na calçada, ao ar livre. A noite estava estrelada, como ele adorava e estava tudo perfeito quando o tal de Bulldog apareceu em um carro preto dando um cavalo de pau e disparou contra ele. Mesmo estando brigados, meu pai se jogou na frente de Marshall, levando um tiro em seu lugar.

Marshall se jogou no chão e o acudiu, infelizmente ele não podia fazer mais nada, ele abraçou seu pai todo ensanguentado no chão. Ele chorava e gritava para as pessoas fazerem alguma coisa, mas elas só faziam uma roda em volta, olhando, inúteis.

No dia seguinte, misteriosamente Bulldog apareceu morto em seu apartamento. E advinha quem foi o principal suspeito do assassinato? Sim, o pobre do Marshall, que na verdade tinha passado a noite inteira no hospital, esperando por notícias do pai. Infelizmente, como vocês já devem ter concluído ele não resistiu e veio a falecer, sem que Marshall pudesse fazer nada.

Marshall foi expulso da escola, além de todas as ocorrências que ele já tinha na ficha escolar, o falecido membro da gangue era sobrinho da maldita diretora insensata, que sem pensar duas vezes riscou o nome do garoto da ficha escolar, mesmo sem provas de que tinha mesmo sido ele.

Depois de uma semana Marshall foi inocentado do crime, quando resolveram ver a fita das câmeras de vigilância do apartamento do sujeito, provando que quem tinha matado bulldog era um membro da gangue inimiga, não ele. Então nós resolvemos enterrar o passado nos mudando pra cá, pra Inglaterra. Nós nunca mais tivemos o mesmo luxo de antes, nossa mãe começou a trabalhar como diarista na casa de George Mertens para nos sustentar, mas agora nem isso ela tem mais.

Marshall têm crises de depressão desde então e nunca se recuperou do fato de não ter tido a chance de pedir perdão ou ter dado um último adeus á aquele que costumava ser seu herói. Ele diz que a culpa de tudo isso é dele, e nunca se perdoou por isso. O verão acabou cedo de mais, e as cicatrizes daquele setembro nunca vão se apagar pra ele.

Pois é, a gente só dá valor quando perde – Eu conclui a história.

Foi quando Marshall chegou na sala, onde nós estávamos

– Você tinha que contar á elas? – Ele dizia sério

– Acho que elas têm direito de saber.

– Por que você escondeu isso de mim, esse tempo todo? – Fionna questionou

– Você não consegue guardar essa língua dentro da boca hein, puta que pariu! – Ele continuava olhando fixamente pra mim, nervoso.

– Porque escondeu delas esse tempo todo? – Eu perguntei

– Elas não tinham que saber disso, isso não é da conta delas, não é da conta de ninguém!

– Dói falar no passado não, é? Também dói pra mim, sabia? Ele também era meu pai, ou você se esqueceu?

– Não Marceline, eu não esqueci. Mas se eu não quis contar não é você que tem que abrir a boca!

– Você fala como se elas não precisassem saber!

– E não precisam mesmo!

– Lógico que precisam!

– Ah, que se dane – Ele disse com lágrimas nos olhos, tentando não chorar – De que importa agora? Isso não vai mudar nada – Ele abriu a porta

– Você tem que superar isso, não é se escondendo do mundo que você vai melhorar – Eu impedi que ele saísse, fechando a porta

– Eu não quero melhorar, eu não preciso da sua ajuda.

– Aí é que você se engana – Eu o empurrei pro sofá – Que história é essa de querer se jogar no mar? De novo tentando tirar sua vida? O que você tem na cabeça?

– O que eu tenho na cabeça? – Ele riu – Por onde eu começo? Traumas, culpa, depressão, indícios de esquizofrenia, muita nicotina e pouco Survector. (Remédio antidepressivo)

– Você parou de tomar?

– Acabou e eu não vou fazer a mãe comprar aquela porcaria de novo, é muito caro e ela perdeu o emprego ontem.

– O quê?

– É isso mesmo, seu pai veio aqui ontem, Fionna – Ele se virou pra ela

– Eu sabia. O que ele disse? – Ela perguntou

– Além de apontar o dedo na minha cara, gritar com a minha mãe, me ameaçar e tirar o emprego dela, nada.

– Cara, isso está passando dos limites – Cake disse preocupada.

– Já passou á muito tempo, Cake – Eu disse me levantando – Se você não se importa eu estou saindo, prometo que não vou tentar me matar de novo, nem ter uma crise ou coisa assim.

– Como se você soubesse quando vai ter – Eu resmunguei

– Tem razão, não sei. Mas quem se importa?

– Eu me importo – Fionna disse se levantando e indo em sua direção – Todas nós nos importamos. Então pensa bem antes de fazer outra besteira. Você não é o único que sofre.

Ele deu um sorriso cabisbaixo, suspirou, a beijou e disse

– Ok, eu vou lembrar disso - E deu as costas.

POV Marshall

Eu sei que elas só estão tentando me ajudar, mas eu não pedi a ajuda de ninguém! Eu sei que soa ingrato da minha parte, mas elas não entendem. Ninguém entende.

Elas não sabem o que é perder o pai. Bem, a Marcy sabe, mas pelo menos ela não foi a culpada pela morte dele, além disso, ela não o amava tanto quanto eu amava, ela não sente tanto a falta dele quanto eu sinto e nem precisa dele quanto eu preciso. Ele era a última pessoa que podia me deixar daquele jeito.

(Escute Vento no Litoral – Legião Urbana)

Agora eu só quero esquecer aquele setembro. Quando sua cabeça entra em colapso, você deixa a música falar mais alto que seus pensamentos. (Nota da Autora: Essa música é cheia de espaços vazios, partes que só têm ritmo, então eu coloquei diálogos e breves “flashbacks” no meio, sincronizados com o tempo que vocês levam mais ou menos pra ler isso.)

De tarde quero descansar

Chegar até a praia e ver

Se o vento ainda está forte

E vai ser bom subir nas pedras

Sei que faço isso pra esquecer

Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando

Tudo embora

– Perdão meu velho, eu sei que a culpa disso é minha – Senti uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto - Eu só queria que você estivesse comigo agora. Eu só queria poder voltar atrás, e ter te escutado enquanto ainda era tempo.

Agora está tão longe

Ver a linha do horizonte me distrai

Dos nossos planos é que tenho mais saudade

Quando olhávamos juntos

Na mesma direção

Aonde está você agora

Além de aqui dentro de mim?

“Veja, Marshall! Olhe! ... Você viu? Era Halley, meu filho! Ele só vai voltar daqui á 76 anos agora. Eu nem estarei mais aqui, mas você já será velhinho.” “Não, papai. Você é infinito, vai estar aqui comigo pra ver... não vai? ... vai estar comigo pra sempre, não é? ... Porque cê tá chorando? ...”

Agimos certo sem querer

Foi só o tempo que errou

Vai ser difícil sem você

Porque você está comigo

O tempo todo

E quando vejo o mar

Existe algo que diz

Que a vida continua

E se entregar é uma bobagem

Já que você não está aqui

O que posso fazer

É cuidar de mim

Quero ser feliz ao menos

Lembra que o plano

Era ficarmos bem?

Eieieieiei!

Olha só o que eu achei

Humrun

Cavalos-marinhos

“Não, pequeno. Nem sempre eu estarei aqui com você, qualquer dia chega minha hora de ir ... Mas eu sempre estarei olhando por você aonde quer que eu esteja ... você sempre será meu menininho. Eu te amo, filho, saiba disso.”

– Também te amo pai – Eu disse, como se ele hoje pudesse me escutar.

Sei que faço isso

Pra esquecer

Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando

Tudo embora

Agora eu entendo o que ele quis dizer. Quando se tem 4 anos você acha que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes, que seu pai é eterno e que ele nunca vai te deixar. Saudades mesmo eu tenho da minha velha infância, da minha velha praia, da minha velha casa. Hoje eu sou um homem, pai. Hoje eu entendo, hoje eu lamento. Minhas lágrimas não te trarão de volta.


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Notas finais do capítulo

Bad feelings no ar :'(