I Won't Give Up escrita por Lady Salvatore


Capítulo 1
Capítulo Único - I Won't Give Up


Notas iniciais do capítulo

Hello galera!

Nunca me imaginei escrevendo fics com filmes de animação, mas "Rise Of The Guardians" e "Frozen" são tão, mas tãaaaao divos que eu não resisti!

Espero que gostem...



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Houve um tempo em que, mesmo não sabendo quem eu era na verdade ou qual minha missão nesse mundo, apenas uma garotinha podia me ver. Lembro-me como se fosse hoje do dia em que a vi pela primeira vez...

Eu estava apenas de passagem pelo reino em que ela vivia com a família, pegando uma carona com o vento para chegar até o lugar que eu considerava meu lar – a pequena cidadezinha que se formara nas proximidades do lago em que acordei há pouco mais de um século, - quando algo me chamou a atenção: uma garotinha de cabelos muito claros passeando com o que achei que fosse sua irmãzinha, que não parecia ter mais do que um ano. Não teria nada de anormal numa cena dessas, não fosse por um detalhe: pequenos floquinhos brancos caíam preguiçosamente sobre as duas.

Primeiro, achei que fosse minha consciência – ou algo próximo a isso – me pregando uma peça. Afinal, viver sozinho e invisível a todos não era exatamente animador, ok? Mas depois de observar mais atentamente, percebi que nevava apenas ao redor daquelas duas meninas. Mas como isso seria possível num dia quente e ensolarado?

Intrigado, me aproximei e sentei num galho de uma árvore para observar melhor. Parecia que, finalmente, a garotinha loira havia se dado conta do que acontecia ao redor delas, pois olhava com cara de espanto para os flocos que caíam em seus cabelos claros. Após um minuto, um largo sorriso tomou seu rosto. Ela aparara um floco de neve com suas mãos pequenas e, com apenas um toque, ele voltara a flutuar ao seu redor, como se dançasse contente.

Ela parecia tão feliz que nem ao menos consegui me conter. Deixei meu esconderijo no alto da árvore – sim, eu estava escondido mesmo sabendo que ninguém me veria – e me aproximei mais, agachando-me à frente dela.

Então algo que eu não esperava aconteceu. Ela baixou os olhos azuis até a altura dos meus, encarando-me boquiaberta, totalmente paralisada, e a neve ao seu redor cessou instantaneamente. Não sei explicar o porquê, mas tive a impressão de que aqueles olhos tão brilhantes podiam enxergar dentro de mim, como se fossem capazes de me ler por inteiro. Após alguns segundos a garotinha soltou um gritinho agudo, disparando para longe enquanto empurrava o carrinho de bebê onde sua irmã dormia serenamente.

Devo confessar que sua atitude me deixou completamente confuso. Afinal, por que ela gritara? O que podia tê-la assustado? Ainda olhei ao redor, buscando o motivo para seu pânico, mas nada notei de diferente ou assustador por ali. Será que ela ouvira algo que escapara a mim, então? Não, isso não seria possível. Mas então, o que poderia ter acontecido?

Foi só quando reparei em minha sombra projetada no chão de pedra do pátio do castelo, que a compreensão me atingiu. Ela se assustara... comigo! Ela havia me visto! Depois de cem anos, alguém finalmente pudera me ver!

Maravilhado com aquilo, resolvi me manter por ali, espreitando, esperando uma chance de vê-la outra vez e, talvez, falar com ela. Afinal, que mal poderia haver nisso, não? Fazia tanto tempo que não ouvia alguém dirigir a voz a mim que chegava a ser doloroso. Na verdade, apenas o “Homem da Lua” falara comigo, mas apenas para dizer quem eu era... Jack Frost.

**********

O céu já estava escuro e cravejado de pequenos pontinhos brilhantes quando notei um rostinho conhecido espiando furtivamente por uma das muitas janelas do castelo. Era ela, a garotinha que podia me ver. Mesmo temendo que ela gritasse novamente, resolvi me aproximar. Eu precisava ter certeza de que ela me via, e também queria saber o porquê.

Assim, me equilibrei um tanto precariamente no peitoril da janela e acenei para ela. Seus olhos se arregalaram de espanto mais uma vez, mas ao menos ela não gritou. Apenas ficou ali paradinha, me observando do mesmo modo que eu fazia com ela, como se estivesse me estudando e tentando decidir se o que via era mesmo real.

Passados alguns minutos, ela sorriu em minha direção e acenou, dizendo um tímido “olá!”. Tomado pelo êxtase, eu lhe devolvi o sorriso, fazendo alguns flocos de neve caírem sobre mim sem querer. A garotinha pareceu gostar daquilo, pois pude notar que a neve também caía preguiçosamente do seu lado da janela.

Quando acenei para mostrar a ela o que ambos estávamos fazendo, ela voltou-se na direção da porta do quarto, escutando em silêncio por alguns segundos. Quando se deu por satisfeita, a garotinha correu até a penteadeira e apanhou o banquinho que havia ali, trazendo-o para perto da janela. Em seguida, posicionou-o para que pudesse destrancar as vidraças e abri-las.

- Olá – diz ela sorridente, enquanto descia do banquinho para a segurança do chão do quarto, - sou Elsa, princesa de Arendelle. E você, quem é? E como você faz... isso? – questiona, apontando para os flocos fofos.

- Você pode mesmo me ver? – pergunto ainda um tanto incerto, a que ela apenas acenou afirmativamente. - Olá Elsa, me chamo Jack. Jack Frost – respondo, agora me sentando no peitoril.

- Você é como eu? Nasceu... diferente?

Confesso que aquela simples pergunta me pegou desprevenido. Na verdade, eu não lembro de nada antes de acordar no lago congelado e sair para o frio da noite. É como se eu tivesse passado a existir daquele momento em diante, como o garoto invisível, de toque gélido e cabelos brancos, que levava neve e geada por onde quer que fosse.

- Ué, o gato comeu sua língua? – Elsa volta a perguntar, provavelmente estranhando o meu silêncio.

- Não. É só que... não sei por que sou assim, entende? – lhe digo por fim.

- E você tem medo de ser como é? Assim diferente dos outros? – a garotinha indaga, o rostinho num misto de curiosidade e apreensão. Quando lhe aceno negativamente, ela suspira aliviada e continua. – Pode me ensinar...

- Como usar seus poderes? – a interrompo, animado demais com a ideia de ter alguém com quem me divertir e conversar.

- Isso – ela sussurra, olhando para o chão. – Não tenho mais ninguém para me ajudar.

Com um sorriso em resposta, pulei para dentro do quarto de Elsa e me ajoelhei à sua frente, tocando o chão com as pontas dos dedos e fazendo uma fina camada de gelo aparecer. Em seguida, desenhei um esquilo de cauda felpuda, que saltou para as mãozinhas dela no segundo seguinte, fazendo-a soltar uma gargalhada divertida.

- Elsa? – disse uma voz vinda do corredor. – O que está acontecendo aí dentro?

- É a mamãe! – diz ela, encarando a porta do quarto. – Eu deveria estar dormindo, mas...

- Corra pra sua cama e faça de conta que acabou de acordar de um sonho engraçado – a incentivo, piscando para ela. – Amanhã eu volto para lhe ajudar, tudo bem?

- Verdade? Ah, obrigada Jack! – Elsa responde, me abraçando apertado. E devo dizer: a sensação é ótima!

E foi assim que nasceu a amizade entre mim e Elsa, a princesa de Arendelle...

*************

Nos anos que se seguiram, continuamos a nos ver regularmente. Sempre que eu passava pelos arredores do reino, ia até o castelo visitar a princesinha. Os poderes dela vinham crescendo consideravelmente, e Elsa já era capaz de cobrir todo um salão com neve branca e fofa, ou então montar uma pista de patinação no próprio quarto. A garotinha finalmente começara a se divertir com seus poderes.

Outra que ficava feliz com aqueles montes de neve era Anna, a irmã caçula de Elsa. Acho que, se fosse possível, ela passaria os dias montando bonecos de neve ou deslizando em tobogãs, rindo e pulando alegremente.

Infelizmente, tudo mudou num dia que deveria ser de diversão. Eu não estava por perto, então não pude evitar o acidente envolvendo as irmãs. Elsa acabou atingindo Anna com seus poderes sem querer enquanto brincavam na neve, e a partir disso, os pais das meninas resolveram isolar minha adorada princesinha do gelo, não deixando que ela saísse mais do castelo ou interagisse com a irmã.

Elsa se fechou para o mundo, com medo do que poderia fazer. Tentava reprimir seus poderes a todo custo, mesmo que isso lhe causasse grande sofrimento. Vivia sob o lema de “Encobrir, não sentir, não deixar saber” e até mesmo nossa amizade sofreu um grande baque com tudo isso. Seus pais queriam que ela se mantivesse no controle, e o “amigo invisível” – que era eu, claro – deveria ser esquecido, mesmo que isso nos fizesse sofrer.

Assim, passei vários e vários anos cuidando da princesa de longe, observando-a através das janelas do castelo, vendo o quanto ela sofria sem poder me aproximar para ajudá-la. A vi chorar a morte dos pais, a saudade da irmã e o medo que apenas crescia em seu peito. Eu mesmo sofri com a dor dela, sentindo como se uma parte de mim houvesse sido soterrada por uma grande nevasca.

************

Três anos após a morte dos pais, Elsa finalmente alcançara a idade para ser coroada como a nova Rainha de Arendelle. E é claro que eu me faria presente num momento tão importante, mesmo correndo o risco dela nem ao menos me ver ali. Afinal, apesar de toda a distância que o tempo colocou entre nós, ela ainda era a menininha que podia me ver, e prometi que a ajudaria, independente de qualquer obstáculo.

Como na primeira vez, me equilibrei mais uma vez no parapeito da janela do quarto de Elsa. A diferença era que não havia mais uma garotinha de rostinho rechonchudo espiando pelas vidraças, mas sim uma mulher linda, embora triste e solitária.

Ela estava sentada na beira da cama, olhando fixamente para algum ponto da parede. As mãos estavam cobertas por luvas, numa tentativa desesperada de manter seus poderes ocultos de quem quer que fosse. E mesmo à distância, pude notar a trilha úmida que as lágrimas haviam formado em seu rosto delicado.

Vê-la sofrer em silêncio era doloroso, uma sensação tão desesperadora quanto estar se afogando num lago congelado. Se eu tivesse algum direito de interferir, a levaria dali sem pensar duas vezes. A deixaria ser livre...

************

As horas foram passando, e mesmo que minha princesa – agora rainha! – estivesse apreensiva por quase todo o tempo em que precisou interagir com os cidadãos do reino e os demais convidados, as coisas pareciam estar caminhando para um desfecho tranquilo. Mas como dizem por aí, “as aparências enganam”...

De onde eu estava – ao lado do trono, onde tinha uma boa visão de tudo que acontecia -, pude ver Anna se aproximando rapidamente, puxando consigo um rapaz que não consegui reconhecer. Por conta da música alta e das conversas pelo grande salão, não entendi muito bem sobre o que elas conversavam, mas não parecia ser nada bom.

E foi logo após uma rápida discussão entre as duas que as coisas começaram a desandar. Sem conseguir se conter após ter uma de suas luvas arrancadas por Anna, Elsa se deixou dominar pelos poderes que há muito vinha refreando e espalhou gelo por boa parte do salão, gerando espanto em todos os presentes.

Nesse momento, seu olhar carregado de medo e culpa se voltou na minha direção, e então eu soube: ela voltara a me ver. Ainda pude ver uma lágrima cristalina escorrendo por seu rosto antes dela correr porta afora, deixando todos para trás.

Sem pensar duas vezes, disparei atrás dela, seguindo a trilha gélida que Elsa deixara para trás. Até mesmo o grande lago que circundava o castelo de Arendelle estava congelado, e já era possível ver pequenos flocos de neve caindo vagarosamente.

Encontrei-a alguns minutos depois, caída de joelhos no chão, o rosto molhando por lágrimas que molhavam seu vestido.

- Elsa? – a chamei ao me aproximar, agachando-me à sua frente.

- Jack? – ela murmura em resposta, encarando-me demoradamente. – Ah Jack, você voltou! – continua, abraçando-me apertado e voltando a chorar.

- Nunca a deixei, princesinha. Sempre estive por perto, cuidando de você mesmo que se negasse a me ver.

- Eu sinto... sinto tanto por isso! Senti a sua falta, Jack... Todos os dias, desde a última vez em que conversamos.

- Também senti a sua, Elsa – respondo, afagando seus cabelos claros delicadamente. – Agora... o que acha de secar essas lágrimas e aproveitar um pouco da sua recém adquirida liberdade? Afinal, não há mais nada que você precise esconder.

- Não sei se é uma boa ideia...

- E por que não seria? Você está se refreando há tantos anos... Não tem vontade de descobrir do que é capaz? – questiono, tocando seu rosto e fazendo com que ela olhasse diretamente em meus olhos. – Vamos, venha comigo! Me deixe mostrar... – completo, estendendo minha mão em sua direção.

Com um sorriso – um daqueles sorrisos de que eu senti tanta falta -, Elsa segurou em minha mão e se colocou de pé, secando as últimas lágrimas que ainda molhavam seu rosto. No instante seguinte, a tomei em meus braços e disparei céu acima, vendo seus olhos claros brilharem de excitação.

Escolhi o alto de uma montanha para que ela pudesse extravasar um pouco, desse modo, não ofereceria “perigo” – como se aquela menina doce pudesse mesmo fazer mal a alguém por vontade própria! – a ninguém. E ali no alto, ela parecia novamente aquela menininha que fazia nevar sem nem ao menos se dar conta, tão linda e radiante como sempre deveria ter sido.

- E então, por onde eu começo? – Elsa questiona, me olhando cheia de ansiedade.

- Que tal tirar a outra luva, rainha?

- Ótima sugestão – diz ela, tirando a luva e largando-a para ser levada pelo vento. – O que acha de um boneco de neve, Jack? – continua, moldando a neve na forma de um bonequinho bastante simpático. – Cumprimente o Olaf – completa, com um largo sorriso.

- Olá Olaf – respondo, com uma leve reverência. – E você, como se sente?

- Livre... – Elsa murmura em resposta, fazendo desenhos no ar com pequenos cristais de gelo. – E agora, para completar...

A garota foi tão rápida que não tive nem tempo de desviar da bola de neve que a sapeca atirou em minha direção. Elsa ainda teve a cara de pau de explodir em risos quando viu minha cara de espanto, e fui obrigado a acompanhá-la nessa!

O que veio a seguir foi uma das guerras de neve mais divertidas que tive nos últimos tempos, afinal, eu podia ser visto e atingido, e era nisso que morava a graça da brincadeira. Naquela confusão de bolas, cristais de gelo e flocos de neve, acabei esbarrando em Elsa, e juntos fomos parar no chão.

- Você é um pequeno desastre, Jack Frost – diz ela tentando manter-se séria, o rosto a apenas alguns centímetros do meu.

- Olha só quem fala, princesinha!

- Tecnicamente, fui coroada rainha de Arendelle hoje.

- Eu sei, estive lá para ver – respondo, afagando seu rosto com as pontas dos dedos. – Mas pra mim, você sempre será minha princesinha do gelo.

- Acho que consigo me acostumar com isso – Elsa sussurra, beijando meu rosto em seguida.

Esse simples gesto despertou em mim algo que eu nunca sentira – ou ao menos, não lembrava de ter sentido -, como se o Sol estivesse me aquecendo por dentro e mandando a escuridão e o frio embora. Me fez sentir mais completo, de uma maneira que nem ao menos consigo explicar.

- Você está bem, garoto da neve? Aconteceu algo?

- Não, nada. É que... Bem, posso tentar uma coisa diferente? – questiono, sem saber se deveria mesmo fazer o que estava planejando.

- Claro, por que não? – ela responde com um sorriso, que tomei como um sinal para me aproximar mais um pouquinho e tocar os lábios dela com os meus, uma aproximação que não durou mais do que alguns segundos. – Confesso que não era bem o que eu esperava – continua ela algum tempo depois, o olhar repleto de carinho.

- Não está querendo me congelar por isso?

- Deixa de ser bobo, garoto! – diz Elsa, dano um tapa em meu ombro. – Tudo que preciso dizer é obrigada, Jack. Obrigada por não desistir de mim quando eu mesma já havia desistido, e por estar sempre por perto, mesmo quando eu não merecia.

Quando tentei lhe dizer que não havia motivos para agradecer, e que eu faria tudo de novo se fosse necessário, Elsa me impediu unindo seus lábios aos meus mais uma vez.

**********

Subimos ainda mais alto na encosta da montanha, até quase nos aproximarmos do pico coberto de neve. Ali, entre uma grande fenda na rocha, minha princesa colocou mais uma vez seu dom à prova, construindo uma longa escadaria que ligava um lado ao outro, e também um castelo magnífico, ambos feitos totalmente de gelo. Em seguida, fez para si um vestido tão lindo quanto ela mesma. A precisão nos detalhes era impressionante. Elsa era impressionante.

Estávamos distraídos pelo que pareciam horas, conversando e patinando pelo grande salão do castelo, quando uma voz nos trouxe de volta à realidade.

- Elsa? Elsa... sou eu, Anna!

- Anna? O que está fazendo aqui?

- Vim buscar minha irmã oras, o que mais eu estaria fazendo? – a mais nova responde, cruzando os braços. Foi nesse momento que percebi uma das semelhanças entre as duas: o biquinho que faziam quando estavam tentando parecer extremamente sérias.

- Meu lugar é aqui, onde posso ser eu mesma sem machucar ninguém – diz Elsa, olhando em minha direção antes de encarar a irmã novamente. - Volte pra Arendelle, cuide de todos...

- Seu lugar também é em Arendelle, Elsa! Você precisa... – nesse instante, o olhar de Anna recaiu sobre mim. A garota levou as mãos à boca na tentativa de conter um suspiro de espanto. – Quem... Quem é você? – ela questiona temerosa, dando um passo para trás.

- Você pode vê-lo? – a rainha indaga, o rosto num misto de excitação e incredulidade. – Você pode mesmo vê-lo, Anna?

- É claro que posso! Mas quem é ele?

- Sou Jack Frost – respondo rapidamente, vendo a garota arregalar ainda mais os olhos.

- Não, não pode ser! Mamãe disse que Jack Frost não existe, que ele era apenas um amigo imaginário da minha irmã!

- Não Anna, Jack é real. Ele está aqui, bem na sua frente, não é? Ainda acha que é apenas fruto da minha imaginação?

- Mas...

- Ele é meu amigo – diz Elsa, aproximando-se e tomando uma de minhas mãos nas suas, - quase um anjo da guarda, que vem cuidando de mim por todos esses anos.

- Tudo bem, acredito em vocês, e... e talvez ele até possa nos ajudar.

- Ajudar em quê? O que houve, Anna?

E então ela contou o que se passava no reino: quando Elsa deixou o castelo amedrontada, acabara espalhando gelo, neve e frio por todo o lugar. Os súditos e convidados que haviam vindo para a coroação estavam amedrontados, e aparentemente, esperavam que a rainha pudesse pôr um fim àquilo tudo.

- Mas eu não sei como desfazer – Elsa murmura após ouvir o relato da irmã, os olhos marejados de lágrimas. – Desculpe Anna...

- Esperem – digo a elas, enquanto uma luz se acendia no fundo de minha mente. Afinal, havia algo capaz de aquecer até o mais gélido dos corações, não? – Acho que sei o que precisamos fazer – completo, vendo ambas suspirarem aliviadas.

***********

Arendelle estava irreconhecível. O lugar que sempre fora repleto de cor e calor, agora estava tomado pelo branco do gelo, o vento frio e cortante açoitando sem piedade quem se atrevesse a permanecer do lado de fora de suas casas.

A mudança na expressão de Elsa também era gritante. Se a pouco mais de uma hora ela estava radiante, agora seu rosto transparecia culpa e remorso.

- Eu não queria nada disso... – ela sussurra, abraçada a mim. – Como podemos consertar, Jack?

Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, tudo ao nosso redor pareceu se render ao caos. Uma forte ventania começou a soprar, e o lago congelado começou a rachar em diversos pontos.

Anna, que estava próxima de Olaf, Kristoff e Sven – o rapaz e a rena que haviam levando a princesa até o palácio de gelo de Elsa –, soltou um grito amedrontado no momento em que começou a escorregar pela borda de um grande pedaço de gelo que havia se desprendido. Antes que eu pudesse pensar em me mover, Elsa disparou em direção à irmã na tentativa de ajudá-la. Minha eterna princesinha conseguiu alcançar a irmã em tempo, mas nisso, acabou se desequilibrando e caindo na água gélida do lago.

Os segundos seguintes a essa cena trouxeram para mim uma torrente de lembranças. Lembranças de um tempo em que eu não era Jack Frost, mas sim um garoto comum, com família e amigos, e também uma irmãzinha pela qual dei a vida para salvar, exatamente como Elsa acabara de fazer.

Tomado por essa compreensão, corri até o ponto onde a rainha afundara e me lancei atrás dela, puxando-a para a superfície. Logo, o desespero por senti-la tão fria deu lugar ao alívio, já que ela voltara a respirar normalmente e até mesmo seu rosto ia retomando a cor.

Ao nosso redor, tudo ia se tornando mais vívido e colorido também. O gelo começara a derreter, o vento frio parara de soprar e já era possível ver o Sol através das grossas nuvens. Minha teoria se mostrara válida, afinal. Aquela era a resposta para por um fim ao inverno: o amor. Talvez não o amor que eu sabia sentir por Elsa, mas o dela por Anna, do mesmo modo que eu amava minha irmãzinha.

**********

Após levar todos para a segurança da terra firme, acompanhei a rainha de volta ao castelo. Enquanto esperava ela voltar de seus aposentos, fui repassando tudo que acontecera nas últimas horas. Sabia que não poderia permanecer por muito mais tempo. Elsa iria alçar seu voo solo finalmente, e a mim caberia assistir tudo à distância, já que não era nem próximo de uma pessoa comum.

- Em que está pensando Jack? – Elsa me surpreende, tomando minha mão na sua ao parar ao meu lado.

- Que está na hora de partir – murmuro, sem coragem de encará-la. E não pensem que foi fácil dizer essas míseras palavras! Não agora que eu descobrira coisas novas sobre sentimentos.

- O que? Por quê? – ela questiona, fazendo-me encará-la. – Fiz algo errado, é isso?

- Não, nada disso. Mas você tem um reino para governar, uma irmã para cuidar e...

- Quero que fique ao meu lado enquanto faço tudo isso, Jack – diz ela, o rosto tão próximo do meu que já podia sentir seu hálito frio tocando meu rosto.

- Mas...

- Não importa se a maioria das pessoas não pode vê-lo. Eu posso, e estou pedindo pra não me deixar. Não quero me sentir sozinha e sem lugar no mundo por mais uma década!

- Elsa, eu não sei se... – mas nem mesmo pude terminar minha frase, pois Elsa me fez silenciar com um beijo. Um dos vários que ainda viriam...

********

Nesses três séculos, o dia mais difícil foi aquele em que precisei dizer um adeus definitivo à Elsa. Como prometido, permaneci ao seu lado, vivenciando momentos incríveis e vendo-a se tornar a rainha mais querida que Arendelle teve o prazer de conhecer.

Após sua partida, Oliver - o primogênito de Anna e Kristoff - assumiu o trono do reino, e eu deixei Arendelle para sempre. Não seria capaz de conviver com as lembranças que cada mínimo pedacinho daquele lugar me traziam... Preferia senti-las sozinho, guardando apenas para mim os momentos maravilhosos que dividi com minha eterna princesinha do gelo.


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Notas finais do capítulo

Coments, please???

E #JelsaFeelings!!!


xoxo