— Aquele imbecil com cabelo de capacete, vou arrancar as bolas dele, jogar no liquidificador e fazer ele beber. – murmurei fazendo um gesto de tesoura com a mão enquanto fazia uma careta assassina.

— Do mal cara. – Lene comentou.

As duas primeiras - interessantíssimas— aulas haviam acabado e finalmente era o intervalo, hora do lanchinho, etc.

Eu ainda estava vermelha de raiva quando passava pelos corredores, as pessoas me lançavam olhares divertidos ou curiosos, mas era só olhar para minha cara assassina que elas saiam do meu caminho sem que eu tivesse que empurra-las.

Entramos na cantina, que, como sempre, estava lotada de alunos esfomeados se empurrando nas filas para conseguir pegar uma fatia de pizza maior que a dos outros e uma caixinha de suco de laranja, ou achocolatado.

Empurrei alguns jogadores de futebol brutamontes para longe da fila e peguei duas fatias de pizza ENORMES, o que fez a tiazinha da cantina me lançar um olhar do mal, e uma caixinha de achocolatado, Lene aproveitou que eu furei a fila para furar comigo e fez o mesmo.

Seguimos para uma mesa vazia afastada, onde somente uma pessoa estava sentada. Ela era loira, tinha olhos grandes, arregalados e azuis, tão baixa quanto eu e bronzeada, apesar de tudo.

Dorcas Meadowes acenou para nós sorrindo.

— Olá, Lil' – ela mandou um beijinho no ar.

Eca, fofura demais.

— Olá Monstralene.

Ambas tinham uma espécie de rivalidade, as vezes me pergunto se tem algo a ver comigo, talvez uma competição para saber quem é realmente minha melhor amiga. Obviamente, era Marlene, não que Dorcas precisasse saber, ela já sofria de muitos problemas.

Problemas mentais, claro.

A garota tinha medo de mendigos, colheres, aulas de História, a cor vermelho, crianças loiras, brancas de olhos azuis, tomates (e não é porque ele era vermelho), espelhos (me pergunto como ela se arruma de manha) e muitas outras coisas que não irei citar, não quero gastar minha vida inteira fazendo uma lista dos medos de Dorcas.

Lene mostrou o dedo do meio, que aliás estava pintado de vermelho, o que fez Dorcas saltar da cadeira fazendo a mesma cair para trás com um barulho que preencheu a cantina inteira deixando todos em silencio e olhando para a nossa mesa.

Como se não fosse o suficiente Marlene começou a rir como uma retardada mental da cara de assustada de Dorcas.

E as pessoas aparentemente lembraram do meu fiasco no estacionamento mais cedo e desviaram sua atenção para mim novamente, quando as encarei de volta com um olhar assassino viraram os rostos e cochicharam entre si.

— Droga Lene! – soquei a mesa – precisava dar essa risada de gato esfolado? E você Dorcas, precisava atirar a cadeira para trás como se tivesse visto o capeta bem na sua frente.

— O capeta é vermelho, certo? – Lene perguntou olhando as unhas.

— Só em desenhos animados, eu acho, sei lá, o que isso importa? – franzi a testa.

— Não sei cara, por que você continuou o assunto se não importa? Eu hein, parece que andaram comendo orégano.

— Bom, eu estou claramente comendo pizza, e tem orégano na pizza, então sim, andei comendo orégano. – Dorcas falou sentando novamente, o mais longe possível das mãos de Marlene.

— Ah, Dorcas. – bati na minha própria testa.

X--X

Sentei na arquibancada junto com Dorcas, enquanto alguns acéfalos do time de futebol, ao invés de treinarem, ficaram babando nas líderes de torcida.

Quero deixar claro que só estou aqui porque Marlene é uma líder de torcida, que não gosta exatamente disso, e me obriga a espera-la em todos os ensaios.

E então eu obrigo Dorcas a esperar comigo, que também sai um pouquinho mais tarde quando tem ensaios no teatro, o que não é o caso.

Mesmo daqui da altura em que eu estava podia ouvir os gritos de Marlene. Ela era capitã do time, para a infelicidade das pobres (pobres merda nenhuma, são tudo umas vadias, merecem) líderes de torcida. Minha felicidade era saber que Vance fazia parte delas e Marlene pegaria em seu pé.

— VOCÊ CHAMA ISSO DE SALTO, VANCE? MINHA AVÓ TEM 100 ANOS E SALTA MELHOR QUE VOCÊ! – ela gritou em plenos pulmões.

Não que ela já não fizesse isso com as outras líderes de torcida normalmente, mas era gratificante ver sua amiga te defender.

— ANNE VOCÊ TEM ALGUM PROBLEMA NAS PERNAS? VOCÊ TÁ COM UMA BARATA DENTRO DA CALCINHA? NÃO? PORQUE PARECE. DANCE DIREITO CRIATURA!

Algumas delas choravam as vezes. Lene sabia como acabar com uma auto estima em um piscar de olhos.

A tal de Anne jogou os pompoms em cima de Lene e saiu correndo e chorando.

Não era a primeira vez que uma garota saia correndo e chorando do treinamento, Lene era má quando se tratava de liderar, ela adorava ser a chefe, mas não gostava de ser líder de torcida, queria jogar futebol, mas a escola não permitia garotas no time.

Então só sobrou que ela observasse o jogo enquanto dava saltos no ar.

X--X

Quando o treino terminou, as garotas guardaram os pompoms nas mochilas e seguiram seus caminhos, algumas foram até seus namorados jogadores de futebol. Emmeline Vance era uma delas.

Eu ainda não conseguia aceitar o fato de que ela considerava Amos seu namorado, não podia ser real.

Ontem eu era namorada dele.

O que diabos aconteceu?

Joguei minha mochila para Dorcas e estava prestes a descer as arquibancadas e quebrar a vaca no meio quando fui segurada por Marlene, que estava subindo as arquibancadas.

Ela olhou para minha cara irritada, confusa, maligna, chorosa, e etc e sorriu.

— Você quer uma noite de garotas? Sorvete, brigadeiro, filmes e fofocas? – perguntou.

— Eu to com cara de adolescente de filme da Sessão da Tarde? – indaguei erguendo as sobrancelhas, fala sério. Fofoca?

— Não, você tem cara de-

— SÉRIO ISSO? VOCÊ VAI MESMO ME OFENDER NUM MOMENTO DESSES?

— Okay, okay, não vou te ofender. Não hoje, e não até você esquecer o idiota do Diggory, bom, pelo menos eu vou tentar não te ofender. – eu ri.

— Okay. Eu quero, mas só pela comida e nada de fofoca, eu odeio fofoqueiras.

— Que pena, eu sou líder de torcida, você sabe, tenho as fofocas mais quentes de Hogwarts, OMG!

— Nunca mais diga isso. – fiz uma careta.

— O quê? – ela perguntou inocente – OMG!

— Não sou mais sua amiga, estamos rompidas, adeus Marlene. – fingi estar irritada e sai na frente delas.

— Ui, que dramática. Vamos Meadowes. – ouvi ela chamando.

É, no final até que Marlene não era TÃO má.

Ouvi um barulho e virei para trás, Dorcas estava espatifada no chão com uma cara assustada.

— O que houve? – perguntei bufando.

— Eu disse que iria comer um danoninho com uma colher. – Lene riu e depois saltitou até mim.

Dorcas levantou e nos seguiu, mas ficando o mais longe possível de Marlene e suas unhas vermelhas, como sempre.