Fim de Jogo

  Sentada numa cadeira inclinável, com os pés sobre a escrivaninha de Kazumi, estava uma garota de uniforme colegial e mini saia pregada azul. Ela girava uma varinha entre os dedos da mão direita. A varinha tinha um pequeno semi círculo em uma ponta. Na mão esquerda ela segurava desajeitadamente a pistola que Kazumi sempre deixava guardada dentro da gaveta da escrivaninha.

- Parece que vocês andaram dando umas voltas pelo depósito de lixo. - a garota sorriu. - Por acaso vocês estavam fazendo mais um de seus "trabalhinhos"?

Os pensamentos passavam rapidamente pela cabeça de Kazumi. Ela tinha que pensar muito rápido. Quatro garotas com varinhas nas mãos e uniformes de colegial coloridos estavam dentro de seu escritório. Kazumi tinha duas pistolas vazias na jaqueta e uma faca na cintura. Ryo, como na maioria das vezes, estava completamente indefeso. Ela se amaldiçoou por não ter reparado que a porta do escritório estava aberta, quando deveria estar trancada. Então deu uma rápida olhada pelo escritório. Alguns armários estavam abertos, vários papéis jogados no chão e espalhados sobre as mesas. "Graças a Deus!", Kazumi pensou. "Elas não encontraram o armário oculto onde guardo minhas armas.". Mas no momento ela não podia se preocupar com armários escondidos, a prioridade era sair com vida do lugar.

- Ora, calma. Não vamos matar vocês... ainda. - a garota de azul pareceu ler seus pensamentos. - Estamos aqui apenas para fazer algumas perguntinhas.

- Então vocês poderiam ter ligado antes para marcar um horário. - disse Kazumi, pensando em ganhar algum tempo. - Afinal, nós atendemos nossos clientes melhor se soubermos quando eles vêm.

- Eu sempre gostei de surpresas. - a garota de azul pôs a pistola de volta na gaveta.

- Então suponho que você queira nos contratar para algum serviço. Talvez alguma rival ou alguém que você não goste muito ou que esteja atrapalhando seu...

- CALE A BOCA, SUA ASSASSINA! - a garota que vestia um uniforme de saia amarela se levantou da cadeira e apontou a varinha na direção de Kazumi.

- Sarah! - a garota de azul disse severamente. - Por favor, sente-se.

Imediatamente Sarah voltou para a cadeira, mas continuou a encarar Kazumi com um brilho de ódio no olhar. Kazumi conhecia muito bem aquele brilho, já havia visto nos olhos de algumas de suas vítimas, pouco antes delas caírem no chão com um buraco no meio da testa.

- Desculpe a reação da minha amiga. Antes de continuar, vamos às apresentações. Eu sou a Guardiã Mika, a de amarelo é a Guardiã Sarah, a de laranja é a Guardiã Lina e a de verde é a Guardiã Kairi. E vocês, se não me engano, são Kazumi Sakamoto e Ryo Watari.

Kazumi olhou para Ryo. Apesar de eles nunca terem escrito ou mencionado seus sobrenomes desde que entraram para este negócio, estas garotas pareciam ter descoberto sem nenhuma dificuldade.

- Olha, eu nunca ouvi falar de vocês, mas parece que vocês já sabem bastante sobre nós. - disse Kazumi.

Desta vez a garota de laranja, Guardiã Lina, se levantou e aproximou-se de Kazumi. Seu olhar era parecido com o olhar de Sarah, mas parecia haver um sentimento mais forte escondido por trás.

- Então você já se esqueceu do que aconteceu quinze dias atrás? - Lina perguntou, apontando a varinha para o rosto de Kazumi.

- Do que você está falando? - perguntou Ryo.

- Não se faça de desentendido! - Lina apontou a varinha para ele.

- Calma, Lina. - Mika aproximou-se dela e baixou sua varinha. Então olhou para Kazumi. - E então? O que você tem a dizer sobre o que houve nessa data?

- Sinceramente, eu e meu parceiro não temos a mínima idéia do que... UGH

Antes que pudesse terminar a frase, Kazumi foi erguida do chão. Lina agarrou seu pescoço e apertou forte.

- Minhas amigas não estão com paciência para ouvir suas mentiras. - disse Mika. - Seja boazinha e nos conte porque tentou nos matar há duas semanas atrás lá no Parque Chiba.

- Vocês mataram Mai e Mi-chan. - disse Lina. Ela aumentou a força nas mãos.

Kazumi sentiu o ar faltando em seus pulmões. Ela começou a enxergar estrelinhas passando na sua frente. Há duas semanas atrás... Ela não tinha idéia do que aquelas malucas estavam falando. Mas ela não iria deixar que a matassem por algo que ela não fez.

- Ai!

Lina soltou um grito curto e jogou Kazumi no chão do escritório. Uma faca atravessava o seu braço. Imediatamente Kazumi rolou para baixo da escrivaninha e deu um chute com os dois pés para jogá-la sobre as garotas. Subitamente o escritório foi preenchido por luzes coloridas. Kazumi correu até o armário, tomando o cuidado para evitar os raios azuis, amarelos e laranjas. Com muito esforço ela empurrou o armário e o derrubou sobre uma das garotas. O armário foi lançado de volta e se quebrou contra a parede. Kazumi aproveitou a confusão para engatinhar até a porta do armário oculto, mas foi interrompida no meio do caminho. Na sua frente havia uma mini-saia verde. a Guardiã Kairi estava de frente para ela e sua varinha emitia faíscas verdes ameaçadoras.

"Drogadrogadroga..."

Subitamente todo o barulho terminou. Kazumi olhou ao redor e tudo parecia estar se movendo em câmera lenta. A ponta da varinha da Guardiã Kairi brilhou e um raio saiu lentamente. Kazumi rolou para o lado e então se levantou. Ela não encontrou sinal de Ryo, o que significava que ou ele tinha conseguido escapar ou então as garotas conseguiram pegá-lo. As outras quatro Guardiãs de Tóquio também pareciam estar movendo muito lentamente.

"Peraí... quatro?"

Kazumi olhou novamente e contou. Haviam cinco garotas com uniforme colegial de diferentes cores, mas uma delas Kazumi não se lembrava de ter visto quando entrou no escritório.

- Sentindo-se desorientada? - perguntou uma garota de uniforme preto. Ela não estava em câmera lenta como as outras.

Depois de olhar com atenção, Kazumi notou que o uniforme desta garota era ligeiramente diferente das outras. Em vez do laço no pescoço, ela tinha um abotoador prateado em forma de estrela e a camisa do seu uniforme tinha mangas compridas e era colada ao corpo. Sua varinha também era diferente, em vez do semi-círculo na ponta, ela tinha uma estrela em cada ponta.

- Kazumi Sakamoto, prazer em conhecê-la. Me chamo Sailor Tehuty.