Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 49
Consequências


Notas iniciais do capítulo

Hey, hey, Tigers!
Finalmente Abril chegou e com ele um capítulo novo para Caçada.
Tenho que pedir desculpas, pois planejava postar esse capítulo no começo do mês, mas minhas primeiras semanas morando sozinha e na faculdade foram corridas.
Boa Leitura



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Abri os olhos, deitado em uma cama.

Tudo parecia muito confuso e demorei alguns segundos para adaptar-me com a escuridão e perceber o que se passava ao meu redor.

O cômodo em que estava era coberto pela escuridão e só concluí ser um quarto pela enorme cama de casal sob meu corpo. Os lençóis brancos estavam encardidos de algo que não consegui distinguir e por muitos minutos apenas esperei que Kishan aparecesse e me tranquilizasse.

Olhei para meu próprio corpo apenas para perceber que eu não vestia nada mais que um conjunto de lingerie preta e muito sensual. Algo que em sã consciência em nunca teria coragem para vestir.

Tentei me levantar da cama, mas era como se meus braços e pernas estivessem presas contra o colchão, mesmo que nada segurasse realmente.

Na luta para colocar meus pensamentos em ordem, não percebi um vulto saindo da negritude do cômodo e se aproximando de mim, mas assim que meus olhos capturaram a forma em minha frente, comecei a me debater ferozmente, tentando ao máximo me soltar dar correntes invisíveis.

A silhueta que agora estava parada na frente da cama e me encarava com luxúria era a de Lokesh, o qual usava mais um dos seus corriqueiros ternos finos e bem ajustados ao corpo. O tecido era negro e se misturava com a escuridão do cômodo.

Eu gritava e desferia palavras baixas para o mago em minha frente, mas era como se minhas cordas vocais não existissem, pois, nenhum som saía de meus lábios.

Lokesh sorriu de forma maliciosa e seus olhos refletiam desejo e luxúria de uma forma que nenhum ser humano era capaz. Ainda me debatia quando o corpo do homem se inclinou sobre mim, engatinhando até parar com o rosto alinhado ao meu.

Todo o corpo do homem tocava no meu seminu e a sensação de estar suja tomou conta de mim. As mãos de Lokesh acariciavam meus braços, brincando com a alça do sutiã de forma provocativa até o momento em que seus olhos brilharam como pedra preciosas e ele levou os lábios até meu ouvido, lambendo minha pele antes de sussurrar.

− Você é só minha agora.

Gritei.

Gritei até que minha garganta doesse e meus pulmões sentisse falta de ar. Eu tinha aberto os olhos mais uma vez, apenas para perceber que eu estava em um quarto completamente diferente, o qual era iluminado pela Lua.

Contudo, minha mente estava tomada pelo pânico e não consegui reconhecer os móveis que nos ceravam nem a cama em que eu estava sentada. Eu estava usando um conjunto de calcinha e sutiã cor da pele, grandes e confortáveis.

Minha respiração estava ofegante e no momento em que eu começava a recobrar a consciência, braços fortes e masculinos envolveram minha cintura, puxando-me para trás. Minhas costas bateram contra pele quente e bem definida.

Em pânico de ter acabado nos braços de Lokesh, gritei com o resto de força que me restava, debatendo-me para tentar me libertar. Algumas palavras foram ditas para mim, mas era como se fossem outra língua, pois eu nada entendia.

Com certa dificuldade, consegui desferir uma cotovelada contra as costelas do homem atrás de mim, o qual liberou minha cintura e praguejou baixinho. Sem perder tempo, engatinhei pela cama de forma desengonçada, mas sem nenhum sentido de dimensão, não percebi quando o colchão acabou e caí direto no chão gelado.

Para minha sorte a cama era quase na altura no piso e não ganhei nenhum machucado dolorido.

Minha cabeça doía onde havia batido ao cair e por alguns segundos apenas fiquei sentada no chão, passando a mão por onde provavelmente surgiria um galo pequeno. Respirei fundo e olhei em volta, começando a reconhecer todo o cômodo a minha volta.

− Mia, você está bem?

A voz agora me era familiar, rouca e melodiosa, a qual fazia cada célula de meu corpo dar cambalhotas de excitação. Sentado na beirada da cama estava Kishan, usando nada mais do que um short preto um tanto surrado. Os cabelos negros estavam bagunçados em um charme de tirar o fôlego e o rosto anguloso ainda expressava sono e cansaço.

Recobrando meus pensamentos, já em ordem, percebi que há poucas horas chegamos em casa da noite conturbada em Toophaan e, depois de curar Nilima de suas queimaduras com a ajuda do novo amuleto, todos fomos para os quartos, derrotados depois de tanta confusão.

Só percebi que chorava quando Kishan tirou-me do chão e acomodou meu corpo trêmulo em seu colo, cobrindo-me todo com seus braços quente e reconfortante. Deixei que minhas lágrimas escorressem de meus olhos para o peito do príncipe, enquanto ele acariciava meus novos cabelos curtos, murmurando em híndi algo que eu não compreendia.

Deixei que meus lábios beijassem a pele de Kishan apenas para ter certeza que nada mudara e eu ainda era dele. O perfume amadeirado do tigre era viciante e me deixava mais calma. Depois de longos minutos, finalmente consegui respirar com normalidade e minhas lágrimas já não caiam mais.

− O que houve, bilauta? – perguntou Kishan, com os lábios em meu ouvido, sussurrando para que apenas eu ouvisse.

Beijando seu peito uma última vez, levantei a cabeça apenas para encarar os olhos dourados que brilhavam e acalentavam meu peito. As órbitas de Kishan estavam cheias de preocupação, sensação que também era demonstrada pelos toques inseguros em minha pele seminua.

− Eu sonhei com ele, Kishan – murmurei, segurando os braços fortes do homem em minha frente como se eles pudessem sustentar todo o caos dentro de mim. – E ele me tocava de formas que apenas você...

Não consegui terminar a frase, pois um bolo de lágrimas se formou em minha garganta e eu escondi meu rosto na curvatura do pescoço de Kishan. Tudo o que eu mais queria era ficar escondida nos braços do tigre negro pelo resto da vida.

Era engraçado a forma como Kishan acariciava meus cabelos, pois acostumada com as mechas longas, ele sempre continuava a passar as mãos até depois dos fios curtos acabarem. Até aquilo Lokesh havia conseguido mudar em mim.

− Foi apenas um sonho. – A forma como as palavras saíram de Kishan, um tanto fracas, era visível que o homem tentava controlar sua raiva, e tudo o que fez foi me apertar ainda mais em seu abraço, como se pudesse me proteger do mundo.

− Não, não foi – rebati suas palavras, recebendo de meus pensamentos as imagens da noite que passou e dos lábios dominantes de Lokesh me beijando como se eu fosse sua propriedade. – Ele me tocou em lugares que apenas você conhecia, ele me beijou infinitas vezes e eu não pude fazer nada até ter o amuleto em minhas mãos.

− Em sinto tanto. – Os dedos de Kishan tocaram meu queixo, fazendo-me encara-lo. – Eu nunca quis que fosse daquela forma e quando vi ele roubando seus lábios eu simplesmente não consegui me controlar, tendo você conseguido o amuleto ou não.

Encolhi-me toda contra meu próprio corpo, sentindo um arrepio correr por minha espinha, mesmo que nenhum vento entrasse pelas portas da varanda. Por alguns minutos, nada disse, apenas acariciei os braços de Kishan, subindo até a nuca para brincar com os fios de cabelo grossos e negros.

Os dedos do tigre negro pareciam os de uma criança recém-nascida, tocando meus cabelos em todos os lugares como se fosse sua primeira experiência. Sua respiração quente batia contra meu pescoço e alguns barulhos saíam de sua garganta enquanto ele continuava a mexer em minhas mechas curtas.

− Eu sei que é estranho me ver de cabelos curtos – murmurei, sentindo necessidade de pedir desculpas por não ser mais a garota que ele conhecia e amava. – Eu mesma já não me reconheço, acho que não sou mais a mesma, não sou mais a Mia com que você se apaixonou.

Um grunhido animal saiu do peito de Kishan e em um movimento rápido, ele colocou-me mais uma vez deitada sobre a cama, pairando sobre meu corpo com leveza, sendo apoiada pelos braços fortes e musculosos.

− Nunca mais diga algo assim – ele sussurrou com carinho, descendo os lábios até minhas bochechas, deixando beijos carinhosos em cada uma delas. – Você realmente não é mais a menina que eu conheci no circo, pois a Mia em minha frente agora é uma garota confiante, guerreira e mais forte do que a do passado. Contudo, eu ainda vejo a felicidade e a determinação que as duas tinham.

− Kishan... – Tentei interrompê-lo, mas o homem em cima de mim calou-me, colocando um dedo sobre meus lábios.

− Você se tornou uma mulher, mas sempre será a pessoa por quem eu me apaixonei e não é um corte de cabelo que irá mudar isso. – Um sorriso de lado se abriu no rosto do belo príncipe e seus olhos de pirata brilhavam com malandragem. – Aliás, eu gostei muito dos seus cabelos curtos, eles te deixam com um ar selvagem, tigresa.

Não sabia exatamente se ria ou se suspirava, mas as palavras de Kishan acalentaram os medos que haviam tomado conta de mim. Joguei meus braços nos ombros do tigre negro, envolvendo seu pescoço e o puxando para baixo, até que nossos lábios se encontraram em um beijo casto e carinhoso.

Ficamos naquele selinho por alguns minutos, até quando a língua de Kishan contornou meus lábios de forma sensual. Estava pronta para me afogar nos beijos do príncipe quando minha mente refez as imagens da forma asquerosa como Lokesh havia me possuída naquela noite.

A lembrança era quase vívida da forma como os lábios gélidos e brutos do mago me dominavam enquanto eu jogava meus braços em seu pescoço, incitando o homem a se perder no desejo enquanto eu desamarrada um dos seus amuletos, roubando-o para mim e o escondendo no decote do vestido quando a atenção de Lokesh já não estava mais em mim.

Empurrei Kishan e descolei nossos lábios, desviando nossos olhares para que o príncipe não pudesse ver a vergonha e humilhação se percorriam minhas órbitas azuis.

− Eu sinto muito, Kishan – murmurei, tombando a cabeça para o lado e deixando que o travesseiro a suportasse. – Eu estou me sentindo tão suja...

− Não quero lhe forçar a nada, bilauta.— A voz de Kishan era branda enquanto suas mãos acariciavam meu rosto, descendo até o pescoço e indo até os braços.

A firmeza e o calor do toque de Kishan em minha cintura me fizeram fechar os olhos e era como se tudo o que houvesse acontecido sumisse a cada carícia do príncipe dos olhos de pirata.

Era como se Kishan conseguisse apagar qualquer lembrança da noite em Toophaan.

− Kishan – gemi baixinho, fazendo com que o tigre me estudasse com atenção, como se tentasse descobrir o que se passava em minha mente. – Eu preciso que você me ajude a esquecer.

E eu sabia como.

− Qualquer coisa que você precisar, bilauta. – Sua resposta era cheia de carinho e devoção, o que me fez fechar os olhos e soltar um suspiro de alegria.

Reuni toda a coragem que nunca teria normalmente e tomei mão de Kishan na minha, levando-a até meu ombro e a fazendo descer a alça do sutiã cor de pele até pender no braço. Aquele ato foi mais do que necessário para que Kishan entendesse o que eu tanto implorava.

Seus lábios tocaram de forma incerta o ombro já descoberto e ele acariciou meus cabelos curtos enquanto me olhava fundo com os olhos de pirata, apenas para ter certeza que eu consentia.

− Faça-me sua, Kishan – sussurrei, acariciando sua nuca antes de escorregar os dedos até as costas bem definidas, o provocando com as unhas.

Fechei os olhos quando os lábios do príncipe roubaram os meus, iniciando um beijo calmo e cheio de paixão, enquanto suas mãos acariciavam todo o meu corpo, como se eu fosse feita de porcelana. Contudo, nossas respirações se tornaram ofegantes e ritmada, além de poder jurar que ouvia o coração de Kishan batendo.

Nossas línguas passaram a lutarem por controle e o beijo se tornou intenso, refletindo o desejo de nossos corpos já quentes.

Os lábios de Kishan me deixaram por alguns minutos, beijando meu queixo e descendo até o pescoço, onde sua língua fez um caminho quente até a orelha. Todos os movimentos do tigre negro pararam; eu só sentia sua respiração quente arrepiando os pelos de minha nuca e o peso do seu corpo contra o meu.

− Eu amo você, Mia – ele sussurrou contra meu ouvido, deixando um beijo demorado e molhado ali antes de se voltar ao pescoço, além de recomeçar as carícias por meu corpo.

Os lábios de Kishan estavam no vale de meus seios, deixando alguns beijos e lambidas em minha pele sensível, fazendo-me gemer baixinho e puxar os cabelos negros do príncipe com certa euforia. Com pressa para estar completamente entrego ao tigre negro, arqueei as costas e deixei que as mãos fortes dele desprendessem meu sutiã.

A sensação de tocar em Kishan sem nada como barreira era extasiante e em um impulso, envolvi os quadris do homem com minhas pernas, puxando para que nenhuma parte de nossos corpos deixassem de se tocar.

A cada toque e cada beijo em minha pele faziam qualquer lembrança da noite passada se desfazerem e quando os lábios de Kishan chegaram até o final de minha barriga, tudo o que eu conseguia pensar era na forma enlouquecedora que eu o amava.

Todos os pelos de meu corpo estavam arrepiados e enquanto os dedos do tigre brincavam com o elástico de minha calcinha, a expectativa apenas crescia.

Empurrei Kishan para que se afastasse de mim e com uma força a qual nunca imaginei ter, inverti nossas posições e sentei-me sofre o abdômen definida do príncipe, cujo olhar era animalesco e apenas me fez gemer baixinho.

Queria amá-lo da mesma forma como ele me amava, então apenas curvei-me, deixando que o amuleto de fogo tocasse na pele de oliva de Kishan antes de meus lábios. Beijei-o em cada centímetro de pele, sentindo pequenos ruídos saindo do fundo do peito do tigre enquanto suas mãos estavam em meus cabelos.

Da mesma forma como ele, brinquei com o elástico de seu short apenas para ver as reações no rosto anguloso do homem. Uma paixão fervorosa queimava nas órbitas de pirata, o que apenas me fez morder o lábio inferior e escorregar o tecido por suas pernas musculosas.

− Como nunca encontrei você antes? – murmurou Kishan, puxando-me até que nossos lábios se encontrassem, depois que joguei seu short no chão solitário do quarto.

Não sei como acabei voltando a deitar na cama ou como o que restava de minhas roupas acabaram sumindo em um toque de mágica, mas só tomei consciência do que acontecia quando fui preenchida por Kishan e ambos soltamos um gemido alto.

Agarrei-me no corpo suado do príncipe e afundei meu rosto em seu pescoço perfumado enquanto nos movimentamos em harmonia e todo o meu ser explodia com a sensação maravilhosa de estar completa.

Perdi a noção do tempo, mas quando Kishan beijou meu nariz de forma brincalhona, antes de cair no colchão ao meu lado e puxar-me para seus braços, o céu lá fora começava a tomar a coloração de cinza muito claro.

− Obrigada por seu meu – murmurei um pouco grogue, deixando que o perfume inebriante de Kishan me envolvesse com o sono, ao mesmo instante em que eu me aconchegava em seu corpo.

− Meu coração sempre pertenceu a você, bilauta. – Sua resposta saiu mais como uma embaralhada de palavras, as quais meu cérebro demorou para entender, pois logo em seguida em caíra no sono.

Não tive sonhos e dormi como não fazia há muito tempo. Ter os braços de Kishan ao meu redor era algo que me acalmava e jogava para longe qualquer medo que pudesse me tomar. Provavelmente ficamos na cama por mais horas do que o normal, pois só acordei quando o sol forte tomava conta de todo o quarto e machucava minhas pupilas.

Abri os olhos com muita relutância, sentindo todo o meu corpo sensível à medida que me espreguiçava, ou tentava fazer isso, ainda presa nos braços de Kishan. Senti lábios quentes tocando a pele de minha nuca, o que me fez abrir um sorriso preguiçoso.

− Podíamos passar o resto do dia aqui, o que acha? – perguntou Kishan com o voz rouca enquanto passava o nariz por meus cabelos.

Virei-me até estar de frente para o tigre negro, o qual estampava uma expressão tranquila, enquanto seus olhos de pirata brilhavam e um sorriso de lado estampava seu rosto. Beijei-lhe os lábios rapidamente antes de contornar seu rosto com os dedos.

− Eu adoraria – respondi, fazendo um pequeno bico dramático. – Mas meu estômago está gritando de fome.

Para ilustrar a situação um ronco audível saiu de minha barriga, o que fez Kishan sorrir e me liberar de seu aperto de tigre.

Pulando da cama, sem me importar em cobrir o corpo, fui até onde sabia que encontraria suas camisas bem dobradas e cheirosas. Vesti uma cor de terra, enquanto sentia os olhos de pirata do príncipe me estudando.

− Você está feliz hoje – ele disse, sentando-se na cama de forma preguiçosa, sem se importar com o lençol descobrindo todo seu corpo nu.

− Pode se gabar por ter alguma influência em meu humor – cantarolei, agitando os cabelos curtos antes de ir em direção à porta, sendo seguida por um Kishan completamente irresistível.

Com a claridade do dia batendo em seu corpo majestoso, o cabelo bagunçado e o sorriso provocativo no rosto, a minha vontade era de voltar para a cama e me perder novamente em Kishan.

Infelizmente, minha mente falou mais alto.

Indo rapidamente até meu quarto, esperei encontrar Kelsey ainda deitada na cama, para que eu pudesse puxá-la para um abraço, contudo, o cômodo estava vazio os lençóis bem esticados. Querendo ir à cozinha o mais rápido possível, tomei um banho superficial, vestindo uma blusa branca colada com alças, um short preto de cintura alta juntamente com meus velhos coturnos e a esburacada camisa xadrez vermelha.

Recolocar meu anel de rosa, o colar de Nilima e principal, a pulseira de tigre fez com que eu me sentisse em casa. Suspirei antes de olhar-me no espelho da penteadeira uma última vez, apenas para constatar que meus cabelos curtos ainda estavam ali.

Coloquei brincos pretos de argolas justas às orelhas e percebi que talvez, não demoraria tanto para que me acostumasse com aquela nova imagem de mim mesma.

Chagando à cozinha, apenas encontrei Nilima, sentada com as pernas esticadas para o ar, enquanto lia um romance em inglês com uma capa muito bonita. Tudo parecia tranquilo com a garota e eu suspirei aliviada.

− Imaginei que horas vocês acordariam – brincou Nilima, tirando os olhos do livro e abrindo-me um sorriso brincalhão. – Perderam o café da manhã e o almoço.

Arregalei os olhos, sem imaginar que afinal, Kishan e eu havíamos mesmo dormido mais do que o comum. Naquele instante, senti pelos sedosos roçando em minha perna e olhei para baixo apenas para constatar que o tigre negro estava ao meu lado, balançando a cauda de forma preguiçosa.

− Sua perna está melhor? – perguntei, já abrindo a geladeira e me servindo de um grande copo de suco.

− É como se nada houvesse acontecido. – Nilima levantou discretamente a barra da longa saia, expondo pernas lisas e sem nenhuma ferida de queimadura. – Graças ao amuleto novo.

− Imagino que Kadam esteja na biblioteca descobrindo mais sobre o amuleto – constatei, dando uma mordida generosa na maçã que havia roubado da fruteira.

− Exatamente – ela disse, revirando os olhos teatralmente, repousando seu livro em cima da mesa. – Kelsey pediu para avisar-lhes que ela estaria com Ren; os dois saíram antes do almoço, levando alguns lanches que prepararam.

Olhei para o tigre negro deitado o chão frio da cozinha, exatamente no ponto em que o Sol estrava pelas portas de vidro. O animal mexeu as orelhas e pude jurar que sorria de forma arteira, com um plano diabólica se formando na mente.

Não pude negar que também estava curiosa, então apenas me apressei em esquentar as sobras do almoço, engolindo tudo sem ao menos sentir o gosto. Kishan, que parecia tão afobado quanto eu, cutucava-me com a enorme cabeça de tigre, apressando-me.

Quando finalmente terminei de lavar a louça que sujara, dei um beijo estalado na bochecha de Nilima, que ria animadamente enquanto observava Kishan e eu correndo porta à fora, em direção ao grande gramado externo da casa.

− Eu me sinto uma pessoa terrível querendo espionar Ren e Kelsey – resmunguei, olhando o tigre negro que me estudava com a cabeça tombada e as orelhas agitadas em empolgação. – E você deveria dizer que é errado, não me estimular.

O tigre em minha frente bufou, ignorando-me enquanto parecia prestar atenção nos sons ao seu redor, pois as orelhas felpudas giravam para todas as direções até ficarem estáticas. Percebi que Kishan olhava para aparte de trás da casa, onde o enorme jardim florido permanecia um tanto inexplorado por mim.

Sabia que eles estariam perto da fonte onde no passado eu havia usado de esconderijo para chorar, então apenas comecei a caminhar rapidamente naquela direção, sendo seguida pelo tigre que pulava como uma criança.

− Somos horríveis, Kishan – balbuciei, olhando para todas as flores abertas e coloridas que nos cercavam.

Caminhamos poucos metros até a divisa da propriedade, onde a gramado e o jardim davam lugar à majestosa floresta. E ali, onde as flores do campo já eram escassas, meus olhos encontraram as figuras de Ren e Kelsey. Agarrei o pulso de Kishan e impedi o tigre de continuar se aproximando, pois a imagem em minha frente fez-me prender a respiração.

Em pé, um de frente para o outro, os corpos de Ren e Kelsey estavam completamente colados, sendo difícil distinguir onde um começava e o outro acabava. Devido aos tênis baixos, a garota de trança estava nas pontas dos pés, com os braços jogados sobre os ombros do tigre branco, o envolvendo.

Uma das mãos de Ren segurava a cintura de Kelsey, enquanto a outra puxava-lhe a traça com carinho. Eles se beijavam com intensidade e devido aos peitos ofegantes, pude dizer que já faziam aquilo há alguns minutos.

Os dois pareciam sorrir entre os lábios inchados e Kelsey brincava com os cabelos compridos do príncipe de olhos azuis, tornando a cena tão linda que não tive certeza se pulava de alegria ou virava o rosto para deixá-los em paz.

Infelizmente, não tive tempo para me decidir, pois Ren se afastara minimamente de Kelsey, encerrando o beijo cheio de paixão com alguns selinhos. Seus dedos ainda brincavam com a trança da garota a qual tinha um sorriso enorme no rosto e os olhos fechados.

A voz musical de Ren nos atingiu antes que eu pudesse agarrar Kishan e sair correndo de volta para a casa, contudo, o tigre branco não desviou os olhos de Kelsey ao falar.

− Vocês sabem que eu os percebi chegando, não é? – Minhas bochechas queimaram e eu quis me esconder atrás de Kishan e nunca mais sair, contudo, Kelsey parecia a mais envergonhada de nós, pois escondeu o rosto no peito do tigre branco.

− Foi tudo ideia de Kishan! – acusei, apontando para o homem ao meu lado como uma criança pega na flagra.

O tigre negro, sem acreditar que eu colocava a culpa em seus ombros, apoiou as mãos na cintura e me encarou incrédulo, mas tudo o que fiz foi dar de ombros e sorrir.

− Se me lembro bem, você também quis vir atrás deles – rebateu Kishan e eu estava pronta para defender-me mais uma vez, quando Kelsey interrompeu nossa pequena discussão.

− Acho que podemos deixar isso de lado – ela disse, vindo até nós com um sorriso envergonhado. – É impossível tornar esse momento mais constrangedor do já está.

Vi quando Ren tomou a mão da garota, entrelaçando os dedos enquanto sorria de forma devota para Kelsey; desviei o olhar, não querendo deixa-la ainda mais constrangida, mas não pude deixar de sorrir.

− Acordamos há pouco – explicou Kishan, levando a própria mão até a nuca em um ato relaxado. – Nilima disse que vocês saíram antes do almoço.

− Achamos que vocês tiveram um a noite agitada e precisariam dormir. – O duplo sentido naquela frase se Ren me atingiu e eu corei, sabendo que não tinha como reagir, pois, aquela era sua vingança por termos espiado os dois.

− Essa doeu, irmão – dramatizou Kishan, colocando a mão no peito, mas não negado nada, o que me fez corar ainda mais.

− É bom ver que você está melhor, Mia – disse Kelsey e soube que tanto ela quanto eu estávamos felizes em mudar de assunto.

− Eu me sinto melhor agora – expliquei, colando algumas mechas revoltas de meu cabelo atrás da orelha. – Esquecer sobre a noite de ontem ajudou.

− Não querendo falar sobre tudo aqui – interviu Ren, indo até onde uma grande colcha estava estendida, com sacos de batatas fritas abertas e garrafas de água pela metade. – Talvez seria uma boa hora para ver o que Kadam descobriu sobre o amuleto.

Percebi que ali havia sido o lugar de um belo piquenique e concluí que Kelsey merecia aquilo: um pouco de normalidade depois de ser jogada de cabeça dentro de um mundo de magia e maldições.

− Eu ainda não entendo porque ele fala como um dicionário ambulante – cochichou Kelsey para mim, mas percebi que o tigre branco a ouvira, pois, um lindo sorriso abriu-se em seu rosto, enquanto ele recolhia os pacotes e garrafas usados.

Kishan parecia empolgado na tarefa de atrapalhar o irmão na arrumação, desferindo socos e provocando o príncipe de olhos azuis como só um irmão caçula consegue.

− Eu disse que você conseguiria reconquistá-la novamente, não disse? – Provocou Kishan, dando um tapa no ombro do irmão com um sorriso orgulhoso no rosto, contudo, soube o que aquelas palavras fizeram com Kelsey.

− O que você disse? – A garota perguntou com as mãos na cintura, fazendo com que nós três ficássemos em silencio, olhando para todos os lugares menos para os olhos de chocolate inquisitivos.

− Não foi o que você... – Kishan começou a se explicar, mas o clima pesado já havia se instaurado entre nós e pela primeira vez quis estrangular o príncipe de olhos dourados.

E parecia que Ren concordava comigo devido à expressão raivosa que lançava ao irmão.

− Então é verdade, não é mesmo? – ela perguntou, sem receber nenhuma resposta de nós. – O que Lokesh disse era verdade: vocês escondem algo de mim.

Olhei para Ren, mas o príncipe encarava os próprios pés descalços e o silêncio reinou entre nós por longos minutos antes que eu respirasse ruidosamente, deixando que meus ombros caíssem enquanto eu encarava Kelsey.

− Acho que está na hora de você saber. – Conclui, olhando para Ren que apenas assentiu um pouco derrotado.

− O que vocês escondem de mim? – Kelsey perguntou, mordendo o lábio inferior como mostra de seu nervosismo.

− Será confuso de explicar, mas você é idêntica com a garota com quem Ren foi apaixonado – disse, ainda sem saber exatamente que palavras usar para fazê-la entender o que nem mesmo nós compreendíamos. – Uma garota que viveu há 300 anos.

Os olhos de Kelsey se arregalaram e ela abriu a boca, contudo nenhuma palavra saiu dos lábios da garota e um longo silêncio tomou conta de nós enquanto ela parecia processar o que eu acabara de contar.

− Como isso é possível? – ela perguntou, olhando para Ren que parecia aflito e nervoso. – Vocês querem dizer que éramos parecidas, não é mesmo?

− Ainda não sabemos como isso aconteceu, nem o porquê, mas vocês duas são idênticas – disse, tentando me aproximar de Kelsey, mas ela apenas deu um passo para trás. – É como se fossem a mesma pessoa.

Kelsey mordeu o próprio lábio com mais força, balançando a cabeça ao mesmo instante que lágrimas se formaram nos olhos. Olhei para Ren, em busca de alguma ajuda, mas o tigre branco parecia afundar em sua própria amargura.

− Foi por isso que vocês me ajudaram na noite do festival? – ela perguntou, olhando para todos nós de forma traída. – Por isso foram tão atenciosos e chamavam-me toda hora de Kalika.

− Você não entende, iadala. – Ren interveio e eu agradeci mentalmente, pois me peito doía por Kelsey e já não era mais de dizer uma palavra. – Não fizemos tudo aquilo só por vocês ser Kalika.

− Eu não sou ela! – gritou Kelsey, jogando os braços para o alto e fuzilando Ren com o olhar. Sua expressão era cheia de raiva e caso Kishan não tivesse envolvido seus braços ao redor de mim, minhas pernas teriam falhado. – Como você pode me tocar e dizer todas aquelas palavras, quando na verdade só me via como ela?

− Kelsey, não! – A voz de Ren reverberou por todo o jardim e o príncipe levantou os braços, como se pudesse segurar Kelsey.

Infelizmente, suas palavras e ações foram inúteis, pois, a menina de cabelos castanhos já corria para longe de nós, indo em direção à casa e nos deixando em silêncio e cheios de remorso.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Esse foi o capítulo de Abril, o que acharam? Me contem!
Espero que todos tenham gostado, pois mês que vem tem mais! Aliás, queria pedir para todos um pouco de paciência agora,porque eu postarei o capítulo de Maio, mas talvez demore um pouco por causa da minha faculdade :/
Obrigada por lerem e até mês que vem!
Xoxo, Gabi G.



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