Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 38
Redenção


Notas iniciais do capítulo

Hey, hey, tigers!
Dessa vez eu voltei rapidinho com um capítulo novo! Tenho mais um semana de férias, portanto espero conseguir postar mais um antes das aulas, e vou tentar ao máximo postar um novo capítulo a cada mês, mas espero que tenham paciência.
Estou fazendo capítulo maiores, e gostaria de saber se preferem assim, ou capítulo mais curtos.
Aproveitem a leitura!



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Lembro-me do encontro com Lokesh como se ele estivesse em minha frente naquele momento; seus olhos de predador me estudando como se pudesse me devorar, seus movimentos perigosos que faziam meu corpo tremer.

Ainda tinha pesadelos com aquele homem maligno.

Mas nem mesmo isso me deixou tão aterrorizada quanto a cena que se passada em frente aos meus olhos.

Ren ainda estava de joelhos em minha frente, chamando o mesmo nome repetidas vezes como se fosse um mantra, mas seus olhos agora refletiam dor e o príncipe estava branco como um fantasma. Suas mãos puxavam seus cabelos com força, e tive medo de que ele conseguisse arrancá-los.

A cena não fazia o menor sentido para mim. O caos não combinava com Ren, aquele homem tranquilo e sedutor que eu havia conhecido. O homem que escrevia poemas como forma de expressar os sentimentos.

Aquele era Ren, não a pessoa que estava ajoelhada em minha frente como uma assombração.

Percebi que meu corpo tremia por inteiro quando os braços fortes de alguém me envolveram de forma protetora, e o cheiro de Kishan me invadiu. Minha cabeça funcionava tão rapidamente que eu não conseguia segurar nenhum pensamento.

Minha cabeça estava vazia e tumultuada ao mesmo tempo.

A visão de Ren começou e ficar borrada e sem foco, e eu funguei, percebendo que lágrimas lavavam meu rosto.

Eu preciso fazer alguma coisa

Uma voz gritava repetidamente aquelas palavras em minha cabeça, mas meu corpo parecia pesar toneladas, enquanto eu assistia Ren se levantar do chão e ir em direção a uma das poucas cadeiras que estavam intactas.

− Deixei-me em paz! – O príncipe de olhos azuis cobalto gritou para ninguém especifico, antes de pegar o encosto da cadeira com os braços tensionados e a jogar contra a parede.

Meu corpo ficou gelado e eu reprimi um grito colocando as mãos contra os lábios, no momento em que Kishan me colocou para trás de seu corpo, como uma muralha protetora.

E o perigo era Ren.

Ouvi vozes no andar de baixo, e soube que Kadam e Nilima haviam acordado com a barulheira que vinha do quarto destruído. Nenhuma palavra saia de meus lábios, e eu queria gritar de frustração por estar em choque, sem poder me mover.

− Volte para o quarto, Mia – disse Kishan, envolvendo meu rosto com as mãos e olhando fundo nos meus olhos, apenas para deixar claro suas palavras.

− Kalika, não! – Mais uma vez Ren voltou-se para mim suplicante, estendendo as mãos como se precisasse de meu corpo perto do dele.

Meus olhos se perderam na solidão devastadoras daquela imensidão azul, no momento em que Kishan tentou se aproximar do irmão de forma cautelosa. Ren rugiu, tencionando o corpo como se visse o homem em sua frente como uma ameaça.

E naquele momento, meu corpo voltou a funcionar como se alguém apertasse o botão “On”. Corri até Kishan e segurei seu braço, implorando mentalmente para que ele não se aproximasse mais.

− Kishan, por favor, não o machuque – murmurei, ouvindo um choro baixinho atrás de mim. Olhei em direção a porte, apenas para encontrar Nilima encolhida contra o avô, tampando a boca enquanto as lágrimas caiam por seu rosto delicado.

− Ele está fora de si, Mia, ele não nos reconhece. – A voz de Kishan estava ofegante como se ele houvesse corrido quilômetros sem parar, mas eu soube que ele estava com medo do que acontecia com o irmão.

− Deixe-me falar com ele, ele não vai me machucar. – Qualquer um poderia me chamar de louca, pois eu estava querendo confrontar um homem com poder de tigre, o qual poderia me ferir com um simples movimento.

Mas algo dentro de mim sabia que eu era a única que poderia ajudar Ren.

− Kishan, confie em mim. Por algum motivo ele acha que eu sou Kalika e vê vocês como uma ameaça – disse, sentindo os olhos dourados de pirata em mim, analisando-me. Pela expressão de angustia de Kishan, soube que ele travava uma batalha mentalmente. – Eu amo você, mas preciso que confie em mim.

Kisha olhou mais uma vez para o irmão, que agora batia com os punhos no chão, gritando palavras em híndi que eu não reconhecia. Ouvi Kadam sussurrar baixinho para Nilima, acalmando-a e senti como se o tempo tivesse congelado.

− Tome cuidado – ele sussurrou, fazendo-me soltar a respiração que eu não sabia que estava segurando. – Vou estar na sacada caso você precise de ajuda.

Ele tomou meu rosto mais uma vez em suas mãos, deixando um beijo longo em minha testa, o qual fez-me fechar os olhos fortemente. Senti-me exposta quando Kishan se afastou, e um arrepio varreu meu corpo quando a porta do quarto foi fechada.

Ren parecia não me ver, e continuava falando palavras sem significado para mim. Sabia que precisava agir rápido, antes que ele conseguisse se machucar, então suspirei pesadamente, fechando as mãos em punho antes de dar um passo em sua direção.

− Ren – chamei baixinho, tentando ao máximo deixar minha voz controlada e firma, para não demonstrar minha insegurança.

O príncipe parou todos seus movimentos, levantando a cabeça lentamente e fixando mais uma vez seus olhos nos meus. Sua expressão de dor deu lugar à carinho, fazendo-me perder o ar dos pulmões.

− Kalika? É você? – Ele se levantou rapidamente, e eu dei um passo para trás, olhando para as portas de vidro do quarto, apenas para encontrar um tigre negro nos observando de longe.

Do ângulo de Ren, ele nunca conseguiria ver Kishan.

Respirei fundo mais uma vez, recobrando as forças e me aproximando de Ren, que me pegou desprevenida, tomando meu rosto em suas mãos e me observando com atenção. Ele me puxou para seus braços, me apertando como se tivesse medo que eu evaporasse.

− Você parece tão real – ele sussurrou, afundando o rosto em meus cabelos. Seus dedos acariciaram minhas mechas castanhas. – Onde está sua trança?

Ren não conseguia me ver, ele achava que eu era Kalika e eu precisava fazê-lo sair daquele transe. Seus dedos roçaram minhas bochechas, e seus olhos eram uma mistura de carinho e paixão.

− Eu senti tanto sua falta – Ren murmurou, e sua voz rouca e melodiosa fez meu coração bater mais forte. Por alguns segundos, me permiti apreciar a presença tão próxima do príncipe de olhos azuis, e seu perfume de sândalo me invadiu.

Mas a realidade caiu sobre mim, e eu fechei os olhos, concentrando-me ao máximo.

− Ren, eu sou a Mia, lembra-se? – perguntei com um sussurro, tocando levemente seu braço.

A expressão de Ren mudou rapidamente para confusão e medo, e prendi a respiração com medo de ele voltar a jogar as coisas pelo quarto. Seus olhos se focavam em mim por segundos para depois se perderem novamente, e eu tive receio em saber o que se passava pela cabeça de Ren.

− Não! Deixe-me em paz! – ele disse ofegante, colocando as mãos sobre os ouvidos enquanto se afastava de mim, tremendo.

Em pânico, não permiti que ele chegasse perto de algum objeto, e tomei seu rosto em minhas mãos, obrigando-o a olhar para mim.

− Ren, seja o que for, não é real! Eu não sou Kalika, sou a Mia, lembra-se de mim? A garota que fez você tomar vitaminas da Vila Sésamo. – Minha voz estava aguda, e eu tentava engolir o choro que subia pela minha garganta.

E os olhos de Ren finalmente focaram nos meus e permaneceram daquela forma, suspirei aliviada quando ele abriu a boca, sem conseguir dizer nada. Seu corpo tremeu uma última vez e ele cambaleou até estar sentado na cama bagunçada.

− Mia, o que aconteceu? – ele sussurrou, apoiando os cotovelos na perna e usando as mãos para apoiar a própria cabeça.

− Eu é que deveria estar fazendo essa pergunta – disse, mas logo suspirei, passando a mão pelo rosto em uma tentativa de me acalmar. Ajoelhei-me em frente ao homem devastado, e toquei levemente em sua coxa, fazendo-o olhar para mim. – Quem é Kalika?

Esperei pela resposta por longos minutos, mas não pressionei Ren, vendo-o controlar suas emoções e seu corpo. Olhei mais uma vez para a sacada, e percebi que Kishan estava tão perturbado quanto eu, mas o tigre negro apenas me encarou, passando-me confiança.

− Ela lembra-me de você – ele murmurou, mas para ele do que para mim, e eu franzi o cenho, sem saber exatamente do que ele falava. – Kalika era uma camponesa, ela morava com o pai em nosso reino. Ele era alfaiate, e sempre fazia roupas para a família real, por ser um dos melhores. A menina visitava o castelo com frequência, ajudando o pai que era muito velho. Eu me encantei com Kalika desde o momento em que a vi rodopiando com um vestido que minha mãe emprestará para ela; a roupa ficara enorme pois ela ainda era muito jovem, mas eu a via como uma princesa.

As palavras de Ren começaram a se encaixarem em meus pensamentos, e imaginei o menino do quadro espiando a camponesa com um sorriso no rosto, entretanto, a constatação que se seguiu, deixou-me ainda mais surpresa.

− Você se apaixonou por ela? – perguntei com um pequeno sorriso no rosto.

− Eu não podia revelar para ninguém, nem mesmo para Kishan, pois sabia que se o segredo chegasse aos ouvidos de meu pai, ele proibiria Kalika de visitar o palácio. – A imagem de um rei autoritário invadiu minha mente, e uma pequena chama de raiva tomou conta de meu coração. – Com o tempo, consegui ter encontros escondidos com Kalika, e me apaixonei a cada dia mais por ela.

− Como ela era? – perguntei, realmente curiosa com aquelas revelações.

− Ela e o pai vieram de terras distantes quando a mãe morreu, portanto ela tinha uma beleza diferente. A pele era muito branca e os cabelos lisos castanho chocolate como os olhos. Os olhos dela eram lindos, e pareciam emoldurar o rosto quando ela usava tranças. – Ren parecia ter a imagem de Kalika na mente, pois um sorriso se abriu em seu rosto sério. – Ela usava roupas diferentes das moças do reino e acho que por isso mamãe se afeiçoou tanto.

− Por que disse que eu me parecia com ela? – perguntei confusa, afinal a descrição de Kalika não era nada parecida comigo, com cabelos ondulados e pele com poucas sardas.

− Vocês duas têm uma personalidade muito forte – ele riu, revirando os olhos antes de olhar para mim. – Ela adorava implicar comigo, eu chegava à beira da loucura com Kalika, mas até mesmo nossas brigas faziam-me amá-la.

− O que aconteceu com ela? – Eu me sentia mais do que envolvida com a história, e eu sorria para Ren, agora segurando sua mão, acariciando levemente a palma.

− Nós planejávamos fugir no dia em que meu pai anunciou meu casamento com Yesubai – ele sussurrou, e um meu corpo ficou frio, sabendo que o ele contaria a seguir seria triste. – Encontrei-me com Kalika na noite do anúncio e prometi a ela que tentaria contar ao rei a verdade, renunciaria ao trono e passaria a mão de Yesubai para Kishan, assim poderíamos fugir.

Eu me levantei e em um salto, sentando-me ao lado de Ren, passando o braço por sua cintura, abracei-o com força enquanto deitava minha cabeça em seu ombro, como fizemos horas antes.

− Lokesh ouviu nossa conversa, mas eu descobri isso apenas quando o pior aconteceu. No dia seguinte, o pai de Kalika chegou ao castelo em prantos, contando que o corpo da filha foi encontrado caído no penhasco perto da casa. Ela estava morta.

Lágrimas caiam pelo meu rosto, e ficamos em silêncio. A história de Ren fez com que meu ódio por Lokesh aumentasse, e eu poderia ir atrás daquele homem e matá-lo. Ele manipulou a todos para conseguir o que queria, até mesmo o amor de Ren e Kishan, Lokesh matou e machucou muitos por sua causa insana.

Ele havia afastado os irmãos por anos, ele havia acabado com a família Rajaram e ele havia prendido os príncipes naquela maldição.

− Eu sinto tanto, Ren – murmurei, agarrando o tecido branco de sua camisa de algodão, tentando ao máximo controlar a dor que me corroía por dentro.

− Ele usou isso para me torturar todos os dias em que fui seu prisioneiro – ele disse baixinho, entrelaçando nossos dedos com força. – Lokesh me fez ter alucinações com ela com tanta frequência quanto me torturava fisicamente. E mesmo agora eu ainda tenho sonhos e alucinações com Kalika.

− Ren, eu não vou mais deixar Lokesh fazer isso com você, as únicas lembranças que você tem que ter são dos momentos bons com Kalika – disse, tocando seu rosto com a mão livre, fazendo-o olhar para mim. – E eu vou me certificar de que ele pague por tudo o que fez para você e para Kishan.

− Por causa da morte de Kalika eu fiquei cego com a dor e com a raiva, não entendia o porquê dela ter me deixado. Casei com Yesubai mesmo contra minha vontade, e quando descobri que Kishan havia se apaixonado por ela, não consegui controlar minha amargura. Não queria que ninguém fosse feliz, porque eu não consegui ser. E deixei que isso acabasse com a ligação entre mim e Kishan – ele confessou, e eu rapidamente arregalei os olhos, virando a cabeça para onde o tigre negro estava.

Meu coração bateu mais forte quando percebi que o tigre não estava mais ali, e a porta da sacada estava aberta. Abafei o susto ao ver Kishan parado em nossa frente, na forma humana. Seu rosto era uma mistura de dor, confusão e surpresa, e senti que seus olhos estavam vermelhos.

Quis abraçar os dois príncipes naquele momento, e consolá-los da melhor forma possível, mas sabia que Ren e Kishan tinham assuntos inacabados.

− Por que não me contou? – Kishan perguntou com um tom sério, mas era visível o quanto ele estava a ponto de desabar.

Ren levantou a cabeça e o encarou com tristeza. Sorriu para mim sem muita vontade e beijou a palma de minha mão antes de caminhar em direção ao irmão.

− Nós passamos tanto tempo nos odiando, que eu simplesmente aceitei que nunca o teria de volta, mesmo depois de lhe contar a verdade – Ren respondeu, olhando para as próprias mãos com certo nojo de si próprio.

− Você é meu irmão, e irmãos não deveriam se odiar – Kishan disse baixinho, balançando a cabeça com pesar. – Eu queria ter percebido tudo, queria que você tivesse me contado sobre Kalika e acima de tudo, queria não ter jogado a culpa de tudo em cima de você, quando na verdade deveríamos culpar Lokesh.

− Eu te perdoo, Kishan, se me perdoar – Ren estendeu a mão em rendição e eu sorri, mordendo a lábio inferior com tamanha felicidade que me contaminava.

Kishan sorriu, olhando para a mão estendida do irmão, mas simplesmente a ignorou, puxando Ren para um abraço apertado, o que eu nunca imaginei ver entre os dois. Eu me sentia uma intrusa naquele momento tão íntimo entre os dois, mas não conseguia parar de olhar a cena com alegria.

A forma como os dois se abraçavam e trocavam palavras em híndi, fez-me ver a ligação dos irmãos se acendendo e tornando-se forte a cada minuto.

Meus olhos estavam úmidos e eu fungava no momento em que os dois se soltaram, olhando para mim com sorrisos enormes nos rostos. Eu poderia cair dura naquela cama, apenas por olhar os dois irmãos tão lindos em minha frente, mas eu apenas sorri de volta.

− Obrigada, priya, por unir nossa família – Ren sussurrou, ao mesmo tempo em que os olhos de Kishan me encaravam com um brilho cheio de paixão.

− Eu amo vocês dois – confessei, deixando que meus sentimentos saíssem de meu peito. – Vocês são minha família agora, e eu os amo muito. Nunca mais deixarei que Lokesh ou qualquer um interfira em nossas vidas. Qualquer um que tentar, vai levar uns bons chutes na bunda.

Ren balançou a cabeça em divertimento, e Kishan riu, aquele som maravilhoso que mexia com cada parte de meu corpo.

Levantei-me para poder abraça-los, mas um ofego saiu dos lábios dos dois instantaneamente, e eu soube que as seis horas como homem tinham acabado. Com um sorriso, corri até Kishan para poder deixar um beijo rápido em seus lábios, e ele correspondeu com paixão antes de se afastar e se transformar no tigre negro que eu tanto amava.

Ao seu lado, o tigre branco rugiu baixinho e eu acariciei sua cabeça antes de olhar ao redor com as mãos na cintura.

− Isso aqui está uma verdadeira bagunça, tigres, acho que vamos ter que acampar no meu quarto – disse, antes de que bocejo tomasse conta de mim, e o cansaço se fez presente em meu corpo. – É melhor irmos dormir, temos uma maldição para quebrar.

As luzes da casa estavam apagadas mais uma vez quando caminhei pelo corredor, e agradeci mentalmente por Kadam e Nilima terem conseguido voltar a dormir. Com tudo o que aconteceu em poucas horas, a adrenalina corria em minhas veias.

Suspirei aliviada quando meu corpo caiu em minha cama gelada, mas um gritinho saiu de meus lábios quando a cama afundou com o peso de dois tigres em cima dela. O colchão não era tão grande, portanto fiquei espremida entre os dois príncipes, um de cada lado do meu corpo, mas em nenhum momento eu reclamei.

Seus corpos emitiam um calor confortante e eu abracei o pelo negro de Kishan no momento em que seu focinho gelado tocou meu nariz, fazendo-me sorrir com o carinho. Ren deitou a cabeça em minhas pernas e ronronou baixinho, e eu acariciei suas orelhas felpudas uma última vez antes de deixar o sono me invadir.

− Boa noite, tigres.

Naquela noite eu não tive sonhos, nem bons nem ruins, e quando finalmente acordei, o sol ainda se expunha de forma envergonhada, deixando o céu acinzentado cada vez mais claro.

O tempo estava gelado, e quando meus braços expostos entraram em contato com o ar, um arrepio correu minha espinha. Abracei meu corpo e me aconcheguei contra os travesseiros, olhando em volta sem encontrar nenhum dos tigres em minha volta.

Um barulho vinha do banheiro, chamando minha atenção e meus olhos captaram um movimento no momento em que Kishan saia pela porta, usando nada menos do que um shorts cinza. Suas mãos bagunçavam o cabelo, fazendo com que gotas de água caíssem no chão.

Eu poderia ter apreciado aquela visão, se uma nova onda de frio não tivesse caído sobre meu corpo, fazendo-me enrolar o edredom escuro em volta de mim.

− Você está doente? – perguntei revoltada, fazendo com que Kishan parasse de andar para me olhar, com um expressão confusa.

− Eu estava tomando banho... – ele explicou, mas eu apenas balancei a cabeça e me encolhi como uma bola, sentindo que o ar gelado vinha das portas amplas de vidro que estavam abertas.

− Está um frio terrível e você está praticamente seminu! – exclamei. E lá estava, o sorriso malicioso que fazia meu coração bater mais forte no rosto de Kishan, fazendo-me estremecer mais uma vez, mas não de frio.

− Eu não sinto tanto frio com facilidade – Kishan disse, dando de ombros como se aquilo fosse natural para ele. – Coisa de tigre.

Soltei um grunhido nada feminino e deixei que minha cabeça caísse contra o travesseiro antes de cobrir-me por inteiro com o edredom. Uma risada rouca tomou conta do quarto e eu suspirei quando a cama afundou levemente com o peso de Kishan subindo.

− Eu posso te esquentar se quiser, bilauta − ele sussurrou, e senti seu corpo sobre o meu, e tudo o que nos separava era o edredom.

− Você me provoca – exclamei, descobrindo o rosto e olhando fundos os olhos brincalhões que brilhavam.

− Gosto de ver você corando, como está agora – Kishan disse bem baixinho, como se fosse um segredo, roçando os dedos em minhas bochechas quentes. –E gosto de como seu corpo responde ao meu.

Meu peito batia com força contra o peito, e eu poderia jurar que qualquer um a quilômetros poderia ouvir. Eu prendia a respiração e minha pele formigava, implorando por algum tipo de contato.

− Respire, Mia – Kishan sussurrou, com os lábios esbarrando nos meus, os quais estavam entreabertos. Meus dedos encontraram o peito nu de Kishan e eu deixei longas carícias ali quando finalmente o príncipe tomou meus lábios nos seus de forma exigente e faminta.

Um ofego saiu de meus lábios quando finalmente voltei a respirar, alimentando-me do beijo de Kishan como se eu precisasse dele para viver. Sua língua brincava com a minha, e tive que me concentrar muito para não gemer.

Mas da mesma forma abrupta que começou, o beijo acabou e eu abri os olhos assustada quando os braços de Kishan envolveram meu corpo, levantando meu corpo e o tirando da cama. Agarrei seu pescoço e o olhei de forma questionadora, mas ele apenas sorriu, beijando a ponta de meu nariz ao colocar-me de pé na porta do banheiro.

− Vamos sair logo, apresse-se – ele disse, saindo do quarto com passadas preguiçosas, as quais me fizeram balançar a cabeça.

Não quis sair de baixo daquele chuveiro quentinho, tão quente que fazia vapor em todo o banheiro, deixando o ambiente acolhedor. Mas me forcei a secar os cabelos e coloca-los em um rabo de cavalo enquanto vestia uma leggingpreta e uma blusa cinza de mangas cumpridas, juntamente com os velhos coturnos.

Olhando em volta, corri até a penteadeira e peguei minhas adagas, as quais estavam frias ao toque, e as prendi no cano dos coturnos. A lâmina contra minha pele fez-me sorrir enquanto descia as escadas de dois em dois degraus.

Todos estavam reunidos na cozinha, e a mesa cumprida estava cheia de comidas e bebidas, parecendo mais uma ceia de natal do que o café da manhã. Kadam foi o primeiro a olhar para mim, e sorriu de forma carinhosa antes de voltar para suas anotações. Os irmãos travavam uma batalha de quem comeria mais panquecas, o que me fez segurar o riso e ir até Nilima, que fritava fatias de bacon no fogão.

− Bom dia, nunca vi essa cozinha tão tumultuada – disse, retirando as panelas e pratos sujos que estavam na bancada, colocando-os dentro da lavadora de roupas.

− É bom ver todo mundo reunido assim – ela respondeu, soltando um suspiro contente enquanto colocava o bacon pronto junto com os ovos mexidos em um prato. – Coma, a viagem vai ser longa.

Sorri para Nilima uma última vez antes de pegar o prato quentinho e ir sentar ao lado de Kadam, servindo-me com um copo de café morno.

Quando os últimos preparativos para a viagem estavam prontos, e Ren colocava uma grande mochila no bagageiro do Jeep, corri até a porta da garagem para abraçar Nilima, prometendo que voltaríamos bem.

− Cuide de Kadam por mim – ela sussurrou e eu apertei suas mãos, antes de voltar para o Jeep, onde um impasse acontecia.

− O que houve? – perguntei, vendo Kishan com o quadril encostado na porta do passageiro de forma despreocupada enquanto Ren coçava a cabeça.

− Nós dois não cabemos na forma de tigre no banco – Ren disse, olhando para mim como se eu fosse a resposta para um quebra-cabeça muito complicado.

− Eu disse que ele poderia ir no bagageiro – Kishan provocou, recendo um olhar irritado do irmão, o que o fez segurar o riso.

− A viagem até Vijayawada dura apenas três horas, revezem a forma de tigre – concluiu Kadam, indo até a porta do motorista para ligar o carro.

Revirei os olhos quando os dois irmãos faziam jokenpo para decidir quem ficaria na forma de tigre primeiro. Pulei para o banco do passageiro no momento em que Kishan soltou um longo rugido de frustração, e soube que teríamos a presença do tigre negro nas primeiras horas de viagem.

− Vamos chegar ao templo perto da hora em que estará fechando – ele explicou, mas eu franzi o cenho, contando nos dedos as horas de viagem para perceber que chegaríamos no meio da tarde à cidade – Hoje é um feriado religioso, e o templo só ficará aberta pela manhã.

Olhei pelo retrovisor quando o Jeep saia da garagem, e encontrei com os olhos dourados do tigre negro que rugiu baixinho. Ren parecia em uma batalha interna, e euforia e medo se misturavam em seu olhar.

Voltando meu olhar para a trilha entre a floresta, suspirei e fechei os olhos, pronta para quebrar mais seis horas da maldição.

Continua...


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