Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 34
Por Trás da Porta


Notas iniciais do capítulo

Heeeey, tigers!
Como foi o carnaval de vocês?
O meu foi muito bom e quase não tive tempo de escrever esse capítulo, mas quis deixar vocês na mão depois de tantos comentários fofos



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“Você será minha”

Abri os olhos com a respiração ofegante, ao mesmo tempo em que aquela voz sombria, mas muito conhecia, zombava com minha cabeça, repetindo continuamente aquelas palavras até o momento em que a claridade da manhã despertou-me por completo.

Minha pele transpirava, e passei as mãos pelo rosto e cabelo apenas para sentir aquela sensação pegajosa. Olhei para os lados, mas os únicos movimentos naquela floresta já clareada pela manhã, eram os dos pássaros que se agitavam entre as árvores.

Encolhi meu corpo em uma bola e abracei o tronco, sentindo a presença dos príncipes tigres ao meu redor. Esforcei-me até conseguir que a imagem de Lokesh, com seu sorriso predador, saísse de minha mente, e rapidamente levei minha mão ao pelo negro do tigre que dormia tranquilamente com a respiração quente batendo em meu corpo.

− Foi apenas um sonho ruim – murmurei, acariciando o dorso do tigre e sentindo a familiar sensação de aconchego tomando todo o meu corpo, fazendo-me abrir um pequeno sorriso.

Entretanto, tomei consciência do tigre branco deitado também ao lado, com a cabeça entre as patas, enquanto mexia as orelhas felpudas de forma impaciente, fazendo-me chegar à conclusão de que ele também passava por um sono conturbado.

A visão de Ren lembrou-me de que precisávamos voltar para casa, onde Kadam e Nilima nos esperavam, pois o príncipe precisava de cuidados que estavam muito além dos nossos suprimentos regulados.

− Mas acho que ainda posso tomar um banho rápido – resmunguei, levantando-me com cuidado para não acordar nenhum dos dois irmãos.

Minhas roupas pesavam e meu cabelo estava revolto para todas as posições, mas simplesmente espreguicei-me e procurei algum produto de higiene dentre as garrafinhas de água, entretanto minha busca foi frustrada, e simplesmente caminhei lentamente até onde vinha o barulho de água corrente.

Um pequeno lago estava escondido entre árvores e arbustos, ao pé de uma pequena cachoeira que mais parecia uma torneira liberando água, devido sua velocidade quase preguiçosa. A luz entrava pelas copas das árvores, deixando tudo acolhedor.

− Espero que ninguém apareça aqui – disse, ao mesmo tempo em que desprendia meus cabelos do rabo mal feito, e tirava a regata preta com agilidade.

Abracei minha barriga descoberta e olhei para meu sutiã bege, tão simples e prático. Desamarrando os coturnos e os tirando, coloquei a ponta dos dedos do pé com cuidado na água, sentindo-a tão gelada que me fez arrepiar, antes de tirar a legging e dobrá-la perto das outras roupas.

Minhas roupas íntimas grudaram mais ao corpo no momento em que a água cobriu-me até o pescoço, e fechei os olhos com a sensação de paz que tomou-me, sorrindo enquanto passava as mãos nas mechas molhadas de meu cabelo castanho.

Meus pés tocavam o fundo lamacento do lago, e meus dedos afundavam entre as algas a cada passo que eu dava para perto da pequena e calma cachoeira. O sorriso em meus lábios aumentou enquanto a água limpava-me da cabeça aos pés, fazendo-me sentir renovada.

Não me importei com o tecido de minha roupa íntima colocada ao meu corpo, ficando da cor de minha pele até o momento em que uma agitação entre os arbustos chamou minha atenção, e arregalei os olhos quando a silhueta forte de Kishan entrou em meu campo de visão.

Os olhos dourados de forma humana me estudavam com malícia, e acabei com o instinto de me cobrir, fazendo com que ele abrisse um sorriso de lado, coçando o queixo antes de parar na margem do lago.

− O que está fazendo aqui? – perguntei, afundando meu corpo na água até que apenas minha cabeça ficasse para fora.

Minhas bochechas coraram, e eu escarava seu peito coberto pela camisa preta, sem coragem de lhe olhar nos olhos, que pareciam enxergar meu corpo descoberto por debaixo da água cristalina.

− Acordei e você não estava lá – ele respondeu, mas tudo o que eu conseguia ver era seu corpo majestoso iluminado pelo Sol forte da manhã. – Fiquei preocupado.

− Achei que não havia problema em tomar um banho enquanto dormiam – sussurrei, querendo afundar minha cabeça na água e nunca mais levantar, apenas para não encarar o olhar quente de Kishan.

−Precisa que eu a salve mais uma vez? – ele perguntou de forma debochada, fazendo-me revirar os olhos enquanto brincava com a água ao meu redor.

− Posso me cuidar sozinha, tigre – garanti de forma firme, olhando novamente para onde Kishan estava parado, mas agora, levantava a barra de sua camisa até passa-la pela cabeça, jogando-a perto das minhas roupas.

Minha boca se abriu e eu corei violentamente ao encarar o peito musculoso e moreno de Kishan afundando na água à medida que ele adentrava na lagoa, vindo em minha direção com um sorriso malicioso, entretanto em estava muito entretida com a visão maravilhosa de seus cabelos abaixando quando ele os molhou, perdendo um pouco da rebeldia costumeira.

Meu peito subia e descia seguindo o ritmo de minha respiração descompassada, quando Kishan parou com o corpo alto em frente à mim, encarando-me com seus olhos dourados em silêncio, deixando-me ainda mais constrangida.

Afastei-me, ciente de que tudo o que vestia eram um sutiã e uma calcinha da cor da pele, mas meu corpo não queria responder meus comandos, e ainda encarava o corpo de Kishan, contraindo e relaxando com calma.

Cheguei à conclusão de que nunca me acostumaria com a imagem tão bela do corpo do príncipe de olhos dourados, não importasse quantas vezes o visse.

− Onde está Ren? – Aquelas foram minhas primeiras palavras para acabar com o silencio constrangedor entre nós.

Como queria, Kishan parou de encarar meu corpo submerso e abriu uma pequena careta antes de voltar ao meu rosto. Um arrepio correu-me a espinha e soube que aquele não era o momento para citar o irmão.

Eles haviam feito uma trégua na noite anterior, mas sabia que os sentimentos de dor ainda queimavam entre os dois, tornando-se rancor.

− Está caçando – ele respondeu, olhando para a água cristalina que caia atrás de mim. – A forma de tigre está muito fraca.

Imaginei observar o tigre branco espreitando pela floresta em busca de algum animal para se alimentar, mas simplesmente não parecia certo para mim, tão acostumada e ver o pelo negro de Kishan se misturar com a floresta.

− Imagino que não estava assim ontem – ironizei, voltando a me postar em baixo da queda d’água, para molhar meus cabelos mais uma vez.

Quando abri meus olhos de novo, Kishan sorria de forma familiar, e percebi que uma covinha singela se formava no lado dos lábios que estavam para cima, fazendo meu coração bater descompassadamente.

− Desculpe por ontem – ele sussurrou, afundando o corpo na água e ficando muito mais baixo que eu, fazendo-me sorrir de volta.

− Não precisa pedir desculpas desde que prometa não me deixar mais preocupada com você como fiquei – murmurei, brincando com o amuleto que estava visível contra a minha pele pálida.

Não prestei atenção para a aproximação de Kishan até sentir seus dedos tocando minha pele exposta da cintura, fazendo meu corpo arrepiar violentamente. Soltei todo o ar de meus pulmões e olhei para as írises douradas que me encaravam com carinho antes de abrir um sorriso envergonhado, colocando nossos corpos singelamente.

− Desculpe – ele sussurrou mais uma vez, mas com os lábios perto de meu ouvido enquanto seu nariz acariciava meu rosto de forma brincalhona, deixando-me derretida em seus braços, que me apertavam contra si cada vez mais.

Fiquei na ponta dos pés e afundei meu rosto contra seu ombro molhado, beijando ali rapidamente enquanto ele acariciava meus cabelos e minha coluna nua. Minha pele colou na sua como dois imãs, e um arrepio fez com que ele sorriso convencido contra meu pescoço enquanto beijava ali.

− Talvez devêssemos ir, é uma longa viagem – disse, traçando um caminho de beijos pelo pescoço forte de Kishan, sentindo a conexão em que estávamos naquele momento.

− Ainda temos algum tempo – ele respondeu, sem muito para me convencer a permanecer em seus braços, sentindo seus dedos correndo por meus cabelos molhados, ao mesmo tempo em que ele nos colocava em baixo da queda de água.

Prendi a respiração quando a água gelada me acertou nas costas, e abri um enorme sorriso, olhando para o homem em meus braços antes de tocar seu rosto bem desenhado com a ponta dos dedos.

− Pare de olhar para o meu sutiã – sussurrei contra seu ouvido, quando ele sorriu nasalmente antes de rugir baixinho contra meu ouvido, fazendo-me morder o lábio inferior com força.

− Você está linda, bilauta – ele disse categoricamente, tomando meu rosto contra suas mãos antes de selar nossos lábios molhados em um beijo refrescante.

Abracei o pescoço do meu príncipe, sentindo-o tirar-me do chão quando me puxou pela cintura, ligando nossos corpos de um jeito sensual, fazendo com que partes de mim esquentassem deixando-me corada.

Mas aqueles pensamentos se esvaíram em meio a batalha de nossas línguas, e até mesmo deixei que uma de minhas pernas nuas roçassem nas de Kishan, cobertas pela calça de algodão preta.

Passei a mão por seus cabelos pretos, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás quando os lábios de Kishan migraram para meu pescoço, deixando pequenas mordidas ali antes de passar a língua.

Seus atos românticos misturados levemente com seu instinto selvagem me fazia imaginar coisas impróprias.

− É melhor pararmos – gemi com a voz ofegante, sentindo meu corpo girar enquanto seus lábios se divertiam com a pele de meus ombros.

− Não confia em mim, Mia? – ele provocou, fazendo-me rosnar antes de puxar seu rosto até o meu, tomando seus lábios com uma mordida na pele carnuda.

− Não tenho certeza se estou pronta para ter tigrezinhos. – Aquelas palavras fizeram com que Kishan parasse de beijar meu peito, olhando-me com divertimento antes de soltar uma gargalhada deliciosa, fazendo-me sorrir.

− Podemos ter uma ninhada – Kishan brincou, fazendo-me revirar os olhos antes de pular em seu colo, sentindo suas mãos segurarem firmemente minhas pernas descobertas.

Sem responder sua brincadeira, beijei-o rapidamente, sentindo momentaneamente a quentura que se espalhou em meu corpo. Estávamos mais uma vez embarcando em um beijo profundo e apaixonado quando o farfalhar de folhas chamou minha atenção, e no momento em que abri os olhos, írises azuis cobalto me encaravam de forma séria.

Afastei Kishan e abaixei a cabeça, sentindo minhas bochechas queimando enquanto Ren nos olhava dentro do pequeno lago. O tigre negro voltou-se para onde o irmão estava parado, e agradeci por ter seu grande corpo para esconder o meu praticamente nu.

Infelizmente ainda podia sentir os olhos azuis de Ren queimando sobre mim, e desejei poder evaporar junto com a água em nossa volta.

− O que faz aqui? – rosnou Kishan, deixando muito claro para todos que não estava feliz com a interrupção do irmão.

A tensão entre nós três gerou um silêncio devastador, e tudo o que conseguia ouvir era a respiração acelerada de Kishan e a queda d’água caindo em nossas costas. Novamente tentando mediar um conflito entre os príncipes, toquei o braço forte de Kishan e observei a expressão agitada do tigre branco, que olhava para os lados como se buscasse por algo.

− Precisamos sair, agora – Ren respondeu, ignorando completamente o irmão, e olhando diretamente para mim, que ainda me escondia na muralha do corpo do homem moreno em minha frente.

− O que aconteceu, Ren? – sussurrei, ciente de que ele conseguiria ouvir minhas palavras envergonhadas.

Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios finos, fazendo-me arregalar os olhos enquanto Kishan voltava a rugir baixinho ao meu lado. Aquela situação estava cada vez mais constrangedora para mim, e quis nunca ter acordado naquele dia entre os dois tigres sonolentos.

− Homens estão vindo em nossa direção – ele disse, deixando a tensão entre nós em um ponto extremo, e logo Kishan já estava andando até a margem. – Senti o cheiro deles enquanto caçava, mas não consegui chegar perto ao ponto de ver se eram capangas de Lokesh.

O nome do homem fez meu corpo arrepiar, e a água em minha volta já não pareceu mais tão refrescante. Kishan voltou-se apenas para me encarar com seus olhos dourados, e mordi o lábio inferior querendo poder estar com minhas adagas naquele momento.

− Se estão perto daqui, precisamos ir – afirmou Kishan, agora falando diretamente com o irmão, que tinha toda a sua atenção.

Agradeci mentalmente a distração entre os dois príncipes e mergulhei para me esconder de seus olhares até chegar na margem, onde Kishan estava parado, com o corpo pingando gostas cristalinos contra a pele oliva.

− Irei guardar as coisas do acampamento enquanto vocês se arrumam – disse Ren, com um toque de provocação em sua voz, que apenas aumentou quando seus olhos voltaram para mim, e o cobalto brilhou de forma brincalhona.

O príncipe deu lugar ao tigre branco, que correu para a floresta, apenas sumindo de minha vista quando a escuridão da vegetação se sobressaiu em seu pelo branco. Tampei o rosto com as mãos e praguejei baixinho enquanto saía da lagoa, sentindo a grama verde fazendo cócegas em minha pele molhada.

− Você está bem, bilauta? – perguntou Kishan, vindo em minha direção antes de abraçar meu corpo pequeno e acariciar meus braços gelados pela água.

Em um a situação normal, eu estaria queimando com a vergonha de estar completamente exposta ao olhar de Kishan, mas nada parecia pior do que ser observada por Ren de uma forma tão intensa.

− Eu não tenho roupas secas – resmunguei, tentando deixar o assunto constrangedor para outro momento, em que homens suspeitos não vinham em nossa direção.

− Use minha camisa. – Ele estendeu o tecido negro para mim, mas sua atenção estava voltada para algo a nossa direita, pois sua testa estava franzida e ele parecia se concentrar.

− Está sentindo algo? – perguntei, enquanto secava-me precariamente com minha regata suja antes de vestir a camisa de Kishan, que acabou na metade de minhas cochas.

− Eles estão perto – Kishan respondeu, olhando para mim enquanto dava pequenos pulos para entrar no jeans que colocava, e assim que voltei meu olhar para o tigre negro, ele me olhava de forma debochada.

– Pare de rir, isso é sério! – ralhei, amarrando sua camisa até que ficasse justa em meu corpo, calçando meus coturnos me apoiando no peito de Kishan, que parecia muito entretido comigo.

− Vamos embora – ele disse por fim, entrelaçando nossas mãos enquanto puxava-me de volta para o coração da floresta, onde encontramos Ren jogando a mochila de volta para a caçamba da caminhoneta.

Ouvi vozes muito próximas de nós, e por um momento meu corpo congelou no lugar enquanto meus ouvidos tentavam decifrar as palavras masculinas, mas o dialeto híndi ainda não era meu ponto forte.

O desespero passado no dia anterior tomou conta de mim, e apenas observei enquanto Ren e Kishan apressavam-se para arrumar as últimas coisas antes de partirmos. Dhiren mexia nas folhas espalhadas pelo chão, e eu não entendi o motivo daquilo até o rosto de Kishan aparecer em meu campo de visão.

− Mia, não deixe que seu cabelo pingue. – Ele tocou os fios grudados em meu rosto enquanto falava, trazendo-me de volta para a realidade. – Não devemos deixar nenhum rastro.

Amarrei meus cabelos molhados em um coque prático, ajudando os dois irmãos com rapidez antes pularmos para dentro da picape, ouvindo as vozes cada vez mais próximas quando finalmente consegui ligar o motor do carro.

− São eles! – gritou um dos homens que surgiu entre as árvores, e uma sensação de reconhecimento tomou conta de minha mente quando capitei a tatuagem de cobra no peito largo do homem.

Engatei a marcha e sai em disparada pelo caminho deixado por nós na noite passada, olhando para o retrovisor enquanto Serpente e seus capangas corriam em nossa direção com armas em punho.

Buzinas e faróis assustaram-me quando finalmente entramos na rodovia principal de supetão, fazendo com que carros desviassem e motoristas gritassem xingamentos em híndi. Olhei para as placas em busca de alguma tradução em inglês, e no momento em que meus olhos captaram as palavras “Nova Delhi”, acelerei.

− Eles estão atrás de nós? – perguntei ofegante, percebendo que os príncipes estavam agarrados contra o banco de forma assustada.

− Acho que depois de sua direção maluca, eles desistiram – zombou Ren, fazendo-me revirar os olhos e desacelerar a caminhoneta, que cortava os outros carros com velocidade.

Aquela foi a última vez em que alguma das três pessoas dentro da picape disse alguma coisa, pois a viagem de longas horas até a volta para casa fora completamente silenciosa. Meus olhos estavam completamente focados nas luzes cada vez mais fortes dos carros, à medida que o dia passava, mas minha mente estava toda voltada para os carinhos que Kishan deixava em minha perna ou em minha mão.

Os dois irmãos se espremiam entre os bancos apertados de forma desconfortante, e enquanto Ren brincava com os botões do rádio, passando de estação para estação sem parar em nenhuma música, Kishan mexia no próprio colar quando não sussurrava palavras em meu ouvido, as quais me derretiam.

Todas as músicas que tocavam, sem nunca terminarem, eram indianas e a melodia calma fazia meu corpo relaxar, até momento em que os acordes de uma música tão conhecida fez uma de minhas mãos voarem até a de Ren, impedindo-o de trocar de estação.

Satisfaction dos Rolling Stones fez meus ouvidos zuniram, e a imagem de Matt surgiu diante dos meus olhos, logo um aperto no peito fez-me morder o lábio inferior, e por alguns momentos quis poder me comunicar com o menino que fizera parte de minha vida.

O rock pesado guiou-nos durante toda a viagem, combinando com a paisagem selvagem que passava por nós como borrões, devido à velocidade em que a picape estava. Os príncipes tinham apenas seis horas como humanos, e eu não queria descobrir como dois tigres gigantes caberiam dentro de uma pequena Ford.

Fora uma euforia iminente o momento em que embiquei o carro para dentro da trilha tão conhecida, com fluxo de carros quase escasso. Kishan, que brincava com o meu amuleto, ajeitou-se no banco do carro e passou as mãos pelos braços, enquanto Ren cobria o rosto com as mãos, em uma batalha interna.

− Estamos em casa. – Quebrei o silêncio, abrindo um sorriso ao passar pelo caminho de cascalhos, ao mesmo tempo em que duas pessoas corriam em nossa direção.

Meus olhos lacrimejaram quando vi Kadam e Nilima sorrindo enquanto Ren pulava do carro, sendo tomado em um abraço triplo pelos dois familiares. Eles sussurravam palavras em híndi, e Kadam parecia tão emocionado quanto eu, ao ponto de ter os olhos brilhantes de lágrimas.

− Obrigada por unir minha família mais uma vez. – O sussurro de Kishan fez com que eu pulasse no lugar, antes de olhar nos olhos dourados do homem que sorria de forma verdadeiro para a cena em sua frente.

− Eu amo você – respondi simplesmente, puxando-o para um abraço rápido antes de empurra-lo para onde Nilima o chamava para um cumprimento.

Os quatro conversavam alegremente e com rapidez no dialeto tradicional, e mesmo muito curiosa para saber o que acontecia, um bocejo saiu de meus lábios, chamando a atenção de Kadam.

O velho homem sorriu para mim com orgulho, puxando-me para seus braços em um aconchegante abraço fraternal, onde eu acabei me acomodando ao apoiar minha cabeça em seu peito.

− Você é uma menina especial, senhorita Mia – ele disse com veemência, olhando-me no fundo dos olhos. – Obrigada.

Sorri envergonhada, sendo puxada para um abraço de Nilima antes mesmo de conseguir responder alguma coisa, mas afinal não tinha o que responder, pois aquilo era o mínimo que poderia fazer pelas pessoas que me acolheram como família.

− Vocês estão muito fracos, precisam comer! – ralhou Nilima olhando com pesar para o tigre branco que sorria para a moça carinhosamente.

− Eu aceito um prato grande de qualquer coisa – disse Ren, sendo puxado pela mulher pelo braço, sumindo pela casa, mas não antes de olhar para mim e lançar-me seu sorriso característico.

− Imagino que tenham muito o que contar. – Kadam chamou nossa atenção, fazendo com que eu abrisse a boca para relatar toda a nossa aventura, mas fui impedida por Kishan, que abraçou-me por trás.

− Mas talvez essa menina precise de algumas horas de descanso – ele disse, ao mesmo tempo em que sua respiração quente batia em minha bochecha, fazendo-me rir.

−Concordo, imagino que a senhorita tenha se saído muito bem – Kadam sorriu, enquanto eu acenava e puxava Kishan pela manga da camisa preta em direção à casa. – Preciso conversar com você sobre um assunto, Kishan.

Meus músculos se contraírem imediatamente, e meus pés se tornaram chumbo contra o chão, e por algum motivo, eu soube que o assunto dizia respeito a mim, e era algo muito sério. Infelizmente, fui carregada por Kishan até os andares de cima, e ele abriu a porta de seu quarto antes de deitar-me em sua cama confortável.

− Eu adoraria ficar aqui com você – ele sussurrou, deitando-se por cima de mim como um gato, enquanto brincava com o nó que segurava a camisa preta em mim.

− Fique – resmunguei manhosa, mas a verdade é que eu não queria que Kishan fosse conversar com Kadam sem mim.

− Quando acordar em estarei aqui – ele prometeu, beijando a ponta de meu nariz com ternura, antes de migrar para meus lábios com desejo. – Mas trancarei a porta para ter certeza de que apenas eu entrarei aqui.

Seu pequeno ciúme fez-me sorrir, mas com o pouco de forças que ainda me restavam, revirei os olhos e lhe bati no ombro, fazendo-o rir de forma rouca. Puxei-o pela gola da camisa e iniciei um beijo quente entre nós, que acabou em poucos segundos.

− Preciso ir – Kishan disse, abrindo um pequeno sorriso antes de se afastar da cama até estar ao lado do batente da porta, olhando para mim uma última vez antes de fechá-la com tranquilidade, isolando-me da confusão em que a casa se encontrava.

Kishan não estava ao meu lado quando acordei, e olhei para os lados em busca de algo que mostrasse as horas. Meu corpo estava dolorido, e percebi que cochilei por alguns segundos. A casa estava em um silêncio mortal, e sem demora, joguei minhas pernas para fora da cama, e com cautela, desci até o andar de baixo.

O motivo de eu não conseguir dormir por longas horas, era a curiosidade que me corroía, tomando meus últimos pensamentos antes de fechar os olhos, e agora, eu procurava Kishan e Kadam na biblioteca da casa, tão familiar para mim.

Soube que o assunto era sério ao perceber que todos estava no cômodo, ao redor de um enorme computador branco de reluzente, e mesmo Ren, olhava para a rela com preocupação, enquanto levava um enorme pedaço de bolo de chocolate até a boca.

Espiava pela fresta aberta das portas largas, e prendi a respiração para que nem mesmo o mínimo barulho chamasse a atenção dos tigres.

− Como contaremos a ela? – perguntou Nilima, que percebi estar chorosa, fazendo com que meu coração batesse cada vez mais rápido.

− Não contaremos, ela não pode saber – disse Kishan de forma séria, enquanto passava as mãos pelos cabelos negros com nervosismo, sendo observado pelo irmão que parecia incrédulo.

E fora Ren quem finalmente acabara com o segredo que me consumia.

− Houve um incêndio no circo em que ela morou a vida inteira, e mesmo com a possibilidade do amigo estar entre os mortos, você não irá contar?

Continua...


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