Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 31
Ren


Notas iniciais do capítulo

Hey, tigers!
Sei que as Ren girls estão em êxtase com o nome do capítulo e provavelmente ignorarão isso, mas quero pedir desculpas pelo fim de semana sem postar.
Quero agradecer a todos que deixaram comentários eufóricos e fofos no último capítulo.
Boa Leitura.



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Acordei com barulhos altos de coisas caindo vindo do andar de baixo, e rapidamente olhei em volta, apenas para constatar que estava sozinha naquele quarto enorme, que tinha o perfume de Kishan.

Espreguicei-me enquanto jogava alguns travesseiros para longe, antes de sair da cama e me arrastar porta a fora, até meu quarto. O corredor estava vazio, mas os barulhos continuavam a invadir meus ouvidos, e eu teria muita curiosidade de saber o que estava acontecendo se meus olhos não ardessem de sono.

Era um dia muito quente, e eu sentia os cabelos de minha nuca molhados quando entrei debaixo da ducha. Um gemido de prazer saiu de meus lábios quando a água gelada bateu em minha pele, e peguei o sabonete de lavanda para me ensaboar.

Fora o banho mais longo de minha vida, mas assim que sai enrolada na toalha do banheiro, os barulhos do andar de baixo ainda continuavam muito altos. Coloquei o top preto antes de entrar na blusa soltinha que deixava grande parte de minha barriga para fora, juntamente com os shorts jeans curtos, prendendo meu cabelo com uma bandana preta.

Descalça, desci até a sala saltando os degraus de dois em dois para encontrar o cômodo transformado em uma base militar.

Kadam estava sentado no sofá, com um notebook no colo enquanto outros dois o rodeavam; papéis e arquivos estavam dispostos no chão, nas poltronas e em qualquer lugar que houvesse espaço. Um aparelho em forma de maleta estava aperta ao lado dos notebooks, e linhas verdes e laranjas moviam-se pela tela preta.

Nilima estava correndo pela casa, trazendo e levando papéis para senhor Kadam, e descobri que os barulhos vinham das buscas que ela fazia pelas coisas que eram solicitadas. Kishan estava deitado no único sofá vazio, em sua forma de tigre, balançando a cauda e observando tudo atentamente.

− Desculpe, mas o que está acontecendo? – Minha voz chamou a atenção dos três, e por alguns segundos, toda a correria da sala cessou.

− Bom dia, Mia. – Nilima sorriu para mim, enquanto folheava um caderno grosso muito semelhante com uma agenda de telefones. – Deixei um pouco de café para você na cozinha.

Sorri em agradecimento para ela, mesmo sabendo que com aquele calor, um café quente era a última coisa que eu queria ingerir.

− Desculpe-nos se acordamos você, senhorita Mia – Kadam disse, desviando o olhar dos computadores por alguns segundos apenas para sorrir para mim. – Estamos preparando o resgate de Ren.

Arregalei os olhos com a eficiência com que Kadam podia planejar algo tão sério, que demoraria semanas para alguém montar. Percebi que ele escrevia em um pequeno caderno tópicos com a letra pontuda, entregando para Nilima, que não parava de fazer e receber chamadas.

− Vocês deveriam ter me acordado – protestei, indo até onde o tigre negro me observava com olhos carinhosos, levantando a cauda para que eu pudesse sentar-me ao meu lado.

− Concordamos que a senhorita merecia algum descanso depois de ontem. – Kadam tirou os óculos redondos e levou a caneca de café até os lábios, enquanto eu observava as rugas de cansaço em seu rosto.

Minhas mãos acariciavam o pelo negro de Kishan, e inclinei-me contra o tigre apenas para beijar-lhe a cabeça, ouvindo-o ronronar com o meu ato.

− Bom dia – sussurrei perto de suas orelhas felpudas, antes de voltar-me para Kadam, que agora falava em híndi no telefone, e pelo tom de sua voz, percebi ser algo urgente.

Kadam anotava números ligeiramente em seu caderno, e eu tentava captar o sentido da conversa com as poucas palavras que havia aprendido em híndi, mas tudo o que traduzi foi “voar”, o que deixou-me assustada.

Senti a cabeça peluda de Kishan deitando-se em minhas pernas, e o tigre começou a ronronar e chamar minha atenção como um gatinho querendo brincar. Ele lambeu minha perna e mexeu as orelhas, encarando-me de forma provocativa.

Revirei os olhos, levando a mãos para seus pelos mais uma vez, ouvindo-o ronronar mais alto no momento em que recomecei o carinho.

− Quero saber o que vai acontecer – disse por fim, quando Kadam desligou a chamada e devolveu o telefone à Nilima, que saiu apressada do cômodo.

− Comecei a pesquisar sobre a localização de Ren – Kadam explicou, virando um dos notebooks que mostrava a imagem de um enorme prédio totalmente de vidro, em uma rua movimentava. – Descobri que o Ajagara é realmente um prédio comercial, com a fachada de uma firma de transportes. Imagino que Lokesh use a empresa para seus negócios ilegais, pois o movimento de pessoas é constante, tanto por funcionários como por seguranças.

− Não parece ser o local onde ele esconderia um príncipe – ponderei, observando alguns homens de terno saindo das portas automáticas, enquanto um grupo com tatuagens de dragão entrou, e rapidamente deduzi que eram capangas.

− Na verdade, senhorita Mia, é o local perfeito. O prédio possui trinta andares em uma cidade movimentada, usando a fachada de uma transportadora onde apenas vinte primeiros andares são usados para a empresa.

A medida que Kadam continuava sua explicação, as engrenagens em minha mente começaram a encaixaram-se, e eu estalei os dedos, abrindo um sorriso contente.

− Ren deve estar no último andar do prédio, pois o acesso até lá seria impossível. – Continuei a explicação, sentindo os olhos dourados de Kishan em mim. – Milhares de pessoas entrando e saindo, com os guardas de Lokesh em todo o prédio, seria quase improvável para alguém passar por tudo isso sem ser notado antes.

− Muito bem, Mia – Kadam disse com um sorriso, enquanto eu mordia o lábio inferior, orgulhosa de mim mesma. – Por esse motivo, nós iremos entrar em Ajagara de helicóptero.

Nilima havia voltado à sala, carregando uma bandeja com três copos e uma jarra de suco de laranja, e rapidamente me servi da bebida gelada, mas no momento em que captei a palavra “helicóptero”, o líquido travou em minha garganta e eu engasguei, com os olhos arregalados.

− Como? – perguntei com a voz rouca, tossindo como uma fumante enquanto Kishan rugia baixinho para mim.

− O prédio possui um heliporto sem segurança – Kadam disse, enquanto teclava rapidamente no computador antes de virar a tela para mim mais uma vez, mostrando a foto do prédio com uma visão superior. – Vocês chagarão até lá por céu, e conseguirão facilmente localizar Ren sem chamar muita atenção.

Olhei para a foto que exibia um enorme círculo branco com o “H” no centro, ao lado de uma pequena porta enferrujada, que não parecia ser usada há anos. Imaginei como Lokesh chegava em Ajagara sem chamar atenção, mas as ideias em minha mente fizeram-me tremer de medo.

− O senhor estava falando sobre isso ao telefone, certo? – perguntei, ainda tentando digerir a ideia de sobrevoar um prédio de helicóptero.

− Nós temos um helicóptero no aeroporto de Nova Delhi – explicou o velho homem, fazendo-me imaginar que eles possuíam até mesmo um grande navio. – Confirmei o uso para uma viagem até Mumbai.

− Deveríamos ir no começo da noite – disse de supetão, fazendo Kadam surpreender-se. – O movimento de turistas na rua ainda será grande, mas o número de pessoas em Ajagara será menor, o que tornará o resgate mais fácil.

− Boa observação, senhorita Mia. – Kadam anotou mais algumas coisas no pequeno caderno, enquanto eu me servia de mais um copo de suco, ainda acariciando o dorso de Kishan, que ouvia nossa conversa sem grandes manifestações.

Não sabia se ele concordava com o plano que Kadam e eu montávamos, ou estava muito nervoso com a ideia de rever o irmão, mas concluí que a segunda opção era a válida, pois sentia seu corpo animal ficar tenso a cada vez que citávamos o nome do tigre branco.

− Entretanto, vocês terão que fugir por terra, pois isso os pegará de surpresa mais uma vez – Kadam advertiu, olhando novamente para as telas dos computadores.

− Não conseguiremos fugir a pé – gaguejei, sem querer dizer aquelas palavras na frente de Kadam e Kishan. – Não sabemos como é a situação física de Ren.

A sala silenciou, e soube que todos estavam perdidos em pensamentos sobre o príncipe de olhos azuis, e rapidamente arrependi-me por ter dito aquelas palavras, ao olhar para a expressão de dor de Kadam.

− Nilima, procure algumas locadoras de carro em Mumbai, e diga que é uma situação de emergência – Kadam pediu, passando os dedos pelo rosto antes de soltar um longo suspiro, voltando a escrever nas folhas cheias de rabiscos.

Apertei a pele do pescoço do tigre, e senti seus olhos dourados sobre mim, enquanto eu mordia o lábio, tentando me desculpar.

− Desculpe, Kishan, eu não deveria ter dito... – Comecei a dizer, sendo interrompida por um rugido baixinho, o qual interpretei como um pedido para esquecer aquele assunto.

− Fugir com um carro é muito perigoso – murmurou Kadam. – Lokesh já conseguiu nos localizar uma vez, e agora ele poderia nos seguir até aqui e correríamos grande perigo.

− Podemos nos abrigar em uma floresta até o dia nascer – sugeri, apertando os dedos das mãos uns nos outros. – Será mais fácil fugir deles e acho que já estamos acostumados.

Kadam balançou a cabeça em concordância, e Nilima sorriu para mim de forma afetuosa, tentando reconfortar-me, mas toda a preocupação e angústia sobre essa noite caía em mim como chumbo.

Continuamos na sala por toda a manhã, enquanto eu ajudava Nilima com as ligações de Kadam, ou até mesmo estudando as imagens de Ajagara para decorar a posição da mínima viga de sustentação, sem querer que aquela missão desse errado.

Os olhos de Kishan brilhavam de divertimento quando eu desviava o olhar do computador para o tigre negro ainda deitado no sofá, mas eu podia ver o tom de tristeza e nervosismo por trás de tudo aquilo.

O cheiro de comida enchia a casa perto do horário de almoço, e Nilima praticamente nos arrastou à cozinha, para que comêssemos. Entretanto, meu estômago estava embrulhado, e depois de brincar com a deliciosa macarronada com molho branco de Nilima, levantei-me da cadeira e lancei um olhar de desculpas para as duas pessoas sentadas à mesa.

− Eu vou até a sala de treinamento – murmurei, saindo da cozinha apressada para não acabar presa no olhar preocupado de Kishan.

O nervosismo estava me sufocando, e a ideia de falhar deixava meu corpo acelerado. A imagem de Lokesh veio em minha mente, e logo a sensação de enjoo me abateu quando descia as escadas que lavavam até a grande sala subterrânea.

Apertei o interruptor e uma série de lâmpadas fortes se acenderam, revelando os painéis de armas e os equipamentos diversos. Não vestia roupas para treinar, mas eu precisava bater em algo e clarear a mente, logo amarrei um saco de pancadas de boxe perto de uma das paredes e comecei a desferir socos no instrumento como se fosse o próprio Lokesh.

Usava cada vez mais força em meus socos, intercalando os movimentos com chutes altos, os quais reverberavam pela sala vazia. Em poucos minutos meu corpo transpirava e minha respiração estava ofegante, até que cessei os movimentos e agarrei o saco, pousando minha testa contra o tecido vermelho, enquanto meus pensamentos desaceleravam.

Bilauta? – A voz de Kishan reagiu em meu corpo como uma grande explosão, e um arrepio tomou conta de mim assim que virei-me para encontrar sua forma humana vindo em minha direção.

− Você não deveria estar na forma humana, vou precisar de você hoje à noite – confessei, olhando para meus pés descalços quando ele parou em minha frente, e eu podia sentir sua respiração quente perto de meu rosto.

− Não estou me importando com isso agora – ele disse, tocando meu queixo com o dedo, forçando-me a olhar em seus olhos de pirata. – O que houve?

Mordi o lábio inferior para esconder o pequeno sorriso que se formava em meu rosto, depois de concluir que Kishan conhecia-me muito melhor do que eu mesma.

− Eu acho que estou apenas nervosa com o resgate – confessei, brincando com o colar de Kishan, que descansava em seu peito. – E tenho medo de falhar, pois você está tão triste e...

Kishan calou-me juntando nossos lábios em um pequeno selinho casto, mas que fez meu corpo derreter com seu toque quente e aconchegante.

− Não fique assim, Mia – ele sussurrou, passando o nariz por meu rosto em um carinho delicioso. – Nós vamos conseguir, porque você é uma guerreira maravilhosa.

− Tenho medo de encontrar Lokesh – disse por fim, deitando a cabeça em seu peito largo e sentindo seus dedos em meus cabelos úmidos.

Ficamos naquela posição por alguns segundos, e senti toda as minhas preocupações se esvaindo a cada toque de Kishan em minha pele, e agradeci mentalmente por ele ser meu.

− Eu estarei lá para protege-la, e não deixarei que ele encoste em você. – Kishan praticamente rugiu aquelas palavras, apertando-me em seus braços de forma protetora.

Sorri contra o tecido preto de sua camisa, antes de ficar nas pontas dos pés para deixar um beijo em sua bochecha. Afastei-me em seguida, olhando-o de forma sapeca antes de surpreende-lo com uma rastreira, fazendo-o cair no chão com um barulho alto.

Kishan arregalou os olhos, tentando levantar-se como uma prova de que havia aceitado meu desafio, mas eu apenas sentei-me em seu peito, prendendo suas mãos no alto da cabeça, enquanto pressionava suas pernas com minhas coxas.

− Peguei você – sussurrei provocadora, vendo-o abrir um sorriso travesso antes de beijar sedutoramente meu queixo, fazendo minha cabeça rodopiar com o toque quente.

Kishan libertou-se de mim, jogando-me contra o chão antes de cobrir meu corpo com o seu, tomando minha mão e beijando meu pulso onde a pulseira do tigre negro estava.

− Prometa que não importa o que aconteça depois de hoje, você não deixará de ser minha. – Seu pedido pegou-me de surpresa, e franzi o cenho sem entender o real significado daquilo.

− O que está querendo dizer, Kishan? – perguntei, vendo-o desviar o olhar e morder o lábio inferior. Entretanto, toquei seu rosto e fiz com que ele olhasse em meus olhos. – Diga-me.

− É só que... – ele suspirou pesadamente antes de soltar meu corpo, sentando no chão ao meu lado enquanto eu levantava-me. – Ren sempre conseguiu tudo o que eu sempre quis, e tenho medo de perder você também.

Sua confissão fez-me arregalar os olhos, e eu balancei a cabeça, dando uma risada seca enquanto tentava assimilar os ciúmes de Kishan. Eu queria abraça-lo e beija-lo apenas para que ele sentisse o que eu sentia por ele, mas sabia que ele precisava ouvir as palavras.

− Eu amo você, Kishan – disse de forma firme, inclinando-me sobre seu corpo apenas para que nossos rostos se aproximassem. – E isso nunca vai mudar.

O sorriso verdadeiro de Kishan fez com que meu peito enchesse, e deixei um beijo terno em sua testa antes de descer até os lábios, caindo em cima dele mais uma vez enquanto nossas línguas se acariciavam.

O final de tarde chagara rapidamente, e logo a casa voltou à enorme confusão a qual estava pela manhã, com Nilima obrigando Kishan e eu à comermos antes de partimos, e Kadam passando os últimos detalhes da missão.

Voltei ao quarto com pressa, arrancando as roupas de meu corpo e as trocando por outras mais confortáveis e práticas para o que estávamos prestes a enfrentar. Uma legging preta abraçava minhas pernas, e botas marrons de cano alto sem salto deixavam meus pés relaxados enquanto vestia a camisa preta com a estampa de um tigre rugindo.

Busquei as adagas negras na penteadeira de meu quarto, colocando-as nos canos de minhas botas enquanto amarrava os cabelos revoltos em uma trança firme.

Com um último suspiro, deixei o quarto para encontrar Kishan em sua forma de tigre esperando-me no corredor, e juntos fomos até o Jeep, onde encontrei Nilima chorando antes de correr e me abraçar.

− Tomem cuidado – ela sussurrou, fazendo com que meu peito apertasse na hora de sair de seus braços, deixando Nilima para trás mais uma vez.

A viagem curta até Nova Delhi havia se tornado familiar para mim até o momento em que chagamos ao centro movimentado da cidade. O carro estava silencioso, e os únicos movimentos eram o do volante e de minhas mãos no pelo negro de Kishan.

Entramos em ruas apertadas e atravessamos avenidas movimentadas, até que chegássemos em um pequeno aeroporto, com uma única pista e um barracão protegidos por uma cerca de arames.

− Você sabe o que fazer, Kishan – advertiu Kadam, antes de sair do carro para cumprimentar um homem que vinha em nossa direção, usando uma estranha roupa de aviador.

Olhei para o lado apenas para encontrar o homem moreno em suas roupas pretas, que entrelaçou nossos dedos antes de pularmos para fora do Jeep. O homem vestido como Top Gun sorriu para nós e cumprimentou-nos em híndi, mas eu apenas acenei enquanto Kishan respondia ao homem.

Kadam pegou algumas chaves com o aviador, acenando para que o seguíssemos até onde um enorme helicóptero cinza nos esperava. Kishan ajudou-me a saltar para dentro do meio de transporte, afivelando meus cintos com segurança, enquanto eu observava a conversa de Kadam e Top Gun.

Esperei que o aviador subisse pela porta do piloto, mas ele apenas acenou para nós enquanto senhor Kadam se ajeitava naquela posição, deixando-me de boca aberta.

− O senhor saber pilotar um helicóptero? – perguntei, enquanto Kishan fechava a nossa porta, voltando para a forma de tigre e deitando a cabeça em meu colo.

− Aprendi a pilotar vários meios de transporte, senhorita Mia, para eventualidades – Kadam disse com um sorriso, colocando um enorme fone nos ouvidos enquanto apertava botões e acionava alavancas.

O motor foi ligado e as hélices começaram a se mover, fazendo-me prender a respiração e agarrar-me ao tigre em meu colo. Senhor Kadam disse algumas coisas em híndi no pequeno microfone embutido aos fones brancos, e percebi que ele se comunicava com a torre de controles.

E logo o helicóptero levantava voo, ganhando altitude à medida que avançávamos de volta para a cidade de Nova Delih, e eu espiei pelas janelas apenas para ver os pontos brilhantes que tomavam o céu escuro do começo da noite.

A viagem levaria pouco mais de uma hora, e para conter a euforia e adrenalina que corriam por meu corpo, tagarelei com Kishan que ronronava em meu colo, ou fazia perguntas para senhor Kadam sobre os inúmeros botões e aparelhos no painel do helicóptero.

A noite tornava-se cada vez mais densa a medida que os minutos se passavam, e eu observava pelas janelas as nuvens cinzentas ao nosso redor, até que pontos luminosos tomaram minha visão, e percebi que estávamos descendo.

− Estamos sobrevoando Mumbai – informou Kadam, enquanto eu cutucava Kishan com o dedo e olhava a paisagem escura. – Preciso avisar que o carro alugado estará estacionado na frente de Ajagara, é um antigo caminhão da Ford, o qual não chamará muita atenção. Esconda o amuleto, para o caso de Lokesh ainda não ter a informação sobre a posse dele, e despistem os capangas dele antes de adentrarem na floresta.

Captava as instruções de Kadam enquanto o helicóptero descia cada vez mais, até eu poder ver um enorme prédio espelhado, o qual identifiquei como sendo o Ajagara. De forma rápida, senhor Kadam pousou no heliporto, e Kishan apareceu em minha frente em sua forma humana, desafivelando-me enquanto abria a porta e pulávamos para fora.

Meu coração martelava no peito, enquanto acenava para Kadam que já apressava-se em decolar com o enorme voador cinza, afastando-se de nós com rapidez.

O vento castigava naquela altura, e meu corpo arrepiou-se enquanto eu encarava a porta enferrujada que seria nossa entrada para o prédio. Agachei-me para pegar as adagas negras de minhas botas, girando uma em mãos e apontando o pegador para Kishan, que segurou-a antes de selar nossos lábios em um beijo intenso.

− Eu amo você – ele sussurrou, indo até a porta enferrujada e forçando-a a abrir.

Uma escadaria escura nos esperava, e mordi o lábio enquanto Kishan apressava-se na frente, descendo os degraus com cautela, estendendo um braço para eu usar de apoio. Contei dez pisadas até que uma nova porta aparecesse em nossa frente.

− Tente ficar em meu campo de visão, mas fuja se precisar − Kishan avisou, segurando a maçaneta da porta, durante o tempo em que afirmei com a cabeça, mesmo sabendo que nunca o deixaria para trás.

A porta abriu-se com cautela para um enorme corredor bem iluminado, com piso de porcelana brilhando, e paredes na cor gelo. Milhares de portas iguais dispunham-se dos dois lados do corredor, ao passo que no fundo os vitrais mostravam uma visão horizontal da cidade de Mumbai.

Atravessamos o corredor até onde uma curva levava à outra galeria cheia de portas iguais, entretanto, antes de virarmos, Kishan segurou meu corpo junto à parede, olhando de forma discreta para o novo corredor.

− Senti o cheiro de alguém – ele murmurou em meu ouvido. – Há dois homens de guarda em uma das portas.

− Você acha que ele está lá? – perguntei, sentindo meu corpo agitar-se com a adrenalina.

− Está muito fácil. – Kishan olhou mais uma vez para corredor, e compreendi que ele planejava algo, até o momento em que eu interrompi seus pensamentos.

− Distraia os homens e os leve para longe para que eu posso entrar – sussurrei, vendo-o torcer a boca não muito satisfeito com a minha ideia. – É a nossa única chance.

Kishan ponderou por segundos, antes de beijar minha bochecha e entrar no campo de visão dos guardas, que gritaram palavras em híndi. Respirei fundo três vezes antes de espiar por entre a parede, vendo o príncipe lutando com os dois homens ao mesmo tempo que os levava para longe da porta.

Quando finalmente Kishan os encurralou de costas para mim, sai de meu esconderijo e corri até a quinta porta à direita, entrando com cautela enquanto a luta entre os três prosseguia. Antes de fechar a porta, recebi um olhar confiante do tigre de olhos dourados, e soltei a respiração ao entrar.

O cômodo nada mais era do que uma caixa quadrada semelhante à um escritório comum, caso houvesse algum móvel no lugar. As paredes e piso brancos misturavam-se no vazio, e um único foco de luz vinha do meu lado esquerdo, no fundo da sala.

Ao olhar para onde a iluminação vinha, tampei a boca para não deixar que nenhum ruído escapasse, mas meu coração martelou em meu peito, e minha respiração travou na garganta enquanto o corpo tremia.

Duas correntes saiam do chão até as patas de um enorme tigre branco, com pequenas listras pretas pelo corpo majestoso. Sua cabeça estava caída entre as patas, mas sua respiração estava constante e fraca. O animal que deveria ser sadio, estava magro e alguns pelos brancos caiam em sua volta, enquanto as costelas marcavam a pele. Não havia machucados, pois a maldição curava qualquer dano físico, mas era percebível que o tigre branco sofria.

Dei passos bambos para perto do animal, ainda tampando a boca, devido a umidade que aumentava em meus olhos. Meus joelhos fraquejaram e eu cai diante do tigre, descobrindo os lábios para que um sussurro escapasse.

− Ren?

As orelhas felpudas do tigre mexeram-se, e com muito esforço a cabeça levantou-se do chão, mas no momento em que olhos azuis cobalto estudaram-me com tristeza, uma sirene altíssima ecoou pelo prédio.

Continua...


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Notas finais do capítulo

É isso! Esse foi o novo capítulo de Caçada e o ingresso do nosso sedutor tigre negro na história!
Espero que tenham gostado, então comentem aqui o que acharam.
Até a próxima,
Xoxo, Gabi G.



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