Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 29
Seis Horas


Notas iniciais do capítulo

Hey, tigers!
Prontas para mais um capítulo?
Aqui está mais um capítulo quentinho, e espero que todas gostem.
Recomendo as música Let The Flames Begin, do Paramore e The Ghost Of You, do My Chemical Romance para ouvir, pois foram as que me inspiraram nesse capítulo
Boa Leitura.



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A deusa olhava para nós com um olhar materno e carinhoso, mas em seis de suas oito mãos, ela segurava armas com um tridente e um arco com duas flechas, além de uma Flor de Lótus e um disco dourado.

Sua pele era alaranjada, contrastando com os cabelos negros e muito compridos, que lhe caiam por cima do peito. Os olhos queimavam como fogo, assim como tudo naquele templo, e senti um arrepio descer por minha espinha. Um tecido amarelo e muito macio cobria-lhe o corpo farto, enquanto joias adornavam o vestido liso.

Pisquei meus olhos quando percebi que a coroa em sua cabeça, crepitava como fogo queimando em uma fogueira. Balancei a cabeça e baixei meu olhar, para encontrar um tigre negro aos pés da deusa, olhando-me com os olhos de lava, como se eu e Kishan fossemos ameaças para a mulher segurando as mais diversas armas letais.

Dei alguns passos para trás até que meu corpo entrasse o peito de Kishan em sua forma de homem, olhando com tanto espanto para as formas divinas em nossa frente quanto eu. Busquei sua mão e entrelacei nossos dedos, enquanto via o tigre negro de Durga seguindo cada movimento meu com o olhar.

− Não sei se eu consigo enfrentar outro Damon – sussurrei para Kishan, virando a cabeça para olhar em seus olhos dourados, que pela primeira vez não demonstravam a confiança de sempre.

Uma risada alta e melodiosa tomou conta de todo o templo, e mais uma vez consegui ouvir pequenos sinos badalando. A mulher fez um sinal para que nos aproximássemos, e antes de dar o primeiro passo em direção as escadas, olhei mais uma vez para Kishan, que sorriu para mim.

− Nenhum dos tigres que enfrentaram era o meu Damon, Amélia, apenas personificações – ela explicou com a voz baixa, mas que mesmo assim parecia amplificada em caixas de som. – Eles foram parte do desafio.

Paramos em frente à Durga, e sua figura parecia muito maior e majestosa agora que eu conseguia observar os pequenos brilhos de sua pele alaranjada. Uma de suas mãos acariciaram a cabeça de Damon, mas seus olhos continuavam focados em nós.

− Minha Deusa, a primeira parte da maldição foi quebrada? Não entendo como ainda estou em minha forma humana. – A voz alta e respeitosa de Kishan chamou minha atenção, e assim que olhei-o, arregalei os olhos ao vê-lo agachado em frente à Durga.

− Ainda não, meu tigre. – Meus olhos voaram para a deusa e eu cerrei os punhos, enquanto a palavra “meu” pairava em minha cabeça, juntamente com os sons de sinos da voz de Durga. – Em minha casa, a maldição posta pelo demônio não tem forças.

Os olhos de fogo da deusa me estudaram de forma profunda, e eu corei violentamente, percebendo que ela sabia de todos os pensamentos raivosos que passavam por minha cabeça naquele momento, apenas por assistir aquela cena entre Kishan e Durga.

− Como assim a maldição ainda não foi quebrada? – perguntei, tentando manter minha voz dura frente ao sorriso iluminado de Durga para mim, antes que a mulher voltasse os olhos par Kishan, já de pé ao meu lado.

− Os amuletos de Damon foram usados com o ódio e o poder sombrio de um demônio – Durga disse, e minha mente demorou alguns segundos para associar Lokesha com o demônio que a deusa se referia. – E só com a purificação de uma alma boa é como a maldição deixará de existir.

− Eu me ofereço, minha deusa – Kishan disse, apertando minha mão com força antes de dar um passo para a frente, deixando-me atônita com o que acontecia.

− Aprecio sua coragem, mas seu sangue está corrompido pela maldição. – A deusa apontou para mim e eu arregalei os olhos com suas palavras. – Apenas uma pessoa pode quebrar a maldição.

Dei alguns passos para trás, colocando uma mão na cintura e com a outra, segurei o amuleto, apenas para sentir sua quentura familiar em meus dedos.

− Além de lutar contra aquelas criaturas estranhas, ainda terei de ser purificada? – ironizei, tentando esconder o nervosismo que tomava conta de mim, e rapidamente busquei os olhos de pirata de Kishan, que brilhavam para mim de forma confortadora.

− Não precisa fazer isso, Mia – ele sussurrou, passando as mãos em meus braços expostos e sujos de fuligem.

− Eu farei, não chegamos até aqui para não conseguir − Soltei-me de seu toque e voltei-me par a deusa, que me estudava com uma expressão curiosa. – Estou pronta.

− Surpreende-me sua grande devoção ao tigre negro, Amélia. – Toda a atenção de Durga agora estava em mim, e trocávamos olhares intenso.

− Farei qualquer coisa por Kishan – afirmei, com minha voz saindo em um ofego, enquanto dava mais um passo para perto da deusa.

Olhei para o lado para encontrar olhos dourados me encarando de forma surpresa, enquanto um sorriso se formava em meu rosto, e rapidamente eu devolvi seu olhar carinhoso, tomando o amuleto em meu peito contra meus dedos.

− Que assim seja – a deusa afirmou com calma, levantando as mãos livros de objetos para o ar, antes de um grito de dor tomar conta do meu corpo.

Meus joelhos bambearam e logo eu estava caída no chão, sentindo meu peito queimar, enquanto buscava algum conforto do poder do amuleto de fogo. Minha respiração não saia, e minhas mãos voaram para meu pescoço, em uma tentativa ajudar o ar a entrar em meus pulmões.

− Mia! – O rugido de Kishan fez-me virar a cabeça com muita dor, mas no momento em que ele se aproximava, paredes de chamas me cercaram, deixando-me isolada em um pequeno espaço muito quente.

− Livre sua mente da dor, Amélia – disse Durga, enquanto eu buscava por seus olhos de fogo em minha frente.

− O que está fazendo com ela? – Kishan agora não parecia mais amigável com a divindade em sua frente, e eu podia imaginar seus olhos furiosos enquanto ele buscava uma forma de atravessar as labaredas altas.

Meu corpo derretia em suor, e minha cabeça sofria muito pressão, fazendo-me gritar de dor e tampar os ouvidos enquanto me contorcia com a queimação que me consumia de dentro para fora.

− Ela aceitou o desafio. – A voz de Durga estava alta, e mesmo controlada, ela parecia furiosa com as palavras insolentes de Kishan, que agora praguejava.

Gemidos saiam de minha boca, e eu sentia minha pele cada vez mais quente. Levantei os braços para encontrar queimaduras em minha pele, que parecia brilhar de forma alaranjada. Minhas roupas estavam em frangalhos e tentei lutar, ficando de pé até o momento em que outra pontada de dor lancinante invadiu meu corpo, e eu gritei de forma animalesca.

− Kishan! – Meu pedido de socorro pareceu um sussurro, e eu não sabia se ele conseguia ouvir minha angústia, frente as crepitações do fogo que me envolvia.

Queria deitar no chão encharcada com meu suor e não acordar mais, mas minha mente trabalhava com uma velocidade surpreendente, deixando meu corpo acelerado. Mas assim que deitei ao chão, as palavras de Durga encheram meus pensamentos e eu fechei os olhos, encolhendo-me em posição fetal.

− Livre sua mente da dor – repetia para mim mesma, enquanto lutava com todas as sensações angustiantes que percorriam minha pele, até que todos os sons em minha volta sessaram, e o calor do fogo já não me consumia.

Abri os olhos para perceber que não estava mais no templo de Durga, mas sim, de volta ao Benzini Brothers, sentada nas arquibancadas do picadeiro. Olhei para os lados, mas eu era a única pessoa naquele lugar, e o barulho de um canhão de luz fez-me olhar para o centro.

Ninguém estava ali, e eu prendi a respiração, tentando entender o que estava acontecendo. Olhei para minhas roupas, mas agora um tecido branco cobria meu corpo, como uma toga, mas percebi que ainda usava os coturnos, e as adagas negras estavam fixadas contra minhas pernas.

Minha pele reluzia, pálida e limpa, sem mais a sujeira da fuligem, nem os arranhões que ganhei durante a luta, e com aquela percepção, meus dedos voaram para onde deveria estar as marcas que a fênix havia feito, mas ali só havia pele nova e lisa.

− Kishan? – murmurei, mesmo sabendo que aquilo era inútil, pois meu tigre negro não estava ali comigo, e meus olhos encheram de lágrimas devido ao medo que tomava conta de mim, frente àquele desafio que fora posta.

−Por que você não voltou para casa, Mia? Deixou sua mãe muito preocupada. – A voz de meu pai, fez-me arregalar os olhos e olhar mais uma vez para o centro do picadeiro, onde um homem familiar, usando jeans surrados e uma camisa xadrez de flanela chamou minha atenção.

Ele tinha cabelos curtos, e castanhos como os meus, mas algumas mechas brancas já eram perceptíveis, mas mesmo assim ele sorria, e meu coração se encheu de uma quentura familiar, e eu levantei-me descendo as arquibancadas de forma estabanada, enquanto lágrimas borravam minha visão.

− Papai! – gritei, mas ele não me ouviu, e continuou a olhar para um ponto atrás de mim, com o mesmo sorriso carinhoso.

Estava parada na frente do homem que eu nunca deixaria de amar, e mordi o lábio inferior com força, tentando conter os soluços. Tentei acariciar sua bochecha, como ele sempre fazia comigo, mas minha mão atravessou seu rosto e eu gemi de tristeza, ao perceber que não era real.

− Eu estava brincando com o Mattie, papai. – Girei nos calcanhares para ver minha versão infantil, parada em minha frente enquanto torcia a barra da blusa da Barbie e sorria com os dentes faltando.

Os cabelos presos em duas tranças estavam sujos e embaraçados, e as roupas estavam marrons de lama. Os olhos azuis elétricos olhavam além de mim, e sabia que ela sorria para papai.

− Oh, Mia! Você nos matou de preocupação. – Um voltou passou correndo por mim, indo parrar em frente a menina, antes de se agachar e pegá-la no colo, abraçando-a forte.

Tampei a boca ao ver minha mãe, segurando minha forma infantil nos braços com ternura, sussurrando algumas palavras no ouvido da menina encardida de lama, que sujava as roupas de bailarina que ela usava.

Seus cabelos de um castanho muito escuro caiam em mechas do coque que ela usava, e as ondulações já eram visíveis. Os olhos grandes e azuis eram muito semelhantes aos meus, mas reluziam carinho e amor quando os olhei, naquele momento. Seus lábios finos beijavam a cabeça da menina em seus braços e seu corpo esguio protegia o copo pequeno da filha.

− Mamãe. – Minha voz saia falhada e eu abracei meu corpo com os braços, olhando para aquele pequeno momento em que papai e mamãe me abraçavam.

Antes que eu esperasse, a imagem dos três sumiu como fumaça, e agora eu estava no trailer de nossa família, sentada ao lado da minha versão já crescida, com quinze anos, vestindo os mesmos coturnos que eu calçava, olhando para uma moeda cor bronze que passava entre os dedos com agilidade.

Gemi ao perceber que eu estava de volta para a cena do acidente, e fechei os olhos, tentando fazer com que aquela memória fosse embora, mas assim que os reabri, ainda estava no mesmo lugar.

Encolhi meu corpo, sabendo que o estava por vir, e olhei para os bancos onde papai e mamãe estavam, enquanto riam alegremente ao som de Elvis Presley. Papai contava histórias para mamãe, enquanto dirigia e eu olhei para os dois com admiração.

Olhei para a minha versão de quinze anos e entrei em desespero quando a vi remexer na mochila, tirando uma carta amassada e arregalando os olhos com a surpresa.

Tentei segurar-lhe o braço, para impedir que fosse até onde os pais estavam, mas como na visão passada, meus dedos apenas atravessaram seu corpo.

− Não! Não, não, não! Não quero ver isso! Tire-me daqui, não consigo! – gritava, debatendo meu corpo e beliscando minha pele, na esperança de voltar para o templo. – Kishan, tire-me daqui!

Lágrimas gordas caiam por minha face, e eu soluçava, vendo a menina correr em desespero para onde os pais estavam chamando a atenção deles.

− Precisamos parar em uma cidade, agora! – A Mia de quinze anos balançou a carta na frente do rosto de mamãe, que sorriu com a afobação da filha. – Esqueci-me de deixar a carta para Matt, ele ficará muito preocupado sem notícias minhas.

− Podemos coloca-la no correio quando chegarmos em Bryson. – Papai tentou acalmar a filha elétrica, e eu implorei para que ela concordasse e voltasse ao meu lado, mas a cena continuou.

− Demoraremos dois dias para atravessar os Estados Unidos até Bryson, papai, não posso esperar tanto tempo – A menina afirmou, ainda balançando a carta na frente dos pais, tomando toda a atenção deles.

A estrada estava vazia, mas a neve já cobria o asfalto e a paisagem montanhosa em que estávamos, e eu gritei, querendo chamar a atenção deles, em uma tentativa de impedir o que estava por vir.

− Mia, nós avisamos para o pai de Matt que estávamos indo embora – Mamãe disse, tocando o braço da menina de forma acolhedora.

− Não posso deixar o Matt, mamãe – As palavras embaladas com o choro, foram as últimas que eu havia dito para minha mãe, e naquele momento, queria poder voltar ao tempo, apenas para dizer que a amava.

− Você não... – Papai começara a dizer a frase que nunca terminou, pois naquele momento, os faróis do caminhão nos segaram, e os pneus do trailer derrapando no gelo foram o último som que eu ouvi.

Meu choro agora era intenso, e eu estava de joelhos no chão, abraçando o corpo enquanto gritava palavras sem sentido para a escuridão em que eu me encontrava, enquanto soluçava cada vez mais forte.

− Por que? Por que você fez eu reviver tudo aquilo? – Eu gritava, na esperança de que a deusa pudesse está ouvindo. – Foi minha culpa! Minha! Eles não estão mais aqui, e é tudo culpa minha! Era isso que queria ouvir?

Ouvi uma risada perto de mim, e levantei a cabeça para encontrar comigo mesma parada de pé em minha frente, com um sorriso diabólico nos lábios e roupas que se misturavam com a escuridão do lugar em que estávamos.

Entretanto, seus olhos não eram azuis, mas sim vermelhos como o fogo, e eu me levantei, olhando-a de forma curiosa.

− Quem é você? – perguntei, mesmo sabendo que aquela era uma pergunta idiota.

− Eu sou você, Amélia. – Sua voz idêntica à minha pegou-me de surpresa, e eu dei alguns passos para trás, tropeçando no tecido branco do vestido.

− Isso é loucura. – Balancei a cabeça, enquanto a outra Mia estudava-me com divertimento. – Seus olhos são vermelhos.

− Eu sou o fogo que ainda queima em você, menina – ela disse, agora de forma séria. – A dor por saber que por sua culpa, seus pais estão mortos.

As palavras dela fizeram-me ofegar e eu me afastei mais ainda, limpando as lágrimas de meus olhos, enquanto a via sorrir de forma cruel, frente ao meu desespero.

− Eu não... – Comecei, mas fui cortada por minha forma de olhos vermelhos, que agora começava a se aproximar como um gato.

− Não minta para si mesma, sua tola – ela gritou, fazendo-me tampar os ouvidos e balançar a cabeça. – Você sabe que se não fosse por sua carta idiota, seu pai teria visto o caminhão.

− Eu não queria! – rebati, olhando com desespero para os olhos vermelhos que agora pareciam se mover como labaredas de fogo.

− Por sua causa, sua vida acabou e só restou a dor. – Ela apontou para si mesma com orgulho, e balancei a cabeça. – E agora eles se foram, e você está sozinha.

− Isso é mentira – gaguejei, sentindo meu corpo ficar fraco e começar a tremer. Olhei para meus braços, que não brilhavam mais, mas agora estavam pálidos como se eu estivesse morta.

− Não adianta dizer essas palavras para mim, Amélia, porque eu sou a sua dor, e por eu estar aqui, isso mostra que você ainda me consome com a culpa – ela explicou como se falasse com um bebê, mas eu apenas arregalei os olhos e balancei a cabeça. – E eu nunca a deixarei!

− Os policiais disseram que a estrada estava molhada com a neve e era muito estreita para conseguir escapar do caminhão desgovernado – rebati, lembrando das palavras do policial bondoso que tentava me confortar, quando acordei no hospital.

− E você nunca acreditou nisso – ela completou minhas palavras, fazendo-me arregalar os olhos e olhar em volta, em busca de uma saída, pois agora ela se aproximava com um olhar mortal.

− E agora, eu consumirei você, Amélia Campbell, com sua própria raiva e dor. – Ela gargalhou, fazendo-me agachar para pegar as lâminas negras, que emanavam um calor reconfortante.

Sabia que para vencer meu próprio eu, haveria de me abrir por completo, deixando que os sentimentos e palavras guardadas fossem finalmente libertas.

− Eu não acreditei! Por quatro anos eu me culpei pela morte de meus pais, achando que eu merecia viver sozinha – disse, espantando-me com minha própria voz, que saia firma e confiante. – Mas você estava errada ao dizer que eu não tinha ninguém, porque eu tenho Matt, eu tenho Kishan e Kadam, e até mesmo Nilima! E essas pessoas me deram amor, e me mostraram que eu tinha culpa daquele acidente, e eu sei agora, que eu ainda tenho meus pais comigo, em meu coração.

− Menina tola! – Minha forma de olhos vermelhos, gritou, vindo em minha direção com mais velocidade, enquanto eu apenas sorria e empunhava as adagas.

− E você agora é só um resquício da raiva e dor que eu já senti, e eu derrotarei você de uma vez por todas. – Com aquelas palavras, ataquei, sentido a fúria da menina em minha frente, mas eu apenas abaixei meu corpo e dei-lhe um rasteira, fazendo-a cair no chão.

Parei em cima do corpo da menina, que se debatia em fúria, e cerrei os dentes antes de se me agachar em seu peito, afundando a adaga negra onde eu sabia que ficava o coração. Vi os olhos de fogo da menina se apagarem, e rapidamente um grito escapou de meus lábios quando uma dor em meu próprio coração deixou minha visão borrada, e quando percebi, estava no chão com os olhos fechados, sendo invadida pela escuridão.

Abri os olhos abruptamente, levantando meu corpo e respirando ofegante enquanto minha visão se adaptava com o novo lugar em que eu estava.

Não sentia mais dor, e agora meu corpo e meu coração pareciam renovados, fazendo-me abrir um sorriso enquanto tentava me levantar.

− Mia! – A voz de Kishan fez meu peito se acelerar, e quando percebi, ele estava ao meu lado, agachado enquanto apoiava as mãos na base de minha coluna. Percebi que estive adormecida em seu colo e rapidamente olhei para meu corpo, encontrando o mesmo vestido branco e a pele brilhante.

Voltei-me para o moreno que me olhava com desespero, e os olhos dourados refletiam dor, fazendo-me envolver seu pescoço com os braços e o puxar para um abraço apertado, afundando meu rosto na curvatura de seu pescoço, enquanto sentia se perfume familiar.

− Você está bem, bilauta? Eu senti tanto medo, achei que perderia você – ele sussurrou em meu ouvido, envolvendo meu corpo com os braços fortes e me apertando contra si.

− Estou bem agora, Kishan –disse, sabendo que era verdade. – Eu vi meus pais, e vi o acidente.

Minha confissão fez com que o corpo de Kishan ficasse tenso, e percebi que ele olhava com raiva para Durga, que permanecia em silêncio enquanto nos observava. Ele beijou minha testa com carinho e ajudou-me a levantar, olhando com curiosidade para a minha pele brilhante e o vestido branco.

− Você completou o desafio com sucesso, Amélia. – A voz da deusa era orgulhosa, e ela sorria para mim de forma verdadeira. – Os tigres agora têm seis horas como humanos.

− Obrigada. – Eu sorri para Durga, sabendo que ela entenderia sobre o que eu estava agradecendo.

− O fogo é um elemento purificador, e ele libertou sua alma da dor que lhe consumia – ela disse, acariciando seu tigre negro com carinho. – Vocês foram bem sucedidos nesta primeira etapa, mas ainda terão muito desafios pela frente. Saibam que têm a minha benção.

Com aquelas palavras, a Deusa deu seu último sorriso antes de voltar à ser a estátua de antes, que olhava para o templo de forma severa.

− Nós conseguimos, Kishan – disse, voltando-me para o meu tigre que me observava de forma séria. – Não está feliz?

− Estou preocupado com você. – Ele entrelaçou nossos dedos, puxando-me para mais perto de seu corpo. – Está tudo bem?

− Está mais do que bem, tigre – garanti, ficando nas pontas dos pés antes de selar nossos lábios. – Eu amo você.

Ele soltou meus dedos e envolveu minha cintura, girando-me no ar enquanto eu sorria no meio do beijo, segurando-me em seus ombros enquanto Kishan ria, fazendo com que os olhos de pirata brilhassem novamente.

− Não se esqueça que agora eu tenho seis horas para poder lhe beijar – ele advertiu, tocando o tecido de meu vestido com um sorriso malicioso no rosto, enquanto puxava-me para que saíssemos do templo, que agora estava na penumbra das tochas.

− Vou cobrar – disse, no momento em que o vento gelado da noite açoitou nossos corpos, fazendo-me tremer enquanto íamos de encontro ao Jeep.

Olhei para o céu e sorri para as estrelas, sabendo que meus pais estavam lá, brilhando para mim. Meu coração bateu mais forte e eu apertei a mão de Kishan na minha, sentindo uma única lágrima escorrer por minha bochecha.

− Eu amo vocês.

Continua...


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