Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 28
Primeiro Desafio


Notas iniciais do capítulo

Olá, tigers!
Aqui está mais um capítulo grandinho de Caçada, e acho que todos os capítulo que tiverem lutas vão ficar grandes :)
Espero que gostem!
Boa Leitura!



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O sol acabara de nascer, e eu estava sentada na beirada da cama, já arrumada, olhando para a palma de minhas mãos enquanto balançava os pés que não tocavam no chão. Perdida em pensamentos, não percebi quando o enorme tigre negro entrou pela porta da saca, a qual eu descobri na noite anterior, ser ligada com a do quarto de Kishan.

Só notei os tão familiares olhos dourados quando o tigre ronronou, passando a cabeça pela minha perna, coberta pela legging preta e com cruzes em branco.

− Olá, Kishan – murmurei, acariciando suas orelhas felpudas. – Preparado para hoje?

Não havia voltado para meu quarto depois da conversa com Kishan naquela noite, acabando por dormir em sua enorme cama, usando o corpo quente do tigre como travesseiro. Mas só depois de vestir minha legging preta juntamente com a blusa preta e colada ao corpo, foi quando percebi o que estávamos prestes a fazer, e olhei para meu reflexo no espelho com todos os medos que estavam tomando conta de mim.

O tigre pousou a grande cabeça em meu colo, lambendo meus dedos quando acariciei seu focinho, sabendo que eu ele queria responder a minha pergunta.

Eu queria ver sua forma de homem, apenas para que ele abrisse um sorriso convencido, falando alguma coisa irônica que me faria rir, mas Kadam havia proibido Kishan de se transformar até chagarmos no templo de Durga.

− Prometo que dessa vez não irei perturbar abelhas assassinas – garanti, batendo continência enquanto o tigre rugia baixinho, e soube que ambos pensávamos nos dias em que passamos na floresta em busca de Phet.

Deitei minha cabeça contra a de Kishan, e abracei com força seu largo pescoço peludo, fechando os olhos enquanto ouvia-o ronronar novamente. O colar em meu peito tocou quente em minha pele, o que fez-me lembrar de minha promessa à Kishan.

− Vamos quebrar uma maldição – disse de forma confiante, soltando meu tigre enquanto pegava a enorme mochila que Kadam havia deixado em minha porta, para que eu guardasse meus objetos necessários.

Desci as escadas com pulos, sendo seguida com cautela por Kishan, que parecia estar muito atento naquele dia. A casa estava vazia com uma aparência impecável devido à luz do Sol que entrava pelas largas vidraças.

Encontrei Kadam ao lado do Jeep enquanto conversava com Nilima e eu sorri ao me aproximar dos dois, sendo puxada para um abraço pela garota que usava um lindo vestido florido. Ela não disse nenhuma palavra, apenas olhou-me com seus olhos de amêndoa e sorriu.

− Estamos prontos? – Kadam perguntou, tomando a mochila de meus ombros e a colocando no banco ao lado do motorista.

− Mais do que prontos – garanti, abrindo a porta dos bancos traseiros para que Kishan pulasse para dentro, aconchegando-se ao lado da janela.

Pulei para dentro do Jeep, sentindo a cabeça de Kishan sendo deitada em minhas pernas no momento em que acomodei-me no banco do meio, vendo Kadam ligar o carro enquanto o tirava da entrada para carros.

Passava a mãos pelo pescoço do tigre no momento em que entramos na trilha tão conhecida, a qual nos levaria para uma grande estrada pavimentada, mas no último instante, olhei para trás, encontrando a enorme casa se afastando e Nilima acenando freneticamente para nós.

− Irei deixá-los próximo ao templo Ambika Mata e esperaremos até o anoitecer par que vocês possam entrar – Kadam disse, fazendo com que minha atenção voltasse para o homem que dirigia de forma tensa. – Apenas queria poder ir com vocês.

− Já conversamos sobre isso, senhor Kadam. – Toquei brevemente o ombro do velho homem, recebendo um sorriso carinhoso. – Não sabemos o que encontraremos lá e quanto menos pessoas colocarmos em perigo, melhor, e isso inclui o senhor.

Em meu colo, Kishan rugiu alto como uma forma de concordância, fazendo com que Kadam risse, balançando a cabeça de forma afirmativa, enquanto seguíamos pela rodovia sem muito movimento para aquela hora da manhã.

A viagem seria de quatro horas e meia, e logo eu estava com meu caderno de desenho em mãos, rabiscando a folha com o lápis preto quase no fim. Inicialmente, meus dedos desenharam uma cabeça de tigre, rugindo com os olhos ferozes e esfumacei a pelo do felino para que se tornasse preto, mas em pouco tempo os traços de um rosto começaram a surgir, e eu me peguei desenhando a forma humana de Kishan.

Os olhos do desenho eram intensos e eu dava os últimos retoques no sorriso de lado – uma característica comum em Kishan −, enquanto observava o colar que eu havia lhe dado desenhado por cima da camisa preta.

Mordi meu lábio inferior ao olhar para aquela folha de papel, sendo encarada pelo tigre e pelo homem, que pareciam completar um ao outro; e devo ter chamado a atenção de Kishan em algum momento, pois agora o tigre levantara a cabeça para olhar em meu caderno.

Senti meu resto esquentar e batuquei o lápis contra os lábios enquanto via Kishan observar com cuidado o desenho de si mesmo, antes de voltar os grandes olhos dourados para mim com diversão.

− Eu sei, não acertei no seu cabelo – disse por fim, vendo o tigre tombar a cabeça para o lado e bufar, o que me fez sorrir e lhe acariciar as orelhas antes de assinar meu nome no desenho. – Acho que vou colar esse no meu quarto.

Deixei algumas raspas de lápis cair contra o fundo branco passando o dedo para criar um esfumaçado contornando tanto o tigre contra o homem. O príncipe estava desenhado apenas até o peito, antes de começar a cabeça do tigre, mas uma enorme vontade de desenhar Kishan de corpo inteiro tomou conta de mim, e uma curiosidade de delinear todos os músculos com o lápis fez-me esquentar por dentro.

Fechei o caderno com força, percebendo que minha respiração estava ofegante, fazendo com que Kishan olhasse para mim de forma séria. Guardei o desenho de volta na mochila, pegando o exemplar de Oliver Twist que eu havia encontrado na biblioteca de Kadam. Meus olhos corriam pelas palavras, mesmo que minha mente não assimilasse os parágrafos que lia, até que senti algo gelado e meu braço e percebi que o tigre me lambia.

− O que? – perguntei, abaixando o livro e estudando suas feições brincalhonas quando seu focinho tocou a capa de Oliver Twist. – Pensei que você não tinha paciência para ler.

Minha provocação fora respondida por um rugido baixinho, enquanto o tigre me encarava com a cabeça caída para o lado, até que as palavras de Kishan na noite passada voltaram para minha mente.

“Gosto de ouvir sua voz, bilauta, me acalma.”

E assim, retomei a leitura na parte em que Oliver começa a bater carteiras pela cidade de Londres, ouvindo minha própria voz elevar-se ao som do motor do carro, enquanto Kishan voltava a pousar a cabeça em meu colo, e notei que até mesmo Kadam prestava atenção em minha narrativa sobre o menino órfão.

Quando finalmente paramos em um auto posto depois de horas pela rodovia, pulei do carro soltando um gemido de prazer ao esticar as pernas, vendo Kadam conversar em híndi com o frentista.

− Fique ai e eu lhe trago ao para comer, certo? – sussurrei para Kishan, que estava deitado no banco para não chamar a atenção das pessoas.

A loja de conveniência era pequena e apertada, com itens de higiene ao lado dos pacotes de Cheetos, mas tudo parecia muito limpo, com uma música indiana calma saindo das pequenas caixas de som.

A fim de experimentar algo típico indiano ao invés de comprar uma grande barra de Milka, dirigi-me até um pequeno balcão que expunha doces em cestos, cobertos por panos transparentes.

Tudo ali se aparentava com doces, mas eu não conhecia nenhuma das comidas expostas, mesmo a que se parecia muito com um cookie.

− Está em dúvida sobre o que escolher, senhorita? – Uma voz carregada com sotaque híndi chamou minha atenção e eu levantei minha cabeça para encontrar olhos castanhos e um sorriso.

O garoto em minha frente parecia ter minha idade, com poucos centímetros a mais que eu e com a pele oliva característica. Seu cabelo era negro e o nariz alongado dava-lhe a perfeita imagem de um indiano, juntamente com suas roupas coloridas.

− Gostaria de algo doce, mas não conheço nada do que está aqui – confessei, vendo o sorriso do garoto alargar.

− Então é mesmo americana – ele disse de forma baixa, fazendo-me olhar com surpresa para ele.

− Como descobriu?

Como resposta, senti seus olhos correndo por minhas roupas e rapidamente olhei em volta, percebendo que eu era a única mulher que não usava roupas típicas da Índia, nem mesmo joias brilhantes e chamativas.

− Chamo-me Palak – disse o menino, abrindo mais um de seus sorrisos.

− Sou Mia. – Sorri, sentindo que seus olhos corriam pelo meu corpo mais uma vez, e desviei o olhar. – Então, Palak, pode me ajudar a encontrar uma guloseima?

− O que mais vendemos é o Barfi, um bolo com coco e amêndoas. – Ele apontou para onde o pequeno bolo cortado em retângulos estava, com uma cor creme convidativa.

Assim que entreguei algumas notas para a mulher rechonchuda que se parecia muito com Palak, empurrei as portas duplas no momento em que ouvi uma voz brava gritando palavras cheias de sotaque.

− Você tem que parar de flertar com todas as meninas americanas que entram aqui, Palak, você está noivo! Por Shiva!

Segurando o riso, encontrei Kadam de volta ao Jeep e lhe entreguei um dos bolinhos antes de sentar-me no banco traseiro, chamando a atenção de Kishan, que levantou a cabeça e balançou a cauda.

− Tenho alguma coisa para nós, Palak disse que são os mais vendidos – disse, colocando o bolo fofinho ao lado de Kishan, que ignorou a comida e me fitou com os olhos felinos. – Ah sim! Palak é o atendente que gosta de flertar com americanas mesmo estando noivo.

Ouvi o rugido de Kishan quando voltamos para a estrada, fazendo-me rir enquanto mordia o delicioso bolinho, que derreteu-se em minha boca, enquanto Kishan abocanhava o doce como se fosse o pobre menino da loja de conveniência.

Em menos de uma hora, passávamos pelas ruas estreitas do vilarejo de Jagat, onde as casas eram construções altas e majestosas, feitas de pedras brancas que reluziam com o Sol. Ao olhar para o horizonte conseguia ver o Monte Abu, uma elevação arredondada da paisagem, mas o Jeep foi para a direção oposta, até que o fluxo de carros começou a aumentar.

Era fim de tarde, mas um fluxo intenso de turistas ia e vinha do grande ponto turístico da cidadezinha, o Templo de Ambika Mata. Homens indianos gritavam palavras em híndi, alguns apontando para estacionamentos, e outros oferecendo pequenas bonecas da deusa Durga, com as roupas chamativas e os oitos braços.

− Sempre pensei que o deus do hinduísmo era Ganexa− comentei, apontando para os bonecos com cabeça de elefante, fazendo com que Kadam risse.

− Ganexa é filho de Parvati, uma das manifestações de Durga. Parvati é uma deusa benevolente, conhecida como a deusa mãe, ela era esposa de Shiva, o deus do hinduísmo – Kadam explicou, apontando para o desenho de um homem com a pele azulada, segurando um tridente.

− Tudo isso é muito confuso – disse por fim, passando a mão pelo dorso de Kishan enquanto o Jeep cortava entre as pessoas, até estacionar em baixo de uma grande árvore, que percebi ser Sândalo. – Tudo aqui tem uma ligação sagrada.

O templo ficava no topo de um pequeno morro, e as pessoas tinham que subir longas escadarias para chegar ao topo, mas o que chamou minha atenção foram as estatuas que guardavam o portal das escadarias.

Do lado esquerdo havia um enorme tigre de pedra, rugindo para as pessoas que tiravam fotos ao seu lado, enquanto à direita estava um leão com uma expressão dura talhada na mesma pedra do tigre.

− Aposto que ganharíamos um bom dinheiro se você saísse lá fora – disse, voltando-me para Kishan. – Diria que você é um tigre domesticado e que os turistas podiam tirar uma foto ao seu lado.

Kishan bufou e olhou-me incrédulo enquanto eu sorria de forma marota, voltando-me para a janela. Meu olhar subiu até encontrar a enorme construção do templo, feita de pedras claras, com tetos redondos e pontudos, de formas trabalhadas, juntamente com pilares com a base esculpidas em forma de elefante.

− Mal vejo a hora de entrar no templo – comentei, vendo a multidão descendo as escadas e se afastando do monumento, até que a última pessoa passou por nós, e um homem vestindo uma farda cor verde passou correntes por armações de ferro na entrada das escadarias.

O sol lançava seus últimos raios pelo céu, no qual já podia se ver as inúmeras estrelas a medida que escurecia. Kadam foi o primeiro a sair do carro, inspecionando o local enquanto eu pisava na grama verde, segurando a porta para que Kishan finalmente saísse do carro.

O tigre rugiu e balançou a cauda, andando em círculos em volta de meu corpo antes de bater em minha perna com o enorme corpo.

− Por que não diz um “olá” aos seus amigos felinos enquanto pego nossas coisas? – zombei, apontando para as estátuas do tigre e do leão, enquanto contornava o carro para buscar a mochila no banco da frente.

− Talvez eu queira dizer “olá” para o seu amigo do posto de conveniência, bilauta. – A voz de Kishan pegou-me desprevenida, fazendo-me girar nos calcanhares para encontrar o homem alto e moreno atrás de mim.

− Príncipes devem ter compostura, senhor – disse, com a voz gracejada enquanto observava o rosto de Kishan que se tornava sedutor na penumbra da noite, enquanto seus lábios se voltavam para cima em um sorriso de lado.

− Desculpe-me, minha senhora, mas não permitirei que nenhum homem a corteje além de mim. – Sua voz grave fez-me arrepiar enquanto o via fazer uma reverencia em minha frente.

− Vossa alteza é muito ciumento. – Voltei-me para a mochila enquanto ouvia sua risada melodiosa atrás de mim.

Abri a mochila para encontrar o par de adagas reluzindo as lâminas negras, e as peguei, agachando-me para prende-las em meus coturnos. Kishan ainda me olhava quando fechei a porta do carro e eu sorri enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo alto e firme.

− Você está completamente ameaçadora, tigresa – Kishan envolveu minha cintura com os braços, puxando-me para mais perto enquanto pousava os lábios no topo de minha cabeça. – Prometa-me que o quer que aconteça no templo, você continuará comigo.

− Apenas se você prometer o mesmo – rebati, puxando-o pelo colar em seu pescoço, pronta para selar nossos lábios quando a voz de Kadam nos surpreendeu.

− Não há mais ninguém nos arredores, acho que vocês já podem entrar. – Ele parou ao nosso lado, com uma expressão preocupada no rosto.

− Ficaremos bem, senhor Kadam – prometi, abraçando o velho homem com ternura antes que ele desse tapinhas no ombro de Kishan, que sorriu.

− Estarei aqui! – ele gritou, no momento em que Kishan e eu pulávamos as correntes de proteção, a caminho das escadarias.

Nossos passos contra as pedras eram os únicos sons audíveis, e rajadas de vento açoitavam nossos corpos, fazendo-me esfregar os braços e olhar para as criaturas esculpidas nas estátuas. Os olhos esbugalhados e as línguas para fora, juntamente com dentes afiados enquanto as criaturas empunhavam armas primitivas fariam qualquer um ter pesadelos a noite, mas eu apenas desviei o olhar.

− Tudo está muito silencioso – Kishan comentou, quando paramos na entrada do templo, com flores de lótus adornando as paredes.

− O que exatamente deveria estar acontecendo? – perguntei, sentindo a essência das flores me invadir.

Kishan olhou para mim e tomou minha mão na sua, entrelaçando nossos dedos e fazendo-me corar quando ele beijou nos nós de nossos dedos unidos, antes de voltarmos a andar com passos curtos em direção à entrada do templo.

Meus olhos foram tomados por uma confusão de cores e brilhos, estátuas e pinturas no momento em que pisamos no chão avermelhado do templo. Duas criaturas protegiam as entradas, empunhando lanças enquanto nos encaravam com a mesma expressão assustadora que as estátuas da escadaria.

O cheiro de lótus ali era mais intenso, e tochas iluminavam o local, fazendo-me estudar as pinturas nas paredes, que contavam a história da deusa. Durga montada em seu tigre apareciam em todas, e entre elas, seu nascimento saindo das águas do Ganges e ela m, matando um demônio pintado de preto.

Ao fundo, duas escadarias curvadas levavam à um altar, onde estátuas de pessoas reverenciavam Durga, oferecendo-lhe comida e animais.

Voltei-me para o piso avermelhado no momento em que percebi leves movimentos vindos da pedra, e eu franzi o cenho, imaginando que o cheiro de lótus e de incenso estavam-me fazendo ter alucinações.

− Kishan, por acaso o chão está se mexendo como labaredas de fogo? – perguntei, no momento em que senti um braço me empurrando para longe.

Balancei a cabeça e foquei meu olhar em Kishan, que recuava para mais perto de mim, com o corpo tenso, mas assim que meus olhos encontraram o que ameaçava o tigre negro eu abafei um grito.

As estátuas que protegiam a entrada agora se moviam, e agora eles pareciam vivos, com as peles alaranjadas, vestindo joias e calças bufantes e azuis, expondo o peito com desenhos que pareciam flamas de fogo. Eles apontavam as lanças para nós, sem por nenhum momento tirarem a expressão assustadora dos rostos, mostrando os dentes pontudos e as línguas bifurcadas.

Agachei-me para pegar as adagas e as firmei nas mãos, indo para o lado de Kishan, que me olhou de forma feroz.

− Acho que descobrimos qual será nosso desafio – ele disse, enquanto protegia meu corpo com um dos braços.

− Olhe! – gritei, apontando para o chão, que agora havia se transformado em lava em certos pontos, deixando poucos espaços em pedra vermelha. Do fogo, saíam criaturas mais assustadoras que os próprios homens em minha frente. – O que é aquilo?

− Esfinges! – respondeu Kishan, ainda nos afastando dos homens com as lanças.

Olhei para as criaturas que possuíam corpo de leão, com assas de águia enormes e colossais, enquanto o cabeça era de uma mulher, mas com feições distorcidas enquanto ela produzia um barulho como um grito e um rugido.

− Esfinges? Pensei que elas eram do Egito! – Olhava para o chão, tentando desviar dos novos pontos de lava. Quando animais reluzentes começaram a sair do chão junto com as esfinges.

Tinham corpos que queimavam como flama, mas as cabeças pareciam com a de um dragão e percebi que podiam cuspir fogo e deduzi que seriam algum tipo de Fênix, não tão bonitas como nos desenhos.

− Precisamos lutar! – Kishan olhou para mim, com os olhos de pirata escuros enquanto cada músculo do corpo se tencionava. – Não devo ter muito tempo.

− Estou pronta – afirmei confiante, olhando para os monstros que se aproximavam de nós, como se fossemos estivessem animados por finalmente terem algo para comer depois de milênios.

Assim que ficamos de frente para as criaturas assustadoras, Kishan se transformou em tigre, saltando em direção ao primeiro homem que atirou a lança contra o borrão negro no ar, mas os dentes do animal já estavam no ombro da estátua.

Corri para o segundo homem, colocando as adagas na frente de meu corpo enquanto via a ponta da lança cada vez mais próxima. No último segundo, derrapei pela linha de chão que ainda estava intacta, passando por debaixo das pernas do homem e saltando quando já estava em suas costas, cravando uma das lâminas negras onde eu sabia estar a jugular, deixando o corpo se debatendo para trás.

Ao meu lado, Kishan estava novamente em sua forma humana, segurando a lança do homem que havia matado nas mãos, atacando uma das fênix que planava em sua frente, cuspindo fogo.

Ouvi o grito esganiçado que doía o ouvido, e logo me voltei par onde a esfinge estava, vindo em minha direção. Levantei o braço para lançar a adaga direto na cabeça da mulher, mas garras arranharam minhas costas, fazendo-me gritar de dor.

Meus olhos captaram uma fênix atrás de mim, que expunha as unhas afiadas da pata, enquanto a esfinge se aproximava, gritando. A grande pata de leão estava perto do meu rosto e eu tentava acertá-la com as adagas, mas a dor em minhas costas queimavam como fogo, deixando minha visão embaçada.

Um vulto preto soltou em minha frente, e Kishan novamente como tigre, rugia para a esfinge com as patas no ar, em uma batalha com a mulher-leão. Cerrei os dentes e agarrei o amuleto de Damon em meus dedos, sentindo a sensação de quentura envolver meu corpo, concentrando-se nos machucados das costas.

Em poucos segundos, a dor havia sido consumida, mesmo eu sabendo que minha pele ainda expunha os arranhões, mas me levantei de forma bamba, correndo até a esfinge que lutava com Kishan, alheia a minha presença.

Afundei minha adaga na lateral de seu corpo com um grito, vendo o animal desabar no chão e ser consumido pela lava.

− O que aconteceu? – Kishan perguntou, tomando uma das lâminas negras de minhas mãos e jogando em direção à uma fênix, acertando-a no peito de forma certeira.

− O amuleto! – respondi, vendo a criatura se desintegrar no fogo.

Olhei para o peito de Kishan e percebi que o tecido de sua camisa estava queimado no abdômen, formando uma grande bola que expunha a pele morena que estava enrugada e vermelha.

− Você se queimou! – gritei de forma raivosa, lançando a outra adaga na fênix que se aproximava, acertando a cabeça de dragão.

− A esfinge me jogou contra a lava, mas está curando – ele assegurou, apontando para a pele que voltava a sua forma normal rapidamente.

No momento em que a última fênix foi consumida pelo fogo, um rugido chamou minha atenção, apenas para encontrar os vários tigres de Durga pintados na parede ganhando vida, vindo em nossa direção.

− São todos Damons? – perguntei confusa, quando vários tigres negros, com olhos de fogo rugiram para nós.

− Cuide deles, bilauta! – Kishan gritou, apontando para os três tigres que vinham em minha direção, antes de correr para mais três que encurralavam ele.

Olhei para os lados, buscando por minhas adagas, encontrando-as onde as fênix sumiram e corri até elas, tomando-as em minhas mãos mais uma vez, antes de virar-me com uma expressão feroz em meu rosto.

− Desculpem-me, garotos, mas eu só gosto de tigres com olhos dourados – grunhi, antes de correr em direção aos animais que rugiam para mim.

O tigre do meio saltou em minha direção com as garras à mostra, fazendo-me dar um giro para longo do animal que atacava. Deixando-me de cara com o segundo tigre e eu acertei-o com a sola de meu coturno, no meio da barriga, fazendo o animal rugir ao cair no chão enquanto eu o acertava com a adaga negra.

− Acredite, amigo, isso também dói em mim – murmurei vendo um sangue dourado sair do ferimento, até que o tigre desintegrou-se como os outros monstros.

− Mia! – Ouvi a voz de Kishan como um rugido, e rapidamente vi outro Damon pulando em minha direção.

Olhei para o chão e vi uma das lanças dos homens com dentes pontudos quebrada ao meio, e estendi-me até pegá-la, afundando a ponta da madeira no peito do tigre, que virou cinzas rapidamente.

− Muito bem, bilauta. – Kishan correu em minha direção, e eu percebi que um único Damon sobrará, e ele parecia muito mais feroz que os outros.

− Acho que ele não está feliz por termos matados seus amiguinhos – murmurei, olhando para Kishan que suava e respirava ofegante.

− Vamos acabar logo com isso – ele grunhiu, olhando para mim e tomando as adagas de minhas mãos. – Distrai ele para mim.

− Adoro servir de distração para os tigres. – Pisquei para ele, vendo-o sorrir enquanto corria para a esquerda do animal, enquanto eu caminhava em sua direção. – Vamos lá, Damon, seja um bom tigrezinho.

Minha voz chamou a atenção do tigre, e ele rugiu para mim, andando lentamente em minha direção, cercando-me. Foi quando Damon saltou e eu afastei-me correndo para trás, procurando Kishan com os olhos.

− Quando quiser, Kishan! – gritei, no momento em que o tigre ganiu, e ao olhar para trás, percebi que estava no chão, onde Kishan afundava a lâmina da adaga em sua garganta.

Soltei um suspiro pesado, o qual eu percebera que segurara desde o começo da luta, e dei passos lentos em direção à Kishan, que sorriu para mim, colocando as adagas de volta em meus coturnos antes de se levantar e beijar minha testa.

− Conseguimos – sussurrei, apoiando minha testa em seu ombro, sentindo meu corpo cansado.

− Você foi ótima – Kishan garantiu, fazendo-me sorrir enquanto o apertava em um abraço apertado.

− Kishan! – gritei, quando um pensamento passou por minha mente à milhão, fazendo-me olhar nos olhos dourados do homem abraçado comigo. – Você está na forma de homem a mais de vinte e quatro minutos.

Kishan arregalou os olhos e abriu a boca para dizer alguma coisa, enquanto seus olhos brilhavam em animação, mas ele não conseguiu falar, pois naquele momento uma voz nos interrompeu.

−Estive esperando por vocês – a voz feminina, reverberando pelo templo como sinos nos assustou, fazendo-nos soltar do abraço e olhar para o altar, onde antes estava a estátua da deusa.

Mas a imagem em minha frente fez-me soltar um ofego de surpresa, pois onde antes estava a estátua, uma mulher com a pele alaranjada e brilhante sorria para nós.

Continua...


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