Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 27
A promessa


Notas iniciais do capítulo

Olá, tigers!
Aqui está mais um capítulo de Caçada! Para a playlist dessa capítulo recomendo ROAR - KATY PERRY, pois foi a música que ouvi enquanto escrevia.
Esse foi o maior capítulo dessa fanfic e espero que recompense os meses sem postar.
Dedico esse capítulo à ANNS KRASY, por ter me ensinado um pouquinho sobre luta, corrigindo meu erro do capítulo anterior.
Espero que eu tenha acertado dessa vez, flor! ^^
Boa Leitura



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O sol mal estava a pino no céu e meu corpo já suava, e eu senti as gotas descendo pela minha testa e caindo ao chegar no queixo, enquanto eu acertava com fúria o boneco masculino com meus pés, reproduzindo os mais diversos tipos de chutes demonstrados por Kadam.

Ouvi um rugido alto quando meu pé conseguiu atingir a cabeça do boneco, em um chute letal, depois de várias tentativas falhas. Voltei meu corpo para a posição ereta e sorri para mim mesma com orgulho, olhando para o enorme tigre deitado ao lado do senhor Kadam.

Kishan balançou a cauda como um pai orgulhoso, mas seus olhos felinos me estudavam de forma predatória, e eu já começava a me arrepender de estar vestindo aqueles shorts colado e o top na mesma cor cinza.

− Não imaginei que a senhorita se sairia tão bem com as pernas – Senhor Kadam comentou, levando o boneco masculino de volta para o seu lugar, antes de postar-se ao meu lado com os braços cruzados enquanto eu tentava controlar minha respiração.

− Mamãe tentou me ensinar acrobacia com tecido, no Benzini Brothers, entretanto eu achava os truques de mágica do papai muito mais fascinantes. – Peguei uma das garrafinhas de água no pequeno frigobar, bebendo uma grande quantidade do líquido gelado em apenas um gole. – Mas, às vezes eu assistia aos ensaios de Cadence e as outras acrobatas, e muitas vezes elas me pediam ajuda, e eu acabei tendo alguma prática.

− Isso realmente foi de grande ajuda, senhorita Mia. – Kadam sorriu de forma paternal para mim, enquanto eu secava meu rosto com a toalhinha que ele havia me oferecido. – Você está muito melhor do que eu imaginava em seus treinos, e quero ir um pouco além hoje.

− Como assim? – Joguei a toalha em meu ombro, observando-o com curiosidade.

− Em batalha, seu adversário não ficará parado igual aos equipamentos. – Ele apontou para tudo em volta de si. – Eles se moverão e contra-atacarão.

− Não sei se estou pronta para ter uma luta corpo a corpo, senhor Kadam – disse, mordendo o lábio inferior.

− Concordo com a senhorita, mas hoje apenas treinaremos seus chutes em um alvo móvel – ele explicou, fazendo-me arregalar os olhos.

− Eu terei que chutar o senhor? – perguntei, mesmo sabendo que Kadam era um lutador excelente e que poderia me derrubar com um simples toque.

− Ah, não, senhorita Mia! – Kadam riu alto, fazendo com que as rugas em volta de seus olhos se afundassem e, rapidamente ele fez um sinal com a mão para Kishan, que levantou a cabeça peluda com atenção. – Importa-se, Kishan?

Não entendi o que estava acontecendo até o tigre se transformar no homem moreno que carregava um sorriso preguiçoso, andando em nossa direção com os passos lentos enquanto me estudava com malícia até parar em minha frente.

− Está pronta para me bater um pouco, bilauta? – ele perguntou de forma brincalhona, puxando a camisa preta para fora de seu corpo e a jogando para longe do tatame.

Meus olhos pousaram descaradamente para seu peitoral moreno e bem definido, indo até os inúmeros gominhos do abdômen e eu tive que balançar um pouco a cabeça para clarear a minha mente. Não estava acostumada com a visão do corpo de Kishan, sempre escondido pelas roupas pretas de algodão, mas aquilo fez com que eu corasse violentamente, olhando para Kadam sem entender o que ele planejava.

− Kishan será seu alvo móvel, Mia, e você tentará reproduzir tudo o que aprendeu hoje – ele explicou, fazendo ficar ainda mais surpresa e boquiaberta, voltando a encarar o homem que sorria para mim, apoiando o peso do corpo em uma única perna.

− Eu não vou conseguir fazer isso, você não é um alvo móvel, mas sim uma distração móvel – confessei, apenas fazendo com que o sorriso de Kishan aumentasse, e seus olhos de pirata brilhavam com mais intensidade.

− Isso é inevitável para mim, bilauta – Kishan gabou-se, piscando enquanto alongava os braços fortes e bem trabalhados. – Mas afinal, quem está distraindo quem?

Tomei consciência mais uma vez de minhas roupas, contrastando com minha pele pálida, mas firme, e agradeci mentalmente por minha barriga já não estar mais inchada depois do café da manhã reforçado de Nilima.

− Você tem seus truques, eu tenho os meus. – Dei de ombros de forma relaxada, mesmo sabendo que nada se compararia à visão de Kishan em minha frente, a qual deixava meu corpo em estado de combustão.

− Comece com os golpes baixos, Kishan é mais alto que os bonecos, logo a senhorita precisará se esforçar mais – Kadam recomendou, quebrando os flertes entre mim e Kishan.

− Pronto para chorar, tigre? – perguntei, colocando-me em posição de luta, enquanto Kishan apenas sorria de forma arrogante, sem mover seu corpo.

− Mostre-me o que sabe, bilauta.

E com aquelas palavras provocativas, eu avancei, levantando minha perna até a coxa direita de Kishan, mas meu chute foi bloqueado por um simples tapa de sua mão, e quando percebi, seu corpo estava em movimento, tão majestoso quanto sua forma de tigre.

Seu corpo girava em torno de mim, como se me encurrala-se, afastando-se algumas vezes ou até mesmo aproximando-se de meu corpo tenso, mudando o sentido de seus passos a cada troca de olhares que fazíamos.

− Não se esqueça, Mia, um tigre consegue farejar o medo – ele provocou, ainda se movimentando com um felino, estampando um sorriso maroto no rosto.

Normalmente, eu acabaria derretida por seu sorriso e completamente hipnotizada por seu belo copo se contraindo e relaxando enquanto Kishan respirava, mas ele havia ferido meus sentimentos femininos, e serrei os punhos, sentindo meu corpo se encher com a vontade de lhe chutar o traseiro real.

Movi-me com cautela e abaixei meu corpo, tomando impulso para dar um rasteira em Kishan, que apenas se afastou, tão furtivo quanto um gato. Bufei frustrada enquanto minha mente criava outro ataque para acertar o príncipe, mas ele era um guerreiro e possuía os reflexos de um tigre, tornando minha investida impossível.

− Você está sendo previsível, Mia, consigo ver em seus olhos o que planeja fazer – Kishan explicou, pegando-me de surpresa com suas palavras. – Seja criativa.

Apertei os olhos e forcei meus punhos fechados, encarando os olhos dourados de Kishan com os meus azuis, que zuniam de determinação. Não pensei muito daquela vez, apenas deixei que meu corpo se movesse com a adrenalina, e com uma investida, levei minha perna novamente para as de Kishan, em outra tentativa para lhe dar uma rasteira, mas no momento em que o tigre se moveu para desviar, mudei minha trajetória, pegando-o desprevenido enquanto meu pé batia de encontro com seu quadril.

Kishan olhou-me com espanto, e eu sorri convicta, sentindo uma onda de poder correr por meu corpo, e resolvi ser ousada, girando meu corpo como uma pena e levando minha perna até sua cabeça, mas minha investida foi infeliz.

As mãos de Kishan pararam meu movimento quando seguraram meu pé e eu ofeguei, pulando no único que me servia de apoio para recobrar o equilíbrio, enquanto ele tombava a cabeça, olhando-me com divertimento.

− Achou que seria tão fácil, tigresa? – O apelido novo fez com que eu me arrepiasse, quase perdendo o equilíbrio, e Kishan percebeu como suas palavras me afetaram, mas apenas me encarou de forma séria. – O maior erro de um guerreiro é a própria confiança, o excesso dela pode ser tão letal quanto a falta.

E ele soltou meu pé de forma delicada, voltando a abrir um sorriso provocativo, enquanto Kadam nos observava de forma séria e balançava a cabeça, concordando com as palavras de Kishan.

Nossa pequena luta continuou, e eu me sentia mais acesa agora que sabia que poderia atingir Kishan. Nossos corpos se moviam como uma dança, e meus chutes eram desferidos de tempos em tempos, as vezes em sua barriga, as vezes na cabeça, mas ele sempre conseguia bloqueá-los.

E depois de alguns minutos desferindo chutes no corpo de Kishan, o meu próprio já estava suado e cansado, enquanto o belo homem em minha frente estava intacto, como se não houvesse movido um dedo.

− Pode descansar agora, senhorita Mia. – Kadam bateu palmas, fazendo com que o corpo de Kishan relaxasse, enquanto eu desabava no chão, sentando-me com as pernas esticadas. – Você foi excelente na luta com as pernas, conseguindo acertar Kishan.

Meu corpo vibrava de alegria, e eu sentia uma pequena ponta de orgulho tomar conta de mim, mesmo que eu tenha errado os chutes mais do que acertado, mas ainda assim me sentia poderosa e adrenalina queimava em minhas veias.

− Cuidado, tigre! – Chego por trás de Kishan que pegava duas garrafinhas de água. Ele não havia se assustado, pois sabia que ele conseguia me perceber mesmo de muito longe, mas voltou-se para mim com um sorriso. – Agora eu posso desarmar você quando menos esperar.

Kishan deixou as garrafinhas sobre o frigobar, voltando-se para mim e tomando meu corpo em seus braços, e logo seu cheiro delicioso me invadiu quando senti seus lábios beijando as maçãs de meu rosto, antes de tomar os meus lábios nos dele.

Fora um beijo rápido, mais meu peito começou a pulsar com mais intensidade quando sua língua acariciou a minha antes de afastar-se de mim.

− Você sempre conseguiu, bilauta.

Passos vindos da escada chamaram nossa atenção, e assim que me voltei para a entrada da sala de treinamento, deparei-me com Nilima vestindo trajes simples indianos, em que uma grande camisa com estampas coloridas ia até o começo de sua coxa com uma legging dando continuidade, no mesmo tom da camisa, e em seu colo estava jogado com leveza um xale transparente.

− Mia, o que você acha de conhecer Nova Deli? – Nilima perguntou animada, colocando uma mão na cintura enquanto eu olhava para Kishan, sem entender.

−Nilima vai para a cidade comprar algumas coisas para reabastecer a dispensa – Kadam disse, chamando minha atenção. – Perguntou a mim se a senhorita poderia acompanha-la, e acho que será um ótimo passatempo.

− Eu adoraria! – exclamei com mais empolgação que o esperado, ao perceber que desde que chegara na Índia, nunca havia conhecido as cidades, mesmo sentindo vontade de caminhar pelas feiras livres e ver as pessoas amontoadas nas ruas.

− Não é uma boa ideia, Lokesh pode estar em qualquer e procurando por nós. – Kishan se opôs, tocando meu braço para que eu o olhasse.

− Quero sair, Kishan, quero conhecer algo diferente desta casa – implorei, tentando passar com meu olhar o desejo de poder sair.

− Então eu irei com você, quero ter certeza que estará segura – ele disse, olhando para Kadam de forma séria.

− Você não pode ir, Kishan, Nova Deli é uma cidade muito populosa e o risco de ser visto é enorme – Kadam contrapôs, fazendo Kishan resmungar em híndi. – Não podemos colocar nossa segurança em risco.

− Mia pode usar roupas indianas, e assim conseguirá se misturar melhor – Nilima propôs, fazendo-me sorrir enquanto beijava o rosto tenso de Kishan, seguindo ela de volta para meu quarto.

Quando nos acomodávamos no Jeep, eu vestia uma camisa semelhante a de Nilima, mas sem mangas e laranja, com bordados de flores em azul mar, que combinava com a legging. Meus cabelos estavam trançados e jogados por cima do ombro, e até mesmo uma maquiagem forte Nilima se encarregou de fazer.

− Tome cuidado, Mia – Kishan disse com a voz rouca, colocando a cabeça para dentro do carro.

− Não precisa ficar com saudades, tigre, eu voltarei logo – provoquei, tomando seus lábios nos meus rapidamente, enquanto Nilima ligava o carro.

Quando olhei para trás uma última vez antes de entrarmos na trilha, percebi o enorme tigre negro nos acompanhando com os olhos e sorri, tomando em meus dedos o pedaço do amuleto que antes era dele, sentindo a quentura familiar me invadir.

Assim que chegamos na área urbano, minhas unhas fincaram no estofado do banco, devido ao transito caótico pelo qual Nilima já parecia acostumada. Ela dirigia com calma e de tempos em tempos olhava para mim com um sorriso tranquilizantes.

Carros, animais e pessoas disputavam espaço na rua, enquanto nas calçadas barracas de frutas anunciavam seus produtos. Os prédios eram baixos e muito simples, e tentava me imaginar vivendo naquela confusão constante.

− Vamos comprar os alimentos primeiro, quero conseguir produtos fescos, depois levarei você pelas feiras de artesanato – Nilima disse, estacionando o carro em uma viela, enquanto pulávamos para fora, em direção à rua.

Observava todos os rostos diferentes em minha frente, as conversas em híndi que me deixavam confusas, mas tudo aquilo deixava-me encantada com o país, não se comparando com nenhum lugar em que já estive com o Benzini Brothers.

Ajudei Nilima com as milhares de sacolas de papel, e escolhi magas reluzentes, com uma coloração alaranjada, até que entramos em uma grande avenida, e as cores vibrantes dos tapetes chamaram minha atenção.

Puxei o braço de Nilima que riu, enquanto eu tocava em um enorme tecido bordado em dourado, com milhares de cores.

Encontrei uma pequena barraquinha onde um homem de grandes cabelos negro sorriu para mim, apontando para que olhasse suas joias. Tudo naquele lugar reluzia, mas meus olhos encontraram um colar de tiras de couro preto muito bruto, com uma única moeda furada servindo de pingente, com algumas escritas em seu contorno.

− Este colar serve como proteção aos maus espíritos – O homem explicou com um sotaque carregado, pegando o colar e oferecendo-o para mim. Abri um pequeno sorriso ao lembrar-me de Kishan, pagando o homem com algumas pequenas moedas de bronze.

Afastava-me da barraca quando meus olhos capturaram pequenas pulseiras penduradas na lateral, também feitas de couro, as quais levavam um pequeno pingente de um tigre negro, todos eles com olhos de fogo, mas o que chamara minha atenção era o único com olhos dourados.

− Posso ver? – perguntei, apontando diretamente para aquela pulseira vendo o homem mexer as mãos.

− Este está com defeito, senhorita, os olhos do tigre Damon estão pintados da cor errada. – Ele apontou para as pulseiras ao lado, mas eu balancei a cabeça.

− Está perfeito assim.

Voltamos para casa em pouco tempo, ou talvez eu não tenha percebido o tempo passar, muito ocupada observando com um sorriso minha nova pulseira em meu braço direito.

No momento em que Nilima estacionou o Jeep na entrada para carros, Kadam e o enorme tigre negro vieram nos recepcionar e ajudar com as sacolas, enquanto eu me agachava para acariciar a cabeça de Kishan, que ronronou.

− Tenho uma surpresa – sussurrei, balançando o pacote em que estava o colar.

Joguei-me no sofá da sala, enquanto Kadam seguia Nilima para a cozinha, e Kishan soltou até parrar ao meu lado antes de assumir sua forma humana, que puxou-me pela cintura até que eu estivesse ao lado. Senti seu nariz contra meus cabelos e tentei conter o arrepio que me dominou, entregando o presente para Kishan, que olhou-me com a cabeça tombada.

− O homem que me vendeu disse que protegia dos maus espíritos –murmurei, enquanto ele tirava o colar do pacote, olhando-o com um sorriso brincalhão para logo depois se inclinar e beijar o topo de minha cabeça.

− Obrigada, bilauta – ele murmurou como resposta, estendendo o colar para mim, que com muito prazer passei-o por sua cabeça até que estivesse repousado contra o tecido negro de sua camisa.

− Veja isto. – Estendi meu braço para que o pequeno tigre negro da pulseira ficasse no nível de seus olhos de pirata. – Era o único Damon que estava com a cor dos olhos errados, estão dourados.

Kishan pegou o pingente com um sorriso maroto no rosto, passando os dedos pelo pequeno tigre antes de voltar seus olhos para mim, os quais carregavam uma pitada de arrogância e malícia.

− Ainda bem que são dourados, não dividiria você com outro tigre – ele disse, fazendo-me sorrir antes de puxa-lo pelo pescoço para que nossos lábios se unissem.

No dia seguinte, Kadam achou que estava na hora de ensinar-me a usar as adagas, passando longos minutos explicando-me como manuseá-las para conseguir ferir gravemente alguém ou apenas para deixar um machucado superficial.

Treinei pela primeira hora em um suporte de madeira, atacando-o com as adagas das diversas maneiras pelas quais Kadam me ensinou, deixando lascas pelo chão e buracos onde a lâmina afiava cortava, logo em seguida, senhor Kadam fez-me lançar as adagas nos alvos em forma de homem, com demarcações em cada parte do corpo.

Quando o barulho alto que uma das adagas fez ao acertar a cabeça do alvo, Kadam bateu palmas, pedindo para que eu parasse.

− Você está se tornando letal, senhorita Mia, mas vamos dificultar as coisas. – E com aquelas palavras, ele apertou um pequeno botão em um dos painéis e os alvos começaram a se mover em pequenos trilhos. – Vamos ver como se sai com alvos em movimento.

As paredes ao fundo ficaram repletas de marcas, mas em compensação os bonecos de papelão acabaram com milhares de buracos tanto no peito quanto na cabeça, fazendo-me girar uma das adagas na mão, com convicção.

− Acho que por hoje está muito bom – Kadam disse, enquanto eu guardava as adagas negras e bebia um pouco de água. – O que acha de começarmos o treinamento corpo a corpo, senhorita Mia?

− Com armas? – perguntei, arregalando os olhos com a ideia de usar armas letais já na primeira luta.

− Por enquanto não, senhorita Mia – Kadam sorriu de forma tranquilizadora enquanto fazia um sinal para o tigre negro deitado no chão, bem na direção em que o ar condicionado estava, fazendo revirar os olhos e sorrir.

Com um salto, o tigre deu lugar ao homem, e Kishan andou até estar ao meu lado, brincando com a trança de meus cabelos.

− Pronta para uma luta de verdade, tigresa? – ele sussurrou aquelas palavras em meu ouvido, enquanto Kadam dava instruções e dicas para mim, que eu tentava ao máximo acompanhar.

No momento em que nos posicionamos ao centro do tatame, Kishan tirou a camisa preta da mesma forma como no dia anterior, mas meus olhos foram capturados pelo colar de couro que eu havia dado a ele, que agora repousava de forma sedutora em seu peito, contrastando com a pele morena e eu ofeguei, mordendo o lábio inferior.

− Tente imobilizar Kishan por dez segundos! – Kadam avisou, quando nossos corpos começaram a se movimentar.

Esperei pelo primeiro movimento de Kishan, mas ele apenas me estudava de forma predatória, como sempre. Cerrei os punhos e corri em sua direção, tomando impulso para acertar-lhe um soco, que fora bloqueado facilmente pelo seu braço, que devolveu o ataque em minha barriga.

Kishan me acertava com a mão aberta para não me machucar, não colocando força em suas investidas, enquanto eu colocava toda a minha força nos ataques. Girei o corpo para lhe dar um chute nas costelas, mas ele agarrou minha perna, subindo as mãos até a coxa antes de me derrubar no chão, tirando-me todo o ar dos pulmões.

Seu corpo ficou sobre o meu, enquanto Kishan me lançava um sorriso malicioso. Puxei o colar que pendei entre nós e roubei-lhe um beijo ao mesmo tempo em que usava meu braço como alavanca, prendendo minha perna em seu quadril e nos girando.

Deixei-o de costas e sentei ali, segurando um de seus braços contra a nuca, enquanto ouvia a risada melodiosa de Kishan ao mesmo tempo em que ele virava a cabeça para me olhar.

− Isso é trapaça – ele resmungou, enquanto eu levava os lábios até seu ouvido.

− Não é se deu certo. – Na minha contagem ele estava ali por cinco segundos e eu estava orgulhosa por conseguir imobilizar Kishan.

Entretanto, quando minha contagem estava nos sete segundos, Kishan levantou-se do chão, fazendo-me gritar enquanto envolvia seu peito com as pernas. Acabei ficando presa em seu corpo quando seus braços fecharam-se como correntes em torno de minhas pernas.

− Tente sair dessa, bilauta – Kishan provocou ficando estático no chão, apenas esperando por minha reação.

Meu peito doía pela falta de ar, e minha respiração estava ruidosa. Levei meus dedos até os músculos de suas costas, arqueadas devido ao meu peso ali, e senti que sua pele se arrepiou, fazendo-me abrir um sorriso.

Calculei minhas possibilidades, sabendo que em outra situação em apenas teria que bater na cabeça do inimigo para que ele soltasse minhas pernas, mas simplesmente não teria coragem de fazer aquilo com Kishan, então envolvi seu pescoço com um dos braços, em uma tentativa falha de lhe estrangular, infelizmente eu era muito fraca para fazer aquele movimento.

Lembrei das vezes que assistia as apresentações de mamãe, ficando fascinada com a flexibilidade de seu corpo, que fluía como uma pena, e rapidamente uma ideia me surgia na cabeça e eu deixei meu corpo cair no chão, apoiando as mãos no tatame e deixando tanto Kishan quanto Kadam surpresos.

Forcei minhas pernas até que elas se soltaram dos braços de Kishan, e acabei dando uma estrelinha, parando a alguns passos do tigre, de volta posição de ataque.

− Muito bem, Mia! – Kadam parabenizou, mas eu apenas encarava Kishan, que me estudava com umas das sobrancelhas erguidas enquanto estampava seu sorriso de lado.

Com a adrenalina em meu corpo avancei para mais um ataque, mas senti os braços de Kishan em minha cintura, e logo em estava no chão novamente, mas agora minhas pernas estavam imobilizadas pelas coxas torneadas de Kishan e ele prendia minhas mãos no topo de minha cabeça, beijando o canto direito de minha boca.

Grunhi com força, e remexi meu corpo até que eu conseguisse me soltar, mas Kishan me mantinha imóvel, até que o senhor Kadam anunciasse que os dez segundos haviam se passado.

− Quem ganhou, Mia? – Kishan perguntou de forma provocativa, inclinando-se sobre mim sem me soltar, e senti sua barriga nua sobre a minha, que estava descoberta pelo top.

− Você é muito competitivo, tigre – bufei, soltando-me de se aperto e rolando para fora de seu corpo, levantando-me um tanto frustrada enquanto Kadam me parabenizava.

Naquela tarde, fui para a cozinha com Nilima, para ajudá-la com o café da tarde, e acabei fazendo uma grande fornada de brownies de chocolate, os quais Annie havia me ensinado no circo.

Empilhava-os todos em um prato desenhado em azul e branco, e a quentura ainda saia dos bolinhos quando Kishan surgiu ao meu lado, novamente em sua forma de homem, encostando o quadril na bancada enquanto me encarava com as sobrancelhas erguidas.

− Não sabia que você cozinhava, Mia. – Sua surpresa fez com que Nilima soltasse uma risada nasal, tirando a chaleira do fogo.

− Mamãe sempre dizia que se conquista um homem pelo estômago – respondi de forma leviana, observando a reação de Kishan. Ele parecia ainda mais surpreso e abriu um sorriso, colocando as mãos para trás e abrindo a boca, olhando-me com os dourados pidões.

Peguei o brownie do topo da pilha, levando lentamente até a boca de Kishan, trazendo-a até a minha e mordendo no último minuto, fazendo-o olhar de forma indignada para mim.

− Annie, a cozinheira do circo, as vezes ficava de baba para que papai e mamãe pudessem sair sozinhos nos dias em que tínhamos folga – expliquei, lhe entregando meu brownie mordido, vendo-o balançar a cabeça em aprovação com as bochechas cheias de chocolate. – Entretanto, só gostava que ela me ensinasse a preparar doces.

− Isso é uma delícia, como nunca provei antes? – Kishan exclamou, colocando mais um brownie de chocolate na boca como se comece um pedaço do céu.

− Parece que acabou de conquistar um príncipe pela barriga, Mia – Nilima cochichou em meu ouvido, enquanto observávamos rindo Kishan se debruçar sobre o prato, colocando os brownies na boca um atrás do outro.

Depois de sete dias de treino, eu havia imobilizado Kishan apenas duas vezes, pegando-o de surpresa ou o distraindo, e agora Kadam estava confiante de que eu estava pronta para a última parte do treinado, uma luta corpo a corpo usando armas.

Era final de tarde e eu vestia uma legging de estampa galaxy e uma blusa colada ao corpo preta, sem querer dar nenhuma chance para que Kishan conseguisse puxar-me pelas roupas, como fizera dias atrás.

− Vocês apenas tocarão as laminas na pele e contará como um ataque completo, e agora a senhorita terá que se defender e atacar ao mesmo tempo – Kadam falava, enquanto eu observava Kishan indo até o painel de espadas, pegando uma de lamina que eu não havia notado antes.

Na mesma cor negra que as minhas adagas, a lamina se tornava maior na ponta, com uma leve curva. O punhal era de ouro e muito simples, mas parecia tornar-se uma extensão do corpo de Kishan quando ele a girou na mão.

− Prometo pegar leve com você, bilauta – Kishan sussurrou, andando com passos gingados até minha frente, enquanto eu lhe lançava um olhar provocativo.

− Mande tudo o que tem, tigre – grunhi para ele, apartando minhas adagas nas mãos, enquanto Kadam se afastava do tatame.

Kishan girou a lamina na mão mais uma vez, antes de começar a se mover em minha volta, mas eu apenas me afastei, não deixando que ele me encurralasse como um cervo, e ele sorriu esperando meu ataque, entretanto, acenei com a cabeça e estudei seus movimentos, como ele sempre fazia comigo.

Percebendo que eu não atacaria como uma louca, Kishan tentou acertar-me com um chute nas pernas, mas eu apenas deslizei pra longe, colocando minhas lâminas como escudo no momento em que a sua espada negra veio em minha direção.

Um barulho alto reverberou pela sala de treinamento quando as lâminas rasparam uma na outra, e enquanto Kishan tentava quebrar meu escudo com os braços, levei minha perna até sua barriga, chutando-o para longe de mim, o desarmando.

Sem perder tempo, girei até o seu ponto mais fraco, tocando a lâmina negra na lateral de seu corpo, fazendo-o olhar para mim surpreso, enquanto Kadam gritava palavras de incentivo que eu não conseguia captar, pois meus ouvidos zuniam de empolgação.

− Você não é o único que pode observar as coisas, Kishan – grunhi para ele mais como um rugido, fazendo-o virar para mim com uma expressão maliciosa no rosto enquanto atacava com a espada mais uma vez.

Devido ao pouco alcance que minhas lâminas tinham, estiquei meus braços para bloqueá-lo e acabei sendo surpreendido com sua mão livre pegando em meu cotovelo e me levando ao chão. Chutei com as duas pernas para que ele não conseguisse me imobilizar, mas Kishan apenas se afastou com facilidade, jogando minhas lâminas para longe.

Desviei-me de sua investida chutando seu braço para longe de mim, correndo e me jogando ao chão enquanto pegava as adagas mais uma vez. Kishan não se voltou para mim rapidamente, então aproveitei para chance para pular em suas costas e tocar as lâminas em seu pescoço.

Sabia que Kishan não estava dando todo o seu potencial comigo para não me machucar, mas o restante da luta levou os poucos minutos ainda restantes à Kishan, enquanto nos acertávamos com as lâminas negras igualmente até que Kadam bateu palmas para que parássemos.

− Estou impressionado, senhorita Mia, em pouco tempo você conseguiu equilibrar a luta com Kishan – Senhor Kadam elogiou, enquanto Kishan estendia a mão para me levantar, pois meu corpo estava jogado no chão, enquanto eu respirava de forma ofegante.

− Você foi maravilhosa, Mia – Kishan revelou com lábios próximos ao meu ouvido. – E alguns de seus movimentos me deixaram muito entretido.

Corei muito mais do que minhas bochechas já estavam, com o fluxo constante de sangue em meu corpo, mas eu apenas sorri, beijando seu rosto para me direcionar até Kadam e lhe puxar para um abraço de agradecimento.

Naquele momento, não me importava derrotar Kishan, pois eu sabia que nunca conseguiria seus anos de experiência nem mesmo os poderes do tigre, mas agora me sentia preparada para lutar ao lado de Kishan e proteger a nós dois.

Passamos a noite discutindo os detalhes para nossa viagem ao primeiro templo de Durga, e em algum momento em peguei no sono sentada em uma das poltronas da biblioteca, pois ao acordar, estava deitada em minha cama, coberta pelo lençol branco enquanto a única luz do quarto era a que vinha da porta da sacada aberta.

− Kishan? – murmurei, esfregando os olhos enquanto olhava pelo quarto, sem encontrar nenhum tigre negro, nem mesmo deitado ao meu lado e nem no tapete.

Meus pés tocaram o chão e eu me arrastei até a sacada, na esperança de encontrar meu tigre deitado em uma das espreguiçadeiras, mas tudo que encontrei foi a enorme Lua me observando, enquanto um vento gelado lambia meu corpo coberto pela camisola de cetim preta.

Mordi o lábio inferior, indo para a porta do meu quarto até sair pelo corredor, parando em frente à porta onde eu sabia ser o quarto de Kishan. Não bati, apenas a abri com cautela, para encontrar a forma humana de Kishan sentado em uma poltrona enquanto olhava para algo na mesa de madeira, o qual seu corpo escondia.

O quarto de Kishan era totalmente diferente do meu, com poucas coisas o decorando. Uma cama quase no nível do chão possuía uma colcha negra e parecia muito maior que a minha, enquanto as paredes brancas deixavam o lugar mais aconchegantes. Passei por um tabuleiro de xadrez, com as peças em marfim, com personagens indianos ao invés das peças comuns.

Toquei o pequeno elefante no lugar no cavalo, imaginando Kishan jogando xadrez, mas meu tigre parecia muito impaciente para o jogo. Uma estante embutida tomava quase uma das paredes, repleta de livros os quais chamaram minha atenção.

Portas duplas levavam para a sacada, que tinham a mesma paisagem que a minha. Sabia que Kishan não usava aquele cômodo em sua forma de tigre, então não eram necessários tantos móveis como no meu.

− Não conseguiu dormir, bilauta? – Kishan me assustou, surrando sem se virar para mim, e dei passos controlados em sua direção.

− Acordei mas não o encontrei no quarto, achei que não seria problema procura-lo aqui, mas posso sair se preferir ficar sozinho –murmurei em resposta, parando a alguns passos de suas costas.

− Não vá, venha até aqui, eu só estava pensando em minha mãe – ele disse, voltando-se para mim com os olhos cansados, enquanto eu caminhava até seu lado, finalmente vendo o que ele olhava.

Dentro de uma caixinha delicada, estava um lindo colar que pegaria todo o peito de uma mulher, encrustado com rubis e diamantes, formando um desenho que modelaria o pescoço da pessoa que usasse com o degrade de tamanho.

− É de sua mãe? É lindo! – murmurei com espanto, olhando-o com um pedido silencioso para tocar nas joias, e Kishan sorriu em resposta.

− Fora um presente de meu pai e lembro como ela ficava linda usando-o. Os livros da estante também são dela assim como o jogo de xadrez, o qual ela amava e jogava com Ren, pois eu não tinha paciência – ele explicou, enquanto eu tocava a joia com as pontas dos dedos com fascínio e apenas sorri quando ele confessou o que eu já esperava sobre o xadrez.

− Ela devia ser uma mulher maravilhosa – conclui, voltando a encarar seu rosto triste enquanto apoiava-me contra a grande mesa sem muitas coisas sobre ela.

− Ela era a única que tinha esperanças para acabar com maldição, e morreu acreditando que um dia não seríamos mais tigres. – Seus dedos tocaram meu o amuleto sobre o cetim negro e eu arrepiei, fechando os olhos rapidamente. – E agora estamos nessa jornada para acabar com a maldição, mas e se não der certo? E se ela estava errada em ter esperanças?

Olhei para o homem em minha frente e enxerguei um menino de cabelos negros com admiração por sua mãe, e rapidamente sentei-me em seu colo, tomando seu rosto em minha mão e forçando-o a me olhar nos olhos.

− Ela não estava errada em ter esperanças, veja Kishan, eu tive esperanças e nós conseguimos descobrir um caminho para quebrar a maldição. E eu prometo à você Kishan que farei tudo para acabar com isso e lhe trazer sua forma humana de volta.

Minha promessa pairou pelo quarto por longos minutos, enquanto nos olhávamos com a respiração ofegante, sem nem mesmo termos feito algo para deixar-nos daquela forma e tudo o Kishan fez foi segurar minha cintura com força, puxando-me para mais perto de seu peito enquanto colava nossos lábios, como uma forma de selar a promessa.

Continua...


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