Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 24
Pronta para a Batalha


Notas iniciais do capítulo

Hey, tigers!
Caçada está de volta com novo capítulo!
Espero que gostem, boa leitura.



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− Senhor Kadam!

Meu gritou ecoou por toda a florestas atrás de nós, no momento em que o velho homem entrou em meu campo de visão, esperando-nos ao lado do tão conhecido Jeep. Depois de longas horas de caminhada sem descanso, Kishan e eu finalmente chegamos no ponto onde Kadam havia marcado de nos encontrar, onde acabava a floresta e começava uma pequena estrada esburacada.

Kadam sorriu para nós assim nos viu chegando, cansados e sujos, mas naquele momento não me importei nem com as dores horríveis em minhas pernas, apenas corri em direção aos braços estendidos do senhor grisalho, que me envolveu em um abraço fraternal e carinhoso.

− Estou muito feliz em vê-los bem. – Senhor Kadam disse, enquanto desfazíamos do abraço, para que ele pudesse cumprimentar Kishan, com um afago nas orelhas peludas do tigre.

− Só um pouco exaustos. – Completei, jogando minha mochica no banco da frente do carro, enquanto me direcionava para os traseiros, junto com Kishan, que parecia empolgado por rever Kadam.

− Imagino que tenham conseguido o que buscávamos. –Kadam perguntou, ligando o Jeep, sem esperar mais nenhum segundo antes de seguir em direção à estrada vazia, enquanto eu tentava achar uma posição confortável para meu corpo, lutando por espaço com Kishan.

− Temos tanto o que conversar, senhor Kadam. – Disse empolgada, retirando o pergaminho do Tigre de dentro da mochila e passando para ele, que agora dividia-se nas tarefas de dirigir, olhar a estrada e estudar os desenhos no papel amarelado.

Um rugido baixinho chamou minha atenção, e assim que olhei para meu tigre, percebi que ele se enrolava em um amontoado de pelos pretos, mas só quando ele balançou a cabeça para seu próprio corpo, entendi que Kishan havia feito de seu corpo, um travesseiro felino, ao qual eu fiquei muito grata em deitar a cabeça e sentir meu corpo relaxar.

− Obrigada. – Murmurei, afagando o topo da cabeça do tigre, que ronronou baixinho, tocando levemente seu focinho em meu nariz.

− Entendo que vocês estão muito cansados, mas gostaria de ouvir tudo o que o xamã lhes contou. – Kadam disse, olhando com um sorriso bondoso para mim, pelo retrovisor do carro, ainda com o pergaminho em mãos.

− De maneira mais fácil de se entender... – Comecei a falar, tentando segurar os bocejos e o cansaço que puxavam meu corpo para um sono profundo. – Os amuletos são algum tipo de magia branca, aos quais Durga presenteou aos reis que lutaram contra o demônio. Quando Lokesh sangrou os amuletos com magia negra, algum tipo de equilíbrio das coisas foi desfeito, causando a maldição.

Senhor Kadam prestava atenção em cada palavra que eu dizia, enquanto eu conseguia ver engrenagens funcionando na cabeça do velho homem, ao mesmo tempo que a respiração leve de Kishan me embalava para o sono.

− Então a maldição seria uma maneira de conseguir restabelecer o equilíbrio das coisas, fazendo com que os amuletos voltem a funcionarem como foram criados, com magia branca da deusa? – A pergunta me deixou meio confusa e espantada com a rapidez que Kadam havia assimilado os fatos, fazendo com que eu demorasse a lhe responder.

− O senhor está entendendo melhor do que eu. – Ri baixinho, sendo seguida por ele, que logo em seguido focou os olhos em direção aos desenhos na folha em suas mãos. – E deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com essa estrela no papel?

− Exatamente, mesmo tendo algumas ideias vagas. – Ele afirmou, voltando a olhar rapidamente para a estrada, fazendo a curva para a direita, quando chegamos em um cruzamento.

− Phet nos contou que cada amuleto representa um elemento, como mostra no mapa. Descobrimos que o amuleto de Kishan é o fogo. – Disse, levantando amuleto que descansava por dentro do meu top, fazendo com que Kadam me olhasse com espanto. – Temos que leva-los até onde o poder da deusa é mais forte, ele disse para levarmos até as “casas de Durga”, onde passaríamos por desafios para quebrar a maldição.

− Casas de Durga? – Kadam me olhou, interrogativo, mas eu apenas dei de ombros, mostrando que também estava confusa.

− Ele não nos disse mais do que isso, mas assimilei a estrela do pergaminho com um tipo de bússola ou rosa dos ventos, logo cada elemento nos levaria para algum dos pontos cardeais, cada elemento em equilíbrio libera seis horas como humano para os tigres, sendo cinco amuletos, o quinto, que liga todos os outros no desenho seria algum tipo de equilíbro para a balança, mas isso foi tudo o que Phet nos contou.

Um longo silêncio se formou no carro, enquanto senhor Kadam estudava com cuidado o desenho; a cauda de Kishan se encontrava em cima de minha barriga, e ele parecia ter caído no sono a alguns minutos, e me sentindo tão confortável naquela cama felina, fechei os olhos pelos segundos que levaram até Kadam recomeçar a falar.

− Tudo está bem claro agora, algumas crenças dizem que um quinto elemento, representado muitas vezes pelo espírito ou pelo tempo, é o que traz o equilíbrio à ordem natural das coisas. – Ele murmurava, mas para si mesmo do que para mim, que lutava contra pálpebras pesadas. – Tudo o que precisamos agora é descobrir onde os elementos nos levará.

− Como faremos isso? – Perguntei, ouvindo minha própria voz sair em um resmungo grogue, fazendo com que Kadam sorrisse para mim.

− Podemos procurar algumas referências nos livros da biblioteca assim que chegarmos em casa, mas agora é melhor a senhorita dormir um pouco. – A voz de Kadam já estava distorcida em meus ouvidos, e logo eu já não via mais nada além da escuridão.

Não me recordo de quantas horas dormi, ou quantas horas a viajem até em casa demorou, mas tudo voltou ao normal quando despertei, ainda sonolenta nos braços de alguém, que me carregava subindo escadas.

Olhei para cima e percebi que Kishan estava na sua forma humana, com os braços em volta de meu corpo, aninhando-me em seu peito.

− Volte a dormir. – Sua voz rouca chegou até mim muito baixa, fazendo eu perceber que ainda estava escuro em nossa volta, e ele sussurrava para não acordar Nilima.

− Mas eu preciso ajudar o senhor Kadam com o pergaminho e... – Minha frase foi interrompida por um longo bocejo, fazendo com que Kishan sorrisse e beijasse minha testa com ternura.

− Aprecio sua excitação com as pesquisas, senhorita Mia, mas acho que todos nós precisamos descansar, e amanhã estarei esperando-a na biblioteca. – A voz de Kadam vinha de trás de nós, mas eu não conseguia vê-lo, então apenas me encolhi contra o corpo de Kishan e deixei que ele nos levasse até o quarto.

Uma sensação familiar invadiu meu corpo no momento em que passamos pela porta de meu quarto, e o ambiente negro me encheu de tranquilidade; Kishan depositou meu corpo com cuidado sobre o colchão fofinho, levando as mãos até meus coturnos, deixando meus pés livres.

− Quer que eu tire sua roupa, Mia? – Aquela pergunta, em uma situação comum, me faria corar violentamente, ficando sem coragem para olhar nos olhos de Kishan tamanha minha vergonha, mas naquele momento, apenas queria que ele se deitasse comigo.

Balancei a cabeça negativamente, retirando apenas os meus shorts jeans e cobrindo-me com o edredom gelado. Olhei para Kishan em pé ao meu lado, com um sorriso malicioso e carinhoso no rosto, e logo estendi os braços para ele, como um bebê, mas ele percebeu que apenas queria que ele se deitasse ao meu lado.

Meu corpo automaticamente se enrolou no corpo quente de Kishan, quando ele acomodou-se ao meu lado, e um suspiro saiu de meus lábios quando senti seu perfume forte de madeira e chuva.

− Você tem quarto, Kishan? – Aquela pergunta boba escapou de meus lábios, fazendo com que ele soltasse uma gargalhada enquanto acariciava meus cabelos embaraçados.

− Está me expulsando, bilauta? – Sabia que havia uma pequena provocação em sua voz, mas apenas balancei a cabeça, mostrei-lhe a língua e enrosquei minhas pernas nuas nas suas. – Meu quarto é o cômodo ao lado do seu, mas como fico quase o dia inteiro em forma de tigre, prefiro dormir na espreguiçadeira da sua sacada.

− Faz mais sentido agora, sempre pensei que em seu quarto havia uma enorme caminha para cachorro ou algo do tipo. – Resmungo, fazendo com que ele risse alto, jogando a cabeça contra o travesseiro.

O som delicioso de sua risada rouca fez-me sorrir, afundando o rosto na curvatura de seu pescoço, enquanto acariciava seu corpo com minhas pernas, sem dar-me conta de que tudo o que eu vestia era uma calcinha e um top.

− Continue me provocando assim, bilauta, e eu acabarei perdendo todo o resto de controle que ainda tenho. – Ele sussurrou em um tom de voz sexy, contra minha orelha, escorregando as mãos até minhas pernas antes de voltar rapidamente para minhas costas, fazendo-me estremecer.

− Então acho melhor irmos dormir. – Disse rapidamente, puxando-o contra mim para que nossos lábios se encontrassem em um beijo rápido e profundo, e logo eu estava fora dos braços de Kishan, virada para o outro lado da cama enquanto o homem dava lugar ao enorme tigre negro, que rapidamente caiu em um sono profundo.

Mas minha mente, naquele momento, não conseguia descansar nem dormir. Os pensamentos sobre as descobertas da maldição estavam me deixando elétrica, mas acima de tudo, a decisão que eu havia tomado logo após o ataque do tigre, na floresta, estava me consumindo.

Ver Kishan machucado por minha causa, havia me ferido de um jeito horrível, e estava decidida que iria lutar, e para isso, precisava da ajuda de Kadam, mas tudo o que me impedia de levantar e correr para falar com o velho homem, era o fato de que todos na casa estavam dormindo.

Teria que esperar até o dia clarear.

E foi isso que fiz pelas longas horas que se arrastaram, encarando o céu além das portas de vidro da sacada, pedindo para que o tempo se apressasse a passar, enquanto observava o quarto ficar cada vez mais claro à medida que o sol nascia no horizonte.

Quando o relógio finalmente marcou sete horas da manhã e os primeiros barulhos no andar de baixo foram captados por meus ouvidos, saltei da cama com cuidado, para não acordar o enorme tigre que dormia ao meu lado.

Corri para o banheiro, jogando-me sob a água gelada do chuveiro, em um banho rápido, antes de vestir a primeira legging preta e regata de mesma cor, que encontrei no closet, calçando sapatilhas simples antes que correr para as escadas, pulando-as de dois em dois degraus.

Passei pela cozinha, para encontrar Nilima vestindo um robe azul cobalto, remexendo em alguns armários. Assustei-a quando a surpreendi com um abraço, percebendo o quão apegada eu estava com as pessoas da casa.

− Mia! – Assim que ela me reconheceu, apertou-me fortemente. – Essa casa não é a mesma sem você, senti saudades.

− Eu também senti sua falta, Nilima. – Disse, soltando-nos do abraço. – Mas eu preciso muito conversar com o senhor Kadam, ele está acordado?

− Na biblioteca, como sempre. – Ela sorriu, estendendo para mim uma caneca quente com chá, que eu não fazia ideia de onde ela tirou, mas aceitei com bom grado, correndo para a biblioteca.

Passei pelas enormes portas de mogno, apenas para encontrar senhor Kadam rodeado de livros como de costume, sentado em frente à sua escrivaninha, e tudo o que modificava a cena, era o pergaminho do Tigre, que agora ocupava o centro da mesa, enquanto o velho homem o estudava.

− Senhor Kadam? Está ocupado? – Perguntei, chamando a sua atenção, que voltou seus olhos negros para mim, abrindo um sorriso acolhedor.

− Claro que não, senhorita Mia, estava esperando-a acordar para começarmos a estudar o mapa, mas não esperava vê-la de pé tão cedo.

Caminhei lentamente até minha poltrona de costume, voltando meu olhar para Kadam assim que acomodei-me nela, contorcendo os dedos nervosamente diante ao pedido que faria naquele momento.

− Queria pedir ao senhor que me treinasse para lutar. – Sussurrei o pedido, mordendo meu lábio inferior, enquanto via uma expressão de espanto tomar conta do velho rosto do homem.

− Posso perguntar o porquê desse desejo? – Ele perguntou, estudando-me cautelosamente, como se eu fosse um livro.

− Na floresta, fomos atacadas por um tigre, não sei porque ele apareceu, mas a questão é que, eu não sabia como me defender naquele momento, e fugi enquanto Kishan lutava com o animal, mas ele acabou se machucando, e eu não quero me sentir mais impotente novamente, não quero oferecer nenhum risco à Kishan novamente, quero saber me defender e lutar para poder enfrentar qualquer perigo maior que virá.

Tomei uma grande lufada de ar depois de despejar todas as palavras sobre Kadam, vendo-o abrir um sorriso orgulhoso, enquanto limpava os óculos de leitura em sua camisa branca um pouco abarrotada.

− Sabia que você era uma guerreira, Mia. – Sua afirmação me pegou desprevenida, fazendo com que arregalasse os olhos. – E fico honrado em saber do seu desejo de querer que eu lhe ensine.

Pulo da cadeira, sorrindo animadamente, enquanto passava as mãos em meus cabelos bagunçados e ainda úmidos, prendendo-os em um coque.

− Muito obrigada, senhor Kadam, você não sabe o quão feliz isso me deixa. – Praticamente gritei as palavras, saltitando alegremente como uma criança. – Quero aprender tudo o que os irmãos aprenderam nos treinamentos com o senhor, ou o máximo para que eu consigo bater em algumas coisas.

− A senhorita fala como Kishan... – A risada de Kadam invadiu toda a biblioteca, mas no momento em que ele iria dizer mais alguma coisa, a porta de mogno foi aberta com um barulho estrondoso.

− Você não vai fazer isso, Mia. – Não precisei me virar para perceber que Kishan havia entrado no cômodo, em sua forma humana.

Virei-me para encarar seu rosto furioso, e percebi que ele parecia se sentir traído por eu ter escondido alguma coisa dele, mas eu sabia que ele não concordaria com minha decisão.

− Mas eu vou. – Respondi, simplesmente, voltando para o senhor Kadam, que parecia impassível à nossa discussão.

− Kadam, você não pode permitir isso. – Kishan parecia bem desesperado, implorando de forma insistente para o senhor Kadam.

− Será bom para ela, Kishan, você sabe disso. – Ele levantou-se da cadeira de veludo, indo até meu tigre, que parecia exasperado para tirar aquela ideia de minha mente. – Não sabemos o que vocês enfrentarão daqui para frente, e seria bom que Mia estivesse preparada para se defender.

− Não quero envolver ela nisso, mas do que já está, não quero que ela se machuque. – Kishan disse, esquecendo completamente minha presença.

− Kishan, eu estou bem aqui. – Balancei o braço para chamar sua atenção, sentindo os olhos dourados deles sobre mim. – Eu quero saber me proteger, quero lutar e me defender, não apenas fugir a cada problema e deixar que você nos defenda, como fez na floresta, e acabe machucado.

Ele riu sem vontade, passando as mãos pelos cabelos pretos, deixando-os mais bagunçados que o comum, indo até mim e segurando-me forte com as mãos, fazendo-me encarar seus olhos ansiosos.

− Sabia que não havia esquecido aquilo, mas foi apenas um machucado. Não ligo para eles, mas não irei me perdoar se você se machucar, não quero que você entre em batalhas com o risco de acabar ferida. – A voz de Kishan agora implorava por mim, para que eu esquecesse tudo o que havia acontecido.

− Sei que você se importa comigo, e amo isso, mas... – Solto me de seus braços, tentando deixar minha voz o mais firme possível. – Entenda que eu também me importo muito com você, e não irei me perdoar novamente se você se machucar por mim. Foi apenas uma briga com um animal selvagem, mas pense nas coisas que iremos enfrentar para quebrar a maldição.

− Mia, por favor... – Kishan tenta falar alguma coisa, mas eu apenas o silêncio, falando tudo o que estava preso em mim.

− Eu não vou aguentar perder você! Mas sei que se eu continuar fugindo das batalhas e sempre tropeçando nas coisas e desmaiando, você vai acabar se ferindo ao tentar me proteger. – Olho nos fundos daqueles olhos dourados que eu amava, falando de forma carinhosa. – Eu quero lutar, Kishan, quero ser forte e não fugir das batalhas, quero estar ao seu lado em qualquer situação e gostaria que você estivesse do meu agora.

Um silêncio pesado tomou conta do ambiente, e eu e Kishan ficamos nos encarando por longos minutos, sem dizer mais nada um para o outro. Não conseguia distinguir nenhuma emoção dos milhares que passavam pelos olhos do meu tigre.

E, em um ato inesperado por mim, Kishan fechou os olhos, balançou a cabeça e virou-se, disparando em direção a porta aberta com passos firmes e pesados, sem ao menos olhar para mim novamente, ou dizer alguma coisa.

Apenas foi embora, até sumir de minha vista, deixando-me parada em meio a biblioteca, com os braços pendendo ao lado do corpo, totalmente impotente.

Continua...


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