Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 13
Tigre Voador


Notas iniciais do capítulo

Olá minha gente!
Mais um capítulo de Caçada ;)



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O dia começava a raiar quando chegamos à uma pequena pista de voo em um aeroporto longe da cidade. Ali parado se encontrava um pequeno jatinho prata com o desenho de um tigre saltando, junto com a palavras: Linhas Aéreas Tigre Voador.

Me espremi contra janela do carro para conseguir ver melhor o avião, mas acabei acordando Kishan que dormia tranquilo, com a cabeça repousada em minhas pernas. Ele resmungou baixinho, me encarando.

– Desculpe, Kishan. – Sussurrei, afagando sua cabeça rapidamente e me virando para o senhor Kadam, que manobrava o Jeep para estacionar. – Nunca ouvi falar dessa linha aérea, senhor Kadam.

– Não era para ter ouvido mesmo, Mia. – O homem dá uma risada baixinha. – As Linhas Aéreas Tigre Voador funcionavam para fretamento de produtos, mas depois do que aconteceu com os irmãos, eu acabei vendendo todos os aviões e ficando apenas com esse, para uso pessoal.

Arregalei os olhos e encarei Kishan, que estava se espreguiçando em meu colo, fazendo com que toda minha roupa enchesse de pelos de tigre. Ele me encarou, lambeu me braço e depois enfiou a carona contra o vidro, ao lado da meu rosto.

– Uau, Kishan! Não sabia que você tinha uma Linha Aérea! – Digo, rindo baixinho.

Olho para a frente novamente e pego o Senhor Kadam nos observando pelo espelho do retrovisor com um grande sorriso bobo no rosto. Quando ele percebeu que eu o olhava, Kadam desviou o olhar e saiu do carro.

– Eu vou falar com os funcionários do aeroporto, mas vocês já podem ir para o avião, Nilima estará esperando.

Eu não sabia quem era Nilima, mas quando Kishan ouviu o nome, ele ficou animado e levou a pata grande e peluda em direção a maçaneta do carro, mas Kadam impediu que ele voasse porta a fora.

– Nada disso, Kishan. – Ouvi o tigre resmungar. – Você vai ter que ficar na forma humana até decolarmos, não quero ter problemas com homens apavorados por terem visto um tigre andando por ai.

Segurei o riso, pois naquele momento, Kishan parecia um cachorrinho que tinha levado uma bronca do dono. Ele resmungou e balançou a calda com força, até que finalmente saiu de cima do meu colo e se espremeu no resto do banco.

Vi senhor Kadam se afastando do carro e cumprimentando um homem alto, de boné. Me abaixei para pegar minha mochila que se encontrava no chão. De repente senti o banco ficar bem mais espaçoso e quando me levantei novamente, lá estava Kishan, estirado no acento, vestindo as mesmas roupas negras de sempre.

Uma pergunta tomou conta da minha cabeça.

– Kishan, me explique uma coisa... – Levei um dedo até o tecido da sua camisa e percebi que eram feitas de algodão fino.

– Sou todo ouvidos, Mia. – Ele diz, com um sorriso brincalhão.

– Porque toda vez que você vira homem, você aparece com as mesmas roupas pretas de sempre?

– Não sei explicar isso, Mia, elas simplesmente aparecem, não importa que roupa eu coloque, se eu me transformar em tigre e depois voltar para a forma humana, elas sempre vão voltar.

– Isso é meio estranho, pois, você deveria se transformar sem roupa e... – Era para isso ficar apenas nos meus pensamentos, mas percebi que tinha falado alto demais, quando vi um grande sorriso malicioso no rosto de Kishan.

– Então... Você queria me ver sem roupa? É isso, Mia? - Ele pergunta, se inclinando e ficando a poucos centímetros de mim.

Senti meu rosto esquentando e, rapidamente eu desviei meu rosto de perto do dele, levando minhas mãos para a maçanete e pulando para fora do carro.

– Eu sou realmente uma idiota. – Murmurei, balançando a cabeça.

– Não fique assim, bilauta. – Kishan me assustou, aparecendo ao meu lado e abraçando meus ombros.

– Assim como? - Digo ironicamente, revirando os olhos e ouvindo Kishan rir.

Nos aproximamos do grande avião, que tinha uma pequena portinha aberta, com uma escadinha descendo até o chão. Fiquei encarando de boca aberta o belo avião até que senti Kishan me puxando pela mão.

E se por fora ele já era bonito, por dentro era duas vezes mais. Tudo ali dentro era muito luxuoso e moderno, o que me fez fazer uma besta comparação com trailer em que eu morava no circo.

– Kishan!

Me virei para ver quem era a dona da voz que chamava alegremente por Kishan. Vestindo roupas iguais a de uma aeromoça, se encontrava uma mulher muito bonita, com cabelos longos e pretos e pele cor de oliva.

Olhei para Kishan, que tinha aberto um grande sorriso e abraçava com força a garota. Fiquei totalmente de lado, apenas observando aquela cena e pensando quando eles iam se soltar.

Eu não estou com ciúmes, ok?

– Nilima! A quanto tempo! – Eles finalmente se separaram e agora Kishan olhava para todo o corpo da garota, com um sorriso.

Aquilo fez meu rosto tornar uma expressão fria, que provavelmente poderia fazer uma criancinha feliz chorar e correr para a mão. Pigarreei alto, tentando chamar a atenção deles.

– Ah! Você deve ser a Mia! Ouvi muito de você. – A garota sorridente veio até onde eu estava e me deu um abraço caloroso, que me pegou desprevenida.

– Bem... Eu não ouvi nada sobre você. – Aquilo não era para ser ofensivo, era para ser uma advertência para Kishan.

E acho que ele entendeu, pois quando fuzilei ele com o olhar, Kishan deu um sorriso amarelo e se afastou de nós, entrando para a cabine.

– Claro que Kishan não ia falar de mim. – A garota riu e revirou os olhos. – Eu sou Nilima, muito prazer.

Nilima estendeu a mão e eu demorei alguns segundos para cumprimentar ela, mas acabei cedendo.

– Vejo que vocês duas já se conheceram. – A voz de Kadam me vez olhar para traz, vendo ele entrar no avião. – Nilima, já está tudo pronto, você pode avisar para o piloto que já podemos decolar?

– Claro. – Ela sorriu e entrou em uma cabine.

– Então ela é... – Eu ia perguntar se ela era namorada de Kishan ou algo do tipo, mas o senhor Kadam me interrompeu, me levando para a cabine onde tinham algumas poucas poltronas de couro.

– Nilima é minha tatara-tatara-tatara-tatara, bem vários “tatara”, neta. – Ele disse, se sentando em uma das poltronas e apontando a outra para mim.

No momento em que me acomodei naquela deliciosa poltrona, Kishan apareceu, já na sua forma de tigre e veio se deitar perto de onde meus pés estavam.

– Ela trabalha para vocês? - Perguntei, olhando para a janela e vendo as turbinas começando a funcionar.

– Nilima nos ajuda com algumas coisas, sim, mas ela é praticamente irmã dos garotos. – Não sei o porquê, mais aquilo me deixou um pouco menos brava.

– Entendo.

Levei minha mão até a cabeça de Kishan e afaguei, como uma demonstração de que eu já não estava mais tão brava com ele. Ouvi ele ronronar baixinha e se ajeitar, acabando por ficar em cima dos meus pés.

– Ficamos realmente muito gratos por ter aceitado vir conosco, Mia. – Senhor Kadam disse, me entregando um travesseiro e um cobertor.

– Bem, eu que agradeço, no final das contas. – Digo, sorrindo.

Senti um solavanco e quando percebi, já estávamos nos distanciando da pista do aeroporto. Fiquei olhando pela janela até cansar e voltar a olhar para Kadam, que lia uma revista em híndi.

– Desculpe, senhor Kadam, mas eu estou curiosa em saber mais sobre você. – Digo, vendo ele abaixar a revista e me olhar, sorrindo.

– Vou ficar muito contente em contar um pouco da minha longa história. – Ele se ajeitou na poltrona.

Senti Kishan se mexer e logo ele tinha levantado a cabeça, prestando atenção no que Kadam dizia.

– Eu era o general do exército do reino de Mujulaain, muito próximo do rei e da rainha Rajaram e tutor dos pequenos príncipes...

– Isso quer dizer que o senhor tem...? - Cortei Kadam, enquanto fazia as contas para tentar saber quantos anos aquele homem tinha.

– Muitos anos, Mia, muitos anos. – Ele disse, rindo da minha cara de espanto.

– Mas como o senhor consegue estar vivo até hoje? - Pergunto, espantada.

Kadam leva a mão para dentro da sua camisa, retirando de lá um colar, com um pingente muito parecido com o que Kishan tinha me mostrado quando estávamos na floresta.

– Esse amuleto é do irmão de Kishan, Dhiren, ele me deu depois que se transformou em tigre. Esse colar, chamado de Amuleto de Damon, tem poderes ainda desconhecidos por mim, mas ele não me deixa envelhecer.

– O senhor deve ter visto muitas coisas em todos esses anos. – Reflito.

– Vi mesmo, senhorita Campbell, vi meus entes queridos falecendo, vi os homens em guerras e criando coisas magníficas. – Ele diz, um pouco triste.

– Deve ser muito triste ver seus familiares indo embora.– Disse baixinho, tocando de leve a mão do velho homem.

– De certa forma, é, mas eu faço isso pelos príncipes. – Ele dá pequeno sorriso.

Nesse momento, Nilima se aproxima de nós, entregando um copo com uma bebida desconhecida para Kadam.

– Você irá querer alguma coisa para beber ou comer, Mia? – Ela pergunta, sorrindo.

– Muito obrigada, Nilima, eu estou bem. – Tentei parecer mais simpática do que na nossa apresentação.

Ela sorriu mais uma vez e se reirou, me deixando sozinha com Kadam e Kishan novamente. Me acomodei na poltrona, reclinando ela um pouco para traz. Deitei minha cabeça no travesseiro e me cobri, sentindo uma sensação relaxante tomar conta de mim.

A quantos dias eu não deitava eu alguma coisa realmente confortável?

– Senhor Kadam, Kishan me contou um pouco do que aconteceu com ele e o irmã, mas eu gostaria de saber um pouco mais. – Disse, de dar um grande bocejo.

Kishan colocou sua grande cabeça em cima das minhas pernas e me encarou com seus olhos dourados, dei um pequeno sorriso para ele e afaguei suas orelhas.

– Bem, Kishan e Dhiren eram os príncipes do Reino Mujalaain, eles foram ensinados pelos melhores tutores a se tornarem ótimos reis, sei disso pois participei da educação militar dos dois. Estávamos em uma guerra de conquista de alguns territórios menores e Dhiren foi mandado pelo pai, para acompanhar as tropas. Um imperador de um reino vizinho muito pequeno, se apresentou ao rei Rajaram e ofereceu sua filha para casar com Ren, para que os dois reinos se unissem. Como Dhiren estava na guerra, o casamento foi uma simples reunião em uma tenda, onde os dois jovens assinaram papéis. Mas o imperador, Lokesh, tinha outros planos para o casamento....

Nessa hora, Kishan deu um rugido alto e encarou Kadam, advertindo ele de alguma coisa. Fiquei olhando aquilo, curiosa para saber do que se tratava.

– Tudo bem, Kishan, me desculpe. – Kadam disse e se voltou para mim. – Lokesh usou a filha para enganar tanto Dhiren como Kishan, seus verdadeiros planos eram poder dominar o reino Mujalaain e pegar os amuletos para si. Lokesh aprisionou os dois irmãos e quando eles negaram dar o que o feiticeiro queria, ele lançou a maldição sobre os dois.

– E Kishan e Dhiren conseguiram fugir de Lokesh? - Perguntei, já sentindo meus olhos pesarem.

– Sim, eles conseguiram e voltarem para reino, e acabaram me procurando. – Ele riu baixinho. – Confesso que fiquei muito assustado quando vi dois tigres parados na frente da minha pequena cabana, mas como eles não tentaram me atacar, eu recuei. Os dois tigre, um negro e um braço, entraram na minha casa e quando vi, eles tinham se transformado nos dois príncipes, que me contaram tudo o que tinha acontecido.

– O que vocês fizeram depois disso? - Outro bocejo.

– Levei o rei e a rainha até minha cabana, onde os dois tigre estavam e eles contaram tudo, novamente, para os pais. Receosos com o que poderia acontecer com os filhos, Deschen, a rainha, teve a ideia de fugirmos para algum lugar distante do reino... – Kadam olhou para mim e abriu um sorriso. – Vejo que a senhorita está cansada.

– Não, tudo bem, eu quero ouvir mais. – Digo, tentando ficar acordada. Kishan bufou e saiu do meu colo, voltando a deitar em meus pés.

– Contarei tudo para a senhorita depois, mais é melhor você descansar, muitas coisas aconteceram em poucos dias. – Ele disse, fechando a cortininha, fazendo a claridade parar de entrar.

– Tudo bem. Obrigada por me contar um pouco mais da história, senhor Kadam. – Murmurei, finalmente fechando os olhos e deixando o sono tomar conta de mim.

Aquela poltrona estava tão confortável e eu me sentia tão relaxada que nem percebi que acabei dormindo o voo todo até a Índia, sendo acordada por um Kishan animado, que me chacoalhava fortemente.

– Mia, acorde! Nós chegamos! Estamos na Índia!

Continua...


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