A Future Beside You escrita por Joker


Capítulo 1
A Future Beside You




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“This is us, this is us
And this is how we love.”
-This is us (Keyshia Cole)

“Isso somos nós, isso somos nós
E é assim que nós amamos.”

Nagisa estava deitado em sua cama, abraçado ao travesseiro e coberto com um grosso cobertor. O clima de fevereiro ainda era parcialmente frio e o garoto aproveitava o final do dia da melhor maneira que podia.

Infelizmente, desta vez, ele não conseguia se desligar. Mesmo deitado, tentando descansar e dormir, o loiro simplesmente não conseguia parar quieto. Os lençóis de sua cama já estavam completamente bagunçados, decorrente de todas as vezes que ele se mexera de um lado para o outro.

Com um alto suspiro, e determinado a não se deixar levar pelo nervosismo, Nagisa se levantou da cama em um forte impulso, ignorando o frio e caminhando para o guarda roupa, na intenção de escolher um aconchegante conjunto de moletom.

O caminho para o banheiro foi feito em silêncio e, assim que a porta foi fechada, o loiro apoiou as mãos na pia, se olhando no espelho. Seus cabelos estavam completamente bagunçados e seu rosto não mostrava a expressão alegre de sempre. Eu estou tão nervoso... O Rei-chan chega amanhã e eu não sei o que fazer.

As aulas haviam começado há uma semana, mas Rei ainda estava ausente. A súbita viagem de fim de ano para a casa de alguns parentes distantes pegara Nagisa de surpresa. Eu implorei para que meus pais fossem viajar e então eu poderia passar as festas de fim de ano ao lado do Rei-chan, mas no final das contas... Quase fiquei sozinho.

A lembrança de passar o Natal ao lado de Haru, Makoto e seus pequenos irmãos, trouxe um breve sorriso aos lábios rosados. Mas até que não foi tão ruim. O ano novo também foi passado entre eles e Nagisa não pode negar que se divertiu.

Um suspiro deixou seus lábios enquanto ele retirava sua roupa, pronto para tomar um relaxante banho na banheira e voltar para o quarto, determinado a conseguir uma boa noite de sono.

Assim que a banheira terminou de encher e o espelho do banheiro perdeu o brilho por conta da névoa de calor, Nagisa respirou fundo e deixou que seu corpo mergulhasse na água morna. Isso é ótimo.

Sua expressão se suavizou e ele se permitiu sorrir, abaixando a cabeça, até que seus lábios estivessem cobertos pela água. Seus olhos se fecharam e ele deixou que sua cabeça repousasse na beirada da banheira. Um ano...

Fazia um ano que Nagisa havia conhecido Rei. Seu interesse no rapaz, de início, havia sido completamente profissional. Eles precisavam de uma pessoa para que o time de natação do colégio fosse oficialmente formado e, aos seus olhos, Rei era a melhor pessoa para o cargo.

Além de ter o nome feminino, assim como todos eles, o moreno era completamente atlético. Nagisa perdeu as contas de quantas vezes deixou de voltar para casa, apenas para poder assistir ao treino de atletismo de Rei.

Os saltos eram feitos perfeitamente, com total precisão, fazendo com que o rapaz se destacasse muito bem entre os colegas de time. Mesmo com muita insistência, Nagisa não conseguia fazer com que Rei esquecesse o atletismo e tentasse dar ao menos uma chance para a natação. Eu tentei de tudo e ainda assim, não consegui.

Mesmo tendo quase certeza de que fracassaria tentando recrutar Rei, o loiro continuou aparecendo nos treinos do rapaz. Não para pressioná-lo, muito menos para importuná-lo, mas porque ele simplesmente não conseguia voltar para casa sem vê-lo uma última vez. Ver como os músculos dos braços e pernas de Rei se moviam a cada salto era extremamente viciante e Nagisa já não podia mais negar isso. Eu sabia que deveria tentar mais uma vez. Uma única vez antes de desistir de recrutá-lo. Algo dentro de mim dizia que eu me arrependeria se desistisse naquele momento.

Na sexta-feira, o loiro se levantou cedo, sabendo que encontraria Rei na estação. Ele começava a correr até o colégio a partir da estação. Seus antigos tênis de corrida foram desenterrados de dentro do guarda roupa e Nagisa se viu determinado a fazer aquele dia valer a pena.

Como o esperado, Rei estava lá, ajeitando os óculos e pronto para começar a correr. Os olhos azuis o encararam, quando Nagisa se aproximou, e o atleta suspirou, percebendo que não teria como fugir naquele momento.

Com um pouco de insistência, Rei concordou em deixar que Nagisa corresse com ele até o colégio. Ele achou que eu não conseguiria acompanhá-lo. Depois de vários minutos de corrida, o atleta parou, olhando para o pequeno rapaz atrás de si.

“Por que você quer tanto que eu entre para o time de natação? Por que não desiste?” As perguntas que deixaram os lábios de Rei atingiram o loiro como uma chuva não esperada.

Seus olhos se arregalaram e Nagisa precisou de um breve momento de silêncio para pensar em uma resposta. Antes de encontrar Rei, o loiro havia recebido várias negativas ao convidar pessoas para entrar no clube de natação e em nenhum momento ele tentou insistir para que as pessoas reconsiderassem.

Mas com o moreno havia sido diferente. Desde que o vira, Nagisa sentiu seu coração bater mais rápido como um sinal de que ele deveria seguir em frente. Seus olhos brilharam e ele sorriu sem entender aquilo direito. Pelo menos até aquele momento.

Com a pergunta de Rei, o loiro não pode evitar um sorriso ao constatar que havia sofrido de algo que nem ele mesmo acreditava. Eu havia me apaixonado a primeira vista.

“Porque você é belo, Rei-chan!” Um sorriso maior ainda deixou seus lábios e ele se inclinou para frente, completamente animado.

Aquilo era verdade. Aos seus olhos, Rei era a pessoa mais bela que ele já havia visto. Durante toda aquela semana, Nagisa não havia se apaixonado apenas pela beleza do rapaz, mas sim, por sua personalidade.

Mesmo não querendo entrar para o clube de natação, Rei nunca faltou com respeito. Suas respostas eram curtas e levemente determinadas, mas Nagisa adorava provocá-lo e ver seu rosto corado quando ambos se aproximavam demais. Foi muito rápido, mas eu sabia que havia me apaixonado pelo Rei-chan.

Quando o moreno aceitou fazer um teste, Nagisa se sentiu tão feliz que não pode evitar abraçar ao rapaz. Rei se assustou com o movimento repentino e acabou retribuindo o abraço também, para que os dois não caíssem. Meu coração bateu tão forte naquela hora que eu achei que ele seria capaz de ouvi-lo.

Depois de descobrir que Rei não sabia nadar, mas que faria o possível para continuar no time – graças a uma ajuda indireta de Haru – o loiro se sentiu extremamente realizado. Ele teria todo o tempo do mundo ao lado do moreno e nada o deixaria mais feliz.

“V-você vai precisar se responsabilizar sobre isso.” O comentário de Rei e suas bochechas coradas fizeram com que Nagisa sorrisse automaticamente.

“Eu vou me responsabilizar, Rei-chan!” Seu corpo se moveu sozinho, e Nagisa deixou que uma gostosa risada saísse por seus lábios quando sentiu que abraçava o novo membro do clube.

Mesmo reclamando, e com o rosto completamente corado, Rei retribuiu o abraço, apertando levemente a cintura do loiro. Eu poderia morrer naquele momento e me sentiria a pessoa mais realizada do mundo.

Com o passar dos dias e meses, Nagisa percebeu que simplesmente não conseguia mais ficar sem Rei. Os dois iam e voltavam do colégio juntos, estudavam juntos em casa e, sempre que possível, se encontravam em uma piscina pública, para que Nagisa pudesse ensinar o rapaz a nadar.

Seu corpo se movia automaticamente quando estava perto de Rei, por isso ele sempre se encontrava abraçando o rapaz. E sempre que eu fazia isso, meu coração parecia querer sair do peito.

Aos poucos, seus sentimentos se tornaram mais sólidos e sufocantes. Nagisa nunca achou que seria capaz de amar alguém ao ponto em que amava Rei e isso o deixava realmente nervoso. Quer dizer... Eu sempre soube do meu gosto sexual, até porque eu brincava com a maquiagem de minha mãe ao invés de jogar bola na rua, mas o Rei é diferente. Eu não sei o que ele sente.

Por vezes seus abraços eram retribuídos, mas Rei sempre reclamava, fazendo com que Nagisa chegasse à conclusão de que era retribuído pela pura e boa educação. Ele é bonzinho demais para brigar comigo.

No entanto, o loiro chegou a uma forte decisão: se declarar. Aqueles sentimentos estavam indo longe demais e ele tinha certeza de que se fosse devidamente rejeitado, tudo voltaria ao normal e ele poderia permanecer ao lado de Rei sem que seu coração quisesse pular para fora de seu peito. Eu ia me declarar no Natal, mas ele viajou.

Com um breve suspiro, Nagisa se levantou da banheira, abrindo o ralo e deixando que a água escorresse para o esgoto. Com a toalha branca ele se secou rapidamente, colocando o conjunto de moletom rosa que encontrara em sua gaveta e passou a toalha nos cabelos.

Seu quarto estava frio e ele sabia que acordaria gripado se dormisse com os cabelos molhados. O pequeno secador fez sua função, deixando os fios loiros secos e devidamente arrumados.

Com um breve bocejo, Nagisa desligou a luz do quarto e se enfiou debaixo das cobertas, sentindo seus músculos completamente relaxados e prontos para o devido descanso que mereciam. Eu queria me declarar o mais rápido possível, mas amanhã é dia dos namorados. Não sei se é uma boa data.

Completamente cansado de tentar achar soluções para seus problemas, o loiro simplesmente abraçou um urso polar de pelúcia, respirando fundo. Esse urso era para o Rei-chan. Soltando o ar, ele deixou que sua mente caísse em sono profundo, bloqueando seus pensamentos.

X

Sua sala estava parcialmente cheia, mas a carteira a sua frente permanecia vazia. Rei ainda não estava na sala e Nagisa soltou um suspiro, afundando o rosto no grosso casaco azul, ao mesmo tempo em que colocava as mãos nos bolsos, procurando se aquecer.

A animação do dia dos namorados começava cedo e, desde aquele horário, várias garotas se declaravam aos rapazes, entregando chocolates e fazendo juras de amor. Algumas eram correspondidas, outras voltavam para seus lugares completamente tristes, segurando para não chorar.

“Bom dia, Nagisa-kun.” A voz séria veio de seu lado direito e Nagisa virou o rosto rapidamente, sentindo uma breve dor pelo movimento repentino. “Estou de volta.”

“Rei-chan!” Seus olhos brilharam e um enorme sorriso apareceu em seu rosto. “Seja bem vindo! Como foi de viagem?”

“Foi tudo bem. Minha mãe não queria voltar essa semana, mas eu disse que não poderia perder aulas.” Rei sorriu e se sentou em seu devido lugar, na frente de Nagisa. “E como você passou as festas de fim de ano?”

“Minha mãe e meu pai viajaram para uma ilha tropical, mas eu me diverti.” O loiro deu de ombros, observando a expressão surpresa de seu amigo. “O que foi?”

“Você passou o fim de ano sozinho?!” A voz de Rei saiu mais alta do que o necessário, atraindo alguns olhares curiosos para eles.

“Não, eu...” Um pensamento divertido cruzou sua mente e Nagisa não pode evitar sorrir. Ele poderia fazer aquilo antes de levar um fora e ter que seguir a vida. “Uhm... Por que, Rei-chan? Ficou preocupado?”

“Mas é claro!” O moreno ajeitou os óculos vermelhos, ficando levemente corado. “As festas de fim de ano devem ser comemoradas devidamente. Você deveria ter me ligado.”

“E se eu tivesse ligado você faria o quê? Que eu saiba, a casa de seus parentes é em outra cidade.” Uma risadinha baixa escapou de seus lábios. Era divertido ver como Rei se preocupava com certas coisas.

“E-eu teria pegado um trem e voltado para cá. Poderíamos ter passado as festas de fim de ano juntos.” O rosto de Rei ficou mais corado ainda, deixando o loiro sem palavras.

Sua boca estava aberta, mas nenhum som saía por ela. Nagisa estava surpreso com o que acabara de ouvir, deixando-o completamente paralisado e sem reação. Não era essa a resposta que eu esperava.

Quando o momento de surpresa passou e o loiro viu que conseguiria dizer algo, uma jovem garota se aproximou dos dois, completamente envergonhada. Ela era um pouco mais baixa que Nagisa, com seus cabelos negros pendendo até a cintura. Ela é linda.

“Ryuugazaki Rei-san?” Sua voz era baixa e ela parecia estar usando de uma grande força de vontade para olhar diretamente nos olhos azuis de Rei.

“Sim?” Ele ajeitou os óculos e se virou para a garota, com a expressão séria que ele sempre usava quando conversava com alguém que não conhecia.

“S-será que você poderia me encontrar atrás da escola hoje? Quando as aulas acabarem?” Ela respondeu apressadamente, ficando ainda mais vermelha.

“Você é a Ayumi Mayu, certo?” Rei olhou da garota para Nagisa, com o olhar confuso. “Para o que seria?”

“E-eu não posso falar aqui.” Ayumi pareceu extremamente feliz por ver que Rei sabia seu nome. “Será que... Tem como nos encontrarmos lá? S-sozinhos?”

Os olhos negros da garota se dirigiram para Nagisa. Era verdade que ele e Rei estavam sempre juntos, mas o loiro já havia entendido o caminho daquela conversa desde que a garota se aproximara.

“Eu não sei... Hoje eu tenho que treinar e-”

“O clube de natação está fechado até o mês que vem, Rei-chan.” Nagisa o interrompeu, cruzando os braços e se encostando na cadeira. “Está muito frio para nadarmos.”

“Entendo... Então tudo bem, acho que posso encontrá-la por lá.” O moreno fez um sinal positivo com a cabeça, mas sua expressão continuava confusa.

Ayumi sorriu e se afastou, agradecendo várias vezes, para Rei e Nagisa. Um breve suspiro cruzou os lábios do loiro e ele arqueou uma sobrancelha ao ver o olhar perdido do rapaz a sua frente.

“O que foi Rei-chan?”

“O que será que ela quer? Talvez ela esteja com duvida em alguma matéria e não queira conversar sobre isso na frente das pessoas. Isso é um problema, eu faltei na primeira semana de aula, não sei se vou poder ajudá-la.” O moreno estava realmente sério, parecendo formular vários e vários motivos para aquela súbita abordagem.

“Rei-chan, hoje é dia dos namorados.” Os olhos azuis de Rei ainda estavam confusos. Ele ainda não entendeu. O Rei-chan é muito inteligente, mas não consegue entender coisas básicas como essas. “Ela vai se declarar para você.”

Nagisa precisou forçar um sorriso, para que a frase não saísse tão séria. A expressão de Rei passou de desentendimento para surpresa, fazendo com que um gosto amargo tomasse conta da boca do loiro.

“Isso é incrível, Rei-chan!” Nagisa se forçou a dar um tapinha no ombro do amigo, como que para incentivá-lo. “Ela é linda!”

O rapaz pareceu prestes a protestar, mas o sinal os interrompeu, avisando que as aulas começariam e que o professor logo estaria na sala de aula. Sem dizer nada, apenas ajeitando os óculos, Rei se virou para frente, afundando em silêncio.

Um suspiro cruzou os lábios de Nagisa e ele voltou a encostar-se à cadeira, completamente abalado. Eu queria me declarar para o Rei-chan primeiro. Se ele aceitar o pedido desta garota, eu não sei o que farei.

X

As aulas se passaram mais rápido do que Nagisa gostaria. Ele sempre pedia para que a hora passasse rápido, mas aquele dia estava sendo diferente em muitos aspectos. O intervalo foi silencioso, e até mesmo Makoto e Haru perceberam que algo estava errado.

Quando Nagisa fez o favor de dizer que Rei receberia uma confissão de dia dos namorados – sorrindo e brincando, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, – Makoto olhou para o loiro, mas fez o possível para desejar sorte a Rei.

Os olhos azuis de Haru permaneceram fixos em Nagisa, sem se desviarem em momento algum, e o loiro percebeu que ele sabia sobre seus sentimentos em relação a Rei. O Mako-chan deve ter dito alguma coisa. Mas eu não posso fazer nada, essas coisas acontecem no dia dos namorados.

O loiro fez o possível para sorrir na direção de Haru, mas ele viu quando uma breve expressão de dor cruzou o belo rosto do amigo. É impossível esconder algo do Haru-chan. Ele parece estar sentindo a minha dor.

Rei agradeceu o incentivo de Makoto, mas a conversa ficou por aquilo mesmo. Percebendo como o ar estava pesado, o capitão do time fez o possível para que o intervalo se passasse da maneira mais agradável possível, sendo auxiliado por um animado Nagisa – mesmo que sua animação estivesse longe de ser verdadeira.

Com o fim das aulas aquele dia, Nagisa recolheu o material o mais rápido que pode, desejando sair do colégio em breve.

“Eu vou na frente, Rei-chan. Me conte como foi, está bem?” Outro sorriso precisou ser forçado, mas Rei parecia sério demais para perceber.

“Nagisa-kun.” O moreno ajeitou os óculos e se virou de frente para o amigo. “E-eu preciso das anotações das matérias que perdi na semana passada. Posso passar na sua casa mais tarde?”

“S-sem problemas.” O pedido o pegou desprevenido e a resposta saiu automática. Eu não quero que ele vá para casa mais tarde. Eu não sei como estarei até lá. “Até mais tarde então.”

Seus pés o levaram para fora da sala e do colégio o mais rápido que Nagisa conseguia andar. Seu peito doía e ele sabia que era bem possível chorar quando chegasse em casa. O clima frio já não o afetava mais e ele se concentrou em andar em silêncio.

Depois de bons quinze minutos de caminhada, o loiro trancou a porta de casa, avisando que havia chegado e sendo recebido pela mãe. Ela pediu para que ele se limpasse e a ajudasse a fazer uma torta de chocolate.

“É dia dos namorados, eu queria fazer algo para o seu pai.” Um sorriso tímido tomou conta dos lábios da mulher e Nagisa não conseguiu não retribuir.

“Eu já volto mãe, vou trocar de roupa e prometo de ajudar.” O loiro deu um beijo na bochecha da mãe e subiu as escadas depressa. Se eu me ocupar em cozinhar, tenho certeza de que vou parar de pensar no Rei-chan.

Poucos minutos depois, Nagisa estava de volta a cozinha, com uma confortável roupa de ficar em casa. Sua franja estava presa por duas presilhas e ele fazia força para abrir a massa da torta.

Durante quase uma hora, ele e sua mãe se ajudaram na cozinha, preparando a melhor torta de chocolate que poderiam fazer. Assim que o doce foi colocado no forno e Nagisa terminou de lavar a última colher, a campainha tocou.

“Pode deixar que eu atendo mãe.” Ele sorriu e secou as mãos no avental vermelho, rindo da bronca que levara. Ela não gosta quando eu faço isso.

A porta da frente foi aberta, mas não era quem Nagisa esperava. Àquela hora, o loiro achou que seria seu pai, voltando do trabalho, mas não. Nem de longe.

“R-Rei-chan!” O nó que havia sumido de sua garganta retornara com força, fazendo-o gaguejar. “Eu esqueci que você viria.”

“M-mesmo? Eu posso pegar as anotações amanhã de manhã então, se for atrapalhar.” O moreno coçou o cabelo e olhou para o chão, completamente envergonhado.

“Não, tudo bem. Você se deu ao trabalho de vir aqui. Entre, as anotações estão lá no meu quarto.” Nagisa deu um passo para o lado, deixando que Rei entrasse e retirasse os tênis. “Mãe, o Rei-chan está aqui.”

A mulher apareceu no corredor, cumprimentando o rapaz. Como eram amigos, Rei sempre aparecia na casa do loiro, para estudar, fazer tarefa ou jogar. Ou eu vou até a casa dele. Nós revezamos.

“Fique para o jantar, Rei-chan. Eu e o Nagisa fizemos uma torta de chocolate, aposto que você vai gostar.”

“O-obrigado.” Ele sorriu para a mãe do amigo e assentiu com a cabeça. “Eu aceitarei, se não for muito incomodo.”

“Rei-chan, você tem que parar de achar que incomoda.” Nagisa sorriu e retirou o avental, entregando-o na mão da mãe. “Nós vamos subir.”

A mulher concordou e disse que chamaria quando o jantar estivesse pronto. Os dois rapazes subiram a escada rapidamente, enquanto o loiro se desculpava pela bagunça do quarto. Eu não arrumei a cama e as roupas do colégio estão jogadas no chão.

Assim que entraram no cômodo, Nagisa recolheu as roupas, rindo alto e dizendo que tinha preguiça de dobrá-las. Fato que foi comprovado assim que ele abriu o guarda roupa e jogou as peças lá dentro, em uma bola de roupas.

“Fique a vontade. Vamos assistir TV? Ah, aqui estão as anotações.” Ele caminhou até a mesinha de estudos, pegando quatro cadernos escuros e entregando-os para Rei.

“Obrigado. Prometo devolvê-los até segunda.” O moreno guardou os cadernos dentro da bolsa e colocou-a ao pé da cama do amigo.

“Leve o tempo que precisar. Mesmo sendo o primeiro dia de aula, os professores passaram muita matéria e a minha letra é horrível.” Nagisa deu de ombros e se sentou no chão, engolindo em seco. Mesmo que aquele assunto o incomodasse, ele sabia que não conseguiria ficar sem perguntar. “Você chegou rápido. Como foi com a Ayumi?”

Rei se sentou no chão também, permanecendo com a expressão séria.

“Eu não deixei ela falar.”

“O que?! Você já chegou beijando?! Eu não sabia que você era assim, Rei-chan!” A risada que deixou seus lábios foi sincera. Imaginar Rei chegando assim nas garotas era extremamente engraçado, embora uma pequena e incomoda dor não o deixasse esquecer o ciúme que sentia.

“Claro que não!” O rapaz corou violentamente, ajeitando os óculos no rosto e pedido para que Nagisa parasse de rir. “Eu só... Cheguei ao local combinado e antes que ela pudesse dizer algo, eu expliquei que não poderia aceitar os sentimentos dela.”

Nagisa apoiou as mãos no chão, surpreso com o que ouvira.

“Ela deve ter ficado bem triste.” Foi tudo o que o loiro conseguiu falar.

“E-ela não disse nada. Só me desejou sorte e saiu correndo.”

“Sorte? Por quê?”

“Eu expliquei que não poderia aceitar os sentimentos dela porque já gostava de alguém.”

O quarto afundou em silêncio enquanto Nagisa sentia seu estômago revirar. Rei não olhava para ele e isso foi um grande motivo de agradecimento. Eu não sei qual é a minha expressão agora, mas devo estar terrível.

“I-isso é incrível, Rei-chan.” O loiro engoliu em seco, sentindo o nó em sua garganta se tornar maior e o peso em suas costas ser quase insuportável. “P-por que não me contou antes? Nós somos amigos.”

“Eu estava com medo de v-você... F-ficar irritado.”

“Eu jamais ficaria irritado, Rei-chan.” Nagisa agradeceu por sua voz não ter falhado e fez o possível para que o tom permanecesse o de sempre. Como se ele estivesse se divertindo. “Eu poderia ter ajudado.”

“É porque a pessoa que eu gosto... É v-voc-”

Os olhos de Nagisa se arregalaram e ele pegou a primeira coisa que encontrou em cima de sua cama e empurrou contra o rosto de Rei, fazendo-o ficar em silêncio. Seu coração batia em uma velocidade que não deveria ser saudável, e seu rosto estava quente. Eu estou ouvindo coisas não é?

“O que você está fazendo, Nagisa-kun?!” Rei empurrou o urso polar para longe, revelando o rosto corado. Ele está mais envergonhado do que eu!

“Não diga nada! Não é para você dizer nada!” Sua voz saiu alta e, pela primeira vez em sua vida, Nagisa percebeu que estava perdendo o controle. “Você não tem esse direito!”

“O que? Por quê? Eu posso muito bem falar sobre meus sentimen-”

Não!” O loiro praticamente gritou, ficando em pé. “Isso é injusto. Você é injusto, Rei-chan.”

Nagisa sentia seus olhos arderem e a palma de sua mão doer, decorrente da força que ele aplicava para manter os punhos fechados. Eu não queria chorar, mas... Duas lágrimas escorreram pelo seu rosto, encontrando-se no final de seu queixo.

“N-Nagisa-kun...”

“Eu ia me declarar primeiro! Eu!” As palavras começaram a sair espontaneamente, e Nagisa começava a não se importar se sua mãe ouviria ou não. “Você não sabe, Rei-chan, quanto tempo eu fiquei em silêncio, esperando você dar um sinal de que gostava de mim também! Eu sempre admirei você. O modo como você participava do clube de atletismo, ou a maneira como decidiu que iria aprender a nadar para ajudar nosso time. Quando você perguntou por que eu queria que você entrasse para o clube, eu já nutria sentimentos por você.”

Os olhos azuis de Rei estavam bem abertos e ele ouvia a tudo com uma expressão de surpresa. Em nenhum momento ele se moveu, ou ajeitou os óculos. Ele apenas permaneceu lá, ouvindo tudo o que Nagisa falava.

“Eu sempre te abraçava e ganhava meu dia quando era correspondido, mas você nunca, nunca demonstrou que sentia o mesmo.” Ele passou as costas da mão, com força, sobre o queixo, limpando as lágrimas. “E agora você simplesmente aparece aqui, dizendo que gosta de mim, sem mais nem menos. Eu deveria ter dito isso primeiro!”

Nagisa respirou fundo ao terminar de falar, sentindo seus joelhos fraquejarem e sentando no chão novamente.

“Eu nunca demonstrei que sentia o mesmo?” A voz de Rei estava mais séria que o normal, fazendo com que Nagisa elevasse o olhar para o rapaz. “Você mesmo disse que eu retribuía seus abraços. Quando nós todos fomos para o treino ao mar, você disse que queria dormir na mesma barraca que o Haru-senpai, e o que eu disse? Eu perguntei por que você não queria dormir comigo. Foi a coisa mais vergonhosa que já disse na minha vida!”

Foi a vez de Nagisa ficar em silêncio. Ele se lembrava dessa ocasião, mas ele não prestou a atenção em Rei, caso contrário os dois teriam dormido na mesma barraca.

“Mas a primeira coisa que eu fiz, a primeira coisa que deveria ter deixado claro que eu sentia algo por você, foi ter aceitado entrar no clube de natação.” O moreno ajeitou os óculos e se inclinou um pouco para a frente, aproveitando a súbita onda de coragem que tomara conta de seu corpo. “Eu não sabia nadar. Eu entrei por sua causa. Eu senti que aquela seria a última vez que você insistiria para eu entrar no clube e eu não consegui imaginar como seria sem você por perto.”

O rosto de Rei voltou a corar violentamente e ele se sentou corretamente no chão, afastando-se um pouco de Nagisa. O moreno parecia não acreditar que tinha dito todas aquelas coisas. Eu não acredito que eu ouvi todas essas coisas.

O quarto ficou em silêncio novamente. O loiro sentiu que o nó em sua garganta havia sumido e uma onda de ânimo e coragem começou a tomar conta de todos os músculos de seu corpo.

“Rei-chan... Hoje é dia dos namorados.” Nagisa se aproximou do rapaz, sorrindo sinceramente. Todo o peso de seu coração havia sumido como um passe de mágica. “Nós acabamos de nos declarar.”

O rosto de Rei ficou ainda mais vermelho e ele desviou o olhar várias vezes, sem saber o que fazer. Nagisa se inclinou um pouco mais na direção do rapaz, mas o moreno não se mexeu, permanecendo com as mãos apoiadas no chão, em frente as suas pernas.

“Sabe o que as pessoas que acabaram de se declarar fazem?”

Rei fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente. O Rei-chan é muito inteligente. Até mesmo para essas coisas. O loiro sorriu e se inclinou um pouco mais. Seu coração estava acelerado e ele sentia que era capaz de pular de alegria.

“Elas se beijam. Eu posso te beijar, Rei-chan?” A pergunta saiu quase inocente, fazendo com que o moreno abrisse os olhos e visse o quão próximo eles estavam.

A resposta veio em um menear de cabeça positivo e Nagisa sorriu ainda mais, enquanto diminuía a distancia entre eles e começava a fechar os olhos.

Os lábios se encontraram timidamente, enquanto os corpos se aproximavam mais rápido. Rei não demorou em dar permissão para que a língua de Nagisa explorasse sua boca e logo o loiro estava sentado em seu colo.

Nagisa deixou que suas mãos se perdessem nos cabelos do amado, enquanto Rei o segurava pela cintura. Poderia ser a primeira vez que os dois se beijavam daquela maneira, mas tudo parecia tão natural e tão certo que eles só pararam quando o ar se tornou necessário.

“Rei-chan...” O loiro respirava pesadamente, procurando repor a falta de ar em seu organismo. “Eu sei que comprei com carinho para você, e pretendia entregá-lo direito, mas agora este urso polar está realmente me incomodando.”

Os dois rapazes olharam para baixo, vendo o bicho de pelúcia preso entre seus corpos. Nagisa riu baixinho e retirou-o de lá, jogando-o sobre a cama e se aproximando ainda mais de Rei. Seu rosto estava corado, mas ele não parecia incomodado com a aproximação.

“Obrigado, mas ainda não entendi porque eu ia ganhar um urso polar de pelúcia.” Rei deu um meio sorriso, retribuindo o abraço do rapaz que estava sentado em seu colo.

“Era presente de Natal, mas você não veio.” Nagisa deu de ombros e separou o abraço, mantendo suas mãos entrelaçadas na nuca do moreno. “Então pode levá-lo hoje.”

“Obrigado, mas o m-melhor presente foi e-esse.” Rei corou ainda mais e ajeitou os óculos, desviando o olhar.

“Qual?” O loiro sorriu e se aproximou mais um pouco. “Esse?”

O segundo beijo foi um pouco mais apaixonado que o outro e Nagisa teve quase certeza de que sentiu Rei sorrir entre a carícia. Os dois se separaram mais rápido dessa vez, em busca do ar que parecia fugir deles.

“Obrigado Rei-chan.” Nagisa o abraçou novamente, com um enorme sorriso no rosto. “Eu realmente te amo!”

“E-eu também te amo, Nagisa-kun!” Rei fez o possível para não gaguejar, mas foi em vão. “E prometo que no próximo dia dos namorados eu trarei chocolates, como é tradicionalmente pedido.”

“Isso quer dizer que nós vamos estar juntos até o próximo dia dos namorados?” O animo na voz de Nagisa era contagiante e Rei adotou uma expressão séria.

“M-mas é claro!”

Nagisa sorriu e abraçou o amante, depositando vários beijos em todo o seu rosto, sem negar esforços para demonstrar o quanto estava feliz. Eu esperei tanto tempo. Nós esperamos tanto tempo. Temos o direito de fazer planos para o nosso futuro. Eu tenho o direito de ser egoísta e desejar um futuro ao lado dele.


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Notas finais do capítulo

Primeiro especial de dia dos namorados postado!
Obrigada a quem leu até aqui.
Dia 13 e 14 os especiais serão de Kuroko no Basket.
Muito obrigada pelo carinho e atenção de quem dedicou um tempinho a ler a fanfic.
Vocês são demais!