O Irmão de Annabeth escrita por João Bohrer


Capítulo 18
Uma Rivalidade Mágica


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo e estamos chegando ao final de O Irmão de Annabeth, eu ainda não sei se vou continuar com a história... Mas boa leitura!



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As vezes não sei o que fazer, este era um desses momentos. Há um mês eu estava em Atenas com minha vida acertada, estudar medicina na universidade que homenageia minha mãe, morar em uma capital europeia. Creio que seja o sonho de muitos, mas as coisas em minha vida tendem a não ser fáceis.

Não vou mentir, eu só me faço de forte por fora, mas eu tenho medo, desde que minha mãe me enviou para o Egito, um medo que só cresceu à medida que eu envelhecia. Um medo de aprender magia, de utilizar as habilidades que me foram propostas. Eu era apenas uma criança assustada que cresceu sem ter ninguém por perto e sem limites.

Embora minha vida tenha sido boa, muito boa na verdade, eu me sentia cada vez mais sozinho, até voltar a América, meus únicos amigos, mantinham uma relação kamikaze comigo, ou seja, eram temporários, a maioria quando saída do Cairo, não voltava mais e nem mantinha contato. Por alguma coisa que eu havia feito, eu acho, Zia Rashid me odiava e sempre que havia competições entre os magos da casa, a final entre eu e ela era uma briga.

Estava empatado, ela havia me vencido três vezes e eu havia vencido ela três vezes, e vamos dizer que na última vez, eu consegui ser humilhado por Zia. Naquele dia, há exatos três anos, senti que nossa diferença de magia e poderes havia se tornado instransponível e eu jamais conseguiria superá-la novamente.

Depois aconteceu toda a história que vocês já sabem, Zia se tornou hospedeira de Rá, lutou contra Apófis ao lado dos Kane, e eu fiquei me escondendo de todos na Europa. Tudo bem, não foi se esconder, estava em missão pela casa da Vida, mas mesmo assim, demorei muito para saber o que estava acontecendo.

Quando Amós Kane assumiu o controle da casa, e reeinstituiu o caminho dos deuses como doutrina, demorei muito tempo para aprender este tipo de magia esquecida. E por mais que eu estuda-se, não encontrava nenhum Deus Egípcio de que gostasse ou tivesse um estilo de magia parecido com o meu.

Ísis foi uma ocasião, nunca me senti um servo fiel da Deusa. E na verdade, só havia escolhido ela por causa de Sadie, mas agora, enquanto as coisas que estavam acontecendo necessitavam de mais e mais magia, não ter a ajuda de um Deus ou uma Deusa para lhe fornecer conhecimentos, magia e energia.

Eu tinha Skadi, mas com ela era diferente. Não teria coragem para pedir energia ou qualquer outra coisa para Skadi, e na verdade eu nem sei se seria possível. Skadi era pra mim a única pessoa que importava, é claro, além de Annabeth. A deusa poderia ser imortal, mas agia como se fosse uma pessoa normal, como se fosse apenas uma adolescente.

Acordei ainda abraçado em Skadi que dava risada de mim.

Não é muito bom acordar no frio, ainda agarrado em sua namorada, que no final é a deusa da neve e ainda mais fria. Skadi me olhava com um sorriso no rosto, eu rapidamente a soltei e voltei a realidade. Ainda estávamos na cabana, com a lareira apagada e eu congelando os móveis. Sadie e Walt ainda não tinham acordado, nem Annabeth, ao menos nenhum deles havia descido...

Levantei e me espreguicei.

– Bom dia amor! – Falei ainda com sono

Skadi se levantou e deu um beijo na minha bochecha.

– Bom dia! –

– Afinal, você não me disse onde a gente está. –

Ela riu.

– Estamos no norte do Canadá. Nada muito longe. –

– Okay... Temos tempo ainda até os outros acordarem. Espero que Sadie e Walt finalmente acordem depouis de tudo aquilo que aconteceu. –

Ela me abraça.

– Vão acordar, mas antes está na hora do seu treinamento, ou vai acabar congelando toda a cabana. –

Eu olhei para ela com certo receio.

– Não adianta não querer, o medo será seu maior adversário, ou você o domina e controla esse novo poder ou você perderá o controle e acabará se condenando a uma vida inteira de isolamento, com medo de você mesmo! –

Ela ficou séria, muito séria.

– Eu não sabia que isso pode ser tão poderoso! –

Ela balançou a cabeça negativamente.

– Connor, seus poderes vão se desenvolver muito além, se não for forte para controlá-los... Eu não sei o que pode acontecer, o frio é diferente do calor para os humanos, o calor é próprio do corpo, controlá-lo é mais fácil, é mais natural, mas o frio, o gelo ou a própria neve, é um desafio, pois é o contrário natural da natureza humana. –

Eu compreendia o que ela queria dizer, o ser humano era um animal de sangue quente, capaz de produzir seu próprio calor, o frio sempre significou a morte, ou a luta pela sobrevivência do ser humano. E sim, eu estou com medo de utilizar esses poderes, eu não quero machucar ninguém e... Na verdade eu não sei, isso pode ser tanto uma benção quanto uma maldição!

– Skadi, então por favor me ensine... – Implorei

Ela sorriu e me abraçou.

– Claro que vou te ensinar, mas tudo vai depender de você. O quanto você quer controlar isso e do quanto ele pode ser útil para você. -

Nós reacendemos a lareira e saímos para a neve. Skadi materializou um casaco de grosso para ela e me deixou apenas com uma camiseta de manga curta do acampamento meio sangue e calças jeans.

O frio invadia minhas roupas e me congelava mais ainda, eu não conseguia tremer e Skadi só estava sorrindo.

– Sabe, eu sei porque vocês adoram usar casaco, é tão bom estar quente as vezes... – Comentou Skadi

Eu não conseguia me concentrar, o frio era forte demais, era o frio externo e o interno, se juntando e me congelando lentamente.

– Connor, têm que deixar o frio dominar! Não tente se aquecer, assim será pior! –

O que ela me pedia era ir contra todos os sentidos e os instintos de sobrevivência que estavam há milhares de anos com a espécie humana, era contrariar os conhecimentos e a lógica aprendida com Atena.

– Não posso... Isso é ir contra tudo que eu aprendi sobre sobrevivência, é ir contra meu próprio instinto! – Disse tremendo caindo de joelhos na neve.

Ela me olhou com raiva.

– Não consegue! Então desista e deixe, se congele... Dará uma bela estátua de gelo! – Gritou Skadi

Não acreditava no que Skadi me dizia, eu queria me aquecer. Entrar na cabana e ir para a frente da lareira.

Me levantei e comecei a ir em direção a cabana.

– Vai desistir mesmo? Sinto muito, mas para entrar na cabana terá que passar por mim! –

Encarei Skadi com dúvida.

Eu amava aquela Deusa que começava a se demonstrar perversa, mas eu iria entrar naquela cabana ela querendo ou não, acho que aquela iria ser nossa primeira briga.

Continuei avançando lentamente.

– Connor, você não vai entrar! –

Skadi simplesmente levantou o braço direito e fez um gesto com a mão.

O vento aumentou contra mim e a neve ficou mais forte. Eu tentava avançar mas era inútil.

– Skadi! – Gritei

– Vamos se esforce! – Gritou ela

O frio havia paralisado minhas mãos e meus pés estavam dormentes, o gelo, produzido por mim mesmo começava a congelar meus membros.

– Vai virar realmente um boneco de neve... – Disse Skadi sorrindo

Não tinha jeito, mais alguns segundos e eu iria ser transformado em picolé de semideus. Tive que contrariar os meus instintos e deixar o frio me controlar, eu a partir daquele momento desistiria de ter sangue quente e passaria o resto de minha vida, vivendo do frio.

Parei de me esforçar para tremer, deixei o frio tomar conta de mim.

Foi uma sensação dolorosa, senti que todo o meu sangue estava sendo congelado, ofeguei um pouco, meus pulmões pareciam estar cheios de neve. Toci e voltei a respirar o ar gelado, eu não sentia mais frio, levantei lentamente e respirando com alguma dificuldade.

Skadi veio até mim e me ajudou a levantar.

– Não será fácil, seus poderes ainda estão sem controle, mas você deu o primeiro passo para aprender. Connor, me desculpe por ser dura, mas quanto mais você ficar descontrolado, pior será. Seus sentimentos estão ligados com seus poderes. Sei que fará bom uso deles... –

– Porque me sinto como se fosse neve pura? –

– É passageiro... Por que não tenta fazer alguma coisa? – Perguntou ela

Eu estendi o braço e abri a mão.

Uma pequena estátua de Skadi surgiu e ficou na palma de minha mão.

Ela analisou e sorriu.

– Tá bom... Você já é pelo menos um artista... –

Ao contrário das outras vezes, eu não me sentia nem um pouco cansado, estava tranquilo e feliz.

– Então... – Fiquei sem assunto

Ela me olhou e sorriu.

Okay... Você merece agora! –

Ela se virou e me beijou durante uns trinta segundos. Havia sido um beijo congelante, mas o melhor que já havia dado.

– Tá bom, agora podemos entrar. –

Eu e Skadi voltamos para a cabana. Não sentia mais o calor da lareira, era como se eu não tivesse mais a sensação da variação da temperatura.

Sentei no sofá.

Ouvi um barulho no andar de cima e logo descendendo as escadas, vinham Annabeth, Sadie e Walt.

Annabeth estava com o cabelo colado no rosto e com uma cara de poucos amigos, Sadie também estava irritada, mas estava com o cabelo todo para cima e Walt... Bem, ele estava normal, mas um pouco mais tranquilo que as duas garotas.

– Bem, esse com toda certeza não foi o melhor sono da minha vida! – Exclamou Sadie

Digo o mesmo! Está muito frio aqui! – Concordou Annabeth

Eu olhei para as duas e ri.

Elas me olharam com raiva mas logo sorriram.

– E os dois namoradinhos? Dormiram juntos essa noite? – Perguntou Sadie

Eu e Skadi nos olhamos.

– Não vale a pena congelar ela... – Disse Skadi

Deixaria Carter mais feliz, mas ela é legal! – Concordei

Sadie olhou para mim sem entender nada, assim como Annabeth.

– Connor... Seus olhos estão... – Falou Annabeth

– Estão?! –

– Azuis! Muito Azuis! –

Eu olhei para Skadi e ela fez um sinal de positivo.

Pelo jeito toda essa história de aceitar a neve, me deu um olho azul e não mais cinzento como o de Annabeth.

– Muito bem... Vocês querem fazer o que? – Perguntei

– Queremos voltar para a mansão, tentar convencer o Carter de que algo sério está acontecendo... – Falou Sadie

Walt concordou.

– Além disso, temos que voltar ao acampamento, falar com Quíron e os outros! –

Sim, então a primeira parada é a mansão Kane e a segunda o Acampamento Meio Sangue... – Falei

– Além de trocar de roupa, tomar um banho, comer alguma coisa... O mesmo de sempre! – Continuou falando Sadie

Annabeth concordou com Sadie.

– Muito bem... Skadi, você pode nos ajudar com isso? –

Ela me analisou.

– Tudo bem, mas vai estar me devendo mais uma... – Disse ela

Skadi ergueu as mãos e abriu o portal para o Brooklin. Fomos sugados na mesma hora, do jeito que estávamos. O portal de Skadi era diferente dos outros que usávamos, ele era mais consistente, parecia mais perigoso, mas ao mesmo tempo me sentia melhor lá dentro do que com os outros portais.

Desembarcamos no antigo estaleiro do Brooklin, atrás de nós o rio que cortava Manhattan e a frente os armazéns que davam acesso a mansão do Brooklin.

Skadi ficou parada encarando a mansão que flutuava acima de nós.

– O que houve? – Perguntei

Sabe que eu não posso entrar ali... Vocês façam isso rápido e cuidado, principalmente você Connor. –

Eu sei, mas você vai ir para aonde? –

– Eu vou ir visitar minha prima... Nos vemos daqui há algumas horas, qualquer coisa, não se contenha em usar as habilidades que estou te ensinando. – Disse ela desaparecendo na minha frente

Os outros olharam para cima enquanto encaravam a mansão. Tinha algo diferente nela, não sabia o que, mas a magia que ela transmitia estava muito mais forte, chegava a ser enjoativa. Subimos pela longa escada que dava acesso a mansão, ao passar pela porta da frente, eu e Annabeth não tivemos a mínima dificuldade.

Sadie guiou Annabeth até um quarto desocupado para que ela pudesse tomar um banho, Walt subiu para o dele, assim como eu voltei a ocupar o que tinha sido destinado a mim. Tomei um banho de 15 minutos, passei mais da metade pensando no que faríamos a seguir. Mas nenhuma ideia vinha a minha cabeça, depois do banho, simplesmente peguei a camisa do AEK Athenas, ou seja, o time de futebol da cidade de minha mãe, coloquei uma calça jeans e montei uma mochila improvisada.

Desci as escadas para o salão, esperando que todos estivessem prontos para irem embora. Me enganei.

Uma bola de fogo passa raspando a minha orelha.

E ela finalmente tinha dado as caras, segurando seu tradicional cajado negro com a cabeça de Leão, a namorada de Carter e hospedeira de Rá, Zia Rashid estava de volta.

– Achei que Carter tinha sido claro, quando disse que você não era mais bem vindo aqui! – Esbravejou ela

– Ele foi, mas sabe, eu acho que as coisas estão meio tensas entre todos nós! –

Ela disparou outra bola de fogo.

– Sabe, eu sempre suspeitei de que você era um traidor, nunca fui com a sua cara e pelo jeito minha opinião estava mais uma vez certa! –

Eu a encarei.

– Eu nunca tive medo de você Zia, e eu não sou um traidor... –

– Se não tem medo, a partir de agora vai começar a ter... Eu vou acabar com você grego, com você e sua irmã! –

Zia começou a andar para perto de mim.

– Será nosso desempate então... Rashid! –

Zia chegou a minha frente e me encarou.

Ficamos nos olhando por cerca de dois minutos. As regras dos duelos de magos eram claras, não se podia atacar de frente a menos de 8 metros de distância. O resto, era tudo válido, podia se lutar com qualquer arma, utilizar qualquer feitiço que se conhece-se, menos execrar o adversário. A morte de alguém era punida com a morte, ou seja, olho por olho e dente por dente.

– Regras do duelo? – Perguntou ela com raiva

Regras do duelo... – Concordei

Zia se afastou de mim ficando há exatos oito metros.

Começamos apenas nos encarando, mas foi dela o primeiro movimento. Disparou três bolas de fogo contra mim, eu não utilizei magia, apenas desviei.

Tirei do duat o mangual e o gancho.

Zia disparou mais bolas de fogo contra mim.

Cruzei as duas armas e gritei N’Dah, uma barreira de energia mágica me protegeu. Fazia muito tempo que eu não lutava como um mago e não sabia mais o que fazer.

– Há-Wi! – Gritei

Os hieróglifos azuis apareceram na frente de Zia.

Ela não teve nenhum trabalho em simplesmente gritar N’Dah e se proteger. Aquele ataque com Há-Wi era uma coisa que eu já contava que iria dar certo, mas não ela simplesmente desviou, as habilidades de Zia estavam muito mais fortes que as minhas.

Zia dispara uma rajada de fogo seguida de outras pequenas bolas de fogo.

Consegui me defender da rajada, mas as bolas me acertaram no peito e nas pernas. Não conseguia mais ficar de pé e caí de joelhos no chão.

– Já perdeu grego? Esperava mais de um semideus... –

Zia se concentrou e disparou mais uma rajada de fogo.

N’Dah! –

A barreira resistiu um pouco mas explodiu na minha frente, mais um ataque e eu já era.

Zia disparou o ataque mais forte que um conjurador de fogo pode disparar.

A torre de fogo era como um míssil teleguiado, ele travava no alvo e não parava até conseguir atacá-lo, o seguia por onde quer que ele fosse, e agora toda aquela magia estava travada em mim e me atacaria.

Reuni o pouco de magia que restava em meu estoque.

Khefa! – Gritei

O punho de Hórus não era o tipo de magia que eu gostava, era do estilo do Carter, ou seja o combate. O punho gigante atingiu a torre de fogo em cheio, e novamente, tudo voou pelos ares.

Fui arremessado com força para fora da mansão, assim como Zia Rashid.

Estar no ar, na verdade despencando de uns cinquenta metros de altura não era a melhor coisa do mundo. Eu caí no rio, a poucos metros de onde Zia havia caído, comecei a nadar para chegar a margem depressa. Quando consegui, vi Zia já de pé na minha frente.

– Que se explodam as regras! – Ela disse

Ela apontou o cajado para meu rosto.

Não daria o tempo de fazer nada, mas foi aí que eu percebi, Zia estava encharcada, e também todo o chão estava molhado devido a nós dois. Skadi havia falado, que se eu precisa-se não era para ter medo de usar os dons que ela havia me dado, e aquele seria o momento exato, se eu consegui-se congelar a água ao redor do corpo de Zia e congelar o piso, estaria salvo, pelo menos por enquanto.

Deixei que o frio assumi-se o controle dentro de mim, me concentrei em como a água deveria estar, ou seja, congelada.

– Alguma última palavra? – Perguntou ela

– Claro... Você quer brincar na neve? – Perguntei

Zia ficou confusa e a água que estava em seu corpo congelou, o chão também ficou branco e congelou os pés da garota que estavam numa poça.

– O que você fez?! Eu não consigo me mexer... – Disse ela

Truque de semideus... Adeus Zia! –

Eu sai do estaleiro e subi novamente para a mansão.

Annabeth e Sadie observaram todo o confronto do pátio da mansão, eu subi para meu quarto sem falar nada com elas e novamente tomei um banho e troquei de roupas, minha camisa do AEK estava fumegando, então voltamos as cores básicas do Barcelona, e sim, eu realmente amo o futebol.

Desci as escadas e me juntei aos outros.

Olhei para trás, tendo certeza de que em momento algum, veria as paredes daquela mansão de novo.


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Notas finais do capítulo

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