Problem Temptation escrita por Boow, Brus


Capítulo 19
Taking Care of Me




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/473440/chapter/19

Os segundos que seguiram aqueles após Ashley Evans ter a brilhante ideia de abrir sua maldita boca, certamente foram os mais intensos.

Gabriel se levantou daquele sofá tão irado que eu podia ver fagulhas brilhando em seus olhos, prestes a iniciar um incêndio. Um incêndio que provavelmente acabaria em alguma grande desgraça.

As palavras de Ashley praticamente se repetiam na minha mente como se eu estivesse tentando ter certeza da grande estupidez que ele havia cometido.

“Oi, eu sou Ashley Evans, um amigo… Você deve ser o Gabriel, namorado da Erin… O cara que foi preso. Seja bem vindo ao meu chalé.”

Obviamente encerrar seu discurso logo na primeira frase era algo simples demais para Ashley fazer. Ele precisava de coisas complicadas.

Sua existência, aparentemente, resumia-se em coisas complicadas.

Eu teria largado Evans ali mesmo se não fosse o fato de que meu apoio era a única coisa que o mantinha de pé. E provavelmente estar abraçada a ele era o único motivo de Gabriel não acabar de deformar o seu rosto.

Além disso, por mais que agora doa admitir, a culpa não era de Evans se ele estava sendo sincero - o.k, talvez ele não precisasse ser tão sincero-, mas, se desde de o início eu tivesse dito a verdade esse momento seria muito menos perturbador.

Os olhos escuros de Gabriel olharam Ashley de cima a baixo como se estivessem incrédulos do que viam. Por poucos segundos seus olhos passaram por mim, como se quisesse pelo menos ter a certeza de que eu não estava também coberta por toda aquela sujeira.

— Aparentemente eu não sou o único aqui com problemas criminais. O que é isso Erin, um fetiche? — E apesar do tom terrivelmente cruel e irônico que ele usou eu podia ver o movimento pesado e controlado do seu peito, como se ele estivesse nervoso e chocado demais para saber a forma certa de reagir ao que estava acontecendo.

Ou o que ele imaginava que estava acontecendo.

Apesar da escolha de suas palavras terem me acertado quase como um tapa, eu sabia que a melhor atitude agora era tentar amenizar tudo aquilo ao invés de adentrar ainda mais em uma briga.

Caminhei com Ashley até o sofá sem dizer nada, aqueles treze passos (eu acabei os contando pra evitar o olhar pesado de Gabriel sobre mim) fora o único tempo que eu tive para pensar em uma forma de explicar tudo de uma maneira fácil.

Concluo que, para Gabriel, provavelmente não havia uma maneira fácil.

Larguei Ashley no sofá, que sentou-se em silêncio e tive um vislumbre por poucos instante que na verdade ele estava satisfeito em ser telespectador daquela situação. Como se fossemos seu novo programa de TV preferido. Talvez assistir minha desgraça fosse melhor do que parar para pensar sobre a sua, que estava visivelmente refletida em hematomas no seu corpo.

Me virei para Gabriel, ele ainda estava lá, parado de braços cruzados impondo toda a sua autoconfiança, ou tentando, enquanto olhava para mim e para Ashley com os olhos brilhando de uma forma nada receptiva.

Dou um passo mais para o lado, bloqueando completamente a visão de Gabriel sobre Ashley sentado no sofá, ou pelo menos o máximo que meu corpo permitia. Faço isso porque Evans está arruinado demais para ter que aguentar Gabriel o olhando daquela maneira soberba, como se tivesse nojo do que via. De certa forma ninguém merecia tanta arrogância, e Gabriel era sempre cheio dela quando queria ser grosseiro.

— Não é o que você está pensando, tudo bem? — Me arrisco a finalmente falar alguma coisa, deixando que um dos meus braços soltos ao lado do corpo subissem até a cabeça levando algumas mechas de cabelo para trás. — Tudo bem, eu menti pra você, exatamente pra evitar essa situação mas…

— Evitar qual situação, Erin? — Gabriel me interrompe rápido sem diminuir a rispidez em seu tom de voz e em seus olhos. — Aquela em que eu flagro você passando pela porta com um sujeito estranho, que até ontem você me disse que nem conhecia? — Ele dá apenas um largo passo em minha direção, sem se aproximar muito — Evans, não é? Você falou o nome enquanto dormia e quando acordou mentiu pra mim dizendo que não conhecia ninguém com esse maldito nome… Eu esperava algo melhor de você, Erin! — Então, olhando por cima do meu ombro,  ele lança um olhar de escárnio para a ponta do sofá, onde Ashley está sentado. — Literalmente algo melhor.

Então se alguma parte em mim com um pingo de bom-senso palpitava que eu deveria manter a situação o mais calma que a conduta de Gabriel nos permitia naquele momento, ela deixou de existir ao ver a forma como ele olhou para o sofá.

Ele não estava só me atacando, estava diminuindo Ashley. Em outras palavras ele havia dito “tudo bem que você me traía por tanto que seja com alguém que me supere em todos os aspectos”.

— Ele é apenas meu amigo! Emprestou o quarto vago no chalé para que eu pudesse ter um lugar pra ficar durante a temporada, que não fosse o sofá no chalé de Megan ou o no de Oliver. Ashley é primo dos meus melhores amigos, eu confio nele.  Não te contei nada antes porque sabia que você agiria exatamente assim, você sempre age assim!

— Então agora você mente por um cara sentado no sofá, completamente ferrado, mas que você diz ser confiável, e o problema sou eu.— Ele soava um tanto incrédulo enquanto repetia o que acabou de ouvir. —  Você quer que eu acredite nisso? Que um cara cheio de boas intenções ofereceu o quarto vago em uma maldita pousada e você me escondeu isso durante esse tempo todo, “por que eu sou o problema”? Por favor, Erin, se coloque no meu lugar e tente ao menos ser um pouco razoável.  — Suas palavras deixaram bastante claro que indiferente do que eu dissesse, Gabriel não estava disposto a acreditar e provavelmente nem à ouvir algo que não fosse exatamente o que ele pensava que era.

— Me colocar no seu lugar? Como? Tipo quando você saiu com Meredith antes de ir para Nova York e eu flagrei vocês em um carro no estacionamento do shopping? — As palavras saíram de mim tão rápido que nem mesmo eu tive completa consciência do que estava falando.

Gabriel não tentou esconder o choque, nem mesmo a pontada de mágoa por eu ter trazido a tona aquele assunto. Havia acontecido a bastante tempo atrás (não o suficiente para eu superar, mas para fingir que sim), nós conversamos e brigamos muito por isso até decidirmos crescer e superar. Gabriel me jurou que a partir de então seria um cara responsável  e que nunca mais faria algo do tipo para me decepcionar, por tanto que eu o desse uma segunda chance a ele. E eu dei. Decidimos silenciosamente nunca mais tocar naquele assunto. Com ninguém.

E agora, obviamente eu havia quebrado o acordo gritando aquilo alto o suficiente para que Ashley e nossos vizinhos no chalé ao lado soubessem da história. Ao menos os vizinhos não falam nosso idioma.

Tocar naquele assunto tão de repente não me fez recuar, pelo contrário, eu senti raiva o suficiente para prosseguir com aquela discussão.

— Erin… — Gabriel tentou falar finalmente descruzando seus braços e deixando eles penderem ao lado do corpo, mas sem perder a astúcia nos olhos. Eu impedi que ele falasse.

— Não Gabriel, agora você vai me escutar, ok? Porque sinceramente pensando agora, acho que eu também esperava mais de mim. Eu conheci Ashley logo em que cheguei aqui, somos amigos e trabalhamos juntos, ele precisou de mim hoje e eu fui ajudá-lo. Mas sabe o que tem de ruim nisso? Eu hesitei em ajudar, simplesmente por medo da sua reação. — Faço uma pausa, olhando para Gabriel enquanto sinto meu coração bater tão forte contra o peito, que eu podia literalmente sentir sua vibração.

Não há outro barulho na sala além da minha voz, até mesmo os murmúrios de Ashley provocados pela dor haviam sumido e Gabriel parece perceber que eu ainda estava determinada a continuar falando, por isso se manteve calado.

— Eu não contei sobre ele porque tive medo de como você reagiria, eu hesitei em ajudar Ashley pelo mesmo motivo e a cada ligação com você, antes disso, eu pensava que desculpa inventar quando você escutasse a voz dele ao fundo, antes mesmo de eu dizer “alô”. Estou agindo como se realmente tivesse algo errado nisso tudo, quando na verdade a única coisa que me parece errada agora é a falta de confiança nesse relacionamento. Talvez se você demonstrasse um pouco mais de compreensão, isso não tivesse acontecido.

— Você pode por favor parar de pôr a culpa nas minhas mãos? — Gabriel gritou de repente, e sua voz alta preenchendo o cômodo tão de repente fez com que eu me encolhesse entre meus ombros me tirando toda a coragem de prosseguir. — Você mentiu, você está acobertando esse cara e vocês são o X da questão. Se quer me acusar de não confiar em você, tente ao menos mostrar que está merecendo minha confiança. Qual é a próxima agradável surpresa da noite além do cara com tendências marginais atrás de você? talvez ele queira participar da conversa, hum? O que ele tem a dizer?

E antes mesmo que eu me desse conta, lágrimas saiam dos meus olhos compulsivamente e eu estava tremendo de raiva e tristeza. Talvez se eu tivesse forças acertaria um tapa na cara de Gabriel forte o suficiente para que ele nunca esquecesse do dia em gritou na minha frente que eu não merecia sua confiança. Meu relacionamento poderia não ser o melhor de todos e ter sérios problemas, mas ainda assim até poucas horas atrás Gabriel ainda era o cara que eu tinha escolhido para a minha vida e ele mesmo havia acabado de estragar tudo isso.

Levanto minha mão e aponto para a porta, só me dou conta do quanto eu realmente estou tremendo quando vejo que não tenho controle e coordenação nem mesmo para manter o braço esticado naquela posição por muito tempo.

— Sai. — Digo e ao contrário do que eu esperava, não sai de forma ríspida e alta. É quase um sussurro rouco porém firme e abafado pelo nervosismo e a força que inutilmente eu fazia para impedir que mais lágrimas saíssem.

Mas mesmo com os inúmeros fatores colaborando contra a compreensão de Gabriel, seus olhos escuros e pesados fixos em mim pareciam ter traduzido o movimento dos meus lábios e transformado-os em algo inteligível. Ele se deu ao trabalho de me encarar daquela forma arrogante e superior que usava como sua armadura durante cinco segundos, antes de igualmente baixo responder a mim:

Com prazer.

Então ele me deu as costas e eu o vi partir. Assim, exatamente dessa maneira, sem sequer por um segundo parar para considerar que pudesse estar falando a verdade para ele.

Depois da sua voz que apesar de baixa, nos meus ouvidos soou ensurdecedora, o único outro som que eu ouvi anunciando a saída do mesmo foi o barulho alto e explosivo que a porta fez ao ser batida com raiva.

Eu não sei exatamente quanto tempo passei de pé, encarando o vácuo que se formou no meio da sala entre mim e a porta. Mas em algum momento uma parte automática do meu cérebro começou a trabalhar por conta própria e foi movida por esse impulso que cheguei até o banheiro, liguei a torneira na pia e comecei a jogar água no meu rosto compulsivamente como se daquela maneira eu fosse encontrar uma solução, uma saída ou então um caminho certo.

Levanto o meu rosto e encaro meu reflexo no espelho. Eu tinha quase certeza que ainda estava chorando mas as gotas de água no meu rosto disfarçavam isso, deixando que as lágrimas se misturassem e camuflassem-se em meio a elas..

Enquanto olho a mim mesmo e suprimo a vontade de chorar (agora por ver o estado deplorável em que eu me encontrava), um nome vem a minha cabeça.

Ashley Evans.

Ele ainda precisava de mim, e eu havia o deixado no sofá.

Pego a pequena caixa de primeiros socorros no armário do banheiro e molho uma toalha na torneira da pia. Só quando vou torcê-la é que percebo que ainda estou tremendo e quase não tenho força o suficiente para fazer algo tão simples.

Caminho até a sala em silêncio. Ashley está la da mesma maneira que o deixei sentado no sofá. Percebo pelo seus movimentos que ele está tentando tirar sua camisa encardida. Mas, movimentando apenas um dos braços, acho que essa acabaria sendo uma tarefa para a noite toda, até que ele conseguisse terminar o ato.

Paro na frente dele. Ele para o que está fazendo e se concentra apenas em me olhar. Não está me olhando com pena ou me julgando de qualquer maneira, está apenas me olhando.

— Eu posso cortar se quiser… — Falo finalmente depois de largar a caixa de primeiros socorros em cima do sofá e de dentro dela pegar a tesoura. — Digo, a camisa. Seu ombro ou braço podem estar quebrados e seria melhor se não mexesse. — Ele não diz nada, apenas balança a cabeça positivamente e afasta levemente os dois braços para que eu possa cortar o tecido.

Levo a ponta da tesoura até a barra na manga da blusa, tento não tremer para não machucar ele ainda mais, mas cada vez que tento e percebo que não consigo me controlar fico ainda mais nervosa. Meus olhos começam a captar as coisas como um borrão e mentalmente estou me criticando porque estou prestes a recomeçar a chorar. Ashley percebe isso. Não sei se pelo meu nervosismo ou pelo corte em zig-zag que deixo na sua roupa. Mas quando ele nota, ele simplesmente usa o braço bom para segurar o meu pulso com calma  e afastar minha mãe de sua blusa logo depois me tirando a tesoura dos dedos.

Aquilo é o suficiente para me deixar no fundo do poço. Eu me sentia uma criança desolada triste e assustada. Incapaz de ajudar até mesmo uma única pessoa.

Apesar de que a pessoa em questão é Ashley, e acredito que até um especialista teria dificuldades para ajudá-lo.

Respiro fundo tentando me recompor, falho. Olho nos olhos de Ashley e agora ele realmente me olha de maneira preocupada. Eu deveria estar patética.

— Desculpa… eu não consigo. — Digo passando as mão pelo resto para limpá-lo. — Eu vou chamar o meu irmão, ele vai saber te ajudar. — E enquanto falo, dou as costas para Ashley na iniciativa de ir até o chalé dos meninos chamar Oliver, sem sequer lembrar da existência de telefones e outros meios modernos de comunicação.

Sem pensar também na possibilidade de que, sendo as pessoas mais próximas de Gabriel nesse lugar, eu provavelmente daria de cara com meu namorado em seu pior estado de espírito quando chegasse lá.

Porém sou impedida de me afastar do sofá, rumo a porta, quando a mão gelada de Ashley segura a ponta dos dedos da minha mão, de repente. Me viro em sua direção questionando silenciosamente o que poderia ser agora, e ele apenas me puxa para mais perto e me faz sentar ao seu lado no sofá.

Seu braço (aquele que ele ainda pode mover) passa pelos meus ombros fazendo que meu corpo se conforte bem próximo ao dele. Evans não diz nada, no entanto, sinto quando tranca a respiração devido a dor que a posição lhe causa. Tento me afastar para deixá-lo confortável mas seu braço em meus ombros protesta contra isso e me mantém lá.

Ele não precisou dizer nada, no segundo em que fechei meus olhos ali, senti quebrar uma muralha de emoções que começaram a cair rapidamente. E por mais estranho que fosse e completamente insano, eu estava ali, sendo consolada silenciosamente pelo cara que a poucas horas atrás eu estava querendo estrangular por me fazer passar por situações desnecessárias. E aparentemente desde que saí da cama naquela madrugada, esse foi o primeiro momento que me senti razoavelmente segura sobre as coisas ao meu redor.

— O que estou fazendo, Ashley? — A pergunta, quase desesperada, partiu de mim sem autorização alguma.

Ele não respondeu a princípio, e sinceramente eu nem esperava que fosse fazer, afinal a última coisa para qual Ashley parecia disposto agora, era para dramas românticos. No entanto, pouco mais que um minuto depois, a resposta chegou e bem diferente do que eu esperava:

Cuidando de mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Problem Temptation" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.