Problem Temptation escrita por Boow, Brus


Capítulo 17
S.O.S




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As manhãs de domingo são na grande maioria monótonas. Pelo menos aquelas na qual você não é acordada carinhosamente pelo seu namorado que, enquanto você dormia, planejava um esquema de fuga a dois, que não incluía os amigos.

Todos nós decidimos por dormir no celeiro durante a noite passada. Por mais que não fosse tão confortável quanto o chalé, nem tão arejado e tivesse cavalos no andar de baixo, eu preferi não me opor, já que todos, principalmente Megan, pareciam empolgados com a ideia.

E então, perto das oito horas, eu imagino, acordei sentido o conhecido de perfume cítrico e suave de Gabriel. Era engraçado, ele costumava pagar caro por um pequeno vidro de perfume com aquele cheiro, mas na grande maioria do tempo eu poderia jurar que o cheiro de fato fosse dele, como sua assinatura e o perfume borrifado fosse apenas um lance de marketing pra promover o produto, usando o ótimo cheiro que na verdade não o pertencia. Abro os olhos e sinto que ele beija meu pescoço na tentativa de me acordar. Sorrindo, me viro lentamente na sua direção.

Seu cabelo curto parecia um tanto bagunçado demais e o sorriso preguiçoso mostrava que ele também havia acordado a pouco tempo. Gabriel conseguia ser inquestionavelmente lindo até mesmo quando acordava. Esse foi um dos fatores que fez com que eu, na época uma adolescente sem grandes objetivos, me apaixonasse por aquele cara. Não que nós namorássemos somente pelo fato de ele ser um cara lindo até mesmo nos momentos mais impossíveis, não é isso, eu era apaixonada por muitas coisas nele, mas sua beleza certamente o ajudou no inicio.

— Bom dia, gatinha. — Ele sussurrou com um sorriso divertido. Provavelmente ele havia notado a maneira como eu o admirava e recebeu isso como uma carícia no seu ego. Eu não me incomodava, estava mesmo o admirando e estava feliz por ouvir aquele “bom dia” (mesmo acompanhado de um apelido tão detestável) sem ter que estar em uma tela de computador, ou em um telefone celular, apenas assim, frente a frente com Gabriel.

— Bom dia... acordado a muito tempo? — Sussurrei de volta na tentativa de não acordar meus amigos, que ainda dormiam espalhados pelo chalé. Não que eu os estivesse vendo, devido a baixa claridade e também ao fato de minha concentração estar focada no meu namorado, mas eu podia facilmente conhecer os roncos baixos de Megan e Daniel.

— O suficiente pra perceber que você ainda faz caretas enquanto dorme... — Isso me arranca uma risada. Tanto Gabriel quanto os outros sempre falavam sobre esse “talento” desenvolvido por mim de fazer caretas enquanto durmo. Era algo terrivelmente constrangedor de se ouvir. — … E o suficiente para ouvir você sussurrar um “vai ficar tudo bem, Evans”. — Ha, isso com certeza não me fez dar risada alguma. Talvez um disfarçado sorriso amarelo, mas eu quase podia sentir todo o sangue do meu corpo subir até a minha cabeça, repetindo a frase que Gabriel havia acabado de citar em minha mente. E pelo tom acusador e o sorriso de canto no rosto do meu namorado, eu tinha certeza que ele também não via muita graça naquilo.

Respiro fundo, mordo os lábios, sinto o vinco em minha testa se formando. Espero que nada disso seja um tique de mentirosos, ou caso seja, espero que Gabriel não me conheça bem o suficiente. Sequer penso direito no que vou falar – no caso, mentir – quando noto que as palavras já estão fugindo da minha boca.

— Eu provavelmente estava sonhando, você sabe... sempre tive essa mania feia de fazer coisas estranhas enquanto durmo, falar deve ser um novo talento. Além disso eu não conheço nenhum Evans, então não use esse tom como se eu estivesse fazendo algo errado ou coisa assim, você sabe. — Me obrigo a parar de falar quando percebo o que estou fazendo. Era aquele maldito problema de não saber quando parar de falar nos momentos de nervosismo. E eu não precisava que além de tudo Gabriel também notasse que eu estava nervosa por tentar me explicar para ele.

Vejo quando ele levanta as sobrancelhas ainda mais acusadoramente. Certamente ele havia notado meu desespero mal disfarçado. Preparo-me para uma acusação, perguntas ou uma briga. O Gabriel que eu me lembrava precisava de muito menos que um sonho para ter uma crise de ciúmes, principalmente sonhos em que eu cito o sobrenome de outro cara. Mas contrariando todas as minhas hipóteses, Gabriel apenas encosta seus lábios no meu e me da um selinho, se afastando logo depois, mas ainda perto o suficiente para eu ver os pontinhos negros na sua íris castanha escura. Perto o suficiente para eu ver também que o sorriso de canto permanece lá para me mostrar que mesmo ele parecendo relaxado, algo continuava errado.

— O que acha de irmos tomar um café na cidade? Eu estou com saudade de estar sozinho com você e acho que isso vai ficar um pouco mais difícil quando os outros acordarem. — O convite faz aquele sorriso de canto diluir e dar espaço para outro mais sincero e relaxado. Eu obviamente nem sequer penso em recusar a proposta e mesmo que quisesse, não recusaria depois de ter cometido aquele nada pequeno deslize.

Então depois de termos fugido silenciosamente do celeiro como se fossemos ladrões ou pessoas que fizeram algo muito errado, rapidamente fomos para o chalé onde Gabriel fez questão de me apressar antes que eu “consumisse a água do universo inteiro” em um banho que mal levou quinze minutos. Ele, por outro lado, pareceu sair do banheiro tão rápido quanto entrou, me olhando de cara feia e com uma toalha presa a cintura. Eu não tive como não rir.

— Erin, porque não toma banho com pedras de gelo logo? A temperatura daquele chuveiro é quase negativa. — E por mais que entoasse uma reclamação, acho que ele não aguentou olhar para a minha expressão de divertimento e acabou rindo da sua própria cara. — Eu não sei porque eu ainda amo você... — dessa vez ele deixou bem claro o tom de brincadeira enquanto se vestia. Eu nem sequer me dei ao trabalho de responder com algo além de uma expressão de deboche que o fez rir e revirar os olhos. — E passa a chave da moto, gatinha. Eu não vou rebaixar a minha masculinidade à garupa de uma moto sendo pilotada por uma mulher.

Eu nem fiz questão de discutir, era uma causa perdida, Gabriel tinha muitos “princípios próprios” para manter a sua imagem. Algo que nem com o tempo havia se perdido... e andar na garupa de uma moto pilotada por uma garota era algo fora de cogitação.

Fomos tomar café em uma das poucas cafeterias que se dispunham a abrir no domingo de manhã. Gabriel fez uma piada sobre a cidade parecer aqueles vilarejos de filmes, um lugar pequeno e pacato onde quase todos se conhecem. Ele não gostava de lugares assim e claro, vivendo no centro de Nova York, Gabriel estava acostumado a movimentação, pessoas estranhas e diferentes opções de lugares para ir. Era o mesmo a que eu havia me acostumado em Miami, mas depois de algumas semanas em Palm Spring, a calma do lugar se tornou algo adorável, mesmo com tantos turistas e o sol de rachar.

— Eu estou tão ansioso pra ter você em Nova York, Erin. – Gabriel solta de repente enquanto come uma fatia de torta de amora com chantili... eu não conseguia entender como ele podia ingerir tanto açúcar por mordidas sem ter uma cárie ou algo assim. – Eu não acredito que ainda restam dois meses e uma semana para o fim do verão. Eu imagino você entrando naquele apartamento de mil formas diferentes, carregando suas malas e com um sorriso no rosto. Quero mostrar para todos os meus amigos que tenho a namorada mais linda que um cara pode ter e como eu sou sortudo por isso.

E por mais que não fosse nada demais, aquelas palavras acabam roubando as minhas. Quer dizer, eu ainda não sabia o que Gabriel pensava sobre eu estar indo morar no seu apartamento que até então sempre foi apenas seu. No entanto, ouvir isso agora, pessoalmente, era adorável. Mas parecia assustador.

Não assustador em um sentido ruim, mas era como se eu estivesse me unindo a Gabriel em laços matrimoniais. Como se fossemos casados e tivéssemos que conviver todos os dias. Como Megan desejava se juntar a Noah. Eu não sabia se estava realmente pronta para isso. Se eu realmente conseguiria algo assim. Eu não teria como correr quando brigássemos, moraríamos na mesma casa. Eu não teria como encher a Megan ou pedir ajuda para minha mãe. Eu estaria longe delas.

Seriamos só eu e Gabriel.

E isso era realmente assustador.

— …Erin? - Ouço ele e isso me tira de um transe. Uma de suas sobrancelhas estava erguida levemente como se me perguntasse qual o problema, o motivo para o silêncio após duas semideclarações.

Dou um suspiro, relaxo os ombros e sorriso. Esse era sempre o segredo da mentira “estou bem”.

— E você está pronto para me ter ao seu lado todos os dias, depois de onze meses longe? - Pergunto rindo, mas na verdade queria apenas ter certeza de que ele não tinha os mesmos temores que eu. Talvez se ele se mostrasse confiante sobre a ideia, isso me contagiasse.

No entanto a resposta, apesar de confiante, soou acusatória. E se eu tinha alguma confiança de que aquilo poderia mesmo dar certo uma hora, ela foi completamente transformada em dúvidas.

Você não? — Foram as duas palavras mágicas que me fizeram um tremendo peso na consciência. Não soube responder. Na verdade, não quis. E ele soube disso. Pude ver nos seus olhos enquanto me calava e disfarçava tomando um gole do meu suco de laranja.

Seu maxilar se contraiu enquanto ele me olhava sério. Seus olhos pareciam brilhar com uma ponta de ressentimento. Pude ver quando ele mexeu as sobrancelhas, suspirou e empurrou o prato que ainda tinha metade da torta para o meio da mesa, mostrando que havia perdido a fome. Queria me obrigar a falar algo, mas ele foi mais rápido que isso.

— Você só falava sobre isso, Erin. Você estava cem por cento certa de que queria isso antes da confirmação da universidade chegar à sua casa. Qual o problema? Foi a Megan? Ela tem botado coisas na sua cabeça? Erin, eu não sou a criança que ela se lembra, tudo bem? Crescemos, temos responsabilidades, não tenho mais dúvida alguma do que quero pra minha vida. Eu quero você, o.k? – E todas aquelas palavras, acompanhadas de um olhar rígido que ele me lançava, me fizeram engolir em seco. Não tinha nada a ver com Megan, mas eu não o culpava por pensar assim. Provavelmente se Megan tivesse esse poder, ela me faria desistir da ideia de “abandoná-la” para morar com meu namorado.

Mas o verdadeiro problema era: Ninguém precisou botar “coisas na minha cabeça”, eu havia feito isso sozinha perfeitamente.

— Gabriel, eu ainda quero isso, tudo bem? Eu só tenho medos, dúvidas... Não é como se eu estivesse namorando o garoto da sala ao lado que mora a quinze minutos da minha casa. Eu estarei sozinha. Seremos só eu e você, todos os dias. Vão ter brigas, desentendimentos, não é como antes em que daremos “um tempo” e na outra semana tudo estará bem. - Explico e apesar do tom pacífico, acho que ele pode ver minha indignação por ele não conseguir ver detalhes como aqueles.

— Eu sei. Eu estou completamente ciente de tudo isso. E estou completamente disposto a encarar coisas como essas, contanto que você esteja lá. Mas e você? De repente tive a sensação de que não está tão pronta para tudo isso.

E aquelas frases chegam em mim como um tapa. Quer dizer, eu podia encará-las enquanto eram somente minhas dúvidas. Na verdade, eu queria saber se Gabriel também sentia aquilo como eu, mas não em relação à mim e sim em relação a ele mesmo. E ouvir aquela resposta dele, foi assustador.

Acho que meu silêncio em resposta pela segunda vez também não caiu nada bem para ele.

Gabriel se levantou e me deixou sozinha na mesa enquanto ia até o caixa com a nota dos nossos pedidos e pagava eles ao balconista. Depois, com o olhar fixo na saída, ele deixou a lanchonete e ficou lá, parado de braços cruzados, expressão fechada, encostado na moto como se esperasse que uma solução para nós fosse cair do céu direto para o seu colo.

Era exatamente isso que eu temia. Quando morássemos juntos, não teríamos como correr um do outro dessa forma no primeiro desentendimento. E para um cara que parece disposto a “enfrentar” a situação, ser o primeiro a dar as costas à mesa me pareceu uma contrariedade às suas próprias palavras.

Obviamente nossos planos de dar uma volta sozinhos na praia depois da discussão foram pelo ralo. Tudo o que fizemos foi uma viajem de volta para a pousada carregada de tensão. Ele sequer olhou pra mim quando estacionou a moto no chalé e se virou para me entregar a chave.

Eu podia ter o magoado, mas Gabriel estava sendo hipócrita. Como ele diz que está preparado para as coisas quando age como o mesmo adolescente do colegial? Não tinha sentido. E eu não daria o braço a torcer. Ambos tínhamos as mesmas parcelas de culpa e até que sentássemos e conversássemos, as coisas não se resolveriam. E não seria eu a propor essa oferta de paz, pelo menos não agora.

Gabriel foi para o chalé dos meninos e eu segui para o meu, mas certamente Megan o encontrou em algum momento, porque em menos de vinte minutos ela estava socando a porta do chalé enquanto gritava pelo meu nome.

Eu não acreditava que Gabriel havia confessado algo sobre o ocorrido para ela, mas ele pode ter dito aos garotos; e sendo Noah um cara facilmente intimidado pela noiva, ele certamente abrira o jogo com a loira.

— Eu não quero falar sobre isso agora. – Murmurei antes mesmo que ela perguntasse, enquanto fazia sinal para ela entrar.

Megan nem se deu ao trabalho de dizer algo. Me puxou pela mão até o sofá onde me fez sentar de frente para ela e me olhou com aqueles seus olhões azuis e uma expressão calma. Eu diria quase materna. Apesar de extremamente ameaçadora, Megan sempre teria esse lado acolhedor e protetor o que fazia dela o tipo de amiga que todos deveriam ter.

— Erin, você não está errada por ter dúvidas, ok? É normal. Você irá se mudar pra um lugar completamente diferente e dividirá um apartamento com seu namorado. Será uma mudança radical na vida de vocês dois. Sair de um namoro a distância para uma união estável não será fácil. – E por mais que aquelas palavras fossem exatamente o meu medo, o modo que Megan as tratou, com normalidade, fez com que parte de mim se acalmasse.

— Você não fica apavorada quando se imagina casada com Noah? Sabendo que passará o resto da sua vida ao lado dele? Repetindo todas os dias as mesmas coisas e que mesmo brigados, no fim do dia estarão sob o mesmo teto? – E por mais que para mim aquilo fosse sufocante, os olhos de Mega brilharam e um sorriso leve se formou em seu rosto.

— Eu morro de medo. - Ela riu. – Mas não por essas coisas. Eu tenho medo de decepcioná-lo e também tenho medo de que um dia acordemos arrependidos da nossa decisão. Mas todos os dias de manhã, indiferente de termos ou não brigado na noite que se passou, eu olho para ele deitado ao meu lado e tudo o que eu consigo sentir é uma sensação de conforto. Na verdade é mais que conforto. Eu me sinto completa. E enquanto eu olhar para ele e sentir isso, indiferente de como estamos, eu terei certeza de que estou no rumo certo. E por mais precipitada que pareça a minha escolha, são detalhes como esse que mostram que não há motivos para temer.

E sem motivo nenhum, meus olhos se enchem de lágrimas. Não sei dizer exatamente o porquê. Talvez pelo fato de não ter certeza se eu conseguia captar toda essa confiança que ela tinha só de acordar ao lado de Gabriel ou se era por simplesmente estar profundamente emocionada com o relato da minha melhor amiga.

E quando uma lágrima escorreu pela minha bochecha, ouvi a risada divertida de Megan e ela automaticamente me abraçou como se soubesse que era isso que eu estava precisando. Bom, ela certamente sabia, porque melhores amigas sempre sabem quando a outra precisa de um abraço amigo.

— Se você não estiver preparada pra isso, não tem que seguir em frente tudo bem? Gabriel terá que aceitar isso. Exitem milhões de outras faculdades e também outros apartamentos. Você não é obrigada a ir com ele, Erin. – Então ela se afastou e passou a mão no meu rosto enxugando minhas lágrimas e dando à mim outro daqueles sorrisos confortáveis. – Foi ele quem decidiu ir pra longe, você não tem a obrigação de segui-lo, o.k? E ainda tem tempo para pensar, não precisa ter uma resposta certa só porque foi aceita na faculdade de Nova York. Que eu me lembre, existem ao menos outras três universidades que ainda querem a aluna com méritos escolares exclusivamente para elas. Então me prometa que pensará antes de decidir qualquer coisa, tudo bem? E que pensará em você e não no que os outros desejam. Fará o que for melhor pra você e somente isso, certo?

E dessa vez foi a minha vez de sorrir confortavelmente para ela e balançar a cabeça positivamente, concordando com tudo o que ela dizia. Megan era uma das únicas pessoas no mundo a me entender tão bem e eu não podia imaginar como a vida seria em Nova York sem poder me abrir pessoalmente com ela e receber seus abraços que valiam muito mais que um batalhão de palavras.

Já passava das sete da noite quando a porta foi aberta e risadas invadiram o cômodo. Eu e Megan havíamos passado juntas o dia todo, como no passado, apenas conversando, comendo pipoca e assistindo televisão.

Folgadamente meu irmão vinha entrando e liderando os outros. Gabriel ria relaxadamente de seja qual fosse o assunto e por um instante eu me senti boba por ter chorado pra Megan e comido uma panela de brigadeiro com ela durante a tarde, enquanto ele se divertia com os meninos sem aparentar qualquer preocupação.

Resolvi que eu faria o mesmo, afinal era isso que fazíamos sempre. E com sempre eu quero dizer novamente nos tempos de colegial. Me levantei e os deixei na sala, ia tomar novamente um banho para relaxar e depois seguiria com o plano de agir normalmente, até que realmente tudo ficasse normal.

Mas eu tinha que admitir, Gabriel era muito melhor nisso do que eu.

Eu era o tipo de pessoa que após uma briga, conseguia trazer grande parte da culpa para cima de si e todos sabiam disso. Até mesmo Ashley já havia percebido isso de alguma forma.

E movida por esse pensamento, enquanto a água escorria pelas minhas costas, deixei que minha mente se ocupasse com Ashley. E não era algo bom, porque de alguma forma, todas as vezes que eu pensava nele dentro desse banheiro, apenas lembranças ruins vinham em minha mente. Lembranças catastróficas. Mas dessa vez elas foram parar em um ponto especifico:

Quando eu havia obrigado Evans a tomar um banho frio e consequentemente havia sido levada junto.

Era como se eu visse claramente o rosto dele por detrás das gotas de aguá que saíam do chuveiro. Os olhos dourados, o maxilar quadrado, o cabelo colado na testa devido ao banho frio... se eu abaixasse os olhos tinha quase certeza que veria seu troco despido e provido de um belo abdômen. Quando fechei os olhos, preocupada com a sua situação e o lugar onde havia se metido, quase pude ouvir o sussurro dele.

Mas, quando outra vez abri os olhos, me dei conta de que não havia sombra alguma do Evans no cômodo, no entanto o banheiro havia sido invadido e era Gabriel quem estava la dentro, me chamando pelo outro lado do vidro levemente embaçado pelo vapor do chuveiro que se aproximava do box.

— Gabriel? – Perguntei, abrindo levemente o box enquanto ele se aproximava me alcançando a toalha para que eu me enrolasse. A água no chuveiro continuava a correr. Esperava que ele entendesse aquilo como um motivo para ser breve. – Eu ainda não terminei... – Comentei como se não fosse obvio pelos resquícios de espuma no meu cabelo. Ele apenas balançou a cabeça positivamente e olhou para o chão um pouco tímido.

E eu tinha certeza que sua timidez não era relacionada a minha falta de roupa. Isso, certamente, nunca. Mas também não esperava que ela fosse devido a sequência de palavras que saiu da sua boca.

— Eu não devida ter agido daquela maneira, me desculpa. – Tudo saiu rápido demais e um pouco mais alto que um sussurro. Mas eu já havia ficado extremamente surpresa apenas pela sua iniciativa de vir até mim para se desculpar. Gabriel havia feito isso poucas vezes durante nosso relacionamento, tão poucas que se contarmos nos dedos das mãos, certamente sobrariam alguns. Seu olhar se levantou até o meu (dessa vez menos constrangido) e ele suspirou baixinho e murmurou: – É que a ideia de você me abandonar me apavora. E... e por um instante passou pela minha cabeça que você faria isso. Que você terminaria comigo ali, no meio de uma lanchonete de quinta em uma cidade estranha. E eu não saberia lidar com isso.... me desculpa. – Ele sussurrou outra vez e minha boca se abriu e fechou em um perfeito “o” procurando alguma palavra para dizer.

— Gabriel eu não... – Mas ele não me deixou procurar a palavra certa para completar aquela frase. Sua boca se juntou a minha tão rápido que me pegou tão desprevenida quanto seu pedido de desculpas. Mas a partir do momento que entendi suas intenções, não hesitei um segundo sequer. Gabriel me beijou ferozmente, fazendo com que as mão que antes nem no meu corpo encostavam, descessem pela toalha gradativamente, escorregando do meu tronco até parar em meu quadril. Sua língua escorregou para dentro da minha boca com movimentos que não eram suaves e sim desejáveis, urgentes. Enquanto seus lábios contra os meus faziam uma breve disputa para mostrar quem ali estava no comando. Eu sequer me dei conta quando fui empurrada para trás e o box fechado, deixando que tanto a toalha ao redor do meu corpo, quanto a roupa de Gabriel, fossem completamente consumidos pela água.

Eu conhecia os toques de Gabriel, ele conhecia todos os meus. Era confortável estar com ele e depois de todo esse tempo, era como se só agora estivéssemos de fato matando a saudade um do outro. A saudade de onze meses que justificava todo o anseio preso a um beijo. Os lábios de Gabriel desceram pelo meu pescoço e eu arfei baixinho o que tirou dele uma risada quase profana de tão sensual. As minhas mãos automaticamente escorregaram para a barra da sua camisa molhada, e logo ela era apenas um pedaço de pano jogado no chão, sem importância alguma.

Minhas mãos escorregaram pelo tronco largo e esportivo dele sem pudor algum e ele pareceu gostar da carícia, porque enquanto minhas mãos deslizavam por ele, teve um momento em que Gabriel apenas me encarou nos olhos com as testas unidas, desfrutando de cada segundo. Segundos que não duraram muito, porque logo ele me trouxe ao seu colo e com o movimento a toalha que me cobria caiu no chão, me expondo completamente a ele. Eu não me importei, Gabriel, no entanto, pareceu agradecido por ter sido poupado do serviço.

Ofegantes. Era assim que estávamos os dois ainda debaixo do chuveiro. Gabriel apoiado com as costas na parede e os braços ao redor do meu corpo oferecendo apoio, enquanto eu me encostava de frente em seu ao seu peito, e minha cabeça relaxava em seu ombro.

Ele beijou minha testa, e logo depois eu pude ouvir a sua risada abafada..

— Seu irmão deve estar doido. – Ele murmurou baixinho, estávamos tão próximos que não precisávamos de mais que um sussurro para sermos ouvidos um pelo outro, mesmo que a água ainda caísse sobre nós emitindo um leve ruído. – O melhor amigo pervertido e a irmãzinha inocente em um banheiro. Parece até um daqueles filmes pornôs do Danny.

O comentário me fez gargalhar. Era verdade, mas certamente não havíamos feito nada pior do que ele faz com diversas garotas aleatórias em um mês.

Para sairmos do banheiro entreguei a ele uma das toalhas reservas da pousada que ficavam dentro do armário e eu me enrolei no roupão de banho.

Saímos do banheiro silenciosamente e andamos pelo corredor igualmente, como crianças que fazem coisa errada e depois fogem dos pais. Mas pelo visto os “pais” anteciparam nossa fuga e quando abri a porta do quarto fui recebida por quatro pares de olhos que tinham as mais diferentes expressões.

Danny sem dúvidas só conseguia enxergar malícia, enquanto Noah parecia divertido e Megan completamente enjoada. Oliver parecia um tanto pálido e completamente sem reação.

Obviamente senti meu rosto queimar e pela não-sei-qual-enésima vez no dia me senti a garotinha o colegial novamente. Nem ousei olhar para Gabriel, porque já conhecia o bastante para saber que ele deveria estar até se divertindo com aquilo também.

Limpei a garganta pronta para falar, mas quem se pronunciou foi meu namorado, abrindo a porta e indicando que os amigos saíssem.

— Já podem sair agora... ou também querem ficar pra assistir as prorrogações? - Todos (menos Oliver, é claro) riram da situação. E um por um se retiraram do quarto enquanto. Oliver murmurava algo sobre “Eu não mereço amigos assim”.

Gabriel terminou de se vestir primeiro e eu o mandei ir logo pra sala, antes que Oliver tivesse algum tipo de AVC ou coisa assim. E quando estava sozinha, fechei a porta e respirei fundo. Encostei a cabeça na madeira fria e ainda enrolada no roupão, com o corpo úmido e um tanto quanto exausto, cheguei à uma conclusão.

Eu me sentia absurdamente confortável com Gabriel, com tudo nele, sem tirar ou botar nada.

Confortável o suficiente para ficar ao seu lado.

Mas não completa o suficiente para decidir partir hoje. Talvez Megan estivesse certa e isso fosse algo a se pensar.

Meus pensamentos são completamente interrompidos por um toque. O alerta de uma nova mensagem do celular. Caminho até a cama e pego-o para ver e sou pega completamente de surpresa quando identifico o nome no visor.

Ashley.

E fico petrificada quando leio a breve mensagem acompanhada de um endereço

“S.O.S – Rua Hander Wood, galpão 6 – Palm Spring.”


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