Problem Temptation escrita por Boow, Brus


Capítulo 15
Indisputable Fact




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Assim que abri os olhos tive três memoráveis segundos de paz antes de um choque de realidade me trazer de volta. Sabe aquelas vezes onde você dorme apenas umas curtas horas e sente que descansou por toda uma vida? Bom, essa manhã definitivamente não era um desses dias.

Me levanto devagar e aos pouquinhos reconheço o quarto de Ashley, me lembrando que eu havia ficado por ali na noite passada. Também não posso deixar de reparar que o Evans havia evaporado do cômodo provavelmente enquanto eu dormia.

Passo a mão pelos cabelos e pego o celular para poder ver as horas, mas a bateria havia se esgotado durante a noite. Bufo e enquanto olho para o pequeno aparelho lembro-me da mensagem de Gabriel e só por um segundo sinto um desconforto nada familiar na boca do estômago.

Era como um aviso-prévio dos problemas que eu ainda enfrentaria nos próximos dias, como intuição.

Atravesso o corredor, rumo ao meu quarto e deixo o celular carregando em cima da mesa de cabeceira. Sigo pelo corredor até o banheiro e ainda não há sinal algum audível de que Ashley está por lá. Mesmo assim não vou até a sala conferir, apenas entro no banheiro e arrumo-me para um banho longo e, eu esperava, relaxante.

Eu tinha certeza absoluta de duas coisas: a primeira era que eu estava completa e absolutamente ferrada, e a segunda era que eu não podia culpar a ninguém por estar nessa situação que não fosse a mim mesma.

Quer dizer, em um resumo rápido da minha atual situação eu podia muito bem falar que sou a garota que por ventura foi arrastada para o inferno terrestre (mais conhecido como Palm Spring), que acabou tendo que dividir um chalé com um homem - diga-se de passagem um homem aparentemente drogado e com prováveis problemas físicos e mentais (porque chalés com homens saudáveis mental e fisicamente para se passar as férias junto está em falta no mercado) - e que agora, depois de omitir todos esses fatos do namorado - extremamente ciumento - por duas semanas, seria miseravelmente descoberta e teria que inventar uma desculpa realmente impressionante para quando o namorado em questão achasse pelo chalé uma cueca ou creme para barbear... Bem, era inventar uma desculpa ou mudar o status de "relacionamento sério" para "a vadia que esqueceu de comentar com o namorado que está morando com outro cara."

Mas mesmo que eu tivesse que fixar meus pensamentos nos problemas mais importantes, como a minha burrice por ter me metido em uma situação como essas, eu me pegava pensando em inúmeros outros assuntos. Como ontem à noite.

Pelo menos na parte em que envolvia Ashley invadindo o meu quarto.

Eu ainda não sabia como reagir àquilo. Quer dizer, ir embora era com certeza o mais sensato e o que eu devia ter feito assim que pus os olhos em Ashley, uma vez que isso sem dúvidas seria a solução para a maioria dos meus problemas, mas fico me perguntando o que seria de Evans sem ninguém aqui para observá-lo.

Não que fosse minha obrigação ser a mais nova enfermeira e babá dele... Mas é se ele tiver uma convulsão? Ou se não conseguir controlar suas crises de abstinência sozinho? Afinal, fui eu mesma quem começou com essa história dele largar aquela maldita seringa... Não que a minha presença nesse lugar tenha ajudado a evitar qualquer coisa de ruim que tenha acontecido com ele, mas eu não conseguiria dormir direito todas as noites sabendo que deixei Evans neste estado, sozinho no chalé. Ele com certeza não contaria para a tia dele... Não contaria para mais ninguém. Na verdade, eu duvido que ele teria contado até para mim se eu não tivesse descoberto. O que me faz pensar mais uma vez se ir embora era a melhor opção. Eu sabia (e talvez fosse a única a saber) e eu sentia que podia fazer alguma coisa para ajudá-lo. Claro que isso seria abrir a porta dos problemas para a minha vida... Mas talvez valesse a pena...

Mas além de todos esses pensamentos conflitantes, eu podia sentir a raiva flutuando pelos meus sentimentos e impedindo que eu conseguisse pensar claramente em qualquer coisa. Eu ainda estava com raiva, muita. Raiva ocasionada pelo impacto da decepção que Ashley havia me causado ao se mostrar um completo estúpido ontem, apenas por causa de uma maldita seringa.

E essa raiva era o suficiente para eu desejar não ter que encontrá-lo por algum tempo.

Desistindo do banho, rumei frustrada para a cozinha comer qualquer coisa que não exigisse grande capacidade culinária para ser preparada. A TV da sala está ligada, mas não há som algum, nem alguém para assisti-la. A porta de entrada está semiaberta e tudo indica que Evans havia deixado seu rastro por lá.

Vou até a porta e olho para o pequeno hall de madeira. Ash está sentado nos degraus de costas para mim falando ao celular. Não sei sobre o que está conversando, mas ele diz algo sobre “Eu não vou fazer isso de novo. Não é meu trabalho” e depois de alguém dizer algo do outro lado da linha, Ashley simplesmente bufa e diz um “conversamos sobre isso mais tarde”.

Eu me afasto da porta e volto para a cozinha antes que ele se dê conta da minha presença. Pego um dos sucos de caixinha que Ashley costumava beber – e que iam completamente contra a minha dieta de nutrientes, mas eu tinha outras coisas para pensar que não envolviam calorias alimentares – e uma fatia de um pão integral perdido também dentro da geladeira.

Estou concentra vendo as sementes de gergelim caírem do pão quando Ashley entra no chalé sem qualquer expressão que demonstre seu humor. Quando Evans mantinha sua expressão de jogador de pôquer, eu concluía rapidamente que algo o estava incomodando.

Mas você tinha que ser muito burro para perguntar o motivo a ele.

Ash parece ligeiramente surpreso com a minha aparição na cozinha e por isso para de frente para a mesa que divide os cômodos e me encara alguns segundos antes de suspirar e passar a mão por trás da nuca.

Mentalmente me perguntei porque Ashley usava uma touca e calça de moletom escura, mesmo considerando o calor que fazia naquela manhã, mas quando ele se aproxima um pouco mais da mesa, identifico pela sua leve palidez e seus lábios rachados, que para ele provavelmente a temperatura ambiente não estava tão quente. Ele ainda deveria estar sob o efeito da abstinência, ou seja lá o que mais ele tinha que estava deixando seu corpo febril.

Mas mesmo na atual situação, Ashley não havia dispensado a regata branca - que podia ser considerada muito mais como um trapo do que como uma peça de roupa - com cavas grandes embaixo do braço e ao redor do pescoço, mas que por incrível que pareça caía muito bem no corpo de Evans.

Ele se senta no outro lado da bancada me encarando. Automaticamente sou obrigada por mim mesma a encará-lo de volta e esquecer do copo de suco e dos farelos de gergelim.

Posso ouvir o ponteiro do relógio se mover e conto mais ou menos oito segundos antes de Ashley abrir a boca e dizer algo.

— Eu já pedi desculpas. – Ele murmurou baixo ainda sem expressão para denunciar o que sentia.

— Eu sei. – Digo a ele e deixo escapar um suspiro cansado. – Mas você também havia se desculpado quando destruiu nossa cozinha e isso não impediu você de quase destruir meu quarto... quantas coisas você ainda vai destruir Ashley? Quantos pedidos de desculpa ainda vou escutar? – Aquilo parece ter surpreendido ele, porque seja qual fosse a reação que ele esperar de mim, aparentemente não esperava ouvir algo do tipo.

— Eu não queria fazer aquilo... eu... eu perdi a cabeça Erin. Você não pode imaginar como é... - Seu tom era calmo, mas ainda assim o fragmento de culpa estava presente. Como se realmente esperasse que eu entendesse seus motivos para ter feito tudo aquilo. – Eu estou sentindo nesse exato momento, é como se cada célula do meu corpo estivesse gritando por isso... a minha cabeça está latejando e eu não consigo dormir mais de duas horas. Eu fico agitado e... - Então ele deixa morrer a frase aos poucos, como se estivesse se dando conta de que eu realmente não estava interessada em saber.

— Eu realmente não sei como é ser um viciado, Ashley. – Digo e de repente fico surpresa com a frieza implantada em minha voz. Posso ver o brilho de mágoa no olhar de Evans, mas não ouso me desculpar.

Eu estava muito mais decepcionada com ele. Tinha o direito de agir daquela maneira.

Levanto-me da bancada e sigo até a pia deixando lá o copo de suco. Como Ashley não diz mas nada, ameaço deixar a cozinha, mas em um último instante Ashley segura firme meu pulso me fazendo parar e virar em sua direção em um solavanco.

Ele se levanta do banco e fica de pé, frente a frente comigo.

Perto o suficiente para eu ver as rachaduras em seus lábios.

Perto o suficiente para eu ver os pigmentos dos seus olhos dourados, seus cílios cheios, longos e escuros em volta de seus olhos grandes e inexpressivos, a linha reta, fina e bem esculpida da ponte de seu nariz, suas bochechas pálidas e ligeiramente ossudas, devido aos problemas que ele estava tendo...

Perto o suficiente para ser considerado perigoso.

— Não fale como se eu fizesse isso por vontade própria! – E mesmo estando tão perto, Ashley parecia ver a necessidade de esbravejar aquela frase que havia feito meu interior tremer e meu exterior fazer a mais séria expressão de alguém cética.

— Não fale como se alguém tivesse obrigado você a injetar aquela coisa nojenta no seu organismo. - Digo perdendo o controle. – Não fale como se tivesse sido mandado que você destituísse nossa cozinha. Não haja como se invadir meu quarto fosse algo obrigatório para sua sobrevivência. – E quando me dou conta estou gritando aquelas frases a todo pulmão, mesmo que Ashley estivesse bem ali.

Perto o suficiente até mesmo para ouvir o ruído da minha respiração. Eu não queria ser a calma, a controlada da situação. Se ele viesse com ferro, eu iria com fogo.

Ashley parecia perdido. Seus olhos demonstrando sua frustração e se suas mãos não estivessem me prendendo, tenho certeza de que ele já as teria corrido pelo seu cabelo.

— Droga! Quantos pedidos de desculpa você quer ouvir para parar de jogar isso na minha cara a cada quinze palavras suas? Já passou pela sua cabeça que se você não tivesse invadido o meu quarto primeiro nada disso teria acontecido? – Então eu engulo em seco. Aquilo era algo que eu não esperava ouvir. “O feitiço contra o feiticeiro”, mas ao mesmo tempo o que ele diz é o suficiente para me levar ao ápice da minha raiva.

Puxo meu pulso da mão de Evans e dou a ele as costas com raiva, sem sequer abrir minha boca.

Chega. Aquilo era definitivamente o fim de qualquer chance de boa convivência entre nós dois. Era o que eu precisava para ter certeza de que entre nós dois não havia restado mais nada que não fosse raiva e ressentimento mútuo. Eu podia - e provavelmente iria - me arrepender daquilo mais tarde, mas agora, pelo menos por enquanto, eu precisava ir para qualquer lugar que não me obrigasse a olhar para a cara daquele idiota incapaz de reconhecer um ato de ajuda.

Eu não havia invadido o quarto dele!

Estou quase indo em direção a porta, quando dessa vez não sou simplesmente segurada pelo pulso mas sim presa contra uma parede. Ashley não encosta em mim, mas sua mão na parede, ao lado do meu ombro e sua expressão nervosa é o suficiente para declarar que ele não me deixaria sair tão fácil.

— Aonde você acha que vai? – E então, apesar daquilo soar alto e rude, parecia-se muito mais como uma forma desesperada de Ashley me convencer a ficar tentado me intimidar, uma vez que eu não aceitaria um pedido educado.

— Vou sair Ashley. Não quero ouvir mais nem um pedido de desculpas seu... na verdade não quero ouvir nada que venha de você nesse instante... - eu olhei para o chão por um momento é franzi a testa tentando achar as palavras certas - Eu tentei te ajudar, mas olha só no que deu... você não está disposto a ser ajudado, Evans. E eu com certeza não sou suficiente para te ajudar. – E aquilo pareceu funcionar como um tapa, ou como um empurrão, porque Ashley deixa suas mãos que estão na parede escorregarem para os lados do seu corpo e logo depois se afasta um passo.

Mas eu continuo lá. Encostada na parede como se uma força maior me prendesse àquele lugar.

Sinto então, só naqueles segundo de silêncio, que meus olhos estão embaçados e uma lagrima escorre. Eu não sabia porque Ashley parecia ter a incrível capacidade de me fazer chorar sempre que fazia uma das suas idiotices. Mas ele tinha. E era absurdamente irritante.

Os olhos dele podiam não estar marejados e ele também podia não chorar, mas estava mais pálido do que o normal. E o tom dourado havia deixado suas íris dando espaço a um castanho tão comum quanto a cor dos meus, ou de qualquer outros olhos naquele tom.

Ele abaixa sua cabeça e eu suponho que talvez dirá algo, mas há um som o interrompe, um leve ruído na porta de alguém que força uma tosse só para chamar atenção. Meus olhos se desviam rapidamente para a origem do barulho e eu vejo que em algum momento durante a discussão a figura loira de olhos azuis mais conhecida como Daniel havia adentrado o chalé.

— Eu devo me preocupar? – Ele pergunta e apesar do olhar sério, há um leve sorriso no canto da sua boca, como se realmente desejasse descontrair.

Evans levanta a cabeça e sem encarar o primo a balança negativamente. Seus olhos se prendem em mim e ele suspira dando mais um passo para trás.

— Você não precisa sair. – Ele diz e sua voz é rouca e baixa, como se estivesse calculando seu próprio tom de voz. – Eu vou para a cidade hoje e não pretendo voltar antes da próxima semana. É o máximo de tempo que eu consigo oferecer para você me desculpar, Erin. - Eu podia ver a confusão que anda não havia deixado seus olhos, até que ele mais uma vez suspirasse e recompusesse sua expressão de jogador de pôquer. Então a passos lentos ele vai até a bancada e pega a chave do carro indo para a porta logo em seguida, mas parando logo depois de passar por Daniel. – E eu prometo não envolver mais você em nenhum dos meus problemas. - Então antes que pudesse responder, Ashley some pela porta.

Eu o vejo sair e permaneço completamente imóvel e perdida. Aquilo não estava certo. Não era o que eu estava planejando. Era eu quem deveria sair. Fecho meus olho com força passando as mão por meus cabelos e escuto passos leves pelo chão.

— Não sei de devo perguntar, mas... o que diabos houve aqui? - Danny pergunta e então abro os olhos.

— Eu e Ashley nos desentendemos. - Digo suspirando e abrindo os olhos. Danny tinha uma expressão curiosa, alarmada e divertida.

— Não diga... achei que aquela sua cara de “fuja para as montanhas ou eu tiro sua capacidade de ter filhos” era apenas uma brincadeira. - Ele diz debochado.

— Só... não quero falar sobre isso, Danny. - Digo rápido e caminho até o sofá. Daniel, para provar que tem o sangue dos Fell, não se esforça nem um pouco para esconder sua cara de reprovação ao notar que estou escondendo algo muito importante, mas ao contrário de Megan, não me obriga a contar.

Talvez ele pedisse para Megan me obrigar mais tarde, mas ele não.

— Certo. – Ele diz se jogando desajeitadamente no sofá ao meu lado. – Só vim avisar que vamos sair em duas horas, tudo bem? Passaremos o dia na praia, vamos dar uma volta a tarde e a noite vamos até o aeroporto.

Meus olhos levantam-se rapidamente das minhas mais que estavam no meu colo para encarar Daniel.

— O que faremos no aeroporto em pleno domingo? – Ele dá um sorriso de canto.

— Não me diga que você andou ignorando as mensagens do seu namorado... - ele diz com um ar de reprovação, mas sei que está brincando. - Erin, o Gabriel embarcará no voo de Nova York com destino a Palm Spring às 19:00 horas... não acredito que... – Então ele arregala os olhos e parece repentinamente assustado. - Ah, droga... ele deveria estar fazendo uma surpresa... aquele inútil! Ele podia ter me contado antes...

Ouço Daniel praguejar enquanto fico estática. A segunda mensagem, a que por ventura eu não havia lido. Ela deveria se tratar disso.

Apenas balanço a cabeça negativamente ainda um pouco chocada com a informação.

— Não, ele me contou... é que eu acabei esquecendo e... – Passo as mãos pelo meu cabelo ficando cada vez mais nervosa. Hoje sem dúvidas não era o melhor dia para Gabriel aparecer por aqui.

Não que realmente exista um dia bom para dizer ao seu namorado que você está passando férias com um outro cara.

Bem, pelo menos Ashley não vai estar aqui por algum tempo... Novamente aquela sensação horrível apareceu no meu estômago, como se meu organismo rejeitasse a ideia de Ashley indo embora e eu não ter notícias sobre como ele está...

— E... Você está encrencada. – Daniel completou com um meio sorriso verbalizando meus pensamentos.

É, eu estava. Isso era um daqueles tipos de fato incontestáveis.


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