Problem Temptation escrita por Boow, Brus


Capítulo 14
I'm Sorry




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Algumas coisas são difíceis de explicar. Minha relação com Ashley, nesses três últimos dias - baseada em meias palavras - era uma dessas.

Para falar a verdade, parecia ser a única coisa que minha mente não era capaz de achar uma justificativa plausível. Ele parecia estar sempre tenso e nervoso, mas, mesmo assim, era quem iniciava as poucas conversas que tínhamos para estabelecer um pouco de boa convivência enquanto eu simplesmente tentava não parecer uma idiota desagradável.

Não que eu tivesse dado motivos para parecer-me com uma, eu apenas roubei um dos pertences considerado potencialmente perigoso para Ashley e logo após dormi com ele em um sofá pequeno e estreito, andei com ele o resto da semana por toda a cidade fazendo favores para a senhora Fell e quando Gabriel me ligou no meio de um dos poucos ataques de riso que tive com Ashley nessa semana, precisei mentir para ele e dizer que estava ao lado de Megan.

E como se as coisas não fossem complicadas e dramáticas o suficiente, após encerrar minha ligação com Gabriel, recebi um olhar de Ashley que fez com que toda a explicação do porquê de eu não falar de sua existência para meu namorado ciumento pulasse da minha boca. Simples assim. Como se o fato dele me olhar de forma inquisidora me obrigasse a dar explicações, quando na verdade era ele quem me devia inúmeras delas.

E o que recebi como resposta a toda essa explicação brilhante foi um dar de ombros de Ashley e seu sermão sobre ser muito mais fácil dizer a Gabriel toda a verdade sobre eu ter que me hospedar em um chalé do primo dos Fell e consequentemente fazer minhas tarefas diárias com ele, mas mal ele sabia que se eu fizesse isso estaria basicamente assinando uma sentença de fim de relacionamento.

E agora finalmente era sábado. O tão esperado fim de semana que Megan contava nos dedos para que chegasse logo, porém para a infelicidade da maioria das pessoas naquela pousada, era um final de semana pré fim do mundo, onde aparentemente o céu estava caindo em forma de chuva, raios e trovões.

Ashley estava inquieto desde o início do dia. Andava pelo chalé sem rumo, fazia barulhos na cozinha e se aquietava na sala por apenas alguns instantes até se levantar e ir para o quarto e lá começar mais uma sequência de barulhos.

Eu estava deitada no meu quarto lendo Hamlet, um livro que, acredite ou não, Ashley quem havia me emprestado, o que me fazia questionar o quão culto ele poderia ser. Mas acabei abandonando a leitura quando o barulho alto o suficiente para questionar-me se Evans estava tentado destruir o chalé pôde ser ouvido no quarto em frente ao meu.

Larguei o livro sobre na cama e saí do meu quarto, atravessando o corredor e encarando a entrada do quarto de Evans que se encontrava com a porta escancarada.

A princípio tudo parecia excepcionalmente normal, a não ser por Ashley estar ajoelhado no chão ao lado de duas gavetas que deveriam estar encaixadas no seu roupeiro. De repente tenho um novo palpite sobre a agitação de Ash. Algo me dizia que ele estava a procura de um determinado objeto no qual eu mesma havia feito o favor de furtar.

Encosto-me no batente da porta de braços cruzados e limpo a garganta. Ashley me olha por alguns segundos antes de lançar um meio sorriso nervoso e coçar a parte de trás da nuca. Seus olhos dourados parecem surpresos e ao mesmo tempo irritadiços. Mas não é só isso, suas orbitas também estão arregaladas e sua expressão passava uma falsa tranquilidade. Ele encara as gavetas no chão e então se levanta de lá caminhando até sua cama e se sentando enquanto me encara. Acho que ele está tentando disfarçar o fato de que está em meio a uma pré abstinência, não que ele tivesse consciência de que eu sabia o que estava acontecendo, mas talvez ele desejasse esconder aquele fato de si mesmo.

Ergui uma sobrancelha questionadora e em seguida Ashley suspirou, claramente insatisfeito em ter que me dar explicações, mas não deixei-me abalar por aquele gesto.

— Eu perdi uma coisa ... – Ele diz apontando para as duas gavetas no chão bem próximas a ele. – Achei que pudesse estar por aqui, mas não encontrei. - deu de ombros como se fizesse pouco-caso do que estava acontecendo, mas claramente sua expressão o entregava.

Balanço a cabeça positivamente sentindo meu coração acelerar um pouquinho com a dúvida sobre se eu deveria ou não contar a ele que eu sabia perfeitamente onde sua coisa misteriosa encontrava-se. O que ele faria se soubesse que eu havia me apossado de sua seringa?

Depois de alguns segundos - que honestamente pareciam minutos - meu cérebro chegou à conclusão de que em pé, de braços cruzados, encostada no batente da porta de Ashley o encarando não era a melhor forma de conseguir uma resposta para aquela pergunta.

Tomei uma lufada de ar, esperando que junto com o oxigênio entrasse também a dose de coragem que eu não tinha para fazer o que estava prestes a fazer e adentrei o quarto de Ashley, fechando sua porta, como um sinal de que não pretendia sair dali tão cedo.

Olhei-o com toda a coragem que consegui reunir e perguntei:

— O que exatamente você estava procurando, Ashley? - tentei manter minha voz neutra, embora minha vontade fosse se gritar.

Ele demorou tanto para responder, que achei que não fosse fazê-lo, mas quando o fez, me surpreendeu.

— Acho que nós dois sabemos muito bem o que eu estava procurando. - seu tom não era mais como o de antes, o que fingia não se importar realmente com toda aquela situação. Agora sua voz trazia raiva e impaciência. Seus olhos esbanjavam sarcasmo. Não pude evitar arregalar um pouco os olhos e me espantar diante daquela mudança repentina de humor. Ashley soltou uma risada seca e continuou, dessa vez desviando seus olhos dos meus e olhando para o armário – E algo me diz que você sabe aonde está o que eu estou procurando, Erin.

Aquilo foi o suficiente. Aquela risada, aquela ironia, aquela raiva, foram suficientes pra que a coragem dentro de mim falasse mais alto e eu desse um passo à frente e me desencostasse da porta - que antes eu usava como apoio - e dissesse em um tom frio e desinteressado:

— E você realmente acha que eu vou te entregar? - aquela resposta pareceu surpreendê-lo (que provavelmente esperava um pedido de desculpas da minha parte), mas sua surpresa foi logo substituída por sua raiva novamente.

— Erin, eu não sou o tipo de cara com quem você pode brincar. Aquilo não é uma brincadeira. Me. Devolva. - a medida que falava, seu rosto ia ficando mais vermelho, sua voz aumentando e ele já havia saído da cama e estava andando na minha direção.

Eu tinha plena certeza de que tudo o que ele falava era absolutamente verdade e que se eu fosse prudente realmente daria meia volta, iria correndo até o criado-mudo no meu quarto, pegaria a bendita seringa e devolveria a ele. Mas como eu já disse, prudência nunca foi o meu ponto forte.

— E você acha que me ameaçando vai conseguir algo? – perguntei irônica – Preciso te lembrar mais uma vez que foi você quem pediu a minha ajuda?

— Esqueça essa merda de ajuda, Erin! Me devolva a seringa, agora! - seu rosto estava realmente próximo ao meu e sua expressão não era uma das mais amigáveis.

Eu estava pronta para rebater com qualquer resposta inteligente que estava em minha mente, mas o celular no meu bolso começou a vibrar e tocar de forma estridente. Ashley bufou e virou de costas para mim, se afastando.

Peguei meu celular um pouco aliviada e atendi sem nem ao menos olhar no visor.

— Ah... Hora ruim para ligar? - paralisei com a voz de Gabriel saindo pelo aparelho.

— Não! - respondi muito rapidamente e me arrependi – É só a Megan me enchendo, como sempre. - olhei para Ash que revirou os olhos e se jogou em sua cama. Fiz uma cara feia para ele e ouvi a risada de Gabriel soar pelo telefone me fazendo voltar minha atenção a ele, mas não consegui entender o que ele disse depois, porque a ligação estava cortando, culpa da chuva e dos trovões que faziam a conexão ficar horrível. Ouvi que ele me fez alguma pergunta, mas não entendi nada, então resolvi tentar um lugar com melhor conexão.

— Espera um minuto, a ligação está horrível, o céu está desabando aqui e está difícil te ouvir. - ouvi mais uma vez sua risada e algo como "ok, eu espero" como resposta. Ele estava com um humor bem melhor que das outras vezes que nos falamos e eu me perguntava o motivo daquilo.

Por fim consegui um melhor sinal do lado de fora da casa, na varanda. Estava chovendo e vários pingos de chuva estavam caindo em mim, então precisaria ser breve na ligação.

— Então, me fale a que devo a honra de sua tão rara ligação? - disse depois de alguns minutos falando sobre o clássico "como você está?" E "o que anda fazendo por aí?".

— Eu queria te fazer uma surpresa... - e antes que ele pudesse continuar, um trovão muito mais forte que qualquer outro cortou o céu escuro e então a ligação acabou. Simples assim e eu fiquei sem saber que tipo de surpresa Gabriel pretendia me fazer.

Suspirei e levantei do banco que estava sentada na varanda. Estava frio e eu pretendia fazer uma xícara de chocolate quente, já que obviamente minha coragem para discutir com Ashley foi embora.

Puxei a maçaneta, mas a porta se recusou a abrir. Tentei mais algumas vezes, mas nada. Decidi bater na porta, mas aparentemente Ashley não estava perto para ouvir e os barulhos de trovão nunca o deixariam escutar.

Depois de algum tempo esmurrando a porta e gritando Ashley até minha garganta arder, desisti e saí na chuva até a parte de trás da casa, aonde a janela do quarto de Ashley ficava. Subi nos pequenos tijolos que tinham ali e olhei pela janela constatando que ele não estava no quarto.

Ótimo. Perfeito. E agora, Erin?

A chuva estava forte e me ensopava a cada segundo, mas pior era o vento que castigava meu corpo molhado. No intervalo entre um trovão e outro, ouvi um barulho estranho na casa e a primeira coisa que pensei foi sobre Ashley quebrar o resto de mobília daquele chalé.

Fui até a janela da sala e graças às forças divinas ela estava destrancada. Puxei-a com alguma dificuldade e com toda a minha falta de coordenação consegui me jogar para dentro do chalé.

— ASHLEY! - gritei furiosa, afinal havia uma chance enorme de ter sido ele a me trancar fora de casa e não um problema com a fechadura. Segui até o meu quarto para pegar uma toalha e me enxugar, mas paro na soleira da porta com meus olhos arregalados para a cena à minha frente.

Eu não esperava ver isso nem em um milhão de anos. Aparentemente um dos trovões atingiu o meu quarto e o deixou completamente de cabeça para baixo. Meus poucos livros estavam jogados no chão, minha mala com todas as roupas que eu ainda não havia posto no guarda roupas por simples e pura preguiça encontravam-se agora espalhadas por todo o chão. Até a minha cama estava completamente bagunçada, com o livro que há minutos atrás eu estava lendo agora jogado de qualquer jeito em um canto do quarto.

Eu podia culpar o trovão que misteriosamente entrou no meu quarto e fez tudo isso ou o ser que agora estava agachado de frente para o meu criado-mudo, terminando de arrancar a segunda gaveta.

Sufoquei um grito que quis sair pela minha boca, mas o barulho foi suficiente para o homem a minha frente ficar tenso e ereto em questão de segundos, como se ele nunca estivesse agachado.

Seus olhos eram arregalados e espantados. Nenhuma palavra saía dele. Suas mãos estavam fechadas em punho, como se estivesse pronto para brigar com alguém, ou como se estivesse tentando muito se controlar.

Depois do choque e dos breves segundos encarando estática o rosto petrificado de Ashley, o choque deu lugar às emoções e logo lágrimas de raiva brotaram em meus olhos, riscando meu rosto sem que eu permitisse.

Eu podia não ter as melhores expectativas sobre a personalidade de Evans. Mas eu esperava muito mais do seu caráter do que aquilo que ele estava me mostrando. Era exatamente como no sermão policial de meu pai “não se deve confiar nessas pessoas, elas perdem os limites tão fácil quanto perdem o respeito”.

Marchei até o criado-mudo e o empurrei para me dar passagem. Fui até a caixinha e peguei o que Ashley tanto queria. Me afastei dele e disse com a voz mais surpreendentemente fria que eu tinha:

— Está aqui o seu lixo. - joguei para Ashley a seringa, que bateu em seu corpo e caiu no chão com um barulho oco – Satisfeito? - encarei-o com os olhos ainda embaçados pelas lágrimas – Agora se me der licença, tenho um quarto destruído para arrumar. E ligações para fazer para achar outro lugar para ficar. - apontei para a saída do quarto esperando que ele entendesse o recado.

Faltava muito pouco para eu perder toda aquela máscara de frieza e me desmanchar em lágrimas e soluços de indignação. Ele tinha me trancado fora de casa, na chuva, invadido e destruído o meu quarto por uma seringa! Uma merda de seringa que estava o matando a cada injeção que ele dava em si!

O vício dele era claramente maior que qualquer consideração que ele pudesse ter por mim e foi esse fato acima de todos os outros que me deixou mais irritada e frustrada.

Ashley tentou falar algo, mas o cortei com um grito estridente.

SAIA, ASHLEY. - eu definitivamente nunca tinha usado aquele tom de voz com ninguém. Nem mesmo quando meu irmão me provocava em limites extremos. Para falar a verdade, eu nem sabia que ele existia dentro de mim e aquilo claramente assustou Ashley. Sua pele estava muito pálida e ele estava suando a ponto de seu cabelo grudar em sua testa. Perguntei-me se aquilo era parte da crise de abstinência e algo me dizia que sim. Antes que eu pudesse medir as palavras, elas decidiram saltar da minha boca – Não é possível que você não consiga ver o que esse seu vício está fazendo com você. Olhe como você está, Ashley! Da próxima vez que for sair correndo e pedir ajuda a alguém, pelo menos demonstre um pouco de iniciativa em querer mudar. Não é a primeira vez que eu te falo isso, mas espero que seja a última. - e definitivamente seria. Depois daquilo eu não aguentaria ficar no mesmo chalé que Ashley. Não aguentaria viver sob a insegurança de que a qualquer momento eu poderia sair para uma caminhada de manhã e quando voltasse encontraria meu quarto completamente revirado.

Ashley não disse nada, apenas saiu em passos lentos do quarto. Depois de me certificar de que a porta do quarto estava trancada, deixei que todo o estresse e choque que tive há minutos atrás externasse em forma de lágrimas. Arrumei o máximo da bagunça que meu cansaço permitia e deixei o restante - que não era muita coisa - para o dia seguinte.

Tomei um banho e coloquei roupas secas e quentes. Estava quase chegando à minha cama, quando um trovão tão alto e forte quanto o anterior à minha ligação com Gabriel faz-se ouvir e com mais uma explosão a luz acaba.

De qualquer forma não fazia muita diferença para mim, que estava indo dormir mesmo. Caminhei lentamente até minha cama, mas no caminho tropecei em algo. Peguei objeto e sentei em minha cama, pegando meu celular e iluminando o mesmo em minha mão, descobrindo ser a seringa de Ashley.

Suspirei e senti mais uma onda de lágrimas subir para meus olhos. Reprimir a vontade de chorar e me deitei na cama, tentando pensar em qualquer coisa menos nos últimos acontecimentos. Depois de todo esse episódio, conclui que Ashley não merecia mesmo tanta comoção da minha parte pela besteira que ele estava fazendo consigo mesmo. Não demorou muito para que eu caísse na inconsciência, mas também não demorou nada para que eu voltasse a realidade com barulhos horríveis que vinham do outro lado do corredor, mais especificamente do quarto de Ashley.

Abri meus olhos e vi no visor do celular que não faziam nem duas horas que eu tinha dormido e vi uma mensagem de Gabriel, mas antes que eu pudesse abri-la, ouvi mais um barulho do outro lado da casa e me espantei, pois esse era o som inconfundível de Ashley vomitando.

Eu jurei para mim mesma que dessa vez o deixaria se destruir como quisesse e se virar, mas bastou mais um estrondo vindo de lá para que meu juramento se dissolvesse e eu me jogasse para fora da cama tateando tudo ao meu redor a procura do interruptor, que segundos depois eu notei que não funcionou pela falta de luz - que agora se mostrava um enorme inconveniente -.

Ouvi mais alguns barulhos vindos do quarto à frente e não pensei antes de abrir a porta do meu e sair com a fraca luz do meu celular pelo corredor até o quarto de Ashley. Abri sua porta e ele não estava ali no quarto. Fui até o banheiro tropeçando em algumas coisas, mas quando cheguei lá encontrei Ashley debruçado sobre a privada, terminando de pôr seus fluidos corporais para fora do corpo. Ele tossiu algumas vezes antes de se jogar sentado no chão do banheiro e sua aparência era horrenda. Ele estava completamente pálido, seus olhos extremamente vermelhos e seu corpo todo estava suado e tremendo. Mas ele não tremia como alguém com frio. Ele parecia estar entrando em uma convulsão ou algo assim.

Eu realmente queria sair correndo dali, porque estava começando a ficar com medo do que podia acontecer com ele. Eu devia ficar com medo de Ashley? Devia considerá-lo alguém realmente perigoso? Bem, não importam as respostas para tais perguntas, depois que ele notou minha presença ali, vi seus lábios moverem-se em um silencioso "me desculpe" e aquilo foi resposta suficiente para mim. Fui até ele que se debatia violentamente e tentei pensar em algo para ajudá-lo, mas não foi preciso pensar muito, já que Ashley me puxou para o chão e me manteve ali, com sua cabeça enterrada em meu ombro e a maior parte do seu corpo apoiada sobre o meu. Seus tremores me faziam tremer junto, mas me mantive ali, parada. Logo pude ouvir soluços e sentir suas lágrimas. Não demorou muito até que ele estivesse de volta com o rosto enterrado na privada, pondo para fora tudo o que ele tinha e não tinha no corpo. Novamente ele sentou no chão e enterrou seu rosto na curva do meu ombro e pescoço, ainda tremendo demais e chorando. Eu não sabia se ele estava chorando por dor ou pela abstinência ou pelos dois. Tudo o que eu sabia era que eu estava perdida e só queria de alguma forma acabar com aquela dor que Ashley estava sentindo. Por mais que ele talvez a merecesse, eu não conseguia suportar observá-lo desfalecer ali ao meu lado e eu ser incapaz de fazer qualquer coisa.

Não sei por quanto tempo fiquei ali observando Ashley pôr tudo para fora e depois cair sobre mim ainda mais fraco e chorar da pior forma que eu já pude presenciar alguém chorar. E para piorar tudo, toda vez que ele conseguia algum ar para falar, tudo o que saía dele eram pedidos de desculpa sussurrados, o que acabava mais ainda comigo.

Depois de muito tempo nesse processo, eu me encontrava deitada no chão frio e úmido do banheiro, com Ashley deitado sobre meu peito, sua respiração era lenta e profunda e ele finalmente tinha parado de tremer daquela forma horrível, mas vez ou outra sua respiração ficava entrecortada. Minhas mãos estavam enterradas em seu cabelo suado, fazendo pequenos círculos. Eu estava extremamente cansada e aparentemente já estava quase amanhecendo, mas eu não conseguia dormir pela posição em que estava e o lugar extremamente desconfortável.

— Ashley - chamei depois de algum tempo. – Ash. - tentei novamente. Eu queria movê-lo para a cama, para que ele pudesse ficar mais confortável.

Eu sei, eu sei, eu devia estar uma fera com ele e deixar que ele se virasse era o mínimo, mas eu simplesmente não conseguiria fazer nada do gênero com ele naquelas condições. Então julguem-me, mas eu estava ajudando o cara que não tinha o mínimo de escrúpulo comigo.

Depois de mais algumas tentativas, finalmente Ashley se moveu e levantou levemente sua cabeça, confuso.

— Vem, vou te levar para a cama. - com alguma dificuldade consegui fazer com que ele entrasse debaixo do chuveiro, tomasse um banho rápido, ajudei-o a pôr as roupas (óbvio que a parte íntima eu deixei que ele tirasse e colocasse, mas era desconcertante ter que tocar em Ashley quando ele apenas vestia uma cueca) e o guiei para a cama. Seu corpo mais branco e esguio que o normal me puxou junto a ele, quando se jogou sobre a cama macia e eu não tive alternativa a não ser ficar ali sob seu abraço de urso.

Seu rosto estava na curva do meu pescoço e sua respiração pesada e entrecortada fazia cócegas ali.

Senti-o respirar fundo e depois dizer baixinho:

— Eu realmente, realmente sinto muito, Erin. Não queria ter te feito passar por nada disso. Nunca. Eu prometo que, se você ainda quiser, te ajudo a procurar algum lugar para ficar. Posso até sair daqui... - sua voz foi enfraquecendo e eu notei que a inconsciência foi atingindo-o. Me perguntei o quanto daquelas palavras ele se lembraria mais tarde.

Fiquei por mais algum tempo acordada, refletindo sobre tudo aquilo, até que senti meu celular vibrar em meu bolso.
Peguei-o e vi que era uma segunda mensagem de Gabriel. Abri a primeira e li:

"A ligação estava impossível, mas não quero atrasar a notícia. Estou em um período de recesso da minha faculdade... E estava pensando em ir para um estado mais quente, tem algum lugar para me indicar, aonde eu possa me hospedar em Palm Spring pela próxima semana?".

Senti a respiração mais forte de Ashley no meu pescoço e fechei meus olhos sentindo todo o meu corpo se arrepiar.

Decidi não ler a segunda mensagem de Gabriel e deixar para me preocupar com o resto do mundo depois de algumas horas bem-dormidas sob os braços de Ashley.


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