Eles estão me sacrificando também. escrita por Wi Fi


Capítulo 1
Eles estão me sacrificando também.


Notas iniciais do capítulo

OOOOOIE! Enfim, eu estava com tédio no fds e resolvi escrever isso :3 eu gostei bastante, espero que vocês tbm gostem ♥ ah, e os personagens vão chamar o Sherlock de William, mas o narrador chama o Sherlock de Sherlock mesmo.



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— William! Venha almoçar! – gritou a Sra. Holmes.

— Ah, mamãe! Posso brincar mais um pouquinho?

— A comida vai esfriar, filho. Depois do almoço você brinca mais, além disso, o RedBeard tem que descansar um pouco também.

Sherlock – ou William, como era chamado até então - afagou a cabeça do cachorro e saiu correndo para a mesa, onde a mãe havia colocado um prato com macarrão e suco de laranja. Sherlock/ William estava pronto para comer, mas a Sra. Holmes o lançou um olhar de reprovação.

— Você está desde que acordou brincando com esse cachorro – disse ela – Vá lavar a mão.

— Mas o RedBeard é limpinho, dei banho nele ontem - defendeu ele.

— Não discuta com sua mãe, Sherlock – disse Mycroft entrando na cozinha junto do pai– Onde estão suas maneiras?

“Provavelmente nessa sua pança” pensou o irmão, mas não disse nada, apenas revirou os olhos. Sherlock se levantou e foi lavar as mãos. Então voltou para a mesa e devorou a comida, sem se preocupar em tirar sua fantasia de pirata.

O jovem Sherlock, ou William, amava brincar de pirata. Viver nos mares, navegando, descobrindo tesouros, parecia o paraíso. Mas ele seria um pirata solitário, porque não era bom em conviver com as outras pessoas. Seria só ele e os mares. E RedBeard, óbvio.

O cachorro era provavelmente um dos seres vivos que ele mais amava, abaixo apenas de seus pais e ele mesmo. Mycroft estava logo abaixo de RedBeard na lista.

Quando ele acabou de comer, colocou seu tapa olho de novo sobre o olho esquerdo e correu para o quintal, onde RedBeard, seu fiel companheiro, o esperava. Ele abanou o rabo e correu até Sherlock.

Sherlock também gostava de ser pirata por causa de seu nome: William. Havia várias lendas de piratas temíveis com esse nome. E RedBeard havia ganhado o nome em inglês do terrível Barba Ruiva.

O menino subiu no sofá velho que estava usando como navio. Tinha colocado uma bicicleta na ponta dele, para usar como leme, e colocado um lençol amarrado numa vassoura como vela.

Ao lado de Sherlock, RedBeard abanava o rabo.

— Virar para bombordo, RedBeard! – ele disse.

Pegou as patas do cachorro e colocou na roda da da bicicleta, virando-a para a esquerda. O rabo do cachorro fazia cócegas na barriga do garoto.

Mycroft passou por Sherlock e por RedBeard, que pulou do sofá e mordeu a barra da calça do irmão Holmes mais velho.

— William, eduque seu cachorro! –mandou Mycroft.

— Eu o eduquei para morder você – resmungou Sherlock. Ele assoviou e RedBeard pulou de volta ao seu lado – Via voltar para a Universidade?

— É claro que vou, tenho que estudar.

— Mas em duas semanas é Natal.

— Minhas provas finais são segunda feira. Depois voltarei para cá e ficarei durante o Natal com vocês – disse Mycroft, ajeitando os livros da escola nos braços.

Logo o pai deles chegou, e ele e Mycroft entraram no carro. Foram embora. Não que Sherlock gostasse tanto do irmão, mas as vezes sentia falta de brincar com ele, como faziam antigamente, antes do irmão se tornar "um velho chato", nas palavras do menino. Depois que ele ficou mais maduro, adolescente, parou de dar tanta bola para as brincadeiras com o irmãozinho e começou a se dedicar muito mais nos estudos.

— Vem RedBeard – chamou Sherlock, pulando de volta no sofá – Vamos encontrar o tesouro!

O cãozinho latiu, animado, e deu um pulo. Sherlock não pode deixar de notar que quando caiu no chão, Redbeard soltou um gemido. Já fazia um tempo que o cão parecia estar machucado.

~

No começo da semana seguinte, na manhã de segunda feira, Sherlock ia começar sua sessão de brincadeiras com RedBeard. Mas ao chamar o cachorro, ele não veio correndo em sua direção. Apenas levantou a cabeça, com cara de choro. Sherlock tentou novamente, mas nada aconteceu.

Tentou colocar o cão de pé, mas RedBeard caiu. Sherlock foi correndo chamar a mãe.

Ao tentarem fazer o cachorro se levantar, mas ao não conseguirem, os três Holmes levaram RedBeard para o veterinário.

Duas horas depois, a veterinária saiu da sala de diagnóstico e foi contar para os donos do cachorro.

­- Sinto muito, mas seu cão está com artrose. Ele não consegue levantar, está acima do peso e algumas fraturas nas pernas não foram cuidadas corretamente – ela disse – Se tivessem trazido ele antes teria sido melhor.

Sherlock apertou as mãos.

— Mas ele vai ficar bem? – perguntou o garoto, baixinho.

A veterinária sorriu caridosamente para ele.

— Talvez, querido – ela respondeu – Vamos tentar fazer de tudo. Quinta feira que vem vocês nós ligaremos e falaremos o resultado. Até então ele fica aqui.

~

A quinta feira seguinte era um dia antes da véspera de Natal, dia 23. Mycroft ficou em casa com o irmão. Ele havia chegado na semana anterior, e passara todos os dias se preparando para as próximas provas. Sherlock achava aquilo um exagero, mas estava muito preocupado com RedBeard para se importar com o irmão.

Por volta das duas da tarde, os pais deles chegaram. A Sra. Holmes estava com o rosto vermelho e fungava. O Sr. Holmes não olhava nos olhos do filho mais novo, e naquele momento Sherlock sabia que havia algo errado. Mycroft respirou fundo e se preparou para um desastre.

— Desculpa filho – disse o Sr. Holmes – RedBeard está muito doente, os medicamentos não fizeram nenhum efeito nele. Vão sacrificá-lo hoje a noite.

— Sacrificar?

— É o melhor, William – explicou a Sra. Holmes – Se não ele sofreria muito.

A mãe o apertou contra si, chorando. Sherlock permaneceu quieto e se desvencilhou dela. Se trancou em seu quarto, e ninguém teve coragem de encará-lo.

~

— William – chamou Mycroft, entrando no quarto do irmão, sem aviso prévio.

Sherlock estava em sua cama, jogando a bolinha vermelha – que era o brinquedo preferido de RedBeard – na parede e a pegando de volta.

Já era de madrugada, e ele não saíra do quarto o dia inteiro. Afinal, pra que sairia? Sem ninguém para brincar com ele. Os pais estavam preocupados, é claro, mas sabiam que ele apenas tinha que ficar sozinho por um tempo.

— Não leu o aviso na porta? Ou não sabe ler, Mycroft? – respondeu Sherlock, mau humorado.

Na porta de seu quarto estava pendurado o aviso “Proibido irmãos irritantes”.

— Eu não sou um irmão irritante, por isso entrei – respondeu Mycroft, simplesmente. Ele se sentou ao lado do irmãozinho – Sei que é difícil, mas você vai superar. Era só um cachorro.

— Não, ele não era só um cachorro.

O Holmes mais velho suspirou. Discutir com ele não daria resultado algum. Apenas se levantou e foi embora.

Sherlock, quando teve certeza que ninguém ouviria, deixou algumas lágrimas caírem e soluçou.

Ser pirata não tinha mais graça, não para William Sherlock Scott Holmes. Não agora que seu cachorro RedBeard não era mais seu companheiro a bordo.

Com quem passaria as manhãs das férias? Com outras crianças? Não, é claro que não. Elas não conseguiriam competir com seu intelecto massivo. Seria perda de tempo tentar.

Ele ficaria sozinho. Iria parar de brincar de pirata. Iria se desapegar de tudo que o lembrasse RedBeard, manteria-se distante. Nada poderia atingi-lo se não se importasse com nada, certo? Aquele pensamento o seguiu por toda sua vida.

Foi o que fez William, no almoço do dia seguinte, finalmente falar alguma coisa, após quase um dia de mudez.

— Não quero que me chamem de William – pediu – Nunca mais. A partir de agora, me chamem de Sherlock.

— William, isso é besteira – disse o Sr. Holmes.

A mulher deu uma cotovelada nele.

— Claro, querido – concordou a Sra. Holmes – Sherlock é um nome maravilhoso.

— Sherlock Holmes – comentou Mycroft – Soa poético.

Nunca mais ninguém o chamou de William, e ele preferia que continuasse assim.

~

 

RedBeard foi o começo de uma grande mudança em Sherlock Holmes. Ele não precisava de amigos. Não precisava de ninguém, no geral. As pessoas eram simples demais para alguém como ele, e não o entendiam. Se importar não é uma vantagem.

Entretanto, um homem mudou tudo isso. O primeiro a não demonizar sua inteligência, o primeiro a aceitá-lo como amigo, o primeiro a entender sua paixão por mistérios e crimes hediondos. Ele era mais um ponto de pressão em sua lista.

Mas Sherlock Holmes faria de tudo para proteger John Watson. Ele mataria e morreria por isso.

 

 


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Notas finais do capítulo

alguém chorou? ficou minimamente emocionado? mereço reviews?