POV Katniss

Acordo em um lugar diferente do quarto de Peeta, aqui todos os móveis do cômodo são brancos, escuto pequenos apitos de alguns instrumentos e percebo que estou em um hospital pelo soro em meu braço. Olho para o lado e vejo Peeta dormindo segurando minha mão. Não me lembro muito bem do que aconteceu só me lembro de sentir muita fraqueza e então eu desmaiei. Tento tirar minha mão devagar para não acordar Peeta, sem sucesso! Ele levanta a cabeça ainda meio sonolento, mas quando me vê, ele abre um imenso sorriso e me abraça fortemente me fazendo gemer um pouco de dor.

– Me desculpa, não queria te machucar – ele diz se soltando do abraço.

– Eu peço desculpas por te acordar, você parecia cansado.

– Não, está tudo bem e não precisa pedir desculpas. – ele passa a mão pelo meu rosto tirando alguns fios de cabelo que insistem em cair em meu rosto e eu abaixo a cabeça fitando o colchão, ele imediatamente retira sua mão – Katniss, a gente realmente precisa conversar...

– Eu já disse que não sei Peeta – minha voz está bem exaltada e vejo que ele se assusta um pouco – Não é a primeira vez que você me pede perdão, sabe, eu sofri tudo aquilo por sua causa. Cada soco que Glimmer me dava naquele quarto eu pensava em você, pensava se você estava me procurando ou não, se você estava de ajudante dela ou não, eu cheguei a pensar se você realmente me amava ou não... – acho que estou pegando pesado com ele, mas tenho que desabafar – Se não fosse por Gale, Peeta, hoje eu estaria morta. – vi que uma expressão de espanto se formou no rosto de Peeta – Isso mesmo, Glimmer me ameaçou de morte e disse que ficaria com você pra sempre depois que me visse morta e eu não duvidava do que ela era capaz de fazer. Aquela maluca me maltratou muito, me fez vários cortes pelo corpo inteiro me deu vários socos e tapas e me deixou presa trancada dentro de um dos quartos do corredor escuro daquela casa. – lágrimas se formaram em meu rosto e caiam livremente – Eu não sabia onde eu estava no momento da tortura, só depois quando Gale chegou e me tirou de lá que percebi que era na casa dela. Eu nunca pensei que eu sofreria por causa de uma vingança boba, que eu sofreria porque peguei o lugar de uma menina, se eu soubesse que daria nisso tudo Peeta, eu nem teria voltado com você...

Dessa vez quem abaixou a cabeça foi Peeta, eu vi lágrimas escorrendo por seu rosto também. Eu soluçava de tanto chorar só por lembrar das minhas torturas que não foram fáceis de agüentar.

– Katniss... Eu... – ele não sabia o que falar – Eu não sabia que a Glimmer havia te ameaçado de morte. Eu queria conversar exatamente sobre o que aconteceu nesse tempo em que você esteve lá...

– Me ameaçou sim Peeta, se não fosse Gale, você estaria nesse momento recebendo a noticia da minha morte.

Desviei meu olhar do seu e fitei a janela do outro lado do quarto, porém senti braços muito fortes me abraçarem como se ele fosse me perder a qualquer momento.

–Ah, Peeta, toma cuidado, está doendo – gemi.

– Me desculpa, me desculpa, me desculpa por tudo porfavor.

Nesse momento o celular de Peeta começa a tocar e ele ignora porém eu falo para ele atender então ele sai do quarto enquanto fico presa em meus pensamentos novamente.

POV Peeta

Depois de ouvir aquelas palavras de Katniss parece que recebi um soco no estômago. Será que ela não aceitou meu perdão mesmo? Pelas palavras dela eu acho que não, fui eu quem fiz ela sofrer, a morte dela iria acontecer por minha causa, eu não sei o quanto eu vou ser grato à Gale por ter resgatado Katniss enquanto eu fui um burro que não procurei por ela.

Meu celular não para de tocar e vejo que é numero desconhecido, porém já vi esse telefone antes, ele não me é estranho então atendo mesmo assim.

– Alô?

– Alô, Peeta? – reconheço a voz imediatamente

– Sra. Everdeen?

– Eu mesma, Peeta eu estou desesperada sem noticias da Katniss. Estou inventando mentiras para Prim, mas não sei mais o que falar e você me disse que queria conversar comigo e...

– Sra. Everdeen, você pode vir no hospital que eu te explico tudo direitinho. – interrompo sua fala.

– Hospital? Aconteceu alguma coisa Peeta? – percebi um tom de preocupação em sua voz.

– Só venha, por favor, e eu te explico tudo.

– Tudo bem estou indo.

Desligo o celular e volto para o quarto, quando entro encontro Katniss com um novo soro em seu braço.

– Sua mãe está vindo pra cá – ela olha para mim com cara de espanto misturado com felicidade.

– Minha mãe? Não posso contar a verdade.

– Como não?

– Peeta minha mãe vai ficar desesperada em saber que a filha foi torturada, sem chances, vou falar que fiquei na casa de Annie e que ontem eu capotei o carro e você me achou na estrada.

– Tudo bem, se é melhor assim...

Ficamos em silêncio apenas encarando o chão ou preso em nossos próprios pensamentos, até que ouvimos batidas fortes na porta e logo a maçaneta sendo girada.

– Filha? Oh meu deus, o que aconteceu com você? Por que está toda machucada? Onde você estava? – a mãe dela parecia aflita com Katniss, já era de se imaginar que qualquer um ficaria espantado, até eu fiquei.

– Mãe, me desculpa mandei uma mensagem errada para você naquele dia falando que estava com Peeta, mas na verdade eu estava com Annie...

– Com licença, vou deixar vocês a sós conversando – me intrometi e saí do quarto deixando as duas conversarem em particular.

Quando saí do quarto me dirigi até o hall do hospital e me sentei em uma cadeira aguardando até a saída de sua mãe. Eu estava tão distraído em meus pensamentos que eu nem vi a enfermeira que cuida da Kat me chamando.

–Sr. Mellark? O senhor está me ouvindo?

– Ah, sim, me perdoe. – me ajeitei melhor na cadeira e olhei em sua direção – Os exames ficaram prontos?

– Sim, eu só queria perguntar uma coisa senhor Mellark.

– Claro pode falar.

– Por acaso, a Srta. Everdeen presenciou algum tipo de tortura física? – ela pergunta estreitando os olhos como desconfiança. – Por favor, fale a verdade.

– Sim – dei uma pausa – Ela... Ela sofreu de uma amiga antiga que já demos um jeito – menti, até porque não vi Glimmer já faz um tempo.

– Sr. Mellark, a Katniss está com graves ferimentos nos corpos feitos por facas e manchas que deduzimos serem tapas. Nos exames não apareceu nenhum tipo de fratura interna, porém quando uma pessoa sofre por tortura ela pode chegar a ter seqüelas psicológicas.

– O que? – perguntei um pouco aflito, seqüelas psicológicas? Como assim? – pensei

– A Srta. Everdeen pode chegar a ter seqüelas desse processo presenciado por ela. A maioria das pessoas que sofrem por tortura acaba tendo essas seqüelas – ela deu uma pausa, mas logo continuou a falar – Senhor Mellark, as seqüelas mais freqüentes são comportamentos agressivos, angústia crônica, ansiedade, depressão, insônia persistente, pesadelos, alterações nos hábitos alimentares e até transtornos neuróticos.

– Espera aí – raciocinei direito tudo o que ela acabara de falar, então a Kat sofrerá ainda seqüelas que podem persistir ao longo do tempo. – A Katniss poderá ter essas seqüelas por muito tempo?

– Dependendo do quanto ela sofreu e do que ela sofreu... Pode durar um longo tempo.

Não estou acreditando no que ela acabou de falar, quer dizer, eu não sabia que eu era capaz de causar tudo isso para Katniss, eu me sinto tão culpado de ter namorado Glimmer. Acho que Katniss está certa por não me perdoar, afinal, ela poderá sofrer diversas coisas por um bom tempo ainda por minha causa, minha! Não quero vê-la com depressão, pesadelos ou qualquer outra coisa que seja, quero que Katniss seja feliz como ela realmente merece... Nesse instante me lembro da última fala que ela me disse no dia da festa na casa de Glimmer.

“Eu não quero saber, não quero mais ver você, não quero mais você na minha vida. Você me machucou mais do que quando eu cheguei e te vi com aquela vadia. Sai da minha vida Peeta, se você quer me ver feliz, ME DEIXA EM PAZ”

Eu só quero vê-la feliz, será que devo fazer o que ela me pediu? Eu não conseguiria sobreviver sem ela, mas já causei problemas demais na sua vida. A única coisa que preciso saber agora é de sua resposta para o que ela quer de sua vida nesse momento, comigo ao seu lado ou sem...

Sou interrompido de meus pensamentos com a mãe de Katniss dando um pequeno aceno com a mão e indo em direção a porta principal do hospital. Volto a minha atenção a enfermeira, mas percebo que ela já saiu daqui então resolvo ir até o quarto conversar novamente com a Kat, depois que ela me disse tudo isso, vou tentar agir de uma forma mais calma.

POV Katniss

Ainda bem que minha mãe acreditou em tudo o que eu falei, nas mensagens erradas, do acidente de carro... Caso contrário ela não me deixaria em paz um minuto e iria atrás de Glimmer até conseguir matá-la. Sinto falta de Prim que nesse momento deve estar na escola, mamãe disse que ela estava muito preocupada comigo, eu só quero ver minha patinha que se distanciou de mim de repente por causa dessa confusão toda. Penso também em Peeta, estou com raiva e descontando nele mas não tenho culpa, essa comportamento é diferente como se eu não conseguisse me controlar, ele não merece isso, foi Glimmer quem me maltratou. Ele não sabia que ela iria ser capaz de fazer uma coisa dessas com alguém, nem mesmo eu. Sou livrada dos meus pensamentos com batidas na porta que deduzo ser de Peeta.

– Com licença... – acertei em cheio – Como foi a conversa com sua mãe? – ele senta na mesma cadeira ao lado da minha cama.

– Ela acreditou na mensagem errada e no acidente... Já saíram os resultados dos exames?

– Eu queria falar disso com você agora – ele deu uma pausa respirando profundamente – A enfermeira disse que você não teve nenhuma fratura interna, porém... – ele demorou para continuar então entrevi.

– Porém o que, Peeta? – estava nervosa pela demora de sua resposta.

– Porém você poderá ter seqüelas psicológicas.

– Que seqüelas exatamente? – estava ficando com medo pela sua reação.

– Seqüelas tipo comportamentos agressivos, angústia crônica, ansiedade, depressão, insônia persistente, pesadelos, alterações nos hábitos alimentares e até transtornos neuróticos.

Fiquei em choque, será que é por isso que vivo descontando minha raiva nas pessoas? Com a minha mãe foi a mesma coisa, ela até estranhou, porém eu disse que estava apenas cansada e que precisava dormir um pouco. Estou fitando o colchão da cama quando sinto os braços fortes de Peeta me sufocarem com um abraço, sinto ainda dor, mas tento ignorar qualquer dor no momento, só quero me concentrar nesse abraço maravilhoso dele que me faz afastar qualquer problema em minha vida.

– Katniss, saindo daqui a primeira coisa que vou fazer é ir na polícia e denunciar Glimmer, ela vai pagar, eu juro, ela vai pagar por tudo o que ela te fez sofrer – ele chorava desesperadamente em meus braços.

– Peeta... – ele não me deixou continuar, pois me interrompeu.

– Kat, me perdoa por isso, olha eu sei que tudo é culpa minha e que você tem razão em não me perdoar até porque foi por culpa minha que Glimmer te castigou...

– Peeta – falei mais alto, porém ele me ignorou novamente e continuou a falar.

– Eu me lembro quando você me disse que se eu queria te ver feliz eu teria que te deixar em paz. Katniss você merece ser feliz, muito feliz, você merece tudo de bom e do melhor na sua vida, tudo o que eu quero é a sua felicidade então se você não quiser mais me ver ou ficar perto de mim eu irei entender...

Não o deixei terminar porque sai de seu abraço e juntei nossos lábios em um beijo calmo e apaixonante. Penso em tudo o que falei mais cedo para ele e me sinto um tanto culpada por falar tão agressivamente, ele nunca iria descobrir que Glimmer estava me maltratando, ele nunca iria ser capaz de imaginar uma coisa dessas, acho que eu peguei pesado com Peeta. Eu não sobreviveria sem ele de jeito algum, ele me faz tão bem desde pequena, desde que eu saí da cidade há três anos eu não pensava em mais ninguém a não ser nele... Na pessoa com quem eu não sobrevivo sem... Em Peeta.

Separo do beijo e olho em seus lindos olhos azuis que me dão paz e sossego. Apenas aquele olhar, aquele sorriso, aquele carinho dele que me faz viver e é disso que eu preciso, é disso que eu sobrevivo... Eu não conseguiria sobreviver sem isso, sem Peeta...

Quando ele ia abrir a boca para falar algo eu o interrompo colocando meu dedo em seus lábios silenciando-o.

– Peeta, me desculpa por ter sido tão rude com você mais cedo... Eu não sei aonde eu estava com a cabeça, mas eu quero que você saiba de uma coisa e que nunca esqueça dessas palavras também – começo a sentir meus olhos arderem e lágrimas embaçando minha visão, porém respiro fundo e olho em seus olhos – Eu te amo, sem você eu não sobreviveria Peeta. Desde que eu saí dessa cidade eu não penso em outra coisa a não ser em você – ele também chorava – Eu sei que foi Glimmer quem te agarrou na festa e que você não teve saída, me desculpa por não te perdoar mais cedo eu ainda estava um pouco aflita com tudo o que acabara de acontecer mas fique sabendo que eu sempre vou ficar do teu lado pra tudo – nesse momento os dois estavam soluçando, mas reuni forças para terminar de falar – Você não tem culpa de nada que aconteceu, você nunca iria saber que Glimmer fosse capaz de me maltratar, você nunca ia saber que ela iria ser capaz de fazer uma coisa dessas então me perdoa por te acusar Peeta e saiba que eu nunca vou deixar de amá-lo, nunca! Você é a pessoa mais importante da minha vida e sem você, eu não sou nada, você é a razão do meu viver e sempre vai ser. Nada e nem ninguém vai separar a gente, lembra?

Nesse instante ele deu um sorriso no meio de tantas lágrimas, parece que ele se lembrou dessa minha fala no dia da festa. Sem pensar duas vezes ele me deu um beijo que se misturou com as nossas lágrimas que ainda escorriam pelo nosso rosto. Quando nos separamos ele sussurrou com a testa colada na minha:

– Nada e nem ninguém vai separar mais a gente, eu te amo, sempre te amei e sempre vou te amar... Eternamente em minha vida.