Só Que Platônico escrita por Gaby Molina


Capítulo 5
Capítulo 5 - Olá, mamãe


Notas iniciais do capítulo

Não recebi nenhum review no último capítulo ;(



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Jared

Os olhos azuis discretamente fitavam Brandon Carstairs do outro lado do refeitório.

— Você não está ouvindo uma palavra do que eu digo, está? — ergui uma sobrancelha.

Blue olhou para mim, sorrindo.

— Claro que estou, Jerry. Não seja bobo.

Akio franziu o cenho. Não dissera nada desde que Blue resolvera se sentar conosco no intervalo, e parecia constantemente se beliscar e olhar em volta para ter certeza de que não era nenhum sonho ou pegadinha.

Ser obrigado a aceitar o papel principal na peça da escola tinha lá suas vantagens.

Logo Sloan e Phoebe sentaram conosco como se fizessem isso todos os dias.

— E aí, quais são as novas? — Sloan sorriu.

— Jerry vai bombar em Matemática — disse Akio, mordendo o sanduíche de frango. O uso do apelido fora proposital, já que ele parecia sentir algum tipo de prazer sádico em tirar sarro de como Blue me chamava sem motivo aparente.

Blue arregalou os olhos, me encarando.

— Não, não, não! Você não pode bombar, Jerry! Vão te tirar da peça se começar a afetar as suas notas!

E não era exatamente isso que eu queria? Então por que o tom preocupado dela me deixou preocupado também?

— Brandon Carstairs vai amar essa notícia, ele mataria para ser o Romeu — comentou Phoebe, indiferente.

Blue franziu o cenho.

— Ele disse isso?

Eu não sabia dizer se era esperança ou ceticismo na voz dela, mas simplesmente havia desistido de tentar entender aquela garota.

Blue

— Ei, desconhecida — Brandon sorriu, entrelaçando a mão dele na minha ao fim do último período.

— Oi, Carstairs — abri um leve sorriso.

— Tem planos para hoje à tarde?

— Hmmm... Não que eu saiba.

Ele colocou as mãos em minha cintura, cravando os olhos claros nos meus.

— Vamos fazer alguma coisa?

— Sei lá, talvez.

— Qual é, não banque a difícil.

Ergui uma sobrancelha.

— Acha que é isso que estou fazendo? Pode ser que, você sabe, eu queira genuinamente pensar no assunto.

— Ah, vamos lá, Monroe. Sem mais joguinhos. Vamos apenas aceitar, está bem? Cinema, ou sei lá. Eu pago. Não precisa dificultar.

Soltei-me dele, contrariada.

— Acha que é assim? Que estamos fazendo joguinhos? Que pode me ter a hora que quiser?

— Eu não disse isso.

— Mas é o que está pensando, não é? Sei que você acha que pode ter qualquer garota dessa escola na sua cama quando bem entender, mas achei que soubesse — encarei-o. — que eu não sou qualquer garota.

E então fiz minha saída triunfal, correndo até o estacionamento enquanto procurava aquela maldita picape velha e descascada.

Brandon achava que me tinha na palma da mão? Bem, ele estava prestes a descobrir que estava longe disso.

Jared

A porta do passageiro se abriu e Blue Monroe entrou no meu carro.

— Acelere — pediu ela.

Ergui uma sobrancelha.

— Como é que é?

— Você vai passar em Matemática, Jerry. E sabe como eu sei? — ela me fitou. — Porque eu vou te ensinar. Você não vai ser expulso daquela maldita peça nem que implore para sair.

— Hã... Já que você ofereceu...

— Ótimo. Que bom que concordamos. Sua casa?

* * *

Meu cachorro adorou a Blue, porém o amor não era recíproco.

— AAAAAAAAH! — foi a última palavra dela antes de ser derrubada por um cão com o dobro do tamanho dela. — JERRY, TEM UM DINOSSAURO EM CIMA DE MIM!

— Bilênio errado, Blue — abri um sorriso torto. — Ainda bem que não vai me ensinar História.

Ela se levantou aos tropeços.

— Cale a boca — mas sorria.

Filho, o que diabos você...? — minha mãe veio até a sala procurando pela razão da baderna. Os olhos dela se arregalaram ao verem Blue. — Jared, você trouxe uma garota para casa? E ela é bonita?

Acho que o tom de pergunta não foi proposital, apesar de ter soado mais como se ela estivesse tentando convencer a si mesma.

— Eu sempre trago garotas para casa, mãe — disse eu, com minha melhor voz de "Por favor, não faça isso comigo".

Ela tirou o avental e estendeu a mão para Blue.

— Edna Dawson.

— Blue Monroe — a garota apertou a mão dela.

Minha mãe ergueu uma sobrancelha.

— Blue? Como a cor?

— Exatamente — ela sorriu, parecendo acostumada com tal pergunta.

— Jared, por que você nunca falou sobre a sua amiga Blue?

— É, Jerry — Blue me fitou, parecendo estar se divertindo. — Por que você nunca falou sobre a sua amiga Blue?

— Eu falei. A menina que me arrastou para a peça da escola, lembra, mãe?

Blue estreitou os olhos.

— Não gostei dessa descrição.

Minha mãe franziu o cenho.

— Julieta?

— A própria!

Antes que elas começassem a discutir Shakespeare ou minha mãe pegasse o álbum de fotografias de bebê, falei:

— Mãe, podemos subir?

Minha mãe parou por um minuto, confusa, parecendo tentar se lembrar de o que aprendera nos documentários de "Como educar seu adolescente antissocial, porém cheio de hormônios".

— Deixem a porta aberta.

Assenti e puxei Blue pelo pulso escada acima. Ela fitou meu quarto com um olhar curioso, parecendo observar atentamente cada detalhe, o que me fez sentir a obrigação de chutar toda a bagunça discretamente para debaixo da cama.

Ela sorriu e se sentou sobre o lençol mais ou menos arrumado.

— Entããão...

— Você quer uma apostila ou algo do tipo?

— É, seria bom.

Peguei o livro de Matemática e ela começou a me explicar a Teoria do Caos por causa de alguma coisa sobre Números Complexos. Você sabe, eu podia prestar atenção nisso ou podia prestar atenção na forma como ela sempre afastava a mesma mecha de cabelo do rosto e, apesar de eu ter usado a conjunção "ou" na frase, não era uma escolha.

— Basicamente, são equações, sistemas, situações, etc., que não têm um resultado completamente previsível. A Teoria do Caos é como... um padrão de organização dentro de um fenômeno desorganizado. Um padrão nas coincidências.

— Quem criou isso? O Chapeleiro Maluco?

Ela riu um pouco.

— Não. Edward Lorenz. Ele era um metereologista que queria conseguir prever com mais precisão as mudanças climáticas.

* * *

Em algum lugar no Efeito Borboleta, minha mãe invadiu o quarto com biscoitos, e pareceu genuinamente surpresa por estarmos genuinamente estudando Matemática. Algo me dizia que ela ficara praticando um sermão no andar de baixo.

— Oh, é muito gentil — Blue sorriu, pegando um cookie.

Minha mãe ficou parada na porta por um momento, por fim voltando para o andar de baixo. Quando Blue decidiu que eu entendera o suficiente por aquele dia (haveria outros?), ela pediu para usar o telefone da cozinha a fim de ligar para os pais. Apontei para o cômodo e me joguei no sofá da sala ao lado de minha mãe.

— Eu gostei muito de conhecer sua namorada, Jared — comentou ela, animada.

Soltei um riso alto.

— Blue Monroe? Minha namorada? — ergui uma sobrancelha. — Mãe, você esqueceu quem é o seu filho?

— Da última vez que eu chequei, era o protagonista da peça da escola.

— Exatamente. Nada de capitão do time de futebol ou algo do gênero — fitei-a. — Você deveria ter tido outro filho, para caso o primeiro acabasse entrando para a peça da escola para não bombar em Matemática.

— Pare com isso, Jared — censurou ela.

Blue suspirou e voltou à sala.

— Vou tentar de novo daqui a alguns minutos.

— Não conseguiu falar com eles? — perguntei.

— Consegui. Mas eles disseram para eu me virar — ela abriu um sorriso fraco. — Eu e meus pais não estamos nos dando muito bem ultimamente.

— Eu posso te dar uma carona — ofereci.

— Pode mesmo? — ela cravou os olhos azuis em mim. — Quero dizer, seu carro não vai quebrar se você usá-lo duas vezes em duas horas ou algo do tipo?

Minha mãe riu, mas eu não tinha certeza de que Blue estava brincando.

— Vamos descobrir — dei de ombros. — Mãe, já volto.

— Está bem, querido.

Caminhamos até meu carro, que milagrosamente deu partida.

Blue

Jared tamborilava com os dedos no volante, inquieto, e os únicos sons que eu ouvia eram um barulho estranho vindo do motor e alguma música antiga do Creedence Clearwater.

Estávamos parados no semáforo quando vi Brandon andando pela calçada. Ele conversava com uma garota loura e alta que eu não conhecia, e ela estava claramente se jogando nele. Bufei e me ajeitei no banco, me preparando para o momento em que ele me viria e diria "Ah! Olá, Monroe! Nem te vi, estava aqui passeando com a minha loura gostosa que dá muito menos trabalho do que você".

Foi então que me lembrei de Jared, que finalmente notara meu olhar inquieto por causa de Brandon.

— Você está bem? — perguntou ele em voz baixa, gentilmente.

Franzi o cenho, surpresa com a pergunta simples. Ele não me bombardeara com um interrogatório cansativo nem nada do tipo que eu esperaria das pessoas, e eu apreciei isso.

Quando Brandon finalmente me notou, eu tive uma ideia.

— Jerry, me beija.

Os olhos castanhos dele se estreitaram e ele passou um momento parecendo convicto de que havia entendido errado.

— O quê?

Jared

— Me beija. Cala a boca e me beija.

Então eu fiz isso. Soltei o cinto, inclinei-me sobre o câmbio e a beijei. Todas as perguntas desapareceram naqueles segundos onde meus lábios estavam colados aos dela. Não é como se eu nunca tivesse beijado uma garota, mas era diferente com ela. Havia algo no jeito que o corpo dela se encaixava no meu, algo nos lábios desesperados e famintos.

Nossos olhos se abriram quando ouvimos uma buzina irritada vinda do carro de trás. Abri um sorriso fraco e voltei ao meu assento, acelerando o carro. Ela olhou para a direita por um minuto, e então passou o resto da viagem fitando as próprias unhas.

Paramos em frente a uma casa branca de dois andares muito bonita. Ela agradeceu e desceu do carro rapidamente.

Antes de voltar para casa, parei em um Starbucks e bebi alguma coisa com nome bonito enquanto apertava meus lábios ainda um pouco inchados um contra o outro.


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