Passado, Presente e Futuro escrita por Blue Butterfly


Capítulo 8
Presente de memórias


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^^



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Ele abriu os olhos com cuidado, respirar doía e ele não se atreveria a mexer nenhum outro músculo a não ser o das pálpebras. Estava confuso, lembrava de sentir medo, dor, de sangrar…

Voltou a fechar os olhos, exausto.

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“-Clow!!! Clow!!!

Kerberos rugia em desespero, correndo pela casa. O mago saiu de uma das inúmeras portas, a roupa abotoada pela metade.

–O que houve? – ele perguntou com calma.

–Yue está morrendo!!!

O mago empalideceu, certamente essa era a última coisa que ele esperaria ouvir, esquecendo por completo dos botões, ele seguiu sua criatura, o coração desesperado. Seu anjo não podia estar morrendo, simplesmente não podia. Os dois chegaram até o meio do jardim, Yue estava caído no chão, tremendo suavemente com as asas ao seu redor, sua magia parecia intacta, mas sua posição estava longe de ser normal.

–Yue? Meu anjo, o que aconteceu?

Yue baixou as asas, o rosto sempre frio e sereno estava aterrorizado. Tremendo, ele ergueu a mão e mostrou o dedo cortado, um líquido vermelho saía do pequeno corte.

–Eu estava brincando no jardim – Yue começou com a voz tremula, tentando segurar o choro – Quando uma flor me machucou. Eu vou morrer?

Clow começou a rir loucamente, nunca na vida ficou tão aliviado como naquele dia, ele pegou a pequena rosa cheia de espinhos, ele sempre plantara rosas sem espinhos justamente para que Yue não se machucasse, ele amava as flores e vivia no jardim.

–Clow, este não é o momento de rir – Kerberos rugiu de mau-humor – Nós estamos com medo. Você tem que salvar o Yue!

Percebendo que suas criaturas estavam realmente preocupadas, o mago tomou a mão do anjo com cuidado, colocando o dedo ferido em sua boca, o sangue do anjo tinha um gosto estranho, não lembrava ferro, e sim gelo. Após alguns instantes ele tirou o dedo de sua boca, o sangue parando de escorrer.

–Você não vai morrer, meu pequeno anjo – Clow começou – Você só sangrou por que o espinho da rosa te feriu. Veja – e pegou a flor – Está vendo esse espinho? Ele fez um pequeno corte e você sangrou, mas o sangue já parou de escorrer e você vai ficar bem.

–Clow, o que é sangue? –Kerberos perguntou e o mago sorriu.

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–Touya?

O rapaz olhou para o pai, desanuviando sua expressão. Fujitaka se permitiu sentar ao lado do filho.

–Seu amigo vai ficar bem?

–Sim. Ele está dormindo, daqui a pouco subo para ver como ele está.

–Sabe quem bateu nele?

–Sako Yanaza – Touya fez uma careta – Ele estava com raiva porque Yukito bateu nele hoje. Eu também bati.

Fujitaka se surpreendeu com a revelação.

–Por que você bateu em alguém, Touya?

–Sako estava falando mal da Sakura. Yukito bateu nele para defender a Sakura, Sako quis dar o troco e eu resolvi intervir, só que Sako continuou a ofender a Sakura. E ofendeu Oka-san – Touya enrijeceu – Então, bati nele também. Sako não teve coragem de ir atrás de mim, mas encurralou o Yukito e deu uma surra nele junto com seus amigos.

Fujitaka preferiu ficar em silêncio. Touya nunca lhe dera problema e era maduro o suficiente para tomar suas próprias decisões. Se ele tinha batido em alguém para proteger sua irmã, Fujitaka não iria interferir.

–Yukito parece gostar de Sakura – Fujitaka opinou.

–Ele parece gostar de todo mundo – Touya respondeu – Mas especialmente dela. Ele é uma boa pessoa.

Fujitaka não duvidava, era a primeira vez na vida de Touya que ele levava alguém para sua casa, nem mesmo quando ele namorava Kaho a menina foi convidada para conhecer a casa dos Kinomotos. Aquele menino deveria ser muito especial. Touya soltou uma respiração pesada, o semblante pensativo.

–Tudo bem, Touya?

–Estava lembrando das surras que levei na escola – ele murmurou com uma careta.

Sim, os dois homens lembravam de cada surra que o menino levara. Inclusive, houve uma em especial…

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“-Onii-chan!!! Onii-chan!!!

Sakura corria pelo parque em completo desespero, seus olhos vermelhos e o rosto molhado pelas lágrimas incessantes que teimavam em embaçar sua visão. Um menino bem mais velho corria atrás dela, um enorme sapo verde e gordo nas mãos, prometendo para quem quisesse ouvir que a menina iria beijar aquele sapo de qualquer jeito.

–Onii-chan!!!

–Sakura!

Um menino de dez anos correu em direção a menininha, abrindo o braço para recebê-la. Ele não precisou das palavras dela, conseguia ouvir os gritos e ameaças do menino.

–Fique longe da minha irmã – Touya mandou quando o garoto surgiu na sua frente.

–Saia daqui, moleque, eu não tenho nada a tratar com você.

O menino era bem mais velho e mais alto que Touya, ele ainda não sabia, mas estava de frente de Hiro Yanaza, irmão mais velho de Sako Yanaza – aparentemente desde cedo o caminho dos Yanazas encontrava o dos Kinomotos. Touya não foi embora quando Hiro mandou e os dois meninos acabaram brigando, Touya estava perdendo, mesmo com toda a vontade de proteger a irmã, ele não tinha estrutura suficiente para vencer uma briga contra Hiro, ele nunca apanhou tanto como naquele dia, sua sorte foi que Oto-san apareceu a tempo de salvar o filho de uma ida ao hospital”.

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Touya tinha apanhado muito na vida, apanhou por defender a irmã, por ver coisas que os outros não viam, apanhou de irmãos mais velhos que queriam surrar até a morte o idiota que havia rejeitado suas irmãs, apanhou de garotos bagunceiros que o chamavam de esquisito… A única coisa boa é que de tanto apanhar aprendeu a bater.

Fazia alguns anos desde sua última surra, o garoto com quem brigara saiu tão machucado quanto ele e desde então o universo decidiu que Touya já tinha aprendido o bastante e permitiu que ele vivesse alguns anos de paz.

–Tenho muito orgulho de você Touya – o pai disse com sinceridade – É o melhor filho que alguém pode ter.

Touya não respondeu, mas relaxou ao lado do pai e fechou os olhos, dando a maior demonstração de afeto que se permitia.

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Sakura depositou o pano com todo o cuidado sobre a testa do garoto. Yukito estremeceu com o toque gelado, ele não estava com febre, mas quando a menina insistiu em ajudar Touya, o irmão mais velho achou melhor dar essa função para a irmã.

–Você vai ficar bem, Yukito-san – Sakura prometeu com carinho – Onii-chan vai cuidar de você e eu também.

O barulho da chuva fez ela correr até a janela do quarto do irmão, Touya tinha a mania de deixá-la sempre aberta, como o quarto ficava no segundo andar da casa, não havia perigo de um bandido entrar por ali. Ela sempre se perguntou o que o irmão via por aquela janela. No momento, tudo o que ela conseguia enxergar eram nuvens escuras e muita água.

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–Yue?

O anjo não se deu ao trabalho de virar. O irmão se aproximou, olhando com preocupação a chuva torrencial daquela noite, raios cruzavam o céu e o barulho do trovão incomodava Kerberos.

–Clow já voltou? – o anjo indagou.

–Não. Acho que ele vai esperar a chuva passar.

Ficaram em silêncio.

–Eu queria ir lá fora – Yue confessou.

–Na chuva?

–Sim.

–Por quê?

Yue demorou a responder, não sabia ao certo, ele e Kerberos nunca saíam da mansão quando chovia, mesmo se fosse uma leve chuva de verão. Kerberos não ligava, ele sempre ficava amuado quando o sol era escondido por nuvens e odiava molhar seu pelo, já o anjo sempre teve curiosidade, queria sentir a água fria molhar suas asas assim como Clow descrevera que aconteceria com um pássaro que ousasse sair na chuva.

–Li num livro que se você voar muito alto, haverá um lugar no céu acima dessas nuvens carregadas onde não estará chovendo. Eu poderia ver a lua de lá.

–Suas asas molhariam e você cairia. Clow explicou o que a chuva faz nas asas dos insetos naquele dia, você não lembra?

Os lábios de Yue estremeceram, Clow ficara bravo com Kerberos quando soube que ele estava jogando água nos insetos do jardim e passou uma tarde inteira explicando tudo sobre insetos e asas para suas duas criaturas. Embora Kerberos reclamasse até a morte, Yue amava quando Clow os chamava e começava a explicar as coisas, eles aprendiam tanto naquelas tardes.

–Eu quero voar até lá. Se eu fosse, você contaria a Clow?”.

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–Sakura, desça para o jantar, eu fico com ele.

A menina não reclamou nem tentou ficar, Onii-chan tinha sido muito bonzinho a deixando ajudar e ela não ia abusar. Ela estava com pena de Onii-chan, ele parecia muito preocupado com seu amigo, o que ela achou fofo e triste, era a primeira vez que ela conhecia um amigo de Onii-chan e ela torcia do fundo do coração para que ele ficasse bem logo.

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“-Se você quiser muito ir até lá, eu posso guardar seu segredo. Mas você não deveria ir – Kerberos resmungou.

Clow podia ser o criador deles, mas Yue era seu irmão e ele o amava mais do que amava Clow, se o irmão queria tanto ir, ele não o impediria.

–Vai tomar cuidado? – Kerberos perguntou pensando em todos os problemas que Yue teria se as asas dele molhassem.

–Vou. Obrigada Keb – e Yue afagou a cabeça do irmão antes de abrir a janela e ir para fora”.

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A janela do quarto de Touya voltou a abrir com um baque surdo, Touya estranhou, quando chegou ao quarto parecia que ela estava bem fechada. Ele foi fechá-la antes que a água inundasse o quarto, vendo algumas gotas caírem no rosto do garoto adormecido.

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A água fria tocou o corpo do anjo e ele estremeceu. A sensação era maravilhosa, a chuva era forte, caindo pesadamente por seus ombros e tornando um pouco mais difícil voar. Ainda assim, era ótimo, tão gelado, tão fresco…

Ele podia ouvir Kerberos dentro da mansão repetindo mantras e mais mantras de proteção, ele temia que um raio atingisse o irmão e ele acabasse machucado, o coração do anjo se enterneceu com isso, ele podia não demonstrar, mas amava muito Kerberos. Olhando para cima ele se pôs a voar cada vez mais alto, sabendo por instinto onde a lua estaria o esperando”.

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Touya forçou a janela com mais força, ela nunca havia emperrado antes. Irritado, virou para buscar algo que pudesse auxilia-lo quando viu a áurea de Yukito se mexendo, ela tremia com violência, formando ondas que se dirigiam para a janela. O moreno se afastou, atordoado. Ele tinha visto muitas coisas mágicas, mesmo assim sempre se surpreenderia com uma coisa ou outra.

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Yue estava realmente cansado, suas asas pareciam pesar toneladas e cada metro acima era um esforço tremendo. Quando estava quase caindo de exaustão, ele atravessou a última nuvem de chuva”.

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Touya olhou com admiração o céu de Tomoeda se abrir bem acima de sua casa e a chuva parar de cair no seu quarto.

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Ela esperava por ele, maior do que ele um dia vira, com seu esplendor prateado que sempre o encantara. O anjo não conseguiu manter a fachada séria e sorriu abertamente. O livro estava certo. Havia um céu onde jamais chovia e a lua brilhava”.

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A lua apareceu no céu e um raio de luar entrou pela janela, caindo diretamente sobre a face de Yukito. Touya congelou sem saber como reagir àquela cena, a aura tremia cada vez mais, atraída pela luz prateada que banhava o garoto. Só que tudo isso durou apenas alguns segundos.

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–Yue!

O anjo estremeceu. Aquele tom de voz não devia ser desrespeitado. Com um último sorriso, ele voltou a ficar sério e despencou do céu, literalmente, ele e Kerberos viviam fazendo isso, era uma das coisas mais divertidas em voar. Faltando alguns centímetros para se esborrachar no chão o anjo bateu suas asas e caiu com delicadeza na grama molhado. Clow estava na porta da mansão, o rosto muito sério, e Kerberos estava atrás dele, olhando com pena para o irmão.

–Clow! Eu vi a lua. Eu estava certo, lá em cima não chove e a lua brilha!

Clow tinha um belo discurso para seu anjo desobediente, só que ele esqueceu de toda a bronca que daria quando viu o sorriso no rosto dele. Na verdade, aquele foi o momento que o mago mais o amou”.

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A lua voltou a se esconder e a chuva invadiu o quarto de novo, a aura repousou tranquila e o garoto suspirou, tremendo de leve, um sorriso surgindo em seu rosto. Ele era tão frágil e tinha passado por tantas coisas nos últimos dias. Perdeu os pais, foi atropelado, fez os amigos errados, apanhou por causa de uma garota que ele mal conhecia… E ainda assim sorria.

Foi o momento decisivo. Touya mandou para o inferno todas as barreiras que ele construíra ao seu redor, todos os anos de solidão e autossuficiência, todas as dúvidas por causa da áurea que não abandonava o garoto, todos os seus medos de criar laços com alguém e se machucar depois. Aquele menino tinha se machucado muito nos últimos dias e ainda sorria, ainda fazia amigos e tentava proteger os outros.

–Vou ser seu amigo – Touya jurou para si mesmo – E vou te proteger, Yukito-kun.


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Notas finais do capítulo

E ai? Comentem ^^



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