Passado, Presente e Futuro escrita por Blue Butterfly


Capítulo 1
Passado Antigo


Notas iniciais do capítulo

Olá,minha primeira fic SCC!!!Vai tratar de como a amizade de Touya e Yukito foi construída. Claro que até o final, talvez a amizade fique um pouco confusa com algo mais.Boa leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472908/chapter/1

Ele soube que o anjo estava perto antes mesmo que pudesse vê-lo, a magia que o cercava era sempre tão fria, tão limpa, tão prateada, bela como a lua, gélida como a neve. Não que o anjo tentasse surpreende-lo, ele jamais tentaria algo fadado ao fracasso.

Silenciosamente, como água fluindo calma e quieta, ele surgiu no campo de visão do mago, o rosto frio e sério, comedido, os cabelos prateados caiam até o chão, mesmo que ele flutuasse um pouco. O mago mirou o anjo com respeito, era sua grande criação, um anjo perfeito, com traços delicados, o cabelo que brilhava mais forte que a própria lua, envolto em mistério e segredo, asas compridas que podiam se fechar sobre o próprio anjo, guardando-o em um casulo.

–Yue – o mago suspirou o nome, com um sorriso no rosto.

A criatura permaneceu séria e em silêncio, não era seu hábito sorrir. Sua cabeça pendeu para o lado levemente, olhando com uma fria suavidade o mago sentado e o animal gigantesco que o rodeava. Kerberos. Era uma mistura de tigre e leão, um pelo amarelo alaranjado, duas presas pontiagudas a mostra e asas que lembravam plumas, embora o anjo soubesse que o material que as compunha era forte como aço.

–Clow – o anjo respondeu.

O mago sorriu, estendendo a mão livre em direção ao anjo, a outra acariciava a cabeça Kerberos num afago gentil e paternal. O anjo se aproximou, seus pés se aproximando cada vez mais do chão, até que se viu sentado aos pés do mago, do lado oposto ao de Kerberos. Clow tocou seu ombro com gentileza e o anjo fechou os olhos por alguns instantes. Poderia parecer frio e duro, mas naquele momento, o mago conseguiu ver seus lábios tremerem numa tentativa de sorriso e sorriu também.

#####

#####

Era noite, a lua brilhava com calma no céu, há muito tempo ela deixara de disputar com o anjo quem poderia bilhar mais. Yue flutuava pelo jardim, a cabeça escondida por um grosso volume que ele lia com a máxima animação que se permitia demonstrar. A noite era fria naquela época do ano, fazendo com que a Inglaterra tivesse mais névoa do que seria possível. O anjo parou, preso ao livro que atingia naquele momento seu clímax, ler era como dormir, ele sempre podia sentir a magia pulsando ao seu redor, mesmo que fosse uma magia pequena, era como o som de uma multidão, cada um se expressando em uma língua e em um volume diferente; mas quando ele lia, as vozes se silenciavam e ele podia se esvaziar de tudo, era o presente que Clow tinha dado a ele. Mas isso também significava que ele não conseguia ver quando a magia estava se aproximando.

–Yue!!!

Com muito esforço, ele não pulou de susto, Kerberos se materializou em sua frente, um enorme sorriso no rosto da fera.

–Te assustei.

Ele começou a rolar no chão, gargalhando abertamente. Yue lutou para permanecer sério e apagar a surpresa de seus olhos, mesmo sabendo que seu irmão era esperto o bastante para não ser enganado. Ele suspirou, cobrindo o rosto com o livro e voltando a flutuar.

–Ah, Yue, volte aqui – Kerberos chamou em meio as risadas – É sério, Clow está…

Num piscar de olhos, o anjo surgiu em frente ao animal, o livro tinha misteriosamente sumido e o semblante do anjo se encheu de preocupação.

–Clow está nos chamando.

Kerberos negaria até a morte, mas sempre que o irmão fazia aquelas aparições do nada, seu coração perdia uma batida. Os dois seguiram com rapidez para a mansão, disputando em silêncio quem chegaria mais rápido. Yue jamais aceitaria ser desafiado abertamente, mas por amor ao irmão ele mantinha aquele pequeno jogo entre eles, era parte de sua natureza fria amar de uma forma fria.

Clow estava na sala, uma mesa imensa, repleta de todas as iguarias que se podia imaginar, se estendia atrás dele, quando as duas criaturas entraram, o mago sorriu, ajustando os óculos em seu rosto. O primeiro a avançar foi a fera, que correu até a mesa, devorando tudo o que via pela frente. O anjo franziu a testa, mesmo que visse pelo resto de seus dias o apetite do irmão sendo posto a prova, sempre acharia certa graça da quantidade de comida que entrava, ainda mais por que, até onde ele sabia, essa comida jamais saia.

Ele flutuou até o mago, que abria lentamente os braços em sua direção, quando o teve perto o bastante, Clow o abraçou, uma luz branca rodeou os dois corpos, o cabelo do anjo se desprendeu do laço e flutuo ao redor, tornando sua figura, se possível, ainda mais etérea. O coração do mago se enterneceu, suas duas criaturas não precisavam daquilo, Kerberos, seu sol alegre e brincalhão, tinha magia suficiente para se auto sustentar, e Yue, sua lua sóbria e fria, podia viver apenas com a magia que o mago lhe transmitia. Mas isso seria doloroso, Clow não podia viver sem a alegria que a fera tinha quando se alimentava, e muito menos viver sem o contato com o anjo frio que ele…

Por mais que fosse contraditório, o mago criara aquelas duas criaturas, mas sentia que era sua existência que dependia deles, e não o contrário, Clow não viveria sem seu sol e principalmente sem sua lua. Kerberos alegrava seus dias com suas brincadeiras e disputas, Yue governava seus sonhos com seu modo frio de amar. Quando a transferência foi completada, ele soltou o anjo com cuidado, os cabelos de Yue caíram pelo chão, meio bagunçados, havia um leve rubor nas bochechas normalmente brancas do anjo.

–Yue parece um monstrinho – Kerberos provou enquanto devorava uma imensa torta.

Clow sorriu, criara aqueles dois no mesmo dia, um durante a manhã, o outro a noite, o primeiro inspirado no sol – era um dia feliz, ele se sentia forte o bastante, o mais poderoso mago do mundo, e deu a sua criatura toda a felicidade e espírito brincalhão que tinha. Mas quando a noite caiu, seu semblante normalmente risonho se tornou mais sério, ele não queria mais diversões, queria a perfeição, algo que fosse tão belo quanto a lua. E criou Yue. Ele nunca esqueceria o momento em que suas criaturas o viram pela primeira vez. Kerberos fizera uma careta divertidíssima, se aproximou, cheirou o mago e depois lambeu seu roso, reconhecendo-o como seu pai. Já o anjo despertou com suavidade, a única coisa que demonstrou que tinha consciência foram os olhos se abrindo para o mundo, ele olhou para Clow com frieza, e depois com ternura. O mais engraçado, é que ele não precisou explicar quem eles eram ou qual era o seu papel, logo que se encontraram, as duas criaturas se reconheceram como irmãos, sentiam que a mesma magia os cercava e os tinha criado, e entendiam que estavam ali para acompanhar e proteger o mago.

–Não provoque seu irmão – Clow suspirou rindo para a fera.

Ele puxou o anjo até um banco, pegou a escova que estava ali perto e começou a deslizá-lo pelos longos cabelos prateados, suspirando internamente pela beleza irrepreensível que estava em suas mãos.

–Eu te amo, Yue – o mago sussurrou para que apenas o anjo ouvisse.

O anjo continuou em silêncio, mas seus lábios voltaram a estremecer.

#####

#####

–Eu… Eu não posso aceitar…

O anjo tremia da cabeça aos pés, Kerberos, ao seu lado, teria socorrido o irmão se não estivesse igualmente chocado com o que acabara de ouvir. Clow estava olhando para eles com cuidado, ele sabia que a conversa seria longa e difícil, mas quando viu o estado em que seu anjo estava, tremeu. Havia se esquecido que debaixo da aparência alegre e fria, suas duas criaturas eram poderosas.

–Yue – ele tentou com um suspiro suave.

–Não! – o anjo berrou.

Sem que tivesse controle sobre seus atos, lascas de gelo surgiram no ar e foram lançadas em direção ao mago.

–Escudo – Clow gritou com espanto.

As lascas de gelos bateram num enorme bloco de pedra que magicamente brotou do chão, protegendo o mago. O som do gelo se partindo trouxe um pouco de sanidade ao anjo, que tremeu ainda mais quando viu o que tinha acabado de fazer.

–Yue – Kerberos tentou, assustado com a atitude do irmão.

Mas o anjo já voava para longe, completamente transtornado. Um líquido prateado e grosso caia de seus olhos, ele nunca tinha sentido aquilo, doía tanto, era como se alguém estivesse apertando seu coração, impedindo-o de respirar. Ele não podia aceitar, não podia…

Eu vou morrer”

Aquilo não era possível. Clow era imortal, eles viviam há anos juntos e o corpo de mago não mudara em nada desde a primeira vez que Yue o vira, nenhuma ruga, nenhum fio de cabelo branco, nada. Como ele iria morrer então? Por magia? Mas a magia de Clow permanecia tão forte como sempre, e mesmo que muitos magos tivessem tentado, até ali nenhum conseguira se quer se aproximar de Clow, Kerberos e Yue garantiram isso.

“YUE”

O anjo parou de fugir. Aquele tom… Fechou os olhos, tentando se livrar das inúmeras vozes que gritava em sua mente, mas não obteve nenhum sucesso, ele nunca poderia negar algo que fosse exigido naquele tom. Clow explicara que, se fosse possível, ele jamais chamaria suas criaturas assim, mas ele estava o fazendo agora. Parado no jardim, o anjo caiu no chão, se envolvendo com suas asas e desejando que tudo aquilo fosse uma brincadeira infeliz.

–Minha lua.

A voz era triste, um suspiro triste. Uma mão tocou as asas do anjo, incapaz de tocar o corpo, ele percebeu quando o homem se ajoelhou no chão e o abraçou com ternura.

–Por quê? – o anjo choramingou

–Porque as pessoas morrem. E eu sou uma pessoa, não possa desafiar o curso natural das coisas.

–Mas e nós? Nós vamos morrer também?

–Claro que não – a voz de Clow veio cheia de surpresa, ele não podia imaginar um mundo em que sua lua e seu sol não existissem.

–Eu quero morrer com você – Yue choramingou, permitindo-se chorar enquanto estava protegido por suas asas.

–Você não vai – Clow garantiu com ternura – Não, minha bela lua, você não vai. Ainda há muito que você precisa viver.

–Não posso viver sem meu criador. Não posso viver sem você Clow. Quem cuidará de mim? E a quem vou proteger? Quem eu irei amar???

–Você achará alguém que cuidará de você – Clow prometeu – E alguém que você precisará proteger e amar. Você e Kerberos. Eu jamais deixaria este mundo se não tivesse certeza que haverá outro alguém para vocês…

–Eu não quero outro alguém!

Nesse momento, mesmo que não quisesse, as asas do anjo se abriram com violência e ganharam o céu, empurrando o mago para o chão, ele tremia da cabeça aos pés novamente, seus olhos frios como nunca estiveram em toda sua existência.

–Você… Você não entende? Como poderia aceitar outro? Como poderia proteger outro? Como poderia amar outro?!? Você não me ama?

O coração de Clow se partiu. Tantas vezes dissera que o amava, sem se importar em como aquilo poderia parecer estranho…

–Eu te amo, minha Lua – Clow sussurrou – E é por isso que estou fazendo o que estou fazendo.

O anjo despencou do céu, não flutuou graciosamente como fazia, ele simplesmente… despencou, suas asas pararam de bater e ele foi de encontro ao chão. Clow correu tempo suficiente para pegá-lo nos braços e impedir que se ferisse. Mas era tarde, a maior ferida estava dentro do coração da criatura.

A lua no céu brilhou um pouco mais forte, um sinal de que o anjo estava brilhando mais fraco.

–Kerberos irá procurar alguém para cuidar de vocês – Clow sussurrou enquanto acariciava o rosto de Yue – Mas você deve decidir se a escolha foi sábia ou não. Você sempre julgou bem as coisas, então eu te escolho para ser o juiz.

Yue não respondeu. Uma pequena lágrima prateada correu no rosto pálido, e o anjo jurou que seria a última vez que ele choraria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram? Comentem, por favor ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Passado, Presente e Futuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.