Dois dias se passaram desde o Natal, e eles foram repletos de risadas, brincadeiras, discussões e gritaria, além de muitas exclamações de impaciências, olhos sendo revirados e tapas na testa. Esses três últimos devido ao fato de eu e James continuarmos presos em uma situação que eu não consigo bem definir.

Segundo ele, nós somos amigos. Nunca deixamos de ser. Mas pelo pequeno fato – note a ironia- de eu amá-lo, essa amizade se tornou bem estranha. Nós estamos sempre trocando olhares profundos e risadas discretas, além de termos nossas próprias piadas e brincadeiras internas. James vez ou outra segura minha mão, ou minha cintura e não passa um dia sem me dar um beijo na testa ou na bochecha.

Sirius me contou que já pegou James inúmeras vezes socando a parede tentando “não ceder a tentação e perder o orgulho”. Ele considera a atitude do amigo idiota, e eu também sinceramente.

As meninas não podiam estar mais impacientes. Vivem me empurrando e me mandando fazer algo para resolver isso. E é dessas sessões de “Lily pare de ser uma songa monga” que eu estou fugindo nesse momento. Marlene e Dorcas estão no quarto conversando e Sirius foi com Remo na casa dele, então bato na porta de James para saber se ele está dormindo, afinal já é noite.

_ Pode entrar. – ele diz lá de dentro e eu obedeço, e desejo não ter feito isso. James está sentado na cama lendo um livro de Quadribol, seus óculos estão apoiados mais na ponta do nariz, seus cabelos estão uma desordem como sempre e para completar meu desespero... ele está só de calça. Francamente... Isso é covardia. – Lily? Você está bem? – ele pergunta me encarando.

_ Sim... Estou... Super... bem... – respondo limpando a garganta e desviando meu olhar dele, sentindo minhas bochechas queimarem. Acho que ele percebeu isso, pois abafou uma risada.

_ Que bom. – James diz pondo o livro de lado. – O que você deseja?

_ O que? – indago confusa.

_ Ué, você veio aqui... Então, deve querer alguma coisa ou... – ele explica se sentando mais reto.

_ Ah, sim... Bem, é que eu... – gaguejo me sentando na ponta da cama. – Eu não tenho nada para fazer. – respondo me deitando e encarando o teto. – Os meninos saíram, e as meninas estão no quarto, e eu não quero conversar com elas, porque ultimamente o único assunto tem sido... bem, nós.

_ Entendo... – James diz lentamente. Sinto uma movimentação na cama e logo ele está deitado do meu lado, também encarando o teto. – Os meninos têm falado muito disso também...

_ Sobre nós?

_ Não Lily, sobre unicórnios! – ele diz irônico e ri enquanto eu o encaro brava.

_ Grosso! – exclamo lhe dando um tapa no braço.

_ Enfim... – ele continua parando de rir. – Eles dizem que eu sou um idiota, que passei a vida correndo atras de você, e agora que você gosta de mim, eu estou bancando o “difícil”...

_ E o que Você acha? – pergunto mordendo o lábio para camuflar o nervosismo.

_ Que nós três falando de relacionamentos é uma cena muito gay. – ele responde e eu solto um suspiro nervoso. Me sento e o encaro de cima.

_ Você não consegue ficar um minuto sem soltar uma piadinha? – pergunto revirando os olhos. Ele pensa um instante e logo nega com a cabeça. – Você é realmente um idiota, um palhaço...

_ Admita Lily, eu faço seu dia muito mais colorido e divertido. – ele diz sorrindo abertamente e eu bufo me deitando de novo, afinal, eu nunca concordaria com aquilo em voz alta. – Mas, brincadeiras a parte...

_ Aleluia!

_ Há, há! – ele exclama. – Quem é a engraçadinha agora?

_ Convivência meu caro Pontas! – digo me virando para ele e me assustando com a proximidade dos nossos rostos. Ele também parece perceber isso, pois engole em seco antes de voltar a falar.

_ Continuando... – James começa erguendo a braço e tirando uma mecha de cabelo ruivo do meu rosto. – Eu concordo com eles.

_ Concorda com o que? – pergunto confusa. Ah, convenhamos! Ele estava a centímetros de mim, sem camisa e me encarando com aqueles lindos olhos castanhos... Eu sou esperta e inteligente, mas nessa situação meus neurônios estão lentos como uma lesma.

_ Você está meio lenta hoje Evans! – James diz rindo e eu reviro os olhos. – Eu disse, que concordo com meus amigos... Sobre eu estar sendo um idiota.

_ Isso quer dizer que você vai deixar seu orgulho e enorme ego de lado? – pergunto erguendo as sobrancelhas, com muita esperança.

_ Não, meu orgulho e meu ego ainda estão feridos. – James responde voltando a encarar o teto, e eu o imito suspirando. – Nem adianta fazer essa carinha Lily. O que você fez comigo foi errado, muito errado.

_ Eu não vou me desculpar de novo. – digo cruzando os braços. – Eu já me desculpem lindamente aquele dia que você se recusou em abrir a porta, e não vou fazer aquilo de novo. Você não é o único orgulhoso aqui.

_ Eu sei. – ele exclama e eu reparo que está sorrindo.

_ Você é um idiota! – digo nervosa. – E não pense que eu esqueci que você foi pra cama com aquela vadia!

_ Eu estava enfeitiçado! – James retruca levantando um pouco e se apoiando nos cotovelos. – Não pode me culpar por isso!

_ Mesmo assim... – resmungo desviando meu olhar. Ficamos em silencio por um minuto até James se deitar de novo.

_ Você fica uma gracinha com ciúmes... – ele comenta segurando o riso e eu fico vermelha, de raiva ou vergonha.

_ Eu não estou com ciu...

_ EI CASAL QUE AINDA NÃO É OFICIAL PORQUE MEU AMIGO É UMA IDIOTA! O JANTAR TÁ PRONTO E EU TO COM FOME, ENTÃO DESÇAM LOGO! – Sirius grita me cortando.

_ Acho que ele está falando com a gente. – James comenta se levantando e pondo uma blusa.

_ Você acha? - retruco ainda incomodada. Eu saio do quarto dele e informo que vou pegar uma coisa para prender o cabelo a lavar as mãos. Vou no meu quarto e faço exatamente isso e quando desço todos já estão comendo.

_ Obrigada por me esperarem! – exclamo me sentando entre Marlene e Remo.

_ Você demorou demais Lilyzinha. – Sirius diz dando de ombro e se enchendo de macarronada.

_ Cadê seus pais? – pergunto me virando para James.

_ Trabalhando. – ele responde. – Uma reunião ou algo do tipo... Coisas da guerra.

_ Não fale assim... Guerra! – Dorcas diz se encolhendo.

_ E quer que eu chame do que?

_ Nós não estamos em guerra ainda!

_ Pessoas estão morrendo, sendo capturadas, tem um louco querendo matar todo mundo que não é sangue-puro, e ele tem um exercito de seguidores e recruta cada vez mais.... Como isso não é uma guerra? – James retruca ficando nervoso.

_ Não precisa falar assim... – Marlene comenta olhando de James para Dorcas, que estava branca feito papel.

_ Ela precisa entender Lene, todos nós precisamos. – James diz serio, e de repente eu não consigo encontrar o maroto nele. – Nós somos os soldados do lado oposto. Nós vamos lutar contra Voldemort. Seremos nós quando as batalhas começarem, temos que nós preparar!

_ Ok, todos nós entendemos. – Remo diz se impondo. – Eu sei que é um tema sério, e concordo com você Pontas, mas... Como você disse, nosso futuro vai ser repleto de tensão, então vamos aproveitar o agora! Algo me diz que no futuro, será difícil todos nós aqui, nos reunirmos e jantarmos... Então vamos aproveitar e deixar esse assunto de guerra para outra hora?

_ Remo está certo. - digo. – Não sabemos do futuro... Mas temos que aproveitar o agora. – termino dando uma olhada em James que me encara de volta.

_ Oh, Merlin! Enquanto nós discutíamos, Sirius comeu tudo! – Marlene exclama olhando para a travessa vazia sobre a mesa.

_ Pelo menos ele não atacou nossos pratos também. – James comenta rindo.

_ Isso foi porque vocês encerraram a conversa muito rápido, mas não se preocupem... Eu ouvi tudo, e concordo, principalmente, com Lily. – ele se inclina um pouco e abraça os ombros de James. – Afinal, Pontas... Temo que aproveitar o agora! Não deixar as oportunidades fugirem... Não se apegar a coisas bobas como... sei lá, por exemplo... ego, orgulho...

_ Já entendi! – James exclama se soltando de Sirius, esse último me dá uma piscadela e se levanta em busca da sobremesa enquanto terminamos de comer.

Comemos o pudim bem rápido e formos para a sala passar um tempo. Remo e Marlene engataram em um jogo de xadrez enquanto Dorcas, James e Sirius trocavam cartas de sapos de chocolate. Eu preferi pegar um livro e ler, e estava muito absorta na história até levar uma almofada na cara.

_ Mas que... MARLENE! – grito lançando um olhar cortante para a morena.

_ Nem vem com reclamação ruiva! Eu te chamei duas vezes e você nem deu atenção.

_ Eu estava lendo. – explico lentamente.

_ Não importa. – Marlene retruca. – Só queria falar que esqueci de te contar que você recebeu uma carta.

_ Que carta? De quem? – pergunto confusa.

_ Veja. – Dorcas diz voltando do segundo andar. Eu nem tinha visto ela subir! Ela me joga m envelope e eu leio o nome do remetente.

_ Marcos Michelan? – digo franzindo a testa. – É o cara, o auror, amigo dos Potter certo?

_Errado. – Marlene diz se sentando animada ao meu lado. – Marcos é o cara super gatinho que te deu o maior mole aquele dia... E sim, ele é amigo do Sr. e da Sra. Potter...E auror...

_ Abre logo Lily, quero saber o que ele quer. – Dorcas diz se sentando no meu outro lado. Eu suspiro e abro a carta, vendo de canto de olho que todos estão prestando atenção em mim, principalmente James.

A carta é bem pequena, na verdade é quase um bilhete, onde o Marcos me pergunta se estou bem e livre amanhã a noite, e se gostaria de jantar com ele. Além de claramente dar em cima de mim.

_ Então, não vai ler em voz alta? – Sirius pergunta me encarando e eu ergo os olhos da carta.

_ Não, isso é particular! – respondo com veemência, mas antes que eu pudesse pensar Marlene arranca a papel da minha mão. – EI!

_ “ Minha cara Lily...” – ela começa. – Minha? Nossa, que cara possessivo!

_ Devolve a carta Lene! – peço inutilmente.

_ Nem pensar! Onde eu estava? Ah sim! “... Espero que esteja bem, e que tenha passado um bom Natal. Tenho certeza que você se divertiu e que estava linda, bom, você é linda...” OH MEU MERLIN! – Marlene exclama olhando para mim de olhos arregalados. – Ele acha você linda, que inveja!

_ Inveja porque Dona McKinnon?

_ Ciúmes Black? – Marlene retruca, e eu uso a distração para ir por trás dela discretamente.

_ Sim, estou com ciúmes sim. – Sirius responde e eu me inclino para pegar a carta mas Dorcas a pega antes, me fazendo exclamar nervosa.

_ “ Eu queria saber se a senhorita estaria livre amanhã, e se gostaria de me acompanhar no jantar...” – Dorcas lê e eu corro atrás dela, mas ela sobe no sofá e continua lendo. – “ Eu ficaria muito contente de ter sua bela companhia, você me parece uma pessoa muito legal, simpática e divertida...” – eu consigo pular em Dorcas e nós duas caímos nos chão, a carta voa e James a pega.

_ “ Espero ansiosamente por sua resposta.” – James lê com a testa franzida. – “ E espero mais ainda que seja um sim...” Marcos Michelan... – ele termina sussurrando o nome do rapaz no final.

_ Linda carta. – Remo comenta olhando para nós com um sorriso divertido. Sirius e Lene olham para nós também, James continua encarando a carta e Dorcas tenta se levantar do chão.

_ Vocês são uns enxeridos! – exclamo colocando as mãos na cintura.

_ Que seja, foi divertido! – Sirius comenta rindo e se jogando na poltrona mais próxima.

_ Qual sua resposta? – James pergunta me encarando com o semblante clamo mas eu reparo que a carta está amassada em sua mão.

_ Resposta para o que? – pergunto inocentemente, vendo uma oportunidade se formar.

_ Para o q...? Ele te fez uma pergunto... digo, um convite. – James diz limpando a garganta e tentando sem sucesso parecer indiferente.

_ Ah sim, sobre o convite... Janta com ele certo? – digo colocando a mão no queixo e fingindo pensar por um tempo, então olho para Marlene,que parecia estar raciocinando comigo. – O que acha Lene?

_ Boom, se minha humilde opinião vale... – Marlene diz fazendo graça. – Acho que você devia aceitar.

_ Eu concordo. – Dorcas diz.

_ E eu concordo com as duas! – exclamo por fim, com uma falsa animação.

_ O QUE? – James grita me encarando boquiaberto.

_ Eu disse que concordo com as duas. – repito pausadamente. – Sobre o jantar... Lembra? Você que perguntou James!

_ Você está blefando! – ele exclama estreitando o olhar.

_ Certeza? – pergunto arqueando as sobrancelhas. – Agora... Preciso de pena e pergaminho, tenho que responde-lo.

_ Você não vai sair com esse cara! – James exclama puxando os pergaminhos para longe de mim.

_ E porque não? – pergunto animada com o sucesso do plano recém formado.

_ Porque você me ama, e eu te amo. – ele diz sem hesitar e eu me seguro um pouco para não estragar.

_ Sim, mas nós não temos nada certo? Não estamos juntos, porque você e seu ego e blá, blá....

_ Eu não posso... Você ajudou a Emma a me enganar!

_ E já expliquei e pedi desculpas! Mas você não fez mais nada, então... – digo dando um passo em sua direção. – Nada me impede de sair com o Marcos.

_ É, você tem razão. – ele diz em seguida, fixando os olhos em um ponto a frente. – Nada te impede, você pode sair com o tal do... Marcos! Saí com ele. Olhe, tome. – ele diz me entregando um pergaminho e pena. – Escreva respondendo ele.

_ O que você... eu... – gaguejo olhando para ele perdida. Esse não era o plano.

_ O que foi? Você não disse que queria sair com ele? Que nada te impede? Então! – James diz se sentando na poltrona, cruzando os braços e me olhando em desafio.

Eu não sou burra, eu entendi o que ele quer. Eu tentei fazê-lo dar o braço a torcer e ele descobriu, e agora quer me fazer desmentir tudo que eu disse anteriormente. Ah, meu caro maroto... Você não vai me vencer no meu jogo!

_ Ok. – digo puxando o pergaminho e sorrindo com a cara de incredulidade de James. Me sento na frente da mesinha de centro e começo a carta em resposta, torcendo para James deixar esse orgulho idiota antes que eu termine.

_ Espere, Lily... – Dorcas diz se sentando ao meu lado. – Tem certeza? Você não...

_ Sim, Dorcas eu tenho certeza! – exclamo já ficando com raiva. – Porque eu sou solteira, livre, desimpedida! Certo James?

_ Certo. – ele responde com a mesma energia. Eu forço um sorriso cínico e volto a carta, terminado ela.

_ Vocês são dois idiotas! – Remo exclama e eu no fundo, concordo com ele.

Mas sei, ou tenho esperança, que um de nós vai ceder no fim disso. Eu ele vai jogar o orgulho e se decidir, ou eu vou desistir desse encontro...

E eu espero do fundo do meu coração orgulhoso, que seja ele a desistir.