O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 81
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Eu vou sentir tanta saudade de vocês... esse aqui é dedicado a todos os reviews e a todas as recomendações maravilhosas que recebi em mais de um ano de postagem de OLEDL. A todos vocês, leitores maravilhosos, que riram e choraram comigo ao longo de tantos capítulos. Não tenho nem palavras para a alegria que é se sentir tão querida assim; sequer poderia descrever como é incrível entrar em contato com tantas pessoas únicas, divertidas e fantásticas por meio apenas de uma história. Muito, muito obrigada.



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O Lado Escuro da Lua – Epílogo

O lugar era barulhento e insuportavelmente decorado, uma mistura de ícones pop com miniaturas de cupcakes e pôsteres de musicais. Artemis tamborilava os dedos no balcão, ainda inconformada com a ideia de Gabriel ter um negócio próprio. Ao seu lado, David lia o jornal – mas bem que poderia ser a sua mente.

– Consegue acreditar que ele me fez prometer vir aqui todas as tardes?

– Não. Acha que essa loucura vai durar por muito tempo?

David ergueu o olhar, percorrendo-o pela cafeteria como se a pergunta nunca houvesse lhe ocorrido.

– Provavelmente. A lógica é válida, se Gabriel não pode dançar, seus únicos talentos restantes são ou na cama ou na cozinha. Prefiro que ele ganhe dinheiro com a cozinha.

David dizia aquilo para constrangê-la, e de fato Artemis desviou os olhos. Gabriel estava fazendo mímicas estranhas para Zoe, que ria, histérica, quase caindo do banquinho alto. A menina já tinha comido todo seu cupcake de chocolate e Apolo não estava por perto.

Artemis estava virando o rosto para procurá-lo quando sentiu sua mão na sua cintura – sabia que era dele sem que sequer se virasse – , e logo o loiro já estava ao seu lado, tranquilo como se todo o lugar fosse uma piada.

– É pior do que eu esperava – ele disse. – Mas a comida é boa.

Para uma inauguração, estava bastante lotado. Gabriel ria com os clientes e os servia com facilidade e gestos dramáticos, radiante em seu avental cor de rosa. Se um dia Artemis precisasse de uma ilustração para gay, não teria dificuldade para encontrá-la em seu acervo mental. E no entanto estava sorrindo, porque era maravilhoso ver seu melhor amigo bem daquela forma.

– Era para estarmos viajando – David contou, com um meio suspiro.

Tudo o que o homem havia deixado claro era que estavam de alguma forma morando juntos em sua casa, mas Gabriel havia garantido a Artemis que estavam praticamente casados. A garota escolhera acreditar em um meio termo.

– Falando em viagem... – Apolo começou, bem-disposto, e Artemis levantou uma sobrancelha, já preparada para o que viria. Nas últimas semanas aquilo era tudo sobre o que falavam, e ainda assim era difícil fingir que não estava animada como uma criancinha (ou como Apolo). – Meus pais vão ficar com Moony.

O coração de Artemis se aqueceu de alívio, só havia reavido seu gato fazia poucos dias. Como fora difícil achá-lo depois daquela tragédia... devia aquilo a Apolo, assim como devia todo o resto.

– Quando vocês vão? – David perguntou. – No final do mês?

– Adiamos para dezembro – Apolo contou, a mão segura na cintura de Artemis. Ela ainda não havia se acostumado por completo àquele nós. Só começo a estudar no início do ano.

O orgulho que Artemis sentia por ele superava o seu próprio; havia sido convidado para estudar música na Universidade de Artes de Berlim. A ideia de que teria recusado para ficar com ela era mais absurda do que elogiosa, Artemis o incentivara a ir e, só então, com um mordiscar tímido do lábio, perguntara se poderia ir junto.

A resposta tinha sido óbvia.

– Bom – David concordou, vagamente, dobrando seu jornal e desistindo de lê-lo. – Não acho que a imprensa irá alcançar vocês além-mar.

Teria sido mentira dizer que Artemis não havia pensado naquilo. Desde a prisão de seu pai, havia se tornado o pior tipo de celebridade, aqueles de que todos sentem pena e com quem todos querem falar. Charles havia feito o possível para protegê-la, mas mesmo seus antigos colegas a olhavam como se fosse ao mesmo tempo heroína e vítima.

Não suportava aquilo.

– É – Apolo concordou, enquanto Artemis mantinha os pensamentos sobre controle (não queria se lembrar dos olhos do seu pai do outro lado do tribunal, frios, perturbados e tão fixos nela...). – Mas são só por seis meses, Howard me fez prometer que voltaria assim que o intercâmbio terminasse.

– É, porque no depender dos outros alunos... Meu único arrependimento por sair é perder a chance de reprovar todos eles.

Aquilo trouxe Artemis de volta à realidade e a fez sorrir um pouquinho. Os colegas de Apolo estavam aliviados com a saída de David. Anna, surpreendentemente, fora a única a exprimir algum tipo de pesar, eu estava em vias de obter as mais puras cordas de violino. (Artemis descobrira mais tarde que elas costumavam ser feitas com vísceras de animais.)

– Você vai sentir falta – Apolo disse, mesmo que fosse uma mentira. – Vai passar lá em casa amanhã à noite? Julia e Dale vão também.

– Eu só jogo apostando.

Artemis estava dormindo no antigo apartamento de Gabriel apenas por decoro. Não conseguiria se intrometer mais na família de Apolo do que já havia feito, e, de qualquer forma, Lena já tinha sido extraordinariamente gentil ao acolhê-la tão bem.

Charles entrara na justiça para conseguir liberar o patrimônio de Sebastian. Artemis nada entendia de trâmites legais, mas acabara com mais dinheiro nas mãos do que gastaria por um bom tempo. Boa parte dele poderia construir a tão querida instituição de artes que Apolo queria, mas isso era para depois...

Por enquanto, iria para a Alemanha aproveitar o melhor namorado do mundo sem pressa. Treinaria uma língua que não falava fazia anos, se aplicaria a uma escola de balé da cidade e...

Quando deu por si, estava sorrindo para o tampo de mármore da bancada. Fazia tanto tempo que não se flagrava desprevenida assim... alguns meses antes, teria revirado os olhos para aquela felicidade, mas agora algo era novo.

De repente, não sentia medo algum.

Olhou de lado para Apolo, ele continuava conversando com David – seu, aliás, extraoficial psiquiatra – , agora rindo de alguma coisa. Artemis não podia evitar pensar nele como um garoto e não um homem, mesmo que ele já tivesse idade para tanto. Era coisa de irmã mais velha...

(Mas não era como se ele a visse como mulher, lembrou a si mesma, recordando com carinho como ele a colocara no colo e a fizera dormir naquela primeira noite. Havia chorado tanto, ninguém além de Apolo poderia tê-la acalmado... moveu a mão para segurar a dele, seus dedos se entrelaçando como se de acordo.)

E de repente Gabriel estava à sua frente, lhe estendendo um pedaço não menor do que gigantesco de bolo.

– Aqui, coisa linda – ele disse, com um sorriso. – Sabe, eu estou achando é ótimo não poder dançar mais. Posso comer tudo o que quero! Fiz ontem cupcakes com ganache de chocolate, morango e lascas de chocolate branco, comi os oito. Acredita que David não gosta de açúcar?

– Acredito – Artemis replicou, partindo o pedaço de bolo em dois e empurrando uma das metades para Gabriel. – Eu não posso comer isso tudo. Você também não poderia, vai estar acima do peso quando voltar a dançar.

– Artie, eu sou tão gostoso que uns quilinhos não fazem mal – Gabriel se defendeu, feliz. – David me acha gostoso, não acha?

– Não, isso é só a sua imaginação hiperativada por açúcar – o homem respondeu. – E tem clientes te esperando no caixa.

Gabriel zarpou para lá com seu melhor sorriso de desculpas, Artemis balançou a cabeça e partiu para si um pedacinho de bolo. Estava gostoso, doce e macio como só Gabriel sabia fazer. Nas últimas semanas havia se tornado um hábito jantar na casa dos dois, e era engraçado e fofo ver como eles dividiam a cozinha.

Olhou ao seu redor mais uma vez, demorando-se nos pôsteres de musicais da Broadway. Gabriel havia tido a delicadeza de não pendurar nenhum de sua mãe (agora que sabia que era o melhor amigo da filha de uma de suas divas; "o que explica minha atração doentia por você"), mas Artemis lhe diria mais tarde que não haveria problema algum.

Vinha devagarzinho fazendo as pazes com seu passado, repensando e consertando tudo. Pedira a Apolo para levá-la a Nova York uma última vez, só para visitar e deixar flores a pessoas que tinham lhe sido tão queridas. Vinha dormindo melhor, sem medo e necessidade de guardar segredos pela primeira vez em sua vida. Suspirou baixinho e abriu um pequeno sorriso só seu.

Sentia-se, pela primeira vez, plena. Sem lugares ocultos, sem sombras e sem segredos.

Sentia-se – finalmente – como lua cheia.


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Notas finais do capítulo

E este é o fim, amores, de mais uma jornada maravilhosa com vocês. Se eu ainda vou aparecer por aqui nos próximos meses? Provavelmente, com oneshots ou shortfics aleatórias, mas não é nada definido. Foi um prazer gigantesco escrever O Lado Escuro da Lua, e eu certamente não a teria terminado sem o incentivo de todos vocês. Já disse obrigada? Obrigada de novo.