O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 71
Capítulo Setenta e Um


Notas iniciais do capítulo

E agora, a pergunta de um milhão de dólares e um pedaço de torta de limão: vocês ainda me amam depois dessa demora enorme? Eu espero que sim, porque ainda falta um pouco para a história acabar e eu estou totalmente tentando comprar todo mundo nesse site postando dois capítulos de uma vez. Sem mais enrolações, ao capítulo!



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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Setenta e Um

– Ele vai ficar bem – disse Charles pela última vez, com um suspiro cansado.

Mas Lena não pareceu convencida, a julgar pela forma como saiu para a cozinha em busca de mais café. Logan desviou o olhar do tio, sem saber o que falar. Ele e Anna estiveram comendo sushi quando receberam a ligação sobre o acidente, e ele nunca havia ouvido um homem soar tão desesperado.

Estavam na sala de estar, Anna abraçando as pernas ao seu lado. Examinava o tapete como se pensasse em algo intricadamente difícil, e Logan sentiu de novo aquela vontade de colocá-la em seu colo. Não podia evitar, não quando ela parecia tão pequena, cachos loiros de princesa presos com descuido.

Lena voltou segurando a bandeja com mãos trêmulas, e nesse momento um celular tocou. Logan não reconheceu a música, e por isso não se surpreendeu quando Anna se levantou para tirar o próprio aparelho do bolso.

– Gabriel? – A ouviu atender, confusa, andando até o hall.

Meio enciumado, Logan a seguiu, também sem conseguir suportar o ar preocupado de seus dois tios preferidos. Parada perto da porta, Anna tinha as sobrancelhas franzidas.

– Ele veio para casa hoje – ela disse por fim, traçando com o dedo círculos na parede. – Poderia ter ficado mais no hospital, mas tio Charles achou que ele se sentiria melhor em casa. Tia Lena não concordou, você chegou a conhecê-la? – Logan havia se acostumado à tendência de Anna de falar demais às vezes, mas a pessoa do outro lado da linha deve ter se impacientado. – Tudo bem, eu sei. Se acalme.

O tal Gabriel falou mais um pouco, mesmo que Logan tivesse a ligeira impressão de estar ouvindo o tom mais agudo de uma voz feminina. Anna ergueu os olhos para ele, e ela fazia uma figura bonitinha com aquela camisa comprida demais, uma parte ínfima da alça preta do seu sutiã aparecendo.

– Não é um bom momento – a garota voltou a dizer, com cuidado, antes que a mente de Logan fosse longe demais. – Ele está bem, mas alguns curativos precisam ser trocados em intervalos regulares de tempo e não foi lhe permitido nenhum tipo de esforço físico. Além do mais, vocês dois não estão... – outra pausa, em que a loira havia provavelmente sido interrompida. Após quase um minuto, sua expressão acabou se abrandando, e ela assentiu mesmo que seu interlocutor misterioso não pudesse vê-la. – Vou confiar em você. Estaremos aí o mais rápido possível, mas tenha em mente que vai precisar me contar tudo. – Outra pausa, e então Anna quase sorriu. – Por favor, você está falando com uma mestra do crime. Te tirar daí vai ser mais fácil do que invadir o Museu de Belas Artes.

Ela desligou e então se virou para Logan, esperando por um comentário. Dentre todos os possivelmente mais importantes, ele se ateve ao mais surpreendente.

– Você já invadiu um museu?

Anna encolheu os ombros em toda a sua adorabilidade.

– Algumas coisas são melhor apreciadas à noite. Seu carro está aí, não está? Temos que ir resgatar uma princesa.

– Parece uma boa ideia.

Anna deu uma risadinha debochada.

– Entrar no Titanic também parecia, e olha o que aconteceu. Pegue suas chaves, estamos indo à esnobe e majestosa Academia de Balé de Boston.

E para lá eles foram, Anna no banco do passageiro de seu Mustang ‘66, depois de uma explicação breve e confusa aos seus tios. Ficaram em silêncio por um tempo, porque Logan nunca sabia o que dizer a ela, mas logo Anna felizmente já estava falando (aparentemente sozinha, mais como se Logan estivesse apenas ali de paisagem. Ela deveria até conhecer uma palavra bonita para aquilo.)

– ... antes deles brigarem, é claro. Então não ouvi uma palavra dele. É tão estranho, porque Apolo não consegue guardar nada, e ainda assim não me contou exatamente o que houve...

– Aquela música foi declaração o suficiente. É a única boa do Puddle of Mudd, de qualquer forma. Mas estamos indo buscar Artemis porque ela não pode ser vista saindo? Como vamos fazer isso?

Anna não pareceu preocupada.

– Pela entrada dos fundos, Gabriel me ensinou como chegar lá e ela tem as chaves porque é monitora. E então vamos levá-la para casa, ela disse que precisa falar com o tio Charles.

– Com ele? – Logan se surpreendeu. – Ela vai falar sobre o namoro dos dois?

– Não – Anna respondeu, pensativa. – Não acho que seja uma surpresa romântica. Na verdade, sequer acho que isso é sobre Apolo. Ela soou realmente preocupada ao telefone, até porque, de outro modo, eu não ajudaria nenhuma ruiva metida que tenha deixado meu melhor amigo daquela forma.

Empurrando seu ciúme para longe, Logan achou uma graça ver Anna tão feroz.

– A parte de ninguém poder vê-la saindo é um pouco sinistra, não acha? – perguntou, só um pouco incomodado. – Será que ela está sendo seguida ou algo assim?

– Artemis não quis me dizer nada – Anna reclamou. – Mas ela vai ter que nos explicar essa história direitinho, ou vai acabar sendo jogada para fora do carro.

Logan jamais jogaria uma garota para fora do seu carro, mas talvez fosse melhor travar as portas, só por precaução.

– Você tem que virar antes – a garota indicou, apontando para uma esquina. – E dar a volta. Ela deve estar nos esperando. Desligue os faróis.

– Eu não vou enxergar nada.

– Obedeça – Anna orientou, exasperada.

Colocando aquilo na sua longa e impressionante lista de coisas idiotas que já havia feito por uma garota, Logan obedeceu. Felizmente havia um poste distante, então não foi tão difícil, mas ele quase matou um gato antes que pudesse parar na saída misteriosa que dava para o jardim da Academia.

– Ela deve estar saindo – Anna murmurou. – Não sei como vai nos ver nesse escuro, mas...

– Tem alguém vindo – Logan percebeu, inclinando-se para ver melhor. – Acho que é ela.

Naquela escuridão, não pôde vê-la direito. A garota entrou no carro com cuidado e murmurou um agradecimento para Anna antes de pedir para que ele saísse dali, e foi só sob as luzes da avenida que Logan a viu direito pela primeira vez.

Era linda. De um jeito pálido e empertigado que não se via nas praias, Artemis tinha olhos claros e o cabelo em um tom escuro de ruivo, sem dúvida a namorada mais bonita que Apolo já tinha conseguido. Ela só precisava parar de olhar para os lados e para trás a cada dois segundos, ou o próprio Logan enlouqueceria.

– Pode se acalmar agora – disse, buscando tranquilizá-la e começando a entender o que havia convencido Anna a ajudá-la. – O que foi que aconteceu?

Quando Artemis ficou em silêncio, Anna levantou uma sobrancelha, desconfiada.

– O que você tem para dizer ao tio Charles?

Pelo retrovisor, Artemis parecia tomar uma decisão difícil.

– Acho que tenho uma matéria de capa para ele – murmurou, e os dois não conseguiram lhe arrancar mais nada.

{...}

– Ele está dormindo – Logan avisou, em tom baixo, destrancando a porta da entrada. Artemis assentiu, como se não esperasse nada diferente. Ela sequer havia perguntado por Apolo, como se o assunto lhe doesse. – Você nunca se encontrou com os pais dele?

– Não – a garota murmurou, as mãos juntas na frente do corpo. Entrou para o hall evitando olhar para os lados, e Logan se lembrou de quando chegara, de Apolo lhe dizendo, todo feliz e satisfeito, que tinha uma garota em casa. Talvez a lembrança já não fosse tão boa para nenhum dos dois. – E eu não quero falar com ele, não agora. – Alguma coisa lhe ocorreu, e ela balançou a cabeça, fechando os olhos por poucos segundos. – Na verdade, eu nem sei o que está acontecendo.

– Eles vão te receber bem – Anna disse, desinteressada, passando à frente para levá-los até a sala.

Logan queria apoiar a mão na base das costas de Artemis ou ao menos passar o braço ao redor de seus ombros, não gostando de ver alguém tão arrasado, mas tinha a impressão de que tanto Apolo quanto a própria Artemis não gostariam daquilo.

– Venha – limitou-se então a dizer, e a garota o seguiu em passos pequenos, respirando fundo como se buscasse se compor.

– Essa é Artemis – Anna ia dizendo, enquanto os Wright pareciam confusos ao ver aquela ruiva desconhecida aparecer àquela hora da noite. – Ela e Apolo tiveram alguma coisa desde que nós fomos para a Academia – contou, desenvolta –, e agora ela disse que tem uma história para contar. – Seus olhinhos azuis viraram-se para onde os dois estavam. – Eu acho que é sobre o acidente.

Sensibilidade e noção aparentemente não eram o forte da loira. Logan a observou com certa frustração, não gostando de como aquilo tudo deixava Artemis desconfortável de repente.

– Uma história? – Charles perguntou, enquanto Lena estreitava os olhos na direção da garota. – Sobre o acidente?

– Não é necessariamente sobre o acidente – Artemis disse, insegura. Ainda parecia em dúvida, e Logan lembrou-se de seu breve desabafo, eu nem sei o que está acontecendo. Era óbvio, contudo, que buscava manter a compostura. – Tem mais do que isso na história.

Diante do silêncio, ela ergueu um pouco mais o queixo e elaborou seu pedido, dirigindo-se exclusivamente ao pai de Apolo.

– Eu precisava de um jornalista. Às vezes, a imprensa faz mais justiça do que a polícia. – Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, em seu rosto uma expressão já fatigada, Artemis acrescentou: – Eu não viria até aqui em um momento tão difícil se não fosse urgente. Sebastian Lancaster – disse, e foi óbvio, pela expressão de Charles, que o nome havia chamado sua atenção, mesmo que Logan nunca houvesse ouvido falar do homem. – Provocou a morte da minha mãe e também de quatro garotos. O último foi meu colega Andrew, que faleceu no acidente do último fim de semana. Apolo teria sido o verdadeiro alvo – acrescentou, mais quietamente. – Se o assassino houvesse... se houvesse sido diferente.

Chocado com a acusação, Logan encarou a garota enquanto todos os outros também emudeciam. Lena foi a primeira a falar, em um murmúrio cheio de certeza.

– Eu te disse, Charles. Disse que havia algo de estranho naquele acidente. – Virou-se para Artemis. – Sente-se, por favor. Aceitaria uma xícara de café?

Logan olhou para os ombros rígidos da ruiva, notou a forma mecânica com que ela puxou a cadeira e se sentou. Viu Anna encostar-se no sofá, os olhos meio cerrados em desconfiança, e percebeu que não queria que Artemis tivesse de passar por aquilo. Talvez cavalheirismo fosse um mal de família, mas se viu apoiando a mão no ombro de Anna antes que pudesse se conter.

– Esperaremos lá fora – disse, puxando a loira de leve, que, em um passo delicado, o acompanhou, confusa. Os três à mesa não pareceram ouvi-la. – Ela não tem de passar por isso – murmurou, quando já não poderia ser ouvido.

Anna bufou.

– Não está nenhum pouco curioso? – sussurrou de volta, olhando para trás com o canto dos olhos.

E Logan estava, mas balançou a cabeça e guiou Anna para fora. Sentaram-se na pequena escadinha que levava à entrada, ele parcialmente surpreso que a garota sequer o tivesse obedecido. Olhou-a de soslaio, seus lábios finos estavam franzidos.

– O que foi?

– Não gosto de não saber das coisas – ela replicou, impaciente, tornando a se virar para a porta. – O que você acha que tudo aquilo significava?

– Eu nem sei quem é aquele homem – Logan encolheu os ombros. – Mas Artemis parecia bem séria.

Anna sentou-se melhor, tirando o celular do bolso. Aproximou-se de Logan – o que o surpreendeu por inteiro – e começou a pesquisar alguma coisa.

– Vamos bisbilhotar – ela murmurou – de forma mais refinada.

E, em poucos segundos, Logan estava diante de notícias e até um arquivo da Wikipédia, lendo tudo sobre a famosa atriz Elizabeth O’Farrell e seu marido Sebastian, magnata dos mercados imobiliários em Nova York e famoso diplomata norte-americano. Os olhos cinzentos de Anna devoravam tudo com rapidez, mas ela não parecia estar compreendendo.

– O que esse homem perfeito – ela suspirou por fim, frustrada – poderia ter a ver com quatro mortes?

– Cinco – Logan a corrigiu. – Ela falou sobre a mãe dela também.

– Cinco – Anna aceitou, indiferente. Ainda parecia indignada. – Nada disso faz sentido.

Logan olhou da tela do celular para o perfil iluminado da garota, pensando consigo do que valiam as aparências.

{...}


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Notas finais do capítulo

Narrações do Logan fazem com que eu me lembre de Obsessão e do quanto é possível escrever Poseidon de novecentas formas diferentes *u* Ah, e para todos vocês que me pedem por mais de Daviel, só esperem. Vocês não sabem o monstro que estão alimentando.