O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 69
Capítulo Sessenta e Nove


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! A espera de vocês acaba de ser compensada com dois capítulos, mas eu tenho dois avisos antes deles serem lidos: primeiro, ainda estou viajando. Assim que eu voltar, farei minha matrícula na faculdade e começarei a trabalhar, o que significa que terei um tempo mais reduzido para escrever. (Ou seja, a próxima atualização demorará um pouquinho.) Segundo: Bia, parabéns! Eu queria ter te escrito uma oneshot fofinha, mas não tive a oportunidade nem a inspiração :< Dessa forma, fique com dois dos capítulos mais importantes dessa história toda. Feliz aniversário!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472294/chapter/69

O Lado Escuro da Lua – Capítulo Sessenta e Nove

Artemis não gostava de se enganar quanto às pessoas, mas ver David daquela forma era uma reviravolta bem-vinda. O professor concordou em levá-la até o hotel com uma cordialidade sincera, e ainda ajudou Gabriel a entrar em seu SUV preto. Estavam levando as coisas do garoto para seu apartamento, mesmo que Gabriel ainda fizesse questão de permanecer na Academia enquanto Artemis estivesse por lá.

– Agora entendo por que Apolo queria tanto isso – ele lhe disse, virando o pescoço para vê-la do banco do carona. – É realmente legal dormir com você.

Ouvir o nome de Apolo a fez morder o lábio e desviar o olhar, sem sequer responder ao comentário despropositado. Gabriel havia passado o dia todo lhe dando indiretas – falando qualquer coisa, honestamente – que pudessem fazê-la falar no seu ex-namorado-secreto, ou ainda explicar por que estava tão calada.

Mas Artemis não conseguia, sequer podia, então agradeceu quando David mudou delicadamente de assunto.

– O Commonwealth é um hotel bastante procurado, não sei como seu pai conseguiu um quarto tão em cima da hora.

– Ele gostaria de ter vindo para o funeral – Artemis contou, mexendo no punho da camisa azul que usava e se lembrando de outras épocas, de seu vestido preto, das lágrimas e das mãos de seu pai sobre seus ombros. – Mas chegou hoje à tarde.

Era um hotel grandioso de cinco estrelas, e David estacionou exatamente na entrada.

– Se precisar que eu te busque, é só pedir – ele lhe disse, a observando com preocupação.

Artemis assentiu, mas esperava que seu pai a levasse de volta.

– Obrigada. Boa noite – disse aos dois, abrindo a porta e saltando para a calçada.

Já havia escurecido, e Artemis adoraria estar em seu quarto na Academia, Moony sobre a cama e um chocolate quente no criado-mudo. Mas seu pai havia feito de tudo para vê-la, e, cruzando o hall, ela se preparava para a conversa maçante de lamentar a morte e o destino. Subiu pelo elevador até o quarto andar e encontrou a porta de número 32 destrancada, exatamente como seu pai havia dito.

Entreabriu-a devagar, entrando em uma espaçosa suíte decorada em tons de marfim e roxo. Fechou a porta atrás de si e sorriu para o homem loiro atrás da pequena mesa de jantar, de camisa e calça social mesmo que não estivesse a trabalho.

– Boa noite, minha querida – Sebastian lhe disse, levantando-se para abraçá-la, e algumas das defesas de Artemis caíram apenas ao vê-lo.

Abraçou-o de volta querendo voltar no tempo, a uma época em que não estivesse tão triste e que tão preocupada. Sentiu-se então grata por ele ter feito tanta questão de vir, e percebeu que talvez se sentisse melhor estando acompanhada, e não sozinha com Moony em uma cama grande demais para uma só pessoa.

Abraçou-o se lembrando de Apolo, escondendo seu rosto e engolindo em seco. Abraçou-o sentindo falta da vida que poderia ter tido, sem que sequer soubesse se tinha o direito de ansiar por algo que nunca tivera, e não era aquilo muito confuso? Afastou-se com os lábios trêmulos, percebendo com atraso que estava quase caindo no choro.

Mas seu pai afagou seu cabelo e puxou-a para perto de novo, e Artemis não teve escolha se não deixar as lágrimas caírem. Odiava chorar, especialmente perto de outras pessoas, mesmo que fosse apenas seu pai. Sentiu o corpo tremer com os próprios soluços abafados e fechou os olhos com força, as mãos cerradas sem abraçar Sebastian de volta.

Eu sinto tanto, queria dizer a eles, mas estavam todos mortos. Queria nunca ter conhecido Adam, só porque ele fora o primeiro. Queria ter afastado Harry e seus sorrisinhos de lado, queria ter feito Will entender que falava sério, que precisavam fugir antes que ele fosse o próximo. Eu não sei o que há de errado comigo, havia lhe confessado, debaixo de uma macieira. Todos os garotos com quem eu namoro, eles... mas Will havia a beijado e segurado sua mão, tão seguro de si e tão esperto.

Mas se fora como todos os outros, enquanto Artemis chorava na estação de trem, sabendo, mesmo que não verdadeiramente soubesse, que o atraso de duas horas só poderia significar uma coisa...

– Eu sinto muito sobre Andrew – seu pai murmurou, e Artemis engoliu em seco, entreabrindo os olhos e vendo que sua visão era um borrão de lágrimas.

Poderia ter sido Apolo. Mesmo com todas as suas precauções, aquele acidente poderia ter levado Apolo tão facilmente como se algum deus invisível houvesse passado a mão pelo conversível vermelho e colhido seu melhor namorado. E se Artemis poderia se passar tão facilmente pela mais forte garota do mundo, era porque o garoto não havia sabido persuadi-la ao certo – e, por Deus, como Apolo soubera.

Tornou a fechar os olhos, lembrando-se da camiseta preta macia, das rosas molhadas de chuva e do cabelo loiro se movendo enquanto o conversível cortava o vento calmo. Lembrou-se das mãos sempre gentis, do sorriso seguro e da disfarçada impaciência, da carência de amor. Apolo havia sido feito – e disso ela não tinha dúvidas – para fazer de alguma mulher a mais feliz de todas, e era claro que esperava retribuição.

E que retribuição lhe dei?, Artemis se perguntou, lembrando-se do olhar magoado do garoto naquela cama de hospital, de sua cansada desistência, da decepção escrita em cada palavra sua. Eu sinto muito, sinto tanto, mais do que por todos os outros. Artemis chorou por Andrew e por Apolo e pelos garotos antes deles, e também por si mesma, porque seu pai afagava seu cabelo e murmurava palavras vazias, e seria impossível não se condoer diante da própria infelicidade.

Demorou a se acalmar, afastando-se com cuidado. Enxugou o rosto nas costas da mão, e seu pai a conhecia o bastante para sequer dar um passo à frente. Deu-lhe um pouco de espaço, ainda que Artemis sentisse a preocupação em seu olhar atento.

– Vê, foi por isso que eu vim. Imaginei que Andrew significasse muito para você... – diante da surpresa de Artemis, Sebastian abriu um sorriso complacente. – Não foi preciso que me dissesse, meu anjo. Você é tão boa atriz quanto sua mãe, mas o garoto ao seu lado entregava tudo.

Mas ela balançou a cabeça, arrasada.

– Eu e ele não... nós nunca tivemos nada – disse, sem conseguir evitar pensar que o garoto havia morrido mesmo assim. – Eu te contaria – acrescentou, entendendo de repente por que seu pai havia se esforçado tanto para vê-la. Achou que talvez houvesse sido mais um... – Prometi que te contaria tudo.

Mas havia falhado naquilo, mais por vontade própria do que por qualquer outra coisa. Seu pai a observou como se lesse aquilo em seus olhos, e então soltou um suspiro triste.

– Mas não me contou do acidente.

E você soube ainda assim. O pensamento era horrível demais e levava Artemis de volta à sua infância, aterrorizada pela violência de sua mãe, tanto que ela não aguentou mantê-lo para si.

– Como soube?

– Li nos jornais, é claro. E como Andrew e você haviam me parecido bem próximos...

Ele ainda não parecia convencido de que os dois não haviam tido nada. Artemis tinha passado aquelas duas semanas tão preocupada com Apolo que sequer dera atenção a Andrew e suas gracinhas, mesmo quando feitas na frente do seu pai. Jamais teria passado pela sua cabeça que alguém pensaria...

... e no entanto ele pensara, e Andrew havia sido enterrado dois dias atrás.

– Ele flertava com todas as garotas – disse, o que era uma meia mentira. – Por que achou que estivéssemos namorando?

Seu pai pareceu surpreso com a pergunta, mas teve a delicadeza de levá-la a sério.

– Ele vivia ao seu redor, e também ouvi comentários de sua ausência a escola, em um certo fim de semana e em fins de tarde. Foi apenas uma suposição. Por que isso é importante?

Quando Artemis vira Apolo pela primeira vez, lembrara-se de seu pai de imediato. Lembrara-se de seu porte alto, de seu cabelo loiro e de seu sorriso charmoso, e do quanto aquilo poderia ser encantador. Aprendera, depois, que o cabelo de Apolo era muito mais dourado, tendendo a ficar comprido demais, que seus olhos eram castanhos e que havia sardas sobre seu nariz. Sua preferência não poderia ter sido outra.

Parada ali, contudo, lembrou-se daquelas noites insones em que acordava de pesadelos e precisava abraçar um travesseiro e respirar fundo, convencendo-se de que estava tendo um pequeno ataque de pânico e nada mais. Era aquele o motivo de nunca ter conversado com seu pai sobre aquilo – porque seria horrível, terrível demais – , mas ela engoliu em seco e se forçou a falar.

– Pai, tem alguma coisa errada. Todos os meus namorados, eles... – e mesmo depois de todo aquele tempo, falar sobre aquilo em voz alta lhe arranhava a garganta. – E Andrew também agora, mesmo que ele não fosse um, só porque você achou que--

O suspiro de Sebastian a interrompeu, e Artemis se calou, congelando no lugar enquanto seu pai andava até a porta. Ele trancou os dois ali dentro, e então se virou para ela com sua costumeira expressão tranquila, um sorriso reconfortante em seus lábios.

– Eu venho adiando essa conversa há tanto tempo, minha querida.

{...}


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vou nem perturbar vocês com notas desnecessárias, go, go.