O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 6
Capítulo Seis




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Seis

Talvez aquilo não fosse muito educado, mas, quando Apolo se sentou à sua frente, Artemis começou a se perguntar por que, afinal, as pessoas gostavam tanto dele.

Apolo era bonito. Muito bem, mas muitas pessoas eram. E aquilo não era nenhum mérito, genética era um tipo misterioso de loteria. Ele era educado? Mais ou menos. Artemis o observou usar um guardanapo e não falar de boca cheia, mas a verdade era que, perto de Gabriel, até um macaco adestrado se sairia bem.

– Ele parece um deus grego – Isabella havia cochichado, com uma risadinha boba, e Artemis se viu pensando se ela sabia que estava fazendo um trocadilho com o nome do garoto.

Examinou seus colegas ali na mesa e percebeu, por fim, que também não estava cercada das melhores pessoas. Onde gastavam todo o dinheiro que aparentemente tinham? Não em livros.

Apolo gostava de contar histórias, mas não interrompia os outros, e Artemis observou, impaciente, como todos os seus possíveis-futuros-amigos estavam adorando sua companhia. (Talvez ela até se interessasse pela conversa se ela não girasse em torno dos grandes feitos de Apolo, que incluíam apresentações em bares famosos e um encontro acidental com Keith Richards, que Artemis, honestamente, nem conhecia.)

Quando não conseguiu pensar em mais nenhum motivo para que Apolo fosse tão queridinho, Artemis começou a observar outras pessoas, esperando que o tempo adequado passasse e ela enfim pudesse se retirar sem parecer mal educada. Estar arrumada daquele jeito fazia com que os seus colegas bailarinos a olhassem mais e dessem mais passos em sua direção, e aquilo já estava começando a incomodá-la.

– Você parece distraída – Lily disse de repente. – Cansaço?

– Cansaço? – Gabriel repetiu, escandalizado. – Do quê, de descansar enquanto eu arrumava toda essa festa?

Artemis estivera treinando e praticando seus melhores passos, preparando-se o máximo que podia para a apresentação. Mas não diria isso a ele, Gabriel era incapaz de reconhecer trabalho duro mesmo que ele dançasse a hula na sua frente. Portanto, ela ergueu a taça como se propusesse um brinde.

– Estrelinha dourada para você.

E sorriu, maldosa e irônica, daquele jeito que amava tanto. Se sentia tão poderosa quando fazia aquilo que era quase a mesma coisa que se sentir bem.

– Tão petulante, a minha Artie – e Gabriel a reduziu àquilo, suspirando sem se incomodar. – Você vai ficar cansada é amanhã, viu o novo horário? São três aulas com a vadia da Victoria.

– Eu gosto das aulas dela – Artemis discordou, ignorando o insulto. – Acho que é a melhor professora daqui.

– Eu detesto as aulas dela – Lily se manifestou. – São super cansativas.

– São aulas mais difíceis, mas ela esteve no Bolshoi – Artemis enfatizou. O Bolshoi! O que eles achavam, que alguém chegaria lá fazendo três pliés por dia? – Ela está reproduzindo o treino que recebeu lá, nos preparando o melhor possível.

– Sempre quis saber por que ela voltou – Isabella comentou, pensativa. – O que levaria alguém a sair do Bolshoi?

– Eu tenho uma teoria – Gabriel anunciou, sentando-se melhor em sua cadeira, e Artemis conteve-se para não revirar os olhos e apoiar o rosto nas mãos em derrota. – Vocês sabem que vodka é a palavra russa para água – começou, fazendo os cantos da boca de Apolo se curvarem para cima (e por que Artemis percebera isso?). – Ela provavelmente bebeu muito, muito, muito, muitão, gravou um vídeo pornô com um monte de gente e depois foi chantageada a sair.

– Humm – Isabella fez. – Essa é a sua teoria?

– Aham. Por que a gente não procura em sites pornôs russos? Alguém aqui fala russo?

– Eu falo – disse uma voz macia atrás dele, e Artemis ergueu a cabeça para perceber que o professor Chamberlain da Berklee estava se aproximando em passos preguiçosos. – Mas, considerando a natureza da sua primeira pergunta, não estou inclinado a te ajudar. Apolo, posso ter uma palavrinha com você?

– Mas é importante! – Gabriel insistiu, impedindo que Apolo o respondesse. – Precisamos saber se a nossa professora dormiu com um monte de gente!

Artemis revirou os olhos e apoiou o rosto nas mãos em derrota.

– Oh – o professor fez. – A do Bolshoi?

Ele ao menos havia ligado russo ao sotaque da professora e ao Bolshoi. Artemis ergueu um pouco a cabeça, atraída pela pequena demonstração de inteligência.

– Isso – Gabriel confirmou, animado.

– Por ter saído de lá – e aqui o professor sorriu – ela provavelmente se recusou a dormir com alguém. Talvez um dos diretores, talvez mais de um. Apolo?

O garoto se levantou e o seguiu para alguns passos de distância da mesa, Gabriel observando os dois se afastarem com olhos enormes.

– Está decidido – disse, virando-se de volta para a mesa. – É ele que eu quero.

Felizmente, sua afirmação descabida foi ignorada.

– Acham que é verdade? – Isabella perguntou, curiosa. – Já ouvi umas histórias de lá, mas não faço tanta questão de ir se for ser desse jeito.

– Eu faço – Gabriel replicou, com um sorriso enorme, e a garota explodiu em risadinhas. Até mesmo Lily sorriu, mas Artemis revirou os olhos.

– Não é desse jeito. Não vão dispensar uma boa bailarina por conta disso.

– Você quer ir para lá?

Apolo já tinha voltado. Estava puxando a cadeira para se sentar, olhando para Artemis como se não houvesse nada de errado na ideia dos dois conversarem normalmente. Ela hesitou antes de respondê-lo, mas acabou o fazendo antes que Gabriel se voluntariasse.

– Sim.

– Como isso funciona? – Apolo perguntou, muito tranquilo, sem se incomodar com a própria ignorância. – Eles chegam a oferecer vagas?

– Eles não ofertam vagas para a companhia – Artemis respondeu, mais altiva do que seria necessário. – Assistem a espetáculos assim e convidam bailarinos promissores para o grupo.

– Como caça-talentos – Gabriel ofereceu, simplificando o vocabulário para uma mente menor.

– Eles podem não gostar de você da primeira vez em que te virem dançar – Apolo supôs, falando ainda com Artemis. – Você teria direito a uma audição, se pedisse?

– Onde está o professor? – Gabriel perguntou, interrompendo a resposta de Artemis. – Ele foi embora?

– David não gosta muito de festas – Apolo respondeu, olhando para Gabriel com certa desconfiança. – Por quê?

– Acha que eu tenho chance?

A pergunta, por algum motivo, fez Apolo abrir um sorriso, como se achasse a ideia mais engraçada do que realmente era.

– Acho difícil.

– Não me impede de tentar – Gabriel encolheu os ombros, virando-se então para Isabella. – Onde está o Andrew?

– Então – Apolo retomou, voltando-se para Artemis com os antebraços apoiados na mesa. (Educado. Claro.) – Por isso que sua apresentação precisa ser perfeita? Para que você consiga ir para o Bolshoi?

Como músico influente, Apolo teria o poder de arruinar tudo se pudesse. Literalmente tudo. Seu tom de voz era agradável e seu sorriso deveriam tranquilizá-la, mas Artemis não abaixaria a guarda tão fácil.

– Sim.

– Eu já ouvi muitas histórias de lá, sem falar nos casos de assédio. Eles não jogam nada limpo. Seus colegas vão tentar te sabotar de todas as formas. Vale a pena?

De onde aquela pergunta pessoal saíra? Artemis disfarçou seu incômodo arrumando seu cabelo.

– É muito mais fácil continuar em uma academia pequena rodeada de amigos – disse – mas isso também não vai me levar a lugar algum.

– Quanta ambição, pequena Artie – Gabriel estalou a língua, com um sorrisinho. – Quero ver esse narizinho em pé depois que jogarem ácido sulfúrico no seu rostinho.

– Vai ser chato para você – Artemis apontou, não gostando de ser interrompida – todas as pessoas nos confundindo.

– Está me chamando de feio? – Gabriel levantou as sobrancelhas, horrorizado, enquanto Isabella gargalhava. – Bom, eu sempre posso andar nu, para acabar com todas as dúvidas.

– De preferência para bem longe – Artemis sugeriu, com um sorriso.

Gabriel sorriu de volta, levantando-se.

– Muito fofinha. Vou pegar mais bebidas, alguém quer?

Isabella se levantou para ir com ele, e Lily lançou um último olhar a Apolo e Artemis antes de, por algum motivo incomodada, anunciar que estava voltando para o dormitório.

Apolo lhe disse boa noite, sorrindo, e Artemis achou que havia diversão em seus olhos enquanto Lily corava. É claro que havia, garotos bonitos como ele deviam amar esse tipo de coisa.

Quando Artemis terminou de acompanhar com o olhar o desaparecimento de Lily na massa de pessoas que circulava pelo salão, notou que estava sozinha na mesa com Apolo.

– Eles não te chamaram para dançar – o loiro falou primeiro, se referindo aos garotos ali por perto. – Mas te olharam bastante. Uma hora até achei que aquele moreno ali ia ter coragem. – Era Andrew, Artemis não precisava olhar para saber, e aquilo a fez encolher as pernas debaixo da cadeira. – Por que não vieram?

– A sua presença, talvez.

Era uma bobagem e uma resposta curiosa, mas Apolo abriu um sorriso pequeno.

– Que bom. Há quanto tempo está na cidade?

Apolo era realmente bonito, fosse por conta da loteria misteriosa da genética ou não. Não era só seu rosto, Artemis ia percebendo, cheia de pesar, era também seu sorriso e o franzir no canto dos seus olhos que vinha com ele. Seu cabelo e seu jeito, todo calculado e cheio de si, de jogá-lo para trás de vez em quando. As sardas por cima do seu nariz.

– Poucas semanas – e foi só por conta disso tudo que ela lhe foi sincera, não se incomodando em pôr para trás da orelha uma mecha mais curta de cabelo que se desenrolou de seu coque. – Por quê?

– Não te vi pela cidade nenhuma vez.

– Não vai dizer que se lembraria, se tivesse?

– Depois – Apolo respondeu, assentindo. – Estava só dando o tempo de uma pausa bem calculada.

E Artemis sorriu.

– Eu te ignoraria, se te visse. E se você viesse falar comigo, descobriria por que ninguém teve coragem de me chamar para dançar.

– É questão de coragem, então?

Artemis encolheu os ombros da forma mais graciosa que conhecia, encontrando ali sua deixa para sair.

– Eu vou subir – disse, já se levantando. Apolo respeitou seu espaço e sua decisão, assentindo sem se incomodar e permanecendo sentado. – Boa noite.

Ainda assim, ele se permitiu sorrir.

– Boa noite, Artemis.

Seu nome soou macio, como se fosse a palavra mais doce do mundo e não um nome estrangeiro estranho de uma terra distante. Artemis sentiu alguma coisa dentro dela se mexer um pouco, desviou o olhar e se afastou. Em verdade, era a coisa mais linda que tinha ouvido em muito tempo.

Boa noite, Artemis.

Alguma coisa naquilo lhe deu vontade de ouvi-lo cantar.

{...}


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Notas finais do capítulo

Meu teclado antigo estragou. Bom, na verdade, Alice decidiu que seria maravilhoso ABRIR o teclado e dar uma LIMPADA lá dentro, e, nessa aventura, ela mexeu "em umas borrachinhas lá dentro"... enfim, eu apertava a tecla de apagar e aparecia um monte de "uuuuuuuuuuu" na tela, uma loucura. Como eu amo usar o desktop para escrever, meu pai sentiu pena e me comprou um teclado novo.
Só que ele é pequeno. Tipo, eu não se explicar, mas as teclas são menores, não tem aquela partezinha dos números na lateral, a tecla de apagar é minúscula e eu estou super confusa aqui. E para piorar, eu não olho para o teclado, porque, depois de todos esses anos digitando só olhando para a tela, meu orgulho não permite. Daí eu erro e tento me corrigir sem olhar para o teclado, porque sou teimosa, e acabo fazendo mais estragos ainda.
Enfim.
Estou longe de casa agora, e meu notebook é a minha única conexão para com o mundo exterior – é como o espelho, e eu sou a Fera, entenderam? - , e o teclado dele é legalzinho, então tudo bem. Vou sobreviver.
Ei, vocês prestaram ENEM ano passado? Viram o resultado?
Olha, vou contar para vocês porque estou simplesmente morrendo aqui:
Fiz 960 de redação! *-----*
Meu sorriso nem cabe no meu rosto.
Mil beijinhos!



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