O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 55
Capítulo Cinquenta e Cinco


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Sentiram minha falta? Eu senti a de vocês. Além de estar me mudando, estou também estudando para provas e fazendo aqueles trabalhos inúteis que a escola ama passar para gente: uma delícia. Mas espero não ter demorado demais!



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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Cinquenta e Cinco

Até David, Gabriel nunca antes havia se atraído por homens mais velhos. Seus parceiros sempre haviam sido da sua idade, ou com no máximo três anos de diferença entre os dois. Afinal, ele convivia mais com pessoas assim, e era fácil se sentir confortável diante de corpos não muito diferentes do seu.

De fato, talvez sua recente queda por homens mais altos, fortes e sérios ainda fosse um efeito colateral de David.

Ou talvez o pai de Artemis só fosse terrivelmente gostoso mesmo.

– Ela saiu mais cedo para almoçar – conseguiu dizer, mostrando suas covinhas em um sorriso nervoso. – Posso te levar ao refeitório, se o senhor quiser.

Ao curvar os lábios, Sebastian Lancaster evidenciou as rugas que já tinha ao redor dos olhos, e Gabriel poderia ter desmaiado. (Quanto anos ele teria? Parecia mais velho do que David, mas não dava para ter certeza.)

– Só se não for nenhum incômodo.Eu deveria ter avisado que viria, mas preferi fazer uma surpresa... meu voo chegou há menos de uma hora.

O que era aquilo, um pedido de desculpas? Por favor, Gabriel iria adorar guiar aquele homem para qualquer canto da Academia, só pelo prazer de uma boa vista.

– Artemis disse que o senhor viria – o tranquilizou, sem nem saber se mentia ou não. – Ficará feliz em te ver.

– Você a conhece bem? – o sósia de Brad Pitt ao seu lado perguntou, em educada curiosidade. – Não me disse o seu nome.

Como Gabriel poderia ter se esquecido de se apresentar? Argh! E com David tinha sido a mesma coisa... Deus, ele costumava fazer melhor do que aquilo.

– Gabriel Walden, senhor.

Estendendo-lhe a mão de repente, aquele loiro maravilhoso sorriu.

– Ah, então você é o Gabriel? – perguntou. Sua mão era infinitamente maior e mais forte, e ele apertou a de Gabriel num claro e óbvio sinal de que adoraria ir para a cama com ele. Tudo bem, talvez não, mas ssh. – Artemis me disse muito sobre você.

O que significava que ele sabia que Gabriel era gay, e que não se importava nenhum pouco – só faltava o homem dizer que cozinhava, e então Gabriel a) teria um infarto e cairia duro no chão ou b) pularia em seu pescoço, ou ainda c) o lamberia.

– É, ela me adora – disse, com naturalidade, até se lembrar de que deveria estar levando-o a algum lugar. – Hum, o refeitório é por aqui, não estamos muito longe – disse, guiando-o pelo corredor.

Seguindo-o, Sebastian juntou as sobrancelhas.

– Estou atrapalhando seu horário de almoço?

E ele ainda soava preocupado! Deus, Gabriel poderia ter soltado uma gargalhada. Imagine.

– Não tem problema nenhum. O senhor vem para a apresentação do fim do ano?

– Claro – Sebastian respondeu, antes de uma ligeira hesitação. – Artemis não voltou a tocar no assunto, mas a questão da música foi resolvida? A orquestra municipal mudou de ideia?

Oi?

– Hum, ela não te falou da Berklee?

– Sim, mas... – por um instante, Sebastian pareceu desconcertado. – Não é nada – acabou dizendo, com um ligeiro sorriso apaziguador.

Mas Gabriel já estava se lembrando de Artemis, e de como ela também havia franzido o nariz para a contratação de “músicos amadores de uma escola blá blá blá”. Olhou para aquele homem simpático e educado, e entendeu que sua adorável amiguinha ruiva deveria ter herdado aquele narizinho em pé de alguém.

Bom, pelo menos ele é mais simpático.

– Na verdade, tem músicos muito bons na Berklee – comentou, incapaz de se conter. – O senhor tem que ouvir Apolo tocando, é incrível, e vai ser toda dele a parte final em que a Artemis dança sozinha. – Ei. Arregalou os olhos, horrorizado consigo mesmo. Droga! – Vai vir para a apresentação? – emendou, rapidamente. – Vai ser tão legal, um monte de--

– Você já me perguntou isso – Sebastian o interrompeu, com um breve sorriso. – O nome do garoto é Apolo? – seu ar era de diversão, e Gabriel recorreu aos seus dons teatrais magníficos.

– Ai, não fale nele – pediu. – Não perto da Artemis, ela o abomina.

Sebastian deu uma risadinha.

– Ela não deve mesmo ter gostado da coincidência dos nomes. Mas é interessante – acrescentou, sendo obviamente um entusiasta de mitologia grega...

... da qual Gabriel só conhecia Hércules, e da Disney. O garoto achou, portanto, melhor não insistir no assunto. Pensou em perguntar como havia sido seu voo, ou de onde ele havia vindo, ou ainda se conhecia a idade de consentimento em Boston, que era de 16. Mas nas cinco vezes em que abriu a boca, acabou se lembrando de David, então acabou aliviando-se quando finalmente chegaram ao refeitório.

Com uma olhadela rápida, viu que, felizmente, Artemis não estava sentada com Apolo, mas, também, sua vadia ruiva era um gênio do crime.

E não é mesmo empolgante esse treco de namorar escondido? Quero um Apolo secreto para mim. (Ou um David, mas ele não pensaria em David. Que coincidentemente também estava à mesa de Artemis... Mas Gabriel nem saberia dizer como notara aquilo. Ele nem procurava mais por David. Não mesmo.)

– Ah, já a vi – Sebastian disse, parando ao seu lado. Gabriel ergueu o rosto para encará-lo, e o homem lhe abriu um sorriso que só não era melhor do que o de Apolo por uma questão de princípios. – Obrigado. Pode ir se servir, está no seu horário de almoço – sugeriu, gentil.

A mão dele estava em seu ombro. A mão dele estava em seu ombro. Em seu ombro, larga e morna como deveria ser, mesmo por cima de suas roupas de treino. Mesmo pensando em David, Gabriel não pôde evitar reagir àquilo.

– Hum – fez, muito inteligentemente. – Foi um prazer. – Levou um tempo para perceber o que havia acabado de dizer, e então corrigiu-se, frustrado. – Digo, de nada.

Antes de se afastar na direção da mesa da filha, Sebastian riu e bateu de leve em seu ombro, como se entendesse todos os motivos por trás daquele nervosismo. Gabriel o observou partir, soltando um suspiro baixinho.

Acabou voltando seu olhar para David (por acaso), e quase morreu ao ver que o homem o encarava de volta. Sem saber o que fazer, lhe deu as costas e foi de imediato para o bufê de massas (porque saladas são simplesmente ew, e massas são aw: a diferença é importantíssima.).

{...}

Artemis talvez fosse capaz de banquetear-se na frente do inimigo, mas Gabriel estava com a horrível impressão de que David o observava, e não conseguiria comer em paz daquele jeito. Os dois não se viam fazia quanto tempo? (Três semanas e um dia, mas não é como se ele estivesse contando, por favor.)

Acabou indo se sentar no pátio, sendo bem-recebido por um grupo de garotas simpáticas, que estavam ali apenas há alguns meses. As entreteve com as fofocas recentes da Academia, deliciando-as com detalhes sobre a perfeição de Apolo e sobre o aguardado espetáculo do fim do ano. Estava até se divertindo quando uma delas o cutucou de leve, lançando um olhar preocupado por cima do seu ombro.

– Quem é aquele? Pode fumar aqui na escola?

Gabriel se virou. David estava acendendo um cigarro, andando tranquilamente pelo corredor entremeado por pilastras que dava a volta no pátio. Em nome de Deus, ele era mesmo lindo. Gabriel engoliu em seco.

– Ele é um professor da Berklee. – Virou-se para frente, mas tudo o que sua mente registrava eram os passos lentos de David, o barulho dos sapatos sociais contra o piso. – Não sei se é permitido fumar aqui na escola, mas provavelmente não.

O barulho parou. A garota à sua frente – seu nome era Emilly – continuava olhando para David sem a menor discrição.

– Ele parou. Está olhando para cá. Acha que ele quer falar com você?

Gabriel queria muito, mas não se virou para trás. Abaixou a cabeça para o castelinho que estava construindo com seu purê de batatas, perguntando-se se David estaria olhando para ele. Como seu cabelo pareceria daquele ângulo? Ele acharia estranho que estivesse em companhia apenas de meninas?

(Antes isso do que um monte de meninos, não é? Vadio, ele havia dito.)

– Não, não acho que ele queira.

{...}

Pelo visto, hoje era o dia de sorte de Gabriel. Ao contrário da beleza nórdica de Sebastian Lancaster, Logan Wright tinha cabelo escuro e barba por fazer (como David, mas seus olhos eram verdes e ele não tinha mais de trinta anos, portanto, eliminado). Ainda assim, era uma vista e tanto.

– Dá para chegar ao anfiteatro pelo fim daquele corredor – lhe explicou, apontando. – E então é só virar à esquerda, a porta fica fechada, mas não trancada. Vai dar diretamente no backstage.

– Valeu – e Logan acenou, distraído, saindo sem perguntar seu nome.

Bom, por que perguntaria? Gabriel observou sua bunda enquanto ele se afastava apenas por hábito, antes de virar-se abruptamente e dar de cara com David em pessoa.

Não, não dar de cara com David. Literal e vergonhosamente bater em David, sentindo de uma vez só a maciez de sua camisa, seu perfume e seu tórax, BUM, uma explosão de David. (E Gabriel não estava sendo dramático, sssh.)

(Deus, ele parecia forte, assim, de perto. E estava bem cheiroso também.)

– Não vai se afastar?

Oh. Gabriel deu um passo para trás, mortalmente constrangido. Para a sua sorte, porém, David parecia apenas ligeiramente aborrecido.

– Desculpe – pediu, nervoso. – Eu não vi por onde eu ia, você surgiu de repente... hum, eu deveria estar prestando mais atenção. Desculpe.

Mas David estava olhando para o seu cabelo. Era fim de tarde, então Gabriel supôs que talvez estivessem mais claros do que o normal, mas apenas isso. Trocou o peso do corpo de um pé para o outro, sem saber se poderia ir embora.

David então o olhou nos olhos de novo, e Gabriel nunca antes havia visto aquela expressão no rosto de alguém.

– Não tem por que se desculpar. – Sua voz costumava ser escorregadia ou crítica, e era estranhamente reconfortante ouvi-la tão baixa e tão séria assim. Como era mesmo que Apolo havia chamado a voz “normal” de alguém...? Voz de peito? Um treco assim. A de David era maravilhosa. – Não você. Aquele era o primo do Apolo, não?

Será que David achava que Gabriel havia dado em cima dele também? Por que estava começando uma conversa? Gabriel olhou na direção em que Logan havia se afastado, sem saber o que dizer. (E o que havia sido aquele não você?)

– Era, era sim.

– Oh. – Ouviu David suspirar. – Mais um.

Mais um o quê? Um aluno? Um adolescente insuportável para aguentar? Alguém com quem ele achava que Gabriel estava transando? Frustrado, Gabriel se virou de volta para David, apenas para ver que o professor já estava passando por ele a caminho do anfiteatro.

Teria suspirado de alívio se não houvesse visto, com toda clareza, o momento em que o braço de David se ergueu. Se ergueu para que sua mão – delicada, a de quem nunca fez um trabalho pesado na vida – corresse por seu cabelo, desfazendo alguns cachos castanhos.

Tudo o que Gabriel foi capaz de fazer foi permanecer imóvel, observando o corredor à sua frente com um olhar fixo. Ouvia os passos de David se afastando, o barulho dos sapatos sociais contra o chão. Sentia ainda o desalinho em seus cachos, talvez fosse até capaz de apontar em quais fios os dedos de David haviam roçado.

Passou a mão pelo cabelo, por reflexo, e respirou fundo e baixinho.

Vadio, inconsequente, oferecido, puto, David havia lhe dito tudo aquilo. A mão apoiada na nuca, segurou um pouco do próprio cabelo, sentindo-o macio e ainda um pouco suado do último treino. E agora isso.

Olhou com cuidado para trás, por cima do ombro, mas David já estava distante. Deus, e agora isso...

{...}


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Notas finais do capítulo

Eu sei, amores, eu sei. Eu entendo. Esse ship vai acabar com todos nós.