O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 51
Capítulo Cinquenta e Um


Notas iniciais do capítulo

Estou mimando vocês com essas atualizações rápidas, não estou? Ai, assim eu crio monstrinhos! Ana Carolina, esse vai para você, porque eu não quero descobrir se é biologicamente possível um coração explodir de ansiedade ~pisca~



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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Cinquenta e Um

Não era porque Apolo adorava Anna que ele também não sentia aquela vontade inerente ao ser humano de esganá-la às vezes. (Meio que quase todo mundo que conhecia a loira tinha vontade de apertar aquele pescoço branco ao menos uma vez, só para ver os olhos cinzentos saltarem das órbitas e aquela língua mordaz ficar quieta.)

(Principalmente a parte da língua.)

– Por favor, elas só se atiram aos seus pés porque têm esperanças de se enforcar com os cadarços dos seus tênis... E não abra esse pote, seu imbecil! – aqui a voz dela subia uma oitava, fazendo Apolo respirar fundo enquanto seu primo gargalhava. – O que você sequer está fazendo aqui? Argh, eu já disse para o Apolo que... esse pote não, Logan!

Apolo nem se deu ao trabalho de esboçar alguma reação ao som do seu nome. Veja bem, tivera um dia estressante. Com a proximidade do Festival, seus colegas estavam infinitamente mais preocupados com as próprias performances do que com a apresentação da Academia, e não estava sendo fácil mantê-los na linha.

A discussão com Krist e Jason a respeito de prioridades havia ficado feia, e os ânimos só foram aplacados com David chamando os três de “jovens arruaceiros” em uma voz de seda, ameaçando tirá-los de ambos os shows. (E Apolo se martirizaria para sempre se não pudesse se apresentar no Festival, mas não aguentaria jamais dizer a Artemis que não poderia tocar na sua apresentação.)

– Se você não largar esse pincel, eu juro que vai ser anatomicamente difícil para você tirá-lo de onde vou... largue isso!

Anna já estava gritando. Escorado contra a parede, Apolo desviou os olhos para a porta, a meros três passos de distância. O que não daria para sair dali... O lugar era pequeno, cheirava por demasiado a tinta e, naquele começo frio de noite, parecia terrivelmente abafado.

– Logan Wright, se você pôr tinta nesse pincel eu juro que eu vou... EM NOME DE DEUS, QUAL É O SEU PROBLEMA?!

Apolo não fazia ideia do que Deus poderia ter a ver com seu primo sendo uma peste, mas já havia aprendido que não era bom falar com Anna enquanto sua voz estivesse tão aguda. Tudo o que ela pedira fora uma carona para o seu ateliê, e, se Logan não tivesse vindo junto e provocado todo aquele pandemônio, Apolo já poderia estar de volta à Academia àquela hora... entrando por uma janela, de preferência.

Só queria ver Artemis, arrumar um bom final para aquele dia tão ruim. Era pedir tanto assim? Respirando fundo, virou-se para ver de qual posição de artes marciais teria que separar aqueles dois. Acabou sendo forçado a sorrir, deparando-se com Anna encurralando Logan de encontro a um cavalete vazio, ameaçando-o com uma pesada régua de madeira.

– Ei, vocês dois – chamou, ganhando um olhar agradecido do seu primo. – Vamos, Logan, antes que tenha sangue no quadro atrás de você.

Aquilo fez Anna dar um salto para trás, instintivamente alarmada com a possibilidade de estragar um de seus projetos. Ao ver que não havia pintura nenhuma ali, contudo, virou-se para Apolo com os olhos faiscando.

Desencostando-se da parede, Apolo gesticulou para a saída.

– Eu preciso ir embora – lhe disse, cansado.

Aquilo suavizou a expressão da garota. É claro, ela havia assistido a toda a briga, ensaiado o dia todo também. Apolo pôs-se em seu lugar por um instante, e percebeu que, enquanto tudo o que ele queria era ver Artemis, tudo o que ela queria era um tempo sozinha para pintar e ouvir Jake Bugg. Duas formas diferentes de fazer um pedacinho do dia valer a pena, quando todo o resto fora um desperdício trabalhoso.

– Bom, por mim – a loira então se virou para Logan com uma postura ameaçadora, qualquer empatia sumindo de seu rosto. – Vocês já estariam longe daqui há muito tempo. Principalmente você, vagabundo. – Estreitou os olhos. – Suma daqui.

– Eu sei que você ainda vai fazer um quadro meu – Logan contrapôs, sorrindo. Apoiou o frasco de tinta e o pincel que segurava (por algum motivo) no apoio do cavalete, e então estendeu a mão para afastar um cacho loiro para trás da orelha de Anna. Os olhos cinzentos da garota acompanharam esse movimento com uma frieza psicótica, e, no lugar de seu primo, Apolo se preocuparia em ser nocauteado com aquela régua. – E ainda vai ganhar uma boa grana com ele, talvez uma exposição inteira.

Aquilo fez com que ela abrisse um sorriso de desdém, aprumando-se melhor para encará-lo. Artemis podia ter sorrisos irritantes e convencidos, mas ninguém como Anna poderia pôr tanto desprezo em um gesto tão pequeno.

– Eu não exponho em galerias que pedem por quadros bonitos – o informou, batendo com a régua de leve na palma da outra mão. – Arte não tem que ser bonita.

– Então você admite que um quadro meu seria bonito – Logan comentou, feliz.

– Fora do seu cérebro ineficiente, isso não significa nada demais – Anna o informou, os olhos reluzindo de malícia. – Até porque beleza nada tem a ver com arte. – O analisando, cruzou os braços na frente do suéter azul marinho, sobriamente satisfeita. – Eu pinto o que me impressiona, Logan Wright, e é por isso que você nunca verá um quadro seu aqui.

O silêncio que se seguiu durou por tempo demais, e Apolo deu um passo na direção da saída, inseguro.

– Você pode pegar um táxi depois, Logan?

– Claro – Seu primo disse, mas sem deixar de olhar para Anna. – Depois.

– Depois? – Absolutamente imune ao homem à sua frente, Anna gesticulou com a régua, incrédula. – Não sei se notou, mas eu estou meio ocupada aqui. Você vai embora com Apolo, e vai agora. – Virou-se para seu melhor amigo com impaciência, apelativa. – Apolo, por favor, remova seu primo do meu ateliê. Permissão para matar concedida.

Mas o loiro apenas deu outro passo na direção da porta, os ombros encolhidos em impotência. Aquilo ali estava ficando feio, e ele já tivera sua cota de momentos ruins para um dia só sem se meter em outra briga.

– Preciso ir embora. Você vai ficar bem?

Antes que Anna pudesse abrir a boca, indignada, Logan respondeu por ela.

– Vai. – Correu o olhar dos pés à cabeça da garota. – Vou impressioná-la nem que tenha que tirar a roupa.

Anna deu uma risadinha.

– Receio que isso só vá piorar o seu caso.

Não era como se Apolo se importasse. Dando as costas aos dois, saiu para a noite fria e quase suspirou de alívio. Movimento, barulho, vento gelado. Ergueu os olhos para o céu escuro, precisando desesperadamente de Artemis.

{...}

Com o seu comparsa no crime (esperançosamente vestido) muito ocupado com sua melhor amiga do outro lado da cidade, Apolo teve que recorrer a outras medidas. A mochila por cima do ombro, ligou para Gabriel quando já estava na porta do dormitório, sendo então recebido alegremente por aquela criaturazinha de pijamas. (Pelo menos ele supunha que aquela camiseta amarela de “I’m a sexy symbol” fosse um pijama. Era a cara do garoto, honestamente.)

– Apolito! – o dançarino disse, pulando no lugar. – Agora vai todo mundo achar que eu estou te levando para o meu quarto! – e ele bateu palmas, satisfeito.

Apolo deu uma olhada no dormitório, agradecendo a Deus por estar quase vazio. Entrou com cuidado, lançando a Gabriel um olhar duvidoso.

– Eu sei que você vai desmentir esse boato, se ele surgir.

– Aham. – Gabriel sorriu, mostrando suas covinhas. – Artie sabe que você está vindo?

– Acho que ela não está me esperando tão cedo – Apolo murmurou. Eram o quê, nove horas da noite? – Onde está todo mundo?

Só havia Michael na poltrona da sala, falando ao telefone em altos brados. Usualmente havia um grupinho de bailarinos na cozinha tomando chá, ou uma rodinha na sala, assistindo televisão e cochichando.

– Tivemos uns probleminhas técnicos hoje, Artie vai te contar tudo. – Pelo embaraço de Gabriel, Apolo podia apostar um braço que Artemis havia sido o motivo dos problemas. Um charme, aquela garota, ele se viu pensando, com um suspiro. – Você vai passar a noite? O que tem nessa mochila?

– Vou dormir aqui – Apolo admitiu, mas sem satisfazer mais da curiosidade do garoto. Antes que Gabriel voltasse a dizer algo, pensou em algo para falar. – David perguntou de você ontem.

Aquilo fez o garoto parar no lugar, virando-se para Apolo com uma expressão mortificada. Não, não era uma expressão de todo ruim. Havia esperança ali, também, e um pouco de fascínio, por mais dramática que a mão sobre o coração fosse.

– Ele perguntou de mim?

– É. Perguntou por onde você esteve e... – Apolo tentou se lembrar. Ele havia brigado com Matthew também, não tinha? O mesmo cara com quem Gabriel... Encarou o garoto com súbita descrença. – Aconteceu alguma coisa entre vocês? Não, espera – ergueu uma mão, assim que Gabriel abriu a boca. – Esquece – pediu, firmemente. – Não quero saber.

O garoto revirou os olhos de forma teatral, voltando a acompanhá-lo pelas escadas.

– Eu sei que você vai perguntar tudo para a Artie. Só está com vergonha de perguntar para mim e tal. Tudo bem, eu entendo – ergueu as mãos para cima em rendição, quando Apolo iria começar a protestar. – Você tem que preservar sua imagem de hétero e etc. Aham. – Estreitou os olhinhos em sua direção. – Eu sei que você olha para a minha bunda, Apolo.

A afirmação foi tão absurda e tão despropositada que foi a vez de Apolo parar no lugar, encarando Gabriel em absoluto horror. Contudo, tudo o que o diabrete fez foi dar uma risadinha, garantir que não diria nada a Artemis e então apontar para a porta ao fim do corredor.

– Aquele ali é o quarto dela – piscou. – Sejam discretos. Nada de gritar muito, eu tenho ouvidos sensíveis.

– Claro que tem – Apolo respondeu, ainda em choque.

Gabriel deu outra risadinha antes de se afastar, descendo as escadas aos pulinhos. Apolo se virou lentamente para a porta à sua frente, respirando fundo antes de fazer seu caminho até ela.

Artemis, é bom você compensar tudo isso.

A quem ele queria enganar? É claro que ela compensaria.

Testou a maçaneta, mas estava trancada. O que era totalmente previsível, considerando-se as tendências paranoicas de Artemis. Apolo então bateu, trocando o peso do corpo nos pés e percebendo que estava sentindo o começo de uma dor de cabeça.

Que ótimo. Do lado de dentro, nem sinal de Artemis. Bateu uma segunda vez. Nada. Estava começando a se sentir mais cansado quando bateu da terceira vez, mas dessa vez ouviu um barulho qualquer do outro lado.

– Vá embora, Gabriel!

Teve que rir, batendo novamente.

– Eu abriria, se eu fosse você – gritou de volta, divertindo-se ao ouvir nitidamente o barulho de alguém saltando da cama do lado de dentro. Passos apressados se aproximaram da porta, e meio segundo depois olhinhos azuis o observavam por uma fresta. Olhos desconfiados, mas lindos ainda assim. – Oi.

Artemis abriu um pouco mais a porta, dando um passo para trás para que ele entrasse.

– Oi. Passou pelo dormitório inteiro para vir até aqui?

Ela estava com calças de moletom cinza, e uma camiseta cor de rosa que parecia confortável. Na verdade, toda ela parecia confortável. Seu cabelo estava mais volumoso, como se a garota houvesse acabado de escová-lo, e meias brancas cobriam seus pés. Era tudo o que Apolo queria, tudo.

– Só o monitor estava lá embaixo. E Gabriel, ele abriu a porta para mim. – Fez uma pausa, percebendo que sua dor de cabeça continuava. – Eu posso tomar um banho? – perguntou, um tanto inseguro por dentro. – Vim meio que correndo para cá, os ensaios terminaram mais tarde e--

– Fique à vontade. – Artemis apontou para o banheiro. – Tem toalhas limpas no armário.

Deus, Apolo poderia beijá-la. Fechou a porta atrás de si e tomou o cuidado de trancá-la, antes de se virar para Artemis. Bom, agora ele literalmente poderia beijá-la. Deu um passo à frente, mas a garota se afastou, elegantemente esquivando-se.

– Eu não beijo pessoas sujas e cansadas – ela avisou, subindo na cama. – Anda, vá tomar banho. – Fez uma pequena pausa, abrindo então um sorriso. – Se você veio com tanta pressa para cá, deve estar morrendo de saudade de mim.

O cheiro de tinta fresca até já parecia distante, e Apolo se viu sorrindo de volta. Você não faz nem ideia.

{...}


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Notas finais do capítulo

Mereço um prêmio, não mereço? Logan e Anna, David e Gabriel, Apolo e Artemis... não ficou ninguém para trás dessa vez! *U* E não se preocupem, esse foi só para vocês criarem altas expectativas para o Logan e para a Anna. Já, já retornarei para onde os deixamos. Beijinhos!