O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 46
Capítulo Quarenta e Seis


Notas iniciais do capítulo

Esse vai para a Marie, por sua ajuda adorável e inestimável com coisinhas de garota.



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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Quarenta e Seis

Apolo acordou de mansinho, sem entender muito bem onde estava. Havia se esquecido de fechar as cortinas, e o Sol fraco da manhã já havia esquentado sua cama e seus lençóis. Ouvia o barulho tênue de um chuvisco caindo do lado de fora, quase um pedido de desculpas depois da tempestade da noite anterior.

Piscou os olhos algumas vezes antes de abri-los por completo, e um sorriso preguiçoso se esgueirou por seus lábios quando tudo o que viu foi vermelho. O cabelo de Artemis havia se espalhado sobre o travesseiro e as cobertas, a garota ainda dormindo, um corpo morno debaixo do seu braço.

Era surpreendente que Apolo ainda estivesse abraçado a ela, já que as cobertas, por exemplo, eram chutadas para o pé da cama antes que ele sequer completasse meia hora de sono – mas não era como se ele realmente pudesse chutar para o pé da cama uma garota tão linda, era?

Foi ainda sorrindo que Apolo aproximou o rosto daquele cabelo macio, estreitando o aperto em sua cintura enquanto corria o nariz pela pele macia de sua nuca, pensando nos pelos clarinhos que não estariam se eriçando bem ali. Artemis se mexeu em seu sono, e Apolo teria se arrependido de tê-la acordado se a garota não houvesse se aninhado mais nele, murmurando alguma coisa que ele não entendeu enquanto voltava a dormir, encolhendo as pernas que estavam debaixo da dele.

Apolo adoraria se acostumar àquilo, a acordar todas as manhãs daquele jeito. Perguntou-se se não haveria um jeito de subir a janela do seu quarto todas as noites, de dormir com ela às escondidas, indo embora logo que amanhecesse. Não seria incômodo algum.

Decidiu pensar seriamente naquilo mais tarde, distraindo-se ao descer a mão da cintura da garota até o seu quadril. Artemis não tinha o perfil estreito, fino e comprido que aparentava; suas pernas e coxas eram fortes como deveriam ser. A ponta dos seus dedos roçou algo morno e macio que não era sua camiseta preferida, e Apolo pediu desculpas aos céus antes de correr a mão por aquela pele fatalmente exposta, observando a respiração de Artemis com todo o cuidado do mundo para que ela não acordasse com a mão dele acariciando sua coxa.

Não tardou a descobrir que aquele fora um erro enorme, sentindo a própria pele formigar de vontade de tocar mais da dela, de encaixar a mão em todas as suas curvas. Artemis era tão macia e tão morna quanto os sete pecados juntos, e foi com esforço que ele se forçou a se afastar, sentando-se na cama e inclinando a cabeça para trás, estralando o pescoço e recobrando o controle.

(Dormir de lado não era nada confortável. Apenas Artemis para tê-lo mantido na mesma posição por tanto tempo, honestamente.)

Para piorar a situação, a danada ainda era linda dormindo. Seu rosto absolutamente inexpressivo, sua respiração mais lenta, o corpo tão sutilmente encolhido quanto a fórmula perfeita para encher qualquer um de vontade de abraçá-la.

Por que não havia músicas sobre aquilo? Apolo era ótimo em se lembrar de músicas para qualquer coisa que via, mas sua mente estava em branco absoluto naquele momento. Talvez pudesse escrever uma, que falasse de manhãs mornas, Sol fraco, lençóis macios e cabelo cor de cobre.

O Festival estava chegando, afinal de contas. Será que Artemis sabia? Provavelmente não. Deveria trabalhar em uma forma de convencê-la a ir; o Fenway Park era gigantesco, mas ficava realmente lotado, e Artemis não parecia ser fã de multidões – mas Apolo adoraria tocar para ela de cima de um palco de verdade.

O barulho muito próximo de um carro o fez virar o rosto para a janela, desconfiado. Seus pais só deveriam estar de volta depois do meio dia. Levantou-se, fazendo o caminho até a janela em passos rápidos. Viu o Mustang ’66, e teve que respirar fundo.

{...}

Desceu as escadas torcendo para que Artemis não ouvisse a campainha tocando. De Cape Cod a Boston, Logan não teria levado mais de uma hora e meia, e ainda não eram nove da manhã. A que horas o homem saíra de casa, em nome de Deus?

Apolo abriu a porta, não se surpreendendo nem um pouco ao ver seu primo preferido parado à sua frente, as mãos nos bolsos da bermuda branca de sarja.

– Foi mal ter te acordado – Logan Wright pediu, empurrando os óculos de Sol para o topo da cabeça, antes de dizer sequer bom dia. – Achei que você não fosse se incomodar se eu viesse mais cedo.

Sua pele estava mais bronzeada do que o normal, e ele não fazia a barba fazia um tempo. Apolo perguntou-se quantas boas histórias ele não teria para contar, e o quanto lhe diria sobre o término com Sarah, mas então lembrou-se de Artemis dormindo tranquilamente no andar de cima e percebeu que não a trocaria pela companhia de mais ninguém.

– Achei que fosse vir com os meus pais.

Logan pareceu um pouco surpreso por não ter sido convidado a entrar.

– Eles vão ficar até a tarde, minha mãe vai levar a sua para uma feira de não-sei-o-quê. Minhas coisas estão no carro, vem me ajudar a pegar – chamou, dando um passo para trás. – Trouxe aquelas camisetas que você tinha esquecido lá em casa.

Apolo tentou pensar em uma mentira, mas desistiu logo. Seria inútil, de qualquer forma. Ela vai me matar.

– Você não pode entrar agora – se ouviu admitir. – Eu estou com alguém em casa.

Surgiu um vinco na testa de Logan, uma reação bem mais séria do que Apolo teria esperado.

– Você e aquela sua amiga finalmente chegaram lá, não é?

– Não é a Anna – Apolo o corrigiu, com ligeira impaciência. Logan fingia sempre esquecer o nome dela. – É outra pessoa. É complicado.

Logan bufou, sem parecer impressionado. O vinco na sua testa sumiu, contudo, e Apolo se viu assaltado pela possibilidade de seu primo ter sido apaixonado por Anna por vários e vários anos, sem nunca ter a coragem de dizer alguma coisa, implicando com ela só para chamar sua atenção.

Deus, talvez estivesse mesmo lendo demais.

– Mulheres não são complicadas – foi o comentário espirituoso de seu primo, que soou quase como uma acusação.

– Não as suas – Apolo o corrigiu de novo, mas com delicadeza. Logan nunca havia namorado alguém, e então sua primeira namorada o havia deixado depois de dois meses. Não era de impressionar que ele ainda estivesse um pouco irritado com a população feminina em geral. – Artemis é a epítome da complicação.

– Epítome?

– Quer dizer resumo, condensação. – Apolo se escorou no batente da porta. – É como dizer que Apolo era a epítome da beleza masculina na Grécia Antiga. Continha em si tudo o que os gregos achavam que era belo.

– Aquela sua amiga está sendo uma má influência.

– O nome dela é Anna – Apolo se repetiu. – E você não vai poder mesmo ficar aqui agora. Sinto muito – acrescentou, desconfortável. – Artemis só volta para a Academia na hora do almoço.

– Artemis? O barco do velho Matthew tem esse nome. Tem alguma coisa a ver com a Lua, não tem?

Apolo desviou o olhar para o chão ao rir baixinho.

– Se eu for te contar a história, você vai achar que eu sou mesmo um nerd e a minha reputação vai estar arruinada. Mas tem, sim. – Fez uma pequena pausa, erguendo os olhos para seu primo que, era válido dizer, não parecia estar com vontade alguma de ir para outro lugar. – Anna ainda mora ali perto, você sabe. E ela provavelmente está em casa.

Logan finalmente deu outro passo para trás. Yup.

– A casa amarela?

– Branca. A cerca que é amarela – Apolo apontou. – Mas não sei se ela vai gostar de ter seu arqui-inimigo tocando a campainha. Por via das dúvidas, seu ateliê novo fica perto do meu colégio antigo. Você sabe onde é, não tem erro. Ela o divide com mais gente, então deve estar aberto a essa hora.

Logan pareceu satisfeito com aquilo.

– Tenho certeza de que vou encontrar alguma coisa para fazer lá que vai irritá-la.

– É – Apolo teve que concordar. – Você é bom em irritá-la.

Logan o estudou por um tempo, e então seu sorriso se tornou mais esperto.

– Está com um humor muito bom. – Deu um passo para trás e repôs os óculos antes que Apolo se embaraçasse. – Aproveite sua garota. Me ligue assim que estiver desocupado.

Apolo sorriu, grato.

– Eu vou. Valeu.

Logan lhe deu as costas e desceu os degraus com rapidez, sem se incomodar com o chuvisco enquanto voltava para o carro. Apolo não demorou nada a voltar para dentro, tendo em mente coisas muito melhores com o que se ocupar.

{...}

Quando abriu a porta do quarto, já tinha seus olhos voltados para a cama, então foi pura decepção o que sentiu quando a encontrou vazia. Foi só relancear o olhar para o lado, contudo, que já respirou normalmente de novo. Artemis estava de pé diante do mapa mundi que ele havia afixado a uma das paredes, as mãos atrás das costas.

Bateu de leve no batente da porta para avisá-la de sua presença, e sorriu assim que ela se virou para ele por cima do ombro.

– Bom dia. Acordou cedo.

Não era uma pergunta. Apolo sempre havia imaginado que Artemis fosse o tipo de pessoa que dormia até mais tarde. A garota encolheu os ombros, pequena demais vestindo apenas sua camiseta, aquelas pernas escandalosamente de fora.

– Acordei assim que você saiu. Quem era o moreno?

Ela provavelmente havia visto pela janela Logan indo embora. Apolo desviou o olhar para a cama ainda bagunçada, calculando as probabilidades de fazê-la voltar para lá.

– Meu primo. Eu te falei dele, lembra? Veio mais cedo.

Voltou a olhar para ela quando Artemis não o respondeu, desejando ter sido mais discreto quando viu que a garota havia seguido seu olhar.

– Você não o deixou entrar – Artemis finalmente disse, incerta. – O que teve que dizer a ele?

– A verdade. – Deixou que a ideia a aterrorizasse por alguns segundos, e então andou até onde ela estava. – Que estava com uma garota em casa. Só isso.

– Ele deveria tomar isso como um acontecimento corriqueiro?

Apolo tentou não sorrir, evitando olhá-la enquanto se virava para observar seu próprio mapa.

– Não. Mas eu disse a ele o seu nome.

A ouviu respirar fundo.

– Vai contar para ele também? David, Anna e Gabriel, Apolo. Já é uma boa lista.

– Ele vai ficar aqui por pelo menos um mês – Apolo explicou, sem se impressionar. – Iria acabar descobrindo de qualquer forma.

– Não sabe mesmo guardar segredo, não é?

Apolo a olhou de soslaio. Artemis parecia preocupada, e tudo o que ele queria fazer era carregá-la de volta para a cama.

– Eu tenho vontade de contar para o mundo inteiro, mas estou me contentando com menos de cinco pessoas – observou. – Me dê algum crédito.

Artemis balançou a cabeça, respirando fundo outra vez. Mas voltou a se virar para o mapa, dando a entender que, por ora, Apolo havia se safado daquela.

– Quando iria me contar sobre isso?

Foi a vez dele ficar quieto. Era sempre embaraçoso falar daquilo com as pessoas. Não era algo que pudesse propriamente contar por livre e espontânea vontade, já que se pareceria mais com autopromoção do que com qualquer outra coisa, mas Apolo também não sabia o que dizer.

Resumidamente, uma vez por ano, ele vestia uma camiseta branca com uma cruz vermelha no canto e embarcava para lugares onde corria altos riscos de contrair malária, onde também ficava sem acesso a internet e a confortos básicos. Voltava com um bronzeado digno da Califórnia, uma porção de palavras em africâner e histórias de partir o coração de qualquer um.

Limpou a garganta.

– Não sei. Não cheguei a planejar te contar.

Artemis o olhou de lado. Havia uma porção de coisas escritas em seus olhos azuis, mas ela levou um tempo até efetivamente dizer algo.

– Imaginei que não. – Suspirou e, então, para a surpresa de Apolo, curvou um canto dos seus lábios para cima. – Guitarrista, pianista, leitor, futuro professor de música e voluntário da Cruz Vermelha nas horas vagas. Pretende chegar à Lua também?

Apolo sorriu de volta sem nem perceber.

– No momento, pretendo apenas cumprir a minha promessa e fazer o café da manhã que te devo por ter dormido comigo. Com fome?

A expressão de Artemis era a mesma da noite anterior, quando havia pedido para que ele tocasse para ela. Apolo sabia que aquilo queria dizer alguma coisa, mas não entendia exatamente o quê.

– Claro. – Ela finalmente sorriu. – Só me dê um minuto para trocar de roupa. Se eu continuar com isso pela casa, seu coração talvez não aguente.

Apolo perguntou-se se ela havia mesmo acordado apenas quando ele se levantara, ou se estivera acordada pelos minutos antes disso. Inclinou a cabeça em falso respeito.

– Agradeço.

Sorriu e, quando ela pareceu se esforçar para não sorrir de volta, percebeu que sua resposta estava ali. Ao sair do quarto, teve que conter a vontade de gargalhar de satisfação.

{...}


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Notas finais do capítulo

Logan está fazendo reverências lá no palco após sua estreia gloriosa, por favor, o aplaudam. Ju, a sua ideia era mais dramática, mas, cá entre nós, de drama o enredo dessa história já estava cheio. (#vengeancefortheviper) E a todos vocês que achavam que Apolo ficava vagabundeando na praia... Artemis entende o sentimento. Gostaram, meus amores?