O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 42
Capítulo Quarenta e Dois


Notas iniciais do capítulo

Sentiram saudades?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472294/chapter/42

O Lado Escuro da Lua – Capítulo Quarenta e Dois

A casa dos Wright era aconchegante, elegante de um jeito confortável. Os móveis tinham um tom claro, e a paleta de cores da decoração (ao menos até onde Artemis havia visto) passava por marfim, amarelo, laranja e terracota. A sala de estar e o hall eram contíguos, cheios de livros, quadros, jornais e fotografias. A mãe de Apolo, fosse quem fosse, tinha um ótimo gosto.

A televisão ficava em uma sala separada, e Artemis não via aquele tipo de organização fazia um tempo. Achava que sua mãe era a única a não querer barulho e “crianças” (no caso, a pequena Artemis) ao seu redor enquanto conversava com os amigos. Tinha a impressão de que os pais de Apolo tinham a sala separada por motivos mais gentis, mas nem saberia explicar o porquê.

— Pode ficar à vontade – o loiro disse, colocando a mala dela no pé da escada. – Só não sente naquela poltrona do canto, é do meu pai. Ele é meio obsessivo com ela – acrescentou, pensativo, antes de lançar um olhar inquisidor à garota. – Com fome?

— Mais ou menos – Artemis pôs um dos braços atrás das costas, não acostumada a sentir timidez. – Você prometeu pizza, faz anos que não como uma.

— Quer tomar um banho primeiro? – Apolo sugeriu, talvez notando seu desconforto. Pegou de novo a malado chão, tomando a decisão por ela. – Vem, o quarto de visitas é logo aqui – chamou, começando a subir as escadas. – Se bem que você iria adorar o quarto da Zoe, tem estrelas no teto e tudo.

— Deixarei o quarto da sua irmã em paz – Artemis optou, revirando os olhos para o absurdo. – E o seu também, só para constar.

O andar de cima tinha quadros grandes e coloridos nas paredes, e as portas estavam entreabertas. A grande janela no fim do corredor tinha as cortinas frágeis cerradas, e a garota teve vontade de abri-las para ver melhor a tempestade, mas Apolo logo estava entrando em um dos quartos.

— Você vai descobrir que eu sou bem persuasivo – ele lhe suspirou em resposta, dando uma olhada no lugar. – Acha que vai sobreviver?

A cama de casal estava coberta por um edredom claro que parecia macio, a janela era larga e havia um banheiro logo ao lado do armário. Artemis não se sentia tão bem-acolhida fazia muito, muito tempo.

{...}

Se qualquer pessoa, na perfeita possessão de sua capacidade mental, precisasse de alguém para fazer suas malas, dificilmente chamaria Gabriel. Artemis, é claro, nunca o escolheria. Infelizmente, ela não fora chamada para planejar o próprio sequestro e, portanto, estava à mercê das péssimas escolhas do garoto.

Por exemplo, a camisola. Artemis costumava vestir uma camiseta mais larga e uma calcinha confortável e dormir muito bem com isso, mas é claro que Gabriel havia tirado uma camisola feminina e curta sabe-se lá de onde e posto na mala. Talvez houvesse até mesmo roubado do armário de Isabella. Artemis não se surpreenderia.

Era feita de seda clara, com renda e um corte justo. Artemis nunca conseguiria se sentir à vontade naquilo, ainda mais sabendo que Apolo estava a um ou dois quartos de distância. Devolveu a peça infame de roupa à mala de imediato, mas o resto do seu conteúdo não era nada animador.

Pondo de lado uma meia calça e shorts jeans curtíssimos, vestiu uma calça de moletom cinza, e escolheu a camiseta menos justa das quatro opções que Gabriel lhe ofereceu. (Para quê tudo aquilo, de qualquer forma? Talvez a cabecinha desmiolada do garoto não soubesse contar os dias corretamente.)

A única boa ação de Gabriel foi pôr, no bolso lateral, um par de pantufas. Artemis não duvidava de que aquelas eram do próprio garoto, já que apenas Gabriel teria pantufas felpudas naquele tom de cor de rosa com a cara de um porquinho na ponta.

(Artemis não usava pantufas, mas Apolo não fazia ideia de como seriam os pés de uma bailarina, e ela não estava nenhum pouco inclinada a lhe mostrar. Além do mais, de certa forma, elas combinavam com o tom suave de rosa da camiseta.)

Finalmente, pegou seu celular na mochila, preocupada caso houvesse perdido alguma ligação de seu pai – infelizmente, deparou-se apenas com mais de Gabriel. No caso, vinte e três mensagens não lidas, sendo “ARTEMIS PARE DE FORNICAR E ME RESPONDA” a mais recente.

Imagine que ela iria perder seu tempo lendo as outras.

“Você pagará por isso”, digitou. “Não aceitarei que conspire a favor de Apolo pelas minhas costas.

Em uma prova clara de sua inutilidade, Gabriel respondeu de imediato. Artemis o imaginou no sofá do dormitório, assistindo a desenhos animados, pezinhos balançando no ar.

“Você pode me fazer pagar por isso na mesma moeda *U* Me ajude a sequestrar o David e eu vou te amar para sempre *U*”

Artemis revirou os olhos, saindo do quarto. Havia barulho de chuveiro vindo da porta ao lado, então talvez fosse aquele o quarto de Apolo. Desviou seu olhar, digitando ao descer as escadas.

“Pareço querer ser amada para sempre por você? Depois daquela camisola ultrajante, Gabriel, você se fez o favor de se incluir na minha lista de pessoas menos favoritas.”

Artemis foi até a cozinha, pensando em como ser útil, mas a pizza ainda estava no micro-ondas e já havia pratos, talheres e copos sobre a bancada. Apolo era mais eficiente do que ela havia suposto, pelo visto. Voltou para a sala, sentando-se no sofá e tornando a pegar seu celular.

“Eu sei que você me ama”, era a primeira mensagem de Gabriel, e logo vinha outra. “A camisola não é linda? Comprei especialmente para você.

Artemis piscou.

Comprou para mim?

Claro!”, veio a resposta, seguida de emoticons aleatórios. “Eu e Apolo temos trabalhado nesse plano maligno há um tempão *UUU* Anna também *u* Faltou só o David :< Minha mente criminosa teria o seduzido *u*”

“Tenho certeza de que sim.” Artemis suspirou. “Sua paixonite destrutiva por ele parece ter piorado. Está há tempo demais sem levar um fora?”

Mensagens todas em maiúsculas incomodavam a garota, mas Gabriel, obviamente, não sabia disso:

ESFREGAREI MEU PROGRESSO NA SUA CARA *U* A-DI-VI-NHA QUEM TEM O NÚMERO DE TELEFONE DO DAVID GOSTOSO CHAMBERLAIN *UUUUU* ADIVINHA ADIVINHA ADIVINHA

Artemis não sabia o que era mais surpreendente, ele saber divisão silábica ou o sobrenome do homem quando todos o chamavam de David ou Sr. D. Ergueu os olhos para cima ao ouvir o chuveiro ser desligado, e começou a digitar para evitar pensar em Apolo saindo do banho.

Que bom! Agora ele poderá te rejeitar à distância!

De outra forma teria sido cruel, mas Artemis sabia que Gabriel riria.

“Estarei mandando meus nudes a ele logo depois da meia-noite.”

Informação demais.

“Porque o David vai te colocar pelado como wallpaper, tenho certeza.”, Artemis digitou, revirando os olhos.

“ABSOLUTAMENTE.” Poucos segundos depois... “E você e Apolokins, fofinha? Se não estiverem debaixo das cobertas agora, chorarei sangue.”

Artemis franziu os lábios. Debaixo das cobertas? Por que estaria debaixo das cobertas com Apolo? O loiro parecia ser o tipo de pessoa que não usava cobertas, chutava tudo para o pé da cama e dormia à mercê dos monstros. Bem ao contrário de Artemis, que se empacotava todinha.

Bom, não havia como dizer isso a Gabriel quando tudo o que ele quisera fazer fora – que surpresa – uma insinuação depravada.

“Eu li essa mensagem na sua voz”, admitiu, evitando o tópico da conversa. “Foi horrível. Está cuidando do Moony?”

A resposta de Gabriel veio, infelizmente, na forma de uma foto. Artemis teve dó de seu gato, cruelmente comprimido contra o corpo do garoto, que sorria de forma doentia para a câmera.

“Selfie com o Moony”, dizia a legenda. “Fiz bolo de caneca para ele no jantar, desenhei um gatinho em cima com chantilly e tudo ♥ - ♥ Ele não vai nem te querer mais quando você voltar, vai vir só para mim.”

Artemis tentou apagar a foto do seu celular, mas não teve coragem. Talvez fosse sentir saudade um dia, talvez fosse ser engraçado se lembrar daquilo dali a algum tempo.

“Gatos não podem comer açúcar. Se Moony passar mal, quem vai levá-lo ao veterinário será você.”

— Ah, você saiu do banho.

Artemis virou o rosto para ver Apolo descendo as escadas, de calça e uma camiseta azul escura do Led Zeppelin. Seu cabelo loiro parecia desarrumado mesmo lavado, e o garoto estava descalço.

— Esse é o seu pijama? – não pôde evitar perguntar. – Parece confortável – acrescentou, com uma pontinha de inveja.

— Eu dormiria com isso – Apolo abaixou o olhar para a camiseta – se vestisse alguma coisa para dormir. – Ergueu os olhos para ela com inexpressividade, como se nem a houvesse mortificado por dentro. – Te deixei esperando por muito tempo?

Artemis domou sua mente para não produzir imagens mentais indecentes, forçando-se a responder.

— Não, eu acabei de descer. Fui arrumar algo na cozinha, mas você já havia deixado tudo pronto.

— Tudo pronto – Apolo fez pouco caso, achando graça. – Tirei os pratos do armário. Nada como um jantar romântico.

Artemis se levantou.

— Pizza e romantismo não combinam, você sabe. As pantufas são do Gabriel – apressou-se a dizer, vendo o olhar admirado que o garoto lançou aos seus pés. – Ele... – checou seu celular, e então revirou os olhos de novo. – Está se oferecendo para checar a temperatura retal do meu gato, porque tem, abre aspas, experiência com esse tipo de coisa.

O rosto de Apolo se contraiu.

— Informação demais.

Artemis quase sorriu, deixando o celular de lado sobre uma prateleira da estante e andando até ele.

— Eu sei. É o preço que você paga por ter se juntado a ele nessa conspiração para me sequestrar por uma noite.

— Sequestrar por uma noite? – Apolo repetiu, a guiando para a cozinha e parecendo pensativo. – Gostei disso.

Músicos.

— Você é um caso perdido – Artemis anunciou, surpreendendo-se quando ele puxou uma cadeira para que ela se sentasse. – Vai realmente fazer disso um jantar romântico? – perguntou, cética, o encarando enquanto ele fazia seu caminho até o micro-ondas.

O garoto se virou para vê-la por cima do ombro.

— Claro. – Sorriu. – Eu até te roubei flores.

E só então Artemis viu que as rosas sobre a mesa eram novas, ainda molhadas de chuva. Vermelhas, algumas já com as pétalas caindo, outras em botão. Ergueu os olhos para ele, lábios entreabertos.

— Saiu nessa chuva para...?

Apolo trouxe a pizza para a mesa e se sentou à sua frente com toda a tranquilidade do mundo, o sorriso ainda convencido em seus lábios.

— Não é como se você não merecesse.

Artemis balançou a cabeça, sem o levar a sério, mas havia borboletas em seu estômago.

{...}


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E esse é só o primeiro dos dois capítulos que eu pretendo postar nesse fim de semana. Sim, sim, meu plano é matar vocês... ssh, fiquem quietinhos e facilitem para mim. Excesso de fofura não dói, prometo. A picada é sutil, nem vão notar. Gostando?