O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 41
Capítulo Quarenta e Um




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Quarenta e Um

Quando eles se separaram, Artemis não o deixou ir. Não que Apolo tivesse dado indicação alguma de que queria se afastar, é claro. Mas ela manteve as mãos em seus ombros, olhando-o com intensidade o bastante para que ele permanecesse imóvel no lugar.

Entendi direito?, perguntou-se, soltando o ar pelos lábios avermelhados. Apolo estava se apaixonando por ela? Apaixonando-se por ela? O que aquilo queria dizer – era o mesmo que um eu te amo, ou quase um?

Deus, às vezes garotos podiam ser incompreensíveis, ainda mais quando tinham um sorriso tão secreto e tão romântico daqueles.

– Você está realmente surpresa? – Apolo tornou a dizer, com todo o cuidado.

Artemis juntou as sobrancelhas, confusa. Surpresa? Estava estarrecida.

– Como não estaria?

Apolo riu baixo, sua cabeça se abaixando um pouquinho. A cena já estava se tornando familiar para Artemis, quem sabe um dia ela não saberia de cor todas as suas pequenas manias?

– Não devo ter te dado dicas o bastante, então – ele murmurou. – Achei que estivesse sendo bem óbvio.

Artemis se lembrou de todos os sorrisos discretos, todos os gestos sutis, todas as palavras bem-colocadas desde o princípio. Aquele era o jeito de Apolo de impressionar alguém, de tentar encantar uma garota? Havia funcionado tão bem que ela mal havia percebido. Encolheu os dedos, apertando seus ombros de leve.

– Não foi – respondeu, fazendo com que Apolo erguesse os olhos para ela. – Teria sido um trabalho malfeito se houvesse ficado óbvio.

Aquilo fez o garoto sorrir, mas não saiu palavra alguma dos lábios dele. Isso deu a Artemis a nítida a impressão de que era ela suposta a dizer alguma coisa, talvez responder à sua (quase?) declaração. Mas como?

Estivera adiando, toda noite, a conversa que sua consciência pedia para ter. Não havia entendido por completo como se sentia em relação a ele, e talvez não pretendesse fazer aquilo nunca – mas como lhe explicar isso sem falar em covardia?

Desfaria o sorriso de Apolo em um segundo. Ele ainda estava ali, escondido no canto dos lábios do garoto, adorável em sua discrição. Artemis mordeu a parte interna da bochecha, se sentindo tão pequena quanto uma criança. Pôs-se na ponta dos pés, um hábito que lhe vinha fácil, e fechou os olhos ao beijar-lhe os lábios.

O aperto em sua cintura ficou um pouco mais forte, e ela pôde senti-lo sorrir ao beijá-la de volta. Bom. Que Apolo lesse aquela resposta como quisesse, tirasse dela o sim e o eu também que preferisse; Artemis não lhe diria nada tão cedo.

Quando se separaram, tudo o que ela queria era esconder o rosto na curva do seu pescoço, mas o olhar do garoto não permitiu. Ainda vermelha, ainda embaraçada, Artemis esperou que ele terminasse de analisá-la, aliviada ao ver o ar de satisfação silenciosa voltar à sua expressão.

– Você deveria me abraçar mais vezes. – Foi esse o comentário tranquilo de Apolo, suas mãos ao redor da cintura dela sendo toda a segurança do mundo. – É confortável.

Ele definitivamente havia entendido o beijo como uma declaração recíproca, a julgar pelo mal disfarçado bom-humor. Deus. Artemis lidaria com aquilo outra hora. (Quando se tornara tão irresponsável, tão descuidada?)

– Se você estiver molhado assim todas as vezes, acabarei com uma gripe horrível.

– A sua falta de graciosidade às vezes é impressionante, ainda mais para uma bailarina.

– Isso é um estereótipo – Artemis apontou, se sentindo um pouco mais leve ao voltar à normalidade. – Apenas eu posso acreditar neles.

– E também só você pode falar mal do Gabriel – Apolo completou. – Estou começando a me sentir desprivilegiado nessa relação.

– Você pode me beijar – Artemis argumentou, subitamente divertida. – Como isso não seria um privilégio?

– Não faço ideia – Apolo sorriu de volta, mas não se inclinou para fazê-lo. Infelizmente, ele era mesmo bom demais em deixá-la com vontade. – Ainda tenho planos para o resto da noite – suspirou –, queria que a energia voltasse logo.

Naquelas coincidências absurdas da vida, as luzes do observatório se acenderam de imediato, e Artemis afastou-se do garoto, cobrindo os olhos com as mãos. Não sabia o que era pior, seus olhos ardendo ou a falta dele tão perto.

– Seu bruxo – resmungou, incomodada pela claridade invasiva.

– São os meus poderes se manifestando – Apolo lhe explicou, seus olhos castanhos piscando apenas uma ou duas vezes diante do clarão súbito. – Eu não iria te contar tão cedo, mas o que você diria se soubesse que os deuses gregos continuam vivos?

Artemis teve que olhar para o teto, exasperada.

– Isso parece o enredo de um livro ruim.

– São bons – Apolo comentou, a surpreendendo.

– Tem mesmo livros sobre isso?

– Claro – Apolo olhou ao seu redor, distraidamente tomando nota do observatório visível em toda a sua glória. – Olha, a gente pode ficar aqui, se você quiser, mas não vai dar para ver muita coisa com essa chuva, e corre o risco de a energia cair de novo. – Com as mãos nos bolsos, virou-se para Artemis, parecendo esperançoso. – Ou a gente pode ir embora e continuar com os meus planos.

Artemis levantou uma sobrancelha.

– Se eles te deixam tão animado, talvez eu devesse ter medo.

– Talvez – Apolo concordou, e Artemis inquietou-se só um pouquinho.

– Podemos voltar outro dia, não podemos? – teve que garantir. – Em uma noite clara, para eu te mostrar tudo o que sei. O que pode levar várias noites – acrescentou, com um sorriso.

Tirando o cartão de acesso do bolso, Apolo sorriu de volta.

– A sua arrogância fica charmosa com o tempo – murmurou, fazendo seu caminho até a leitora magnética.

Artemis não soube o que fazer daquilo, e inclinou a cabeça para o lado, o seguindo com cuidado.

– Você é sempre muito indulgente comigo.

– Eu sei – Apolo assentiu, liberando o acesso e lhe dando espaço para que ela saísse primeiro. – Lidar com pessoas difíceis é uma especialidade minha.

Passando por ele, Artemis ergueu os olhos para encará-lo, tomada por ceticismo.

– E o que você ganha com isso?

Apolo encolheu os ombros, parecendo modesto, talvez como se escondesse algo.

– Nada. Mas eu me divirto.

Artemis não acreditou nem por um segundo, mas teve a sensação de que a verdadeira resposta teria lhe desconcertado.

{...}

Apolo devia ter dado um jeito de secar os bancos do conversível, porque, quando Artemis se sentou, eles estavam apenas só um pouco úmidos (talvez fosse para isso a flanela no porta-luvas?). O teto já estava sobre eles, e, enquanto o loiro dava a volta para entrar, a garota deu uma olhada disfarçada para trás. O banco traseiro estava limpo e arrumado como o resto do carro, impecável à exceção da mochila de Artemis e de uma mala de viagem cinzenta sobre ele.

– Você vai viajar? – perguntou, assim que Apolo abriu a porta e se sentou.

O garoto parou a meio caminho de colocar o cinto de segurança.

– Não – respondeu, confuso. – Por quê?

Artemis relanceou um olhar para o banco de trás.

– Porque tem uma mala ali.

– Ah – Apolo fez, balançando a cabeça e terminando de colocar o cinto. Ajustou o retrovisor e ligou o carro, tranquilo sob seu olhar inquisitivo. – A mala não é minha.

Artemis conteve a vontade de perguntar de quem seria, a memória de quando não teria se importado agridoce. Quando saíram do estacionamento, a chuva bateu com força contra o vidro do carro, implacável, e Artemis se viu tomada pela lembrança de, quando criança, encostar os dedos no vidro e traçar o caminho das gotas.

Haveria criança que não amasse chuva?

– Você não tem nada para amanhã, tem? – Apolo tornou a falar, casualmente.

– Amanhã é domingo – Artemis respondeu, balançando a cabeça. – Eu treino às vezes, mas não nesse. Me sobrecarreguei demais ontem, meus pés estão destruídos. Nem deveria ter ido ensaiar hoje cedo – abaixou o olhar para os pés, feliz que as sapatilhas os escondessem.

Apolo ficou um tempo em silêncio, mas, quando voltou a falar, seu tom era curioso.

– Sabe, considerando que você é meio paranoica, eu achei que fosse descobrir tudo assim que eu chegasse atrasado hoje. Não tem mesmo nem ideia de para onde estamos indo? – perguntou a ela, parecendo estar se divertindo.

Aquilo fez Artemis estreitar os olhos. Teria sido alarmante se houvesse alguma chance daquela mala ser dela, mas Apolo nunca conseguiria fazer algo assim. As chaves de seu quarto ficavam junto com as chaves da Academia, e Artemis sempre as carregava--

– Anna – se lembrou, seu estômago se contraindo. A loira trancara a porta dos fundos por dentro, ficando com as chaves. Como não percebera aquilo antes?

– Eu não tive tempo de ouvi-la dizendo como conseguiu as chaves – Apolo lhe explicou, feliz que Artemis houvesse entendido. – Mas ela e o Gabriel foram bem rápidos em juntar as suas coisas. A mala é dele, eu acho. Jogou pela janela para mim.

Artemis se virou para ele, horrorizada.

– Você sabe que isso é formação de quadrilha, não sabe?

Apolo riu, virando com facilidade para entrar em um bairro residencial pelo qual definitivamente não haviam passado antes.

– Tudo por uma boa causa. O tempo que temos juntos é limitado – explicou, como se Artemis nem estivesse em estado de choque. – Precisamos aproveitá-lo ao máximo.

– Não, não precisamos – ela discordou, em tom de urgência. – Não assim.

– Eu sabia que você não iria concordar se eu fizesse um convite formal – Apolo suspirou. – Pode chamar de sequestro, eu gosto dessa palavra.

Artemis estava prestes a respondê-lo quando, sem aviso, o garoto reduziu e virou para entrar em uma garagem.

Garagem de uma casa, que fique bem claro. O clássico sonho americano, com uma cerca baixa próxima da calçada, caixa de correio, árvore com balanço e janelas proeminentes e largas – tudo isso sendo atacado furiosamente pela tempestade, o balanço voando alto no ar.

– Me trouxe à sua casa – ela teve que dizer, abismada. – Aproveitou que seus pais iriam viajar e me trouxe para a sua casa? Eles aos menos sabem disso?

– Não teria graça se eles soubessem – Apolo disse, como se ela fosse louca por sugerir algo assim. – As luzes estão acesas porque imaginei que fôssemos voltar à noite, Zoe também está fora. – Sorriu. – Você vai adorar.

– Quero ir embora.

Os dois estavam na garagem coberta, uma bicicleta apoiada na parede, uma estante cheia de ferramentas. Artemis definitivamente podia ver Apolo cuidando do seu precioso conversível ali em um dia de Sol, música tocando de algum lugar.

O barulho da chuva batendo no teto era o contraste perfeito, e a pouca luz vinha da varanda poucos metros distante ao seu lado.

– Eu não vou te obrigar a ficar – Apolo disse, em um tom surpreendentemente suave. Artemis estava a ponto de se render quando percebeu que era o seu tom mais maduro, mais baixo e mais persuasivo: exatamente aquele que ele usava quando queria convencê-la a fazer alguma coisa. Deus, funcionava tão bem. – Mas tem pizza na geladeira, e você nem precisa arrumar a sua cama amanhã de manhã.

Como Artemis poderia dizer não?

– Você faz o café da manhã para mim?

Com uma mão ainda apoiada no volante, Apolo sorriu.

– Só se você dormir comigo.

Artemis encolheu os ombros.

– O café da Academia é ótimo.

O garoto gargalhou, dando a discussão por vencida e abrindo a porta para sair.

– Não, não é!

Artemis o seguiu para fora, construindo em sua mente todos os argumentos que pudessem justificar sua permanência ali. Sua consciência não lhe daria paz à noite, bem sabia, mas o que era a vida sem um pequeno risco?

A realização do que acabara de pensar fez com que ela parasse onde estava, a mão apoiada na porta que havia acabado de fechar, os olhos arregalados. Desde quando acreditava em coisas como aquela?

– Você vem?

Artemis se virou, percebendo que Apolo tinha pegado sua mala e já estava pronto para subir para a varanda.

– Claro – se ouviu dizer. – Só vou pegar minha mochila. – Abriu a porta do banco de trás e a pegou, fechando a porta com cuidado. – Meu celular está aqui – explicou a Apolo, seguindo até onde ele estava. – Chamarei a polícia caso você tente entrar no meu quarto.

– Eu ligaria para os bombeiros, se fosse você – o garoto aconselhou, antes de se virar e começar a andar com toda a tranquilidade do mundo. – A polícia daqui é péssima.

– Obrigada pelo conselho.

Apolo pegou as chaves do bolso e as jogou para cima, subindo as escadinhas para a varanda. Estava frio do lado de fora, o vento borrifando água por todo lado, mas Artemis tinha a nítida impressão de que a casa estaria confortável.

Observando o garoto abrir a porta, contudo, teve a impressão de que, talvez, sua opinião fosse um pouquinho parcial. Mas, conhecendo Apolo, quem poderia culpá-la?

{...}


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Notas finais do capítulo

Gabriel, Apolo e Anna se unindo para o mal. Tenham medo.