O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 4
Capítulo Quatro




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Quatro

Algumas horas mais tarde, quando Artemis desceu do quarto para a sala, encontrou Isabella pintando as unhas – de novo. O que era um azul brilhante estava sendo habilmente substituído por um roxo assustadoramente forte, e Artemis se lembrou do cor-de-rosa com estampa de oncinhas da manhã.

– Eu decidi trocar – Bella disse, como se soubesse o que a outra estava pensando. – Porque mudei de ideia. Não vou de amarelo mais, vou de azul.

– Alguma possibilidade de eu não ter que ir à festa? – Artemis perguntou, sentando-se na poltrona.

– Zero. Você sabe que os professores esperam que nós sejamos educados com o pessoal da Berklee. Eles estão sendo muito gentis.

– Gentis. – Artemis suspirou, mas logo já tinha as sobrancelhas juntas em desconfiança diante da expressão divertida de Isabella. – O que foi?

– Nada – Bella respondeu, com fingido pouco caso, levantando a mão para admirar o efeito do esmalte contra a luz. – Eu só estava curiosa para ver como você vai interagir com Apolo depois do fiasco entre vocês dois mais cedo.

– Não foi nada tão intenso assim – Artemis resmungou. – E por que eu precisaria interagir com ele?

– Por que não? Vai evitá-lo, agora? – Isabella tinha um sorriso todo feminino e malvado no rosto, o tipo de coisa que sempre afastara Artemis de outras garotas.

– Farei como bem entender – respondeu, cruzando as pernas. – Alguém tem de ser racional e cobrar deles o máximo possível que puderem dar, o que, provavelmente, nem é muita coisa. Uma só Lily puxa-saco já basta – acrescentou, sem querer, mas Isabella não pareceu se importar muito.

– Ouvi meu nome?

Como aquela mulher conseguia aparecer em todo canto? Ela não deveria estar organizando a tal festa? E ainda trazia Gabriel a tiracolo, os dois se sentando nos banquinhos altos da cozinha com os rostos vermelhos, como se houvessem acabado de dar uma gargalhada.

– Artemis está planejando como evitar que Apolo seja simpático com ela de novo – Isabella explicou, fazendo a ruiva revirar os olhos e Gabriel (em uma atitude muito Gabriel) correr para se espremer na poltrona ao seu lado.

Que, é claro, fora feita para uma pessoa só.

– O meu namorado está interessado em você? – ele perguntou, de olhos arregalados.

– Apolo não é o seu namorado – Artemis disse, afastando-se o máximo que podia (não muito), perguntando-se agora o que faria com a informação de que ele tinha uma pintinha pequena na bochecha esquerda.

– Não é ainda.

– Gabriel, amor, ele não pode ser seu namorado – Isabella comentou, alegremente.

– Por que não?

– Porque você é você – a garota respondeu, como se fosse óbvio, fazendo Artemis dar uma risadinha, já que era exatamente o que ela havia pensado.

Bella – Lily a repreendeu, mas estava sorrindo (é claro que estava). – Como você poderia namorar um cara hétero? – perguntou, virando-se para Gabriel. – Sem falar que ele está evidentemente encantado pela Artemis, por motivos que todos nós desconhecemos.

Artemis detectou um pouco de inveja, mas não comentou, ocupada demais em se espremer contra o braço da poltrona, tentando pôr o máximo de espaço possível entre ela e Gabriel.

– Mas o que você tem que eu não tenho? – o garoto perguntou, de forma calculada e teatral, estreitando os olhos castanhos para Artemis. – Peitos?

– É essa a sua ideia do que é ser uma mulher? Ter seios?

– Vagina? – Gabriel continuou, então, inabalável. – Olhos azuis? Lente eu até uso, mas não vou usar silicone, não.

– Com ou sem silicone, Apolo não vai te querer – Artemis o informou, depreciativa. – Assim como qualquer outra pessoa. Agora saia daqui, você está me apertando.

– Calor humano – e Gabriel passou um braço ao redor de seus ombros, fazendo Artemis comprimir os lábios. – Mas sério, Artie. Por que você? Você é tão chata.

Isabella deu uma risadinha, e Artemis perguntou-se de onde todo mundo havia tirado a ideia de que Apolo estava, de fato, interessado nela.

– Não cabe a nós julgar, Gabriel, gosto é gosto – Lily comentou, embora soasse satisfeita com a crítica. – A verdade é que Apolo não tirou os olhos dela durante toda a reunião.

– Achei que ele estivesse olhando para mim! – Gabriel se defendeu, escandalizado.

– Ele não estava olhando para você – Lily o contradisse, com forçada paciência. – É que você estava no caminho. Apolo ficou encarando Artemis quase todo o tempo – explicou para Isabella, antes de se virar para Artemis. – Não sei como você não comentou nada, com essa língua abençoada que tem.

– Honestamente, eu não reparei – Artemis mentiu. – Tinha mais o que fazer do que prestar atenção nele, como, por exemplo, tentar entender como uma diretora competente pôde ter contratado estudantes amadores de música para um show importante – sugeriu, mas é claro que os seus colegas não pareceram minimamente preocupados com a apresentação.

– Artemis, símbolo da mulher independente do século XXI – Gabriel a abraçou um pouco mais forte, a falta de espaço pessoal incomodando Artemis ainda mais. – Também conhecida como vadia má. – Ele deu um jeito de apoiar o queixo em seu ombro, a olhando de muito perto.

– Você é adorável.

– Eu sei, e gostoso também – ele sorriu. – Falando nisso, e o professor? – se afastou um pouco, só para que pudesse olhar para Lily. – Já que os loiros preferem as ruivas, eu vou ter que arrumar outra pessoa, né?

– E você vem me chamar de vadia? – Artemis não pôde evitar exclamar. – Gabriel, aquele homem tem idade para ser seu pai.

– E com toda certeza não é gay – Lily acrescentou.

– E mesmo que fosse – Artemis revirou os olhos. – Ele não vai se interessar por uma criança.

– Criança? – Gabriel repetiu, soando indignado. – Eu sou muito mais homem do que você!

– É, porque você tem um pênis – Artemis apontou. – Que tipo de argumento é esse?

Gabriel pareceu confuso, como se não entendesse o que havia dado errado.

– Funciona com o Andrew.

– Gabriel, quanto mais você puder me poupar dos detalhes da sua vida sexual ou da sua anatomia, eu agradeceria.

– Mas daí eu vou falar sobre o quê? E, infelizmente, o Andrew ainda não é parte da minha vida sexual. Você acha que eu tenho chance? – perguntou, subitamente animado.

Artemis foi salva de responder por Isabella, que deu uma risadinha.

– Gabriel, não assuste a garota. Vamos mudar de assunto, me contem como foi organizar a festa. Eu queria ter ido, mas as minhas unhas são prioridade.

– Foi bem divertido, e acho que ficou legal – Lily respondeu, pensativa. – Viemos mais cedo porque a Kate se atrasou para chegar, então ela e a Jude ficaram de terminar sozinhas.

– Apolo ainda está lá? – Isabella perguntou, encarando Artemis de forma muito óbvia. A ruiva a ignorou, cutucando Gabriel nas costelas para que saísse de sua poltrona. (O que não funcionou, é claro que não.)

– Não, ele saiu junto com a gente. Sério, Artemis, você pode dizer o que quiser, mas Apolo é uma ótima pessoa. – E Lily soou não só enlevada, mas também satisfeita por ter comprovado um argumento contra Artemis. – Mesmo quando o celular do Gabriel tocou... – Isabella deu uma gargalhada, gritando "oh, não!" e Lily se apressou a explicar para Artemis. – É It’s raining men, aquela música ridícula... Apolo riu tanto que ficou vermelho, foi encantador.

Artemis estava prestes a perguntar o que tinha de encantador em um guitarrista vermelho de rir quando Gabriel se adiantou, soando decepcionado.

– Achei que esse houvesse sido um momento só nosso.

– Gabriel, Apolo é tão obviamente hétero que eu não sei como o seu gaydar pôde ter falhado dessa maneira – Lily o informou, muito séria. – Sinto muito, mas ele não está ao seu alcance.

– Mas ele é tão gostoso – Gabriel pareceu desolado. – Eu daria para ele em qualquer lugar. – E então se virou para Artemis, obviamente decidido a aterrorizá-la. – Eu sairia arrastando um colchão atrás de mim, pronto em qualquer situação.

– É claro que sim – Artemis se levantou, indiferente, decidida a não lhe dar o gostinho de saber o quanto ela havia ficado enjoada. – Como eu não tenho escolha, vou subir e me arrumar para ir a essa festa.

– Isso, vai ficar bem linda para Apolokins – Gabriel incentivou, usando mais um de seus apelidos horrendos e tentando chutar a bunda de Artemis enquanto ela se afastava. – Quem sabe depois de um tempo você não conversa com ele sobre um encontro comigo? – Sugeriu, fazendo Artemis se virar para ele, incrédula. Gabriel apenas deu de ombros. – Não precisa ser essa noite, amanhã está bom para mim, sei lá, quando for melhor para ele.

Artemis revirou os olhos, já nos primeiros degraus da escada.

– Se serve de consolo, Gabriel, eu preferiria que Apolo fosse gay – resmungou, mas alto o bastante para ser audível. – Você ficaria com ele e eu me livraria desse problema.

Gabriel riu, deliciado, mas Isabella deu um gritinho indignado.

– Seria um pecado! – ela exclamou, e, mesmo de costas, Artemis imaginou Lily assentindo em uma confirmação silenciosa. – Todas as garotas do mundo chorariam!

Ela dizia aquilo pensando em seu bronzeado bonito, em seu rosto bem-feito. Mas Artemis lembrava-se mais de seus olhos, de seu sorriso agradável. Recordou sua voz, seu embaraço mal disfarçado após ter feito aquela gracinha rude. Suspirou baixinho, e ninguém ouviu.

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Notas finais do capítulo

FELIZ ANO NOVO, MEUS AMORES *––––––––––*



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