O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 33
Capítulo Trinta e Três




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Trinta e Três

Por que foi mesmo que eu achei que isso seria fácil?

Gabriel estava sentado de pernas cruzadas em sua cama, parecendo ansioso, usando um gorro do Finn de Adventure Time, e Artemis não conseguia imaginar outro cenário que pudesse ser tão assustador. (Aquele gorro sendo parte do motivo de terror. Alguém deveria limitar o acesso do garoto ao eBay, honestamente.)

Artemis suspirou, procurando pelas palavras certas.

– É algo muito sério – começou, em tom cauteloso.

Gabriel a olhou com cara de tédio.

– Você já disse isso cinco vezes. Dá para contar logo o que foi?

– O Andrew não pode saber – ela continuou, o ignorando. – Nem a Isabella, ou o Michael. Absolutamente ninguém mais. Eu estou contando apenas para você.

Talvez ela já houvesse dito aquilo antes, porque Gabriel não pareceu impressionado.

– Eu sei que sou muito importante. Podemos seguir em frente?

Correndo uma mão pelo cabelo, Artemis tomou consciência do que estava prestes a fazer.

Estou namorando um garoto escondido, meu Deus. E ainda falando disso com outras pessoas. Qual o nível de estupidez disso tudo? Eu não era assim...

– Artemis, se esse foi um pretexto para me trazer para a sua cama, você poderia se esforçar para pelo menos ser mais convincente.

Artemis gemeu, pegando o travesseiro mais próximo e afundando o rosto nele.

Eu não consigo fazer isso. Estou fazendo tudo errado. Toda a minha vida vai começar a dar errado. Essa foi a pior decisão que eu já tomei.

– Em nome de Deus – Gabriel voltou a falar, em tom histérico, arrancando o travesseiro de suas mãos – não me diga que você está grávida!

– O quê?! – Artemis exclamou, chocada.

O garoto deu um suspiro dramático de alívio.

– Acho que isso é um não. Por mais que eu queira Appirtie – explicou a uma Artemis chocada – é melhor deixar para depois da apresentação mesmo. Crianças têm que ser planejadas, aquela coisa toda.

Pelo visto, estavam entrando no território maluco da mente de Gabriel cedo demais. Toda a cautela era necessária, e Artemis voltou a falar em um tom hesitante, deixando parte do desespero de lado.

– Appirtie?

– Lembra do segundo filho de vocês? – o garoto perguntou de volta, animado. Yeap. Definitivamente território maluco. – Eu já escolhi o nome. Ou filha, tanto faz. Acho que o nome dá para os dois, não é? David vai me ajudar a criá-la. Ou criá-lo. Argh, pronomes são tão confusos – Gabriel gesticulou, entediado.

Artemis levantou uma sobrancelha, se recusando a acreditar.

– David chegou a concordar com isso?

– Ainda não, mas é só uma questão de tempo – Gabriel apoiou o queixo no travesseiro. – Tenho certeza de que os olhinhos azuis de Appirtie ajudarão a amolecer o coração dele, se as minhas covinhas não forem suficientes.

Artemis o encarou, perguntando-se quando que sua vida havia tomado aquele rumo tão sem sentido.

– Você não iria me dizer alguma coisa importante? – Gabriel tornou a falar, fazendo um biquinho. – Porque, sério, se foi só para me trazer para a sua cama, preciso deixar avisado que tenho sérios problemas em conseguir uma ereção com garotas.

Talvez Apolo nem fosse o maior problema da sua vida, Artemis considerou. Gabriel certamente estava lutando de forma ávida pelo posto.

– Eu já deixei claro que não é para contar para ninguém, não deixei?

– Ah, só umas sete vezes. Eu posso ter me esquecido. Não quer repetir?

Artemis endureceu o olhar, mas Gabriel sorriu só para mostrar suas covinhas. A garota acabou desviando os olhos, frustrada.

– Eu e Apolo estamos namorando – se ouviu dizer, erguendo relutantemente os olhos para o garoto.

Talvez o maxilar de Gabriel se soltasse do resto de seu crânio e caísse em seu colo; a situação seria cômica se não fosse tão trágica.

– Vocês o quê?! – ele exclamou, chocado. – Como assim você está namorando o meu namorado?! – como uma voz de menino poderia atingir aquele tom tão agudo? – E desde quando isso está acontecendo?! Ai, meu Deus, Artie, eu sou o último a saber? – perguntou, horrorizado. – Me diz que não! Não posso ser o último! Eu não significo nada para você?

Deus, Gabriel era simplesmente ridículo.

– Você é um dos poucos a saber – Artemis o corrigiu. – E pare com esse amor pelo Apolo, achei que estivesse sério sobre o David.

– Eu nunca estou sério sobre ninguém – Gabriel replicou, com um sorriso, voltando a um tom humano de voz. – Por mais que o David seja promissor. E bastante gostoso, é claro, viu que ele tem feito a barba? Ainda não decidi como o prefiro, mas é empolgante pensar que talvez esteja se arrumando por mim.

– As possibilidades disso ser por você são nulas. Chama-se higiene pessoal – Artemis o informou, exasperada com o absurdo. Às vezes, se sentia como Alice quando a garota tentava fazer os personagens do País das Maravilhas fazerem sentido. – E pare de usar a palavra gostoso para o David, nada que você diga vai me fazer ver aquele homem desse jeito.

– Não ligo, é bom que sobra mais David para mim.

– Ele não te quer, para começo de conversa – Artemis prazerosamente apontou.

– Você também não queria o Apolo, e olha a que ponto chegamos – Gabriel argumentou, feliz. – Imagine a cara que a Lily faria se soubesse! – comentou, animado. – Nossa, a Isabella vai surtar! O Andrew... – Ele se calou diante do olhar de Artemis, chegando a assumir um ar embaraçado. – Desculpa. Ninguém vai saber. Eu sei. Eu sei. Prometo. Mil desculpas. Ainda me ama?

– Eu odeio você – Artemis resmungou, antes de suspirar. – Falei sério. Não conte a ninguém.

– Mas por quê? – Gabriel fez biquinho. – Com medo das Apoletes te perseguirem?

– Elas realmente existem?

– Talvez sejam lenda urbana – Gabriel deu de ombros, mas com ar de conspiração. – Nossa, todo mundo iria morrer de inveja de você. E dele, também. Para quem não te conhece, você até parece interessante – explicou, fazendo a garota revirar os olhos.

– Se limite a só não contar para ninguém. Não é da sua conta o porquê.

– Está vendo? – Gabriel apontou um dedo para ela. – É disso que eu estou falando. As pessoas olham e pensam, wow, que garota linda, daí você abre a boca e BOOM! – ele gesticulou uma explosão. – O nível de arrogância na sala estoura as vidraças.

Artemis dobrou os joelhos e apoiou o queixo neles.

– Estou tão, mas tão preocupada com a opinião das outras pessoas – comentou, entediada. – É de tirar o meu sono à noite.

– E com a minha? – Gabriel pareceu interessado. – Você se importa com o que eu penso?

– Bom – Artemis considerou. – Como a sua mente parece um conglomerado de David, açúcar e musicais irritantes, não, não realmente me importo.

– Eu imaginei – Gabriel suspirou, dramático, caindo de lado na cama de Artemis. – Você está namorando escondido, então? Tsc – estalou a língua, deliciado. – Quem diria... – ele fez uma pausa, parecendo ter se lembrado de algo. – Quem mais está sabendo?

– Apolo disse que iria contar para a Anna – Artemis o respondeu, só um pouco incomodada. Qualquer coisa na loira ainda a perturbava. – Parece que já contou alguma coisa para o David, mas provavelmente vai dar mais detalhes.

Gabriel se sentou de novo, de queixo caído.

– E você ainda joga isso na minha cara? – perguntou, mortificado. – Ontem era o travesseiro, agora, a verdade horrenda. O que você quer, me matar? Por que o David sabe e eu não? Apolo gosta mais do David do que você gosta de mim, como assim? COMO ASSIM, ARTEMIS? – gritou, erguendo as mãos, alto o bastante para que todo o dormitório ouvisse.

A garota revirou os olhos.

– Eu não vou te levar a sério.

Gabriel bufou.

– Não me esquecerei dessa traição – avisou.

– Suponho que não.

Pelos próximos segundos, Gabriel permaneceu parado, a observando em silêncio, uma expressão de curiosidade no rosto. (Era meio desconcertante, já que uma atitude não-hiperativa ou irritante era totalmente o oposto do comportamento natural do garoto.)

– O que foi que aconteceu? – ele finalmente perguntou. – Vocês nem saíram tantas vezes assim.

– Eu não sei – Artemis encolheu os ombros. – Só fiquei surpresa... eu acho. Surpreendida? – Se corrigiu, porque, de alguma forma, parecia haver uma diferença. – Ele é completamente imprevisível, não fazia ideia de que tocasse piano... – parou, sem saber como continuar. Não era boa em responder rápido a perguntas difíceis. – Apolo não é quase nada do que eu pensei que fosse, e isso que eu nem gastei muito tempo pensando nele.

– Então Apolo é ainda mais perfeito do que parece? – Gabriel perguntou, chocado. – Você se importa de dividir?

– Não seja idiota. E Apolo não parece perfeito – Artemis o corrigiu, insatisfeita com o mal-entendido. – Na verdade, ele tende a mostrar seu pior lado no dia a dia.

– Artemis, só você tem problema com um loiro gostoso que toca guitarra e é a coisa mais sexy em cima de um palco.

Artemis não se surpreendeu por Gabriel não ter entendido.

– Se eu estivesse no lugar dele, me concentraria em ser um pianista brilhante. Não em ficar me exibindo em um conversível vermelho, tocando guitarra em festivais por aí e aproveitando uma fama vulgar.

– Resumindo, no lugar dele, você seria um bastardo arrogante – Gabriel opinou. – Como o Joffrey de Game of Thrones. Nossa, todo mundo te odiaria. Bom, meio que todo mundo já te odeia. Menos eu – se apressou a dizer. – Te acho fofinha.

Artemis ignorou todos os comentários pessoais.

– Joffrey de onde?

– Você não sabe nem ligar a televisão, não é? – Gabriel se lamentou. – É uma série ótima, a gente totalmente tem que fazer uma maratona um dia. De preferência com o David, porque tem muito pornô envolvido.

– Não consigo pensar em algo menos saudável do que assistir a cenas de sexo com você – Artemis foi sincera. – E tenho certeza de que David concorda comigo.

Aquilo fez Gabriel franzir a testa.

– É engraçado. Vocês são parecidos às vezes.

– Só para constar, não é gentil comparar uma garota a um homem insuportável de quarenta anos.

– Trinta e seis – Gabriel a corrigiu, como se fosse importante.

Artemis revirou os olhos, decidindo que já havia tido sua cota diária de Gabriel.

– Era só isso que eu queria te contar, pode ir para o seu quarto agora.

Infelizmente, o garoto riu na cara do perigo.

– Sem chance. Vamos aproveitar essa noite para fortalecer nossos laços de amizade, que tal?

Artemis encarou aquele sorriso de dez mil volts, respirando fundo.

– Por que eu tenho a sensação de que, em algum momento, vou querer te enforcar com esse laço de amizade?

– Porque você tem tendências violentas. E nah, você vai adorar. Vou até te fazer bolo de caneca – prometeu, se levantando da cama. – E então podemos fazer maratona de uma série legal, tipo Sherlock. O David também assiste.

Artemis bufou.

– E desde quando ele é referência para alguma coisa?

Gabriel ergueu um dedo para ela, seriíssimo.

– Não fale mal do meu namorado.

– Há dois minutos seu namorado era Apolo.

– O que eu posso fazer se você o roubou de mim? – Gabriel suspirou de forma trágica, fazendo seu caminho até a porta. Testou a maçaneta, e então olhou para Artemis por cima do ombro. – Você não trocou a fechadura, trocou?

– Troquei. Mas não se preocupe, não vou te trancar para fora.

– Ha! – Gabriel exclamou, satisfeito. – Eu sabia.

Artemis suspirou, se conformando com a própria tragédia.

– Vai dizer que eu te amo, não vai? E que Apolo é só para te esquecer... alguma idiotice do gênero.

– Own, logo estaremos completando as frases um do outro!

Artemis ergueu os olhos para o teto, mas estava sorrindo.

{...}


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Notas finais do capítulo

Para todos vocês que já me perguntaram como eu imaginava o Apolo, acho que talvez eu tenha encontrado uma resposta aceitável: http://alicexz.deviantart.com/art/Finnick-312802965. É uma fanart suposta a retratar o Finnick de THG, feita por uma das minhas artistas preferidas. Ainda não é cem por cento o Apolo da minha mente, mas já dá uma boa ideia. Tem uma foto do Alex Pettyfer que é perfeita, também, mas não a encontrei aqui. Enfim. O que acham?
Beijinhos.