O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 3
Capítulo Três




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Três

Artemis andou até a sala de reuniões com seu gato no colo. Moony era extremamente gordo e peludo, cinzento de olhos claros. Ela o tinha fazia quase seis anos, e não cogitara se separar dele nem mesmo quando aceitara passar aquele semestre em Boston.

“Se é o caso”, a diretora Lee havia lhe dito, “só assuma a responsabilidade pelos danos que ele causar.”

Mas não havia dano algum, porque Moony havia sido extremamente bem-educado. Usava sua caixinha de areia, não afiava as garras nas cortinas e tinha preguiça de ir de um andar a outro. Em verdade, apenas dormia quase o dia inteiro, recebendo carinhos ocasionais de alunos que por ele passassem.

Artemis o deixou no chão, acariciando seu pescoço, antes de limpar as mãos uma na outra e abrir a porta. Aparentemente era a última a chegar. Ao redor da mesa estavam as professoras que já conhecia, Lily e Gabriel, e também, infelizmente, Apolo e o professor estranho, mais um homem que ela não conhecia.

Todos se viraram para olhá-la. Artemis sabia que não estava atrasada, estavam a olhando apenas porque era isso que sempre acontecia. Ela suspeitava que fosse seu cabelo, um tom muito avermelhado de ruivo, comprido e sempre preso em uma traça ou em um rabo de cavalo. Sustentou seus olhares e, com um inclinar de cabeça na direção da diretora, adiantou-se e sentou-se no seu lugar.

– Espero que os dormitórios estejam confortáveis – começou a diretora, gentilmente. Tinha traços orientais e delicados, o cabelo escuro, preso num coque firme, já começando a embranquecer. – Está faltando alguma coisa?

– Não, senhora – o professor (como era mesmo seu sobrenome, Chamberlain?) respondeu, educadamente resignado. – Tudo absolutamente perfeito.

– Fico feliz. Caso haja qualquer problema, sintam-se à vontade para vir falar comigo ou com os monitores. – A diretora empurrou os óculos de armação fina para cima do nariz e se virou para o homem desconhecido, assumindo um tom profissional. – Bom, para começarmos, primeiro as apresentações. Diretor Howard, esses são Lily Macey, Artemis Lancaster e Gabriel Walden, todos eles alunos veteranos que participarão na apresentação. Lily e Gabriel estão conosco há anos, e Artemis veio recentemente da Royal Academy de Nova York – explicou, de forma rápida, mas orgulhosa. – Essas são as professoras Victoria Romanoff e Anna Collins, que sempre coordenaram o show.

– É um prazer – O diretor Howard disse, com voz de cantor de blues. Ele era negro e estava bem acima do peso, de forma que sua voz não foi uma completa surpresa. – Meu nome é Howard, e sou o diretor da Faculdade Berklee de Música. Esse, é claro, é Apolo Wright. Não temos monitores na Berklee, mas Apolo foi eleito para acompanhar as decisões no tocante à apresentação. – Havia tanto orgulho em sua voz como houvera no tom da diretora Lee, e Artemis não o compreendeu. Quando o homem voltou a falar, seu tom se tornou mais hesitante. – Como eu não vou poder acompanhá-los pessoalmente, convidei um grande amigo meu, um excelente violista, que terá o prazer de coordenar os ensaios e completar o quadro docente.

– É isso que te deixa dormir com a consciência tranquila, achar que eu vou ter prazer algum nisso? – o professor perguntou, parecendo achar graça. Quando virou-se para os bailarinos, abriu um sorriso que dizia se precisarem de ajuda, não me procurem. – David Chamberlain.

Seu inglês era bem pronunciado, mas havia um leve sotaque por baixo, curvando seus erres e mudando a cadência de suas palavras.

– Bom – Howard (ele havia chegado a dizer seu sobrenome?) continuou a falar, um pouco embaraçado.Fui informado de que não se trata apenas de ensaiar... vocês querem trabalhar com originais, é isso?

– Isso. – Foi a professora Victoria quem respondeu. Era uma ruiva de olhos ferozes, russa, que dançara por cinco anos no Bolshoi. Todos sussurravam que ela havia vindo para os Estados Unidos por culpa de um homem, mas ninguém sabia explicar quem era esse homem, de onde era ou o que realmente acontecera entre os dois. Mas ela ainda preservava um forte sotaque, e as rugas leves em seu rosto só a tornavam mais severa. – Usualmente apresentamos peças já consagradas, mas aconteceu de convidados importantes aceitarem o convite, e então decidimos por algo inovador.

– Mas a história não está pronta, está? – O diretor Howard juntou as sobrancelhas. – Eu não recebi nada.

– Não ainda.

– Nós gostaríamos de ouvir sugestões – Lily disparou, animada, em sua ânsia de ser uma Barbie.

– Mas não entendemos nada de balé – Apolo protestou, constatando o óbvio.

– Aceitaríamos apenas sugestões – a diretora Lee frisou. – Ou uma segunda opinião, por assim dizer.

– Bom, mas quando essa história ficará pronta? – Howard soou preocupado. – A composição pode levar tempo, não podemos nos atrasar muito.

Será que ele via aquilo como uma espécie de favor? Artemis o encarou, curiosa.

– Com a licença de vocês – o professor Chamberlain pediu, suave, já erguendo-se da cadeira. – Nada entendo de balé clássico. – Empurrou os óculos para cima do nariz, e, por algum motivo, seu olhar se demorou em Artemis por mais de dois segundos. Ele era realmente bonito. – Boa sorte.

– David – o diretor chamou, incomodado. – Eu sei que estar aqui não era exatamente o que você queria, mas...

– Não, não, era – o professor o interrompeu, balançando a cabeça. – Ocupar meus dias com adolescentes fazendo barulho. É exatamente tudo o que um amante de música clássica precisa, de verdade. Obrigado.

O diretor soltou um suspiro pesado.

– Preciso repetir para você suas próprias palavras quanto a sarcasmo?

– É a forma mais baixa de humor? – o professor conferiu. Sorriu de leve de novo. – Eu gosto. – Inclinou a cabeça para os demais. – Com licença.

(Olhando de soslaio para Gabriel, Artemis percebeu que o menino estava completamente encantado. Corações nos olhinhos e tudo. Era incrível como as coisas estavam seguindo num rumo absolutamente maluco, como se todo mundo houvesse pulado no buraco que levava ao País das Maravilhas.)

– Bom... – Apolo disse, incerto. – Ele não estava completamente errado. Não podemos ajudar com a história, imagino. Mas teremos de esperar muito tempo?

– Duas semanas – a diretora Lee sentenciou. – No máximo. E não se preocupe, Howard. Manteremos Chamberlain na linha.

– Eu agradeço – o diretor sorriu, com certo alívio, também se levantando. – Foi um prazer – acrescentou, virando-se para os bailarinos. – Não vou estar na cidade para assistir ao show, mas desejo boa sorte a vocês.

– Parece que vamos precisar – Artemis assentiu, repetindo o que havia dito ao professor. – Obrigada.

O diretor sorriu para ela como se aquilo fosse engraçado, e pegou seu chapéu do cabideiro enquanto se encaminhava para a saída.

– Acho melhor encerrarmos – Victoria sugeriu, desgostosa. – Ao menos já sabemos com o que estamos lidando. O objetivo é ter uma boa ideia, ou então nos ateremos a uma peça clássica – avisou, encarando seus alunos. – Pensem em alguma coisa.

– Sim, senhora – os três responderam, de prontidão, antes de se levantarem para sair.

{...}

– Vocês vão precisar de ajuda? – Apolo perguntou, os alcançando enquanto desciam o corredor.

O garoto havia se demorado um pouco antes de sair, provavelmente para falar algo com a diretora, e Artemis havia até se esquecido de que estava vindo atrás deles. Era mesmo lindo, tão lindo quanto Gabriel havia anunciado para Isabella.

– Sim! – o dito garoto concordou automaticamente, parecendo gravitar ao redor do loiro.

– Para a festa? – Lily perguntou. – Como você soube? Estávamos indo conferir tudo com a Catherine agora.

– Eu me encontrei com ela antes da reunião – Apolo contou, se aproximando para andar ao lado da garota, tão casual como se conhecesse Lily há anos. – Ela disse que ainda tinha umas caixas no empório.

– Vou precisar de ajuda para carregá-las – Gabriel avisou, irradiando ondas de segundas intenções.

Se fosse da natureza de Artemis, talvez ela até sentisse pena de Apolo.

– Estou voltando para o dormitório – avisou, sem olhar para ninguém em particular. – Tenho coisas mais importantes para fazer.

Alguém aqui tem uma apresentação importante para organizar.

{...}


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Notas finais do capítulo

Feliz Natal, meus amores! Que todos vocês recebam os presentes que pediram ao Papai Noel (caso recebam o Tom Hiddleston, favor encaminhar para mim – eles vivem o extraviando, e eu nunca o recebo!), comam todas as comidas gostosas do Natal e se divirtam mandando reviews para moi como uma boa ação natalina.
Beijos da Maeve :3
P.S.: Escrever Nova York é sempre um desafio para mim. Eu sei que o correto, em português certinho, é Nova Iorque, mas, gente, credo, que coisa ridícula '-' Vocês perdoam esse errinho básico e proposital em nome da boa estética, não é? Os olhinhos de vocês agradecem, tenho certeza.
P.S.S: A primeira versão desse capítulo estava tão, mas tão ruim. A do anterior, então, era um atentado à mente de vocês. Por favor, um minuto de silêncio em homenagem à Michele, que fez a caridade de ler aquelas coisas grotescas e de me incentivar a escrever mesmo assim. ~avião passa no céu com um cartaz bem grande de Team Michele~
P.S.S.S.: E, com esse capítulo, estou oficialmente testando o recurso de postagens programadas do Nyah. Câmbio, desliga.



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