O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 27
Capítulo Vinte e Sete




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Vinte e Sete

Na noite de domingo, Artemis estava na janela quando Apolo voltou. Não que ela estivesse olhando e esperando por ele, é claro. Fora uma mera coincidência estar sentada sobre o parapeito quando o familiar conversível vermelho passara pelos portões de ferro.

Afinal, estivera sentada ali fazia um tempo, abraçada aos próprios joelhos, olhando para os jardins e pensando. Na noite anterior, Gabriel havia feito pipoca doce, bolo de caneca e chocolate quente, e pelo menos quinze pessoas haviam sido convocadas para a sessão de Cantando na Chuva.

Havia sido até remotamente divertido, ela tinha que admitir. Anna havia se sentado ao seu lado, por motivos incompreensíveis, e fizera caretas épicas às cenas mais empolgadas de cantoria (pelo que entedera, a loira havia perdido a aposta justamente porque tentara ganhar uma discussão com Gabriel sobre o valor artístico de musicais. Pelo visto, nem toda a retórica da pequena sabe-tudo era párea para a paixão do garoto por aquele tipo de filme.)

Após o término da tortura, Anna ainda se demorou no dormitório, deleitando Gabriel com histórias de Apolo. Artemis ficara brincando com Moony em seu colo, fingindo não prestar atenção à conversa – mesmo tendo achado particularmente engraçado Apolo ter flagrado Anna tomando banho uma vez, quando os dois tinham sete anos, e ter passado um mês fugindo da garota depois.

(O que Gabriel chamava de prova irrefutável da homossexualidade secreta de Apolo, e, Anna, de timidez compreensível.)

O fato era que o papelzinho com o número de Apolo continuava dobrado sobre a cômoda de Artemis, sem nem ao menos ter sido salvado em seu celular. Ela estava pensando sobre isso enquanto observava o garoto dar uma corrida rápida do estacionamento até a entrada, um chuvisco fraco o fazendo manter a cabeça baixa.

(Anna não havia dito uma palavra sobre onde Apolo estivera, e Artemis nunca perguntaria.)

{...}

No dia seguinte, Artemis manteve sua política de não tomar café da manhã no refeitório, mesmo que Gabriel houvesse perguntado, de forma nada sutil, se ela não estava morrendo de saudades de Apolokins. (Ela respondera perguntando o que era um Apolokins).

De qualquer forma, após ter comido cookies integrais na cozinha do dormitório, ela estava fazendo seu caminho para a sala de aula da professora Victoria quando acabou se encontrando com Apolo ainda assim. (Ou com Apolokins, se você gostar dos apelidos esquisitos de Gabriel).

O garoto estava vindo do outro lado do corredor, mas parou de andar assim que a viu, abrindo um ligeiro sorriso. Com seus jeans escuros e uma camiseta do AC/DC, não poderia ter parecido mais fora de lugar cercado pelas janelas estreitas e pelos vasos de porcelana da Academia.

Artemis manteve o ritmo normal de seus passos, o olhando com curiosidade enquanto se aproximava. Apolo parecia o mesmo de sempre – loiro, alto, lindo como qualquer modelo de capa de revista – e, ainda assim, ela tinha a sensação de que havia algo diferente. Talvez dois dias houvessem sido muito tempo.

– Hey – ele disse, assim que ela parou ao seu lado. – Você não ligou.

Artemis recomeçou a andar, sem se surpreender quando ele se pôs a acompanhá-la. Não havia acusação em sua voz, mas, também, não era como se Artemis fosse se sentir culpada se houvesse.

– Não senti tanto a sua falta assim – foi como o respondeu, o olhando de soslaio.

Apolo sorriu.

– Só um pouquinho?

(Só um pouquinho, honestamente? Pouca era a distância entre eles naquela noite de sexta-feira, quando ele se afastara sem pedir o beijo clichê de boa noite que ela havia tido certeza de que pediria.)

Artemis revirou os olhos.

– Anna me entregou o seu número no sábado de manhã, e eu estive muito ocupada.

– Esteve?

Artemis inclinou a cabeça para o lado, sentindo seu rabo de cavalo roçar sua nuca.

– Tão surpreendente assim eu não ter te ligado? Não te ocorreu que eu talvez não tivesse tido vontade de falar com você?

– Foi decepcionante você não ter ligado – Apolo admitiu, com naturalidade. – Mas não vou acreditar que faltou vontade. O que te manteve tão ocupada nesse fim de semana?

– Foi você quem passou o fim de semana fora – Artemis esquivou-se da pergunta. – Eu não fiz nada além do normal, só ensaiei. Você deve ter ouvido falar da peça importantíssima desse fim de ano, tenho certeza?

Apolo balançou a cabeça, com um pequeno sorriso de exasperação.

– É, Artemis, eu ouvi falar de alguma coisa assim.

Os dois ficaram um tempo em silêncio, evitando se olhar enquanto um trio de garotas passava por eles, cochichando entre si e dando risadinhas estranhas. Artemis não soube dizer se eram da Berklee ou da Academia, e estava prestes a perguntar a Apolo se ele não iria se atrasar para onde quer que estivesse indo antes de se encontrarem quando o garoto falou primeiro.

– Eu estava te procurando, para ser sincero. Preciso te perguntar uma coisa.

Artemis decidiu não chamar de ansiedade o que quer que estivesse sentindo, e levantou uma sobrancelha.

– Sim?

– Gabriel disse que você havia aceitado ser a nova monitora. Então, supondo que eu quisesse ir a um lugar onde normalmente não poderia, eu teria que falar com você e pedir pela sua permissão, certo?

Artemis revirou os olhos para o absurdo.

– Claro que não, eu teria que te acompanhar e cuidar para que você não incendiasse a Academia ou algo assim. Sem piadas com o seu nome – disparou, assim que o garoto abriu a boca. – Além da minha permissão, você precisaria da minha tutela.

Apolo assentiu.

– Que ótimo. Você está livre nessa quinta?

Artemis bufou, ignorando a sensação estranha em seu estômago.

– Você já foi mais charmoso do que isso.

Apolo deu de ombros, se livrando de qualquer embaraço.

– Você vai aceitar de qualquer jeito.

Artemis ergueu uma sobrancelha.

– Então você não se esforça mais por mim?

– Ah, então você gosta quando eu fico no seu pé para você sair comigo? – Apolo sorriu, todo satisfeito.

Ela revirou os olhos.

– Eu nunca disse nada disso. E você não realmente espera que eu tire todo um dia de folga apenas por sua causa, espera?

Apolo abriu um sorriso de lado.

– Eu não disse nada sobre o dia. Quero ir ao telhado à noite.

Artemis deu graças a Deus pela sala de aula já estar próxima.

– E quais os seus planos?

– Qual é a graça se eu te contar? - Ele perguntou, soando realmente sincero.

Deus, às vezes o garoto se parecia com uma criança. Artemis apoiou a mão na maçaneta da porta, se virando para Apolo e considerando suas opções.

– Por que eu aceitaria?

Apolo pareceu achar graça.

– Considerando que você não me deu nenhum dos três motivos que eu te pedi, não pode realmente pedir por um. – Ele escorou-se na parede, fazendo Artemis se encolher. Postura, Artemis, postura, pôde ouvir sua mãe dizendo. – Às oito, naquela saída para o telhado no último andar. É importante - acrescentou.

Ela levantou uma sobrancelha, expressando impertinência ao invés da curiosidade que estava sentindo.

– Importante para quem?

Como sempre, Apolo não pareceu remotamente incomodado.

– Não vai se arrepender.

Só naquela manhã, Artemis já havia dito não para Gabriel duas vezes. (Não, ela não queria sanduíche de chocolate derretido e pasta de amendoim e, não, ele não podia experimentar sua meia-calça branca.) Ela era ótima em dizer não aos outros e, no entanto, aquele ali simplesmente não saía.

Acabou suspirando, os dedos apertados no trinco de metal.

– Às oito. Não se atrase.

O sorriso de Apolo levou rugas suaves ao canto de seus olhos.

– Você que deveria não se atrasar para a aula - aconselhou. - E eu realmente senti sua falta. A propósito, não me incomodaria se você usasse o número que eu te passei.

Ela entreabriu a porta, quase sorrindo. (Eu realmente senti sua falta.)

– Não abuse da sorte, Apolo. Nos vemos na quinta.

{...}


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Notas finais do capítulo

Oh, e o segundo encontro desses dois já está marcado *-* O que estão achando, meus lindos? Peço desculpas àqueles cujas MPs não respondi ainda, tenho realmente andado completamente sem tempo )): Tenho certeza de que todos já notaram como Apolo, aos poucos, já derreteu boa parte da Artemis - eu releio os primeiros capítulos e chego a me perguntar se é a mesma pessoa!
Mil beijinhos, amores.