O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 25
Capítulo Vinte e Cinco




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Vinte e Cinco

O resto do jantar foi tão calmo e agradável que Artemis, em um minuto de insanidade, até se arrependeu de ter passado tanto tempo evitando a companhia de Apolo. O garoto era engraçado, sem o exagero de Gabriel, tinha opiniões inusitadas e era romântico de forma sutil.

— Estou surpresa – ela até comentou, assim que se levantaram para ir embora, descendo as escadinhas. – Minha honra nem foi desacatada.

— Como se eu fizesse muito isso – Apolo disse, entre incrédulo e divertido.

Artemis saltou elegantemente do último degrau até a porta do carro, e se virou para ele com um sorriso.

— Sim.

Dando a volta até o lado do motorista, Apolo estava balançando a cabeça em descrença, mas sorria.

— Claro, claro. – Ele destrancou o carro e entrou, Artemis o seguindo. – Não pode negar que sempre fui um cavalheiro com você – comentou, ajustando o espelho retrovisor.

— Cavalheiro? Certo. Pretende colocar isso na sua lista de características na sua página da Wikipédia?

Apolo deu de ombros, sem se comprometer, ligando o carro e manobrando para sair.  Artemis esperou mais alguns segundos, e então bufou.

— Você não tem uma página na Wikipédia.

Apolo abriu aquele sorriso de lado.

— Procurou por mim?

— Não, eu só imaginei que os moderadores teriam o bom-senso de excluir as suas tentativas. Você tentou criar uma página para você, não tentou?

— Eu não preciso de uma página na Wikipédia, eu tenho um fã-clube – Apolo contrapôs, e Artemis revirou os olhos para o absurdo. – Mas é claro que você sabe disso, você com certeza procurou o meu nome no Google.

— É, porque desde que eu te conheci o meu mundo passou a girar em torno de você.

Acelerando um pouco para ultrapassar um carro mais lento, Apolo sorriu.

— Ele sempre girou.

— Mais uma piada sobre o seu nome, e eu vou bater em você.

— Sarcasmo e agora violência? Você se torna mais encantadora a cada minuto – Apolo suspirou, sem parecer realmente incomodado. – Você não pode negar que a coincidência dos nossos nomes é incrível.

— É só isso – Artemis replicou. – Só uma coincidência.

— Tem algumas coisas legais – Apolo insistiu. – Como você gostar de olhar para o céu escuro e ser toda feminista. Artemis também não era uma caçadora super independente?

— E Apolo era um músico festeiro – Artemis completou. – Nossa, começo a ver as semelhanças agora. Espera, ele também não era gay?

— Não diga isso perto do Gabriel – Apolo pediu. – Só para constar, na Grécia Antiga a homossexualidade era algo honrado.

Claro que Artemis sabia daquilo, ela sabia de tudo sobre a Grécia. A história de Apolo e Jacinto era irrelevante, a lista de ninfas e mortais insuperavelmente maior.

— Se você diz. As semelhanças param por aí, de qualquer forma.

— Eu gosto de olhar para o céu de dia – Apolo continuou. – Principalmente para o pôr-do-sol. Olho para as estrelas de noite e fico perdido, nunca consegui encontrar nem Vênus, que todo mundo vê.

— Perto da Lua – Artemis resumiu, tendo que se conter para não oferecer lhe mostrar um dia. – Tudo isso são só coincidências.

— Você acredita no acaso?

Artemis desviou o olhar para a rua.

— Só não acredito em destino.

— Se o seu cabelo fosse cacheado e armado, você seria como a garota de Valente – Apolo comentou, de forma inesperada. – Tem algo assim sobre destino no filme, não tem?

Artemis se virou para ele, descrente.

— Como você sequer conhece esse filme?

— Longa história.

Artemis levantou uma sobrancelha, desconfiada. Como um garoto normal de dezenove anos poderia conhecer filmes recentes da Disney?

— Você gosta de filmes infantis?

— Nunca gostei muito – Apolo fez uma curva, completamente alheio à linha acusatória de pensamento de Artemis. – Eu não parava muito quieto quando era pequeno, então não conseguia ficar sentado vendo televisão. Mas eu tinha um filme preferido – comentou, parecendo pensativo. – Ele não é muito conhecido.

— Qual? – Artemis era mestre em conhecer coisas que as outras pessoas não conheciam.

— Planeta do Tesouro, da Disney mesmo. A trilha sonora é ótima, é o vocalista do Goo Goo Dolls quem canta a música-tema.

— Nunca ouvi falar – Artemis disse, sincera. – Sobre o que é?

— Bom, é num universo diferente, em que humanos e monstros convivem. Esse garoto Jim sempre havia sido meio causador de problemas, e então dá de cara com um mapa do tesouro lendário, de uma história que ele ouvia quando era criança. Ele embarca à procura dele pelo espaço, sem saber que a tripulação toda é um motim para roubar o tesouro. Acaba que o líder do motim, um ciborgue, se afeiçoa a ele, e no fim eles escapam da armadilha.

Artemis considerou tudo aquilo.

— É diferente – acabou dizendo. – Deve ser interessante. Vou perguntar ao Gabriel, ele tem um acervo enorme de filmes.

Apolo quase sorriu.

— Mas e você? Difícil te ver gostando de princesas.

— Eu detestava a maioria delas – Artemis concedeu, revirando os olhos.

— Não me surpreendo – Apolo assentiu, desacelerando para evitar colidir com algum mal-educado que invadira sua preferencial.

Artemis se deu conta de que a noite estava acabando, e mordeu a parte interna da bochecha. Perguntou-se o que diria a Gabriel quando o garoto pedisse por detalhes, percebendo que não saberia nem como começar. Ficou um tempo em silêncio, ouvindo R.E.M tocar baixinho.

Quando chegarmos lá, vai ser o fim, não vai? Apolo não pode ter nada mais planejado. Como vai ser? Vamos dizer tchau um para o outro e seguir para lados diferentes do corredor?

— Quem te ensinou a dirigir? – acabou perguntando, decidindo que era cedo demais para todo aquele desconforto.

— Comecei a pegar o carro dos meus pais quando tinha catorze.

Apolo tivera a decência de parecer embaraçado, mas Artemis o encarou mesmo assim.

— Achei que o seu pai fosse ser uma pessoa responsável.

— Bom, ele não sabia – o garoto evitou seu olhar, entrando na rua da Academia. – Por que a pergunta?

Artemis ergueu os olhos para o portão de ferro da escola, e se sentiu estranhamente segura ao cruzá-lo.

— Você dirige bem, só isso.

— Bem o bastante para guiar a carruagem do Sol, não é?

— Eu avisei quanto às piadas, Apolo. Eu avisei.

O garoto estacionou bem na porta, e Artemis notou que o estacionamento estava quase vazio. Saiu do carro, sem saber bem o que fazer. Apolo havia insistido tanto por um encontro apenas para que terminasse daquele jeito?

— Está bem vazio por aqui, não está? – o loiro comentou, subindo ao seu lado os degraus da entrada. Tudo parecia tão natural para ele. – Será que aconteceu alguma coisa?

— O pai do Andrew inaugurou um pub novo – Artemis contou, forçando-se a se sentir à vontade, mesmo que a perspectiva da despedida criasse borboletas em seu estômago. – Alguma coisa assim, foi Gabriel quem comentou.

Apolo a olhou por um tempo, e, por algum motivo, Artemis se lembrou de Gabriel dizendo que Andrew estava interessado nela de forma óbvia.

— Estranho não ter ninguém aqui – Apolo finalmente disse, olhando pelo hall de entrada. – Geralmente tem um monitor, ou o vigia.

— Era para o Michael estar aqui – Artemis juntou as sobrancelhas, apreensiva. – Alguma coisa deve ter acontecido.

— Quer que eu te leve até o seu quarto? – Apolo ofereceu. – Só para garantir.

Artemis levantou uma sobrancelha, na defensiva.

— Garantir o quê?

— Que nenhuma tragédia aconteceu? – ele sugeriu. – Pode ter um serial killer por aí, assassinando seus colegas.

Artemis revirou os olhos.

 – Só me acompanhe até o corredor do dormitório – cedeu, andando em passos rápidos ao lado do garoto. Poucas luzes estavam acesas, e o estilo antiquado da Academia se parecia demais com o de um castelo abandonado para que ela ficasse realmente confortável. – Não quero que pensem que saímos juntos.

— A notícia pode ser um pouco chocante para você, mas nós saímos.

— Não, você me coagiu a dar uma volta com você, porque você é uma criança mimada.

Apolo ficou em silêncio por meio minuto, Artemis evitando olhá-lo. Do pianista você gosta, do guitarrista não – não era isso que ele havia dito? Artemis se embaraçava só de pensar que ele poderia achar isso dela.

— Por que não quer que eles saibam? – o garoto acabou perguntando.

— Por que você se importa? – ela replicou, observando um quadro sinistro à meia-luz ao invés de se virar para o perfil lindo dele.

— Porque todo mundo que saiu comigo fez questão de espalhar para o mundo, e eu não sei por que você não iria querer.

— Está ofendido por que não vai ser usado como troféu? – ela perguntou, debochada.

— Não é sobre isso. – Seu tom de voz suave fez Artemis se envergonhar de sua sobrancelha erguida.

Haviam chegado ao corredor do dormitório dela, e havia luz acesa por debaixo da porta, talvez a de alguém assistindo televisão. Artemis parou, incerta, e estava procurando pelo que dizer quando Apolo ergueu a mão para corrê-la por seu cabelo.

Ela arqueou um pouco as costas, desconcertada pelo contato inesperado.

— Você gosta de fazer isso.

— Gosto – Apolo assentiu, com um ligeiro sorriso.

Aquele havia sido, realmente, um primeiro encontro de verdade, ou não passara de uma saída sem compromisso? E talvez houvesse sido extamente como Apolo quisera, ou talvez Artemis houvesse o decepcionado.

Ela ergueu a mão para afastar a dele do seu cabelo, mas o garoto foi esperto o bastante para acabar segurando a dela. Apolo tinha os dedos compridos de um pianista, pele morna e toque persuasivo.

Artemis pôs um pé atrás do outro, desconfortável, quando sentiu as pontas dos seus dedos machucadas pelas cordas de aço da guitarra, ou talvez de um violão.

— Você é linda. – E a voz dele ainda saíra macia.

Estava perto o bastante para que Artemis contraísse o estômago em nervosismo, mas com a distância certa para que ela não sentisse vontade de sair correndo. Percebeu que lhe devia uma resposta, ao menos um obrigada, mas não soube o que dizer. Encolheu a mão ao redor da dele, encarando seus olhos castanhos.

O silêncio e a penumbra eram convidativos a um beijo que ninguém veria. Não seria mais do que o esperado, a forma perfeita de encerrar um encontro tão bom. Artemis mordeu o lábio inferior, sentindo o coração começar a bater mais rápido em ansiedade.

E então Apolo ergueu sua mão e a beijou.

— Boa noite, Artemis.

Seus lábios eram mornos e secos, e sua respiração quente. Artemis não soltou sua mão, não querendo deixá-lo ir. A pele dele era confortável demais para que ele se afastasse tão rápido.

— Boa noite – sua voz saiu fraca.

O canto dos lábios de Apolo tremeu, e Artemis realmente quis beijá-lo. Mas ele estava longe demais para aquilo e, afinal de contas, já havia se despedido. Se quisesse, Apolo poderia ter pedido por um beijo, ou ao menos roubado um. Parecia ser o tipo de garoto que beijava de surpresa.

Artemis se afastou devagar quando ele não o fez, recolhendo sua mão e encolhendo os dedos. O observou pelo que poderia ter sido meio minuto ou uma hora inteira, e então finalmente lhe deu as costas, respirando fundo.

Antes que pudesse se afastar, sentiu os dedos dele roçarem seu pulso. Virou-se, curiosa, mas Apolo já estava se afastando; quase como se houvesse mudado de ideia.

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Notas finais do capítulo

Eles são tão adoráveis que eu tenho vontade de gritar por socorro.
Mil beijinhos da Maeve